Algumas pessoas podem
acreditar que essa palavra é oriental, mas talvez não seja – caso tivéssemos
conservado a nossa língua mater da
região amazônica, o tupi, saberíamos o seu significado de imediato – vamos aproveitar
a dica do livro homônimo kumurô, do Instituto Socioambiental e Fed. Das Organizações Indígenas do Rio Negro
(FOIRN).
Os povos indígenas(Tukanos)
que habitam o Rio Tiquié, no Alto Rio Negro, no Estado do Amazonas, são os
especialistas em kumurô – não é encontrada nada igual fora dessa região,
funciona como um distintivo étnico.
Diz a lenda: UmukuNeku, o avô do universo, sentou-se num
banco de quartzo, comendo ipadu e fumando, pensava em como faria para criar o
mundo e a humanidade, os animais, as terras e as águas.
Hoje, esculpido em
madeira, o banco tukano é assento do Kumu, o benzedor – tornou-se, também, um
objeto de artesanato, para trocas e presentes para cunhados e sogros de outras
etnias e vendido para o mundo todo.
Na língua tupi, Kumurô significa:Kumu = Santo e, Rô =
Lugar èLugar
de Santo, também conhecido como Banco Tukano.
O Kumurô é um banco de assento, constituindo-se em um objeto
cerimonial para o povo tukano, feitos
exclusivamente pelos homens dessa etnia.
É uma peça esculpida por inteiro
em madeira, sem emendas ou encaixes, com grafismos impresso – o assento é uma
plataforma côncava, apoiada sobre pés a quinze centímetros do chão.
Existem três tipos:
1. PikôseKumurô =
Banco Pássaro-Tesoura – possui a estrutura de apoio inteiriça;
2. WekuSori =
Canela de Anta – com pés curvos;
3. Existe
um banco maior, com quatro palmos, destinado ao Mestre de Cerimônia, o Baya.
O grafismo do centro do
assento é o desenho do couro de paca (SemeHori).
Os tucanos utilizam as
seguintes madeiras para fabricação do banco: Sorva, Sorvinha, Pacarrão e
Molongó – uma árvore abatida é possível fazer uns vinte bancos – como são
encontradas bem longe da maloca, são cortadas em vários pedados, tirados a
casca e transportadas por duas pessoas – são mantidas dentro d’água para não
escurecer.
Eles casam com mulheres de
outras etnias, quando vão fazer visitas aos seus parentes distantes, abatem as
árvores daquela região para fazer os bancos e presenteá-los, conservando as do
seu território.
Utilizam, basicamente,
três tipos de ferramentas: dois tipos de enxó (sioga e patekaha), uma
machadinha (komekumupaweka), terçados, formões, lima de cabo, plainas, facas e
outras.
Para a pintura, usam um
fixador (resina de árvores), um corante (urucu ou carajuru) e argila com água - um
pincel de espigueta de capim e carimbos de arumã dobrado – sobre o fundo
vermelho é desenhado um motivo trançado.
Grafismo: os padrões mudam
pouco, com trançado de tipiti- possuem diversos significados dentro do ritual,
com o desenho do corpo de uma cobra, a Cobra Canoa de Transformação, que
transportou a primeira humanidade em seu bojo.
“O
BANCO ONDE OS HOMENS TUKANO SE SENTAM, ESCULPIDO A PARTIR DE UM ÚNICO BLOCO DE
MADEIRA. É SÍMBOLO DE ESTABILIDADE E SABEDORIA, OFERECE DESCANSO FÍSICO AO
CORPO E CONCENTRAÇÃO À MENTE. DIZEM QUE O HOMEM DESAJUIZADO NÃO SABE SE SENTAR,
NÃO POSSUI UM BANCO, NÃO ENCONTRA UM LUGAR PARA PENSAR, SENTADO. O HOMEM ESTÁ
PROTEGIDO POR SEUS PODERES BENÉFICOS, SENTADO E PENSANDO, CONFORMA UMA POSTURA
DE PROCRIAÇÃO E PROTEÇÃO, UM EIXO CÓSMICO DE COMUNICAÇÃO (BASEADO EM
REICHEL-DOLMATOFF, G., 1971)”.
Possuo dois bancos comuns,
sendo um adquirido na Feira de Artesanatos da Avenida Eduardo Ribeiro e, outro,
formado por dois pedaços de troncos de árvores encontrados na natureza.
Sento próximo ao meu
pequeno jardim, para descanso físico ao corpo e concentração à mente (pensar),
pelo menos, segundo a tradição dos tukanos, não sou um homem desajuizado (que
não sabe sentar e não possui banco)!
O maior colecionador de Kumurô Banco Tukano é o artista plástico
Rui Machado (segundo uma reportagem passada no Canal Amazon Sat), um amazonense
de Manaus que abraça e protege a cultura indígena – ele senta e, se inspira
para criar as suas famosas telas.
Alguns historiadores
afirmam que, os orientais passaram pelo Estreito de Bering, chegando até a
Amazônia, sendo os antepassados dos nossos indígenas atuais – basta verificar
os traços dos tukanos, o próprio nome Kumorô e a foto lateral do banco para
notar que parece muito com a cultura e o povo oriental.
Pretendo adquirir,
brevemente, um legítimo Kumurô Banco
Tukano. É isso ai.
Fonte:
Livro Kumurô Banco Tukano–FOIRN/Instituto
Socioambiental – São Gabriel da Cachoeira/AM – São Paulo – 2003.
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