sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

OS BONECOS DA BICA


A mais famosa e escrachada banda de Manaus, chama-se Banda Independente da Confraria do Armando, popularmente conhecida como BICA, surgiu em decorrência do fim dos desfiles de carnaval na Avenida Eduardo Ribeiro, quando um grupo de frequentadores assíduos do Bar do Armando, resolveram fazer uma banda nos moldes da Banda de Ipanema, onde somente toca as velhas marchinhas de carnaval e, dos desfiles carnavalescos de Recife (PE), com bonecos gigantes.

Segundo o nosso irmãozinho, o poeta e escritor Simão Pessoa “A banda possui (ou deveria possuir) 12 bonecos: Armando, Deocleciano (Deco), Petrolina, Frei Fulgêncio, Leomar Salignac, Celeste Pereira, Lourdes Soeiro, Charles 5 Estrelas, Antônio Paula Graça, Eliezer Leão, Nestor Nascimento e Alberto Aleixo”.

Desses doze, somente resistiram ao tempo o Armando, Dona Lourdes, Petrolina e o Deco (ficam no Bar do Armando, no Largo de São Sebasião).

Os bonecos do Charles e do Doutor Eliezer (ficam no Bar Cinco Estrelas, na Avenida Getúlio Vargas, ao lado da Academia do Sheik Clube).





ARMANDO

Armando Dias Soares, nasceu em Coimbra, Portugal, mudou-se para Manaus na década de 50, veio com a intenção de trabalhar com o seu tio Armindo Dias, proprietário da Casa Dias, na Rua Luiz Antony e, da Casa Renascença, na Avenida Joaquim Nabuco.
Desde cedo, aflorou o seu espírito empreendedor – resolveu desvincular-se do seu tio e seguiu a sua “carreira solo”. Foi magarefe no Mercado Municipal Adolpho Lisboa, depois abriu o seu próprio negócio na Rua Xavier de Mendonça, no bairro de Aparecida, era uma venda de secos e molhados e um açougue.
Em sociedade com outro portuga conhecido por Maravalha, abriram um bar chamado Micro Bar, tamanho 10 por 100 m, na Avenida Eduardo Ribeiro, no local existiam diversas mesas de sinuca e era vendida uma famosa batida (bebida); o estabelecimento foi fechado em decorrência da venda do Cine Odeon (o bar ficava ao lado do cine, pertencia ao mesmo dono).
O Armando conheceu a portuguesa Lourdes Soeiro, foi amor a primeira vista, casaram e foram trabalhar juntos no famosíssimo Bar do Armando, no Largo de São Sebastião. Tiveram duas filhas, a Ana Cláudia, pedagoga e administradora dos negócios dos pais, casou com o Roberto e tiveram dois filhos e, Ana Lúcia, advogada, casada com um português, mora atualmente em Portugal, ela já deu um netinho para o Armando.
Com o projeto do então vereador Francisco Praciano, em 1998, foi considerado “Cidadão de Manaus”, na Câmara Municipal, passou a ser conhecido por Armando Brasileiro. Chegou a ser cogitado para assumir o Consulado de Portugal, em Manaus, mas ideia não vingou, não era a sua praia ficar carimbando passaportes, o forte dele sempre foi vender sanduíches de leitão e cervejas.
A Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, fez uma justa homenagem ao português, com o tema “Armando Brasileiro”, foi consagrada campeã do carnaval de Manaus de 1999. No seu Bar, acontece toda ano o maior e melhor carnaval de rua de Manaus, a famosa Banda Independente da Confraria do Armando - BICA.
O meu amigo Armando faleceu no dia 12 de abril de 2012, no hospital da Beneficente Portuguesa do Amazonas.

DECO


Um amazonense dos bons, jornalista, professor universitário aposentado, foi durante muitos anos o General da Banda Independente da Confraria do Armando (BICA), duas vezes presidente do Sindicato dos Jornalistas, amante da sétima arte (cinema) e, conhecedor profundo da vida política e social de Manaus (décadas de 60, 70 e 80)
Estudou no famoso Colégio Estadual do Amazonas, na época em que o ensino público era de qualidade superior; passou no concorrido vestibular de jornalismo da antiga Universidade do Amazonas. Antes de seguir a sua brilhante carreira de jornalista, trabalhou em agências de publicidade, a primeira, foi na empresa “Quarteto Propaganda”, como diretor de arte, depois, foi chamado para fazer parte dos quadros da “Saga Publicidade”.
Ainda muito jovem foi chamado para implantar um sistema de impressão off-set (fora do lugar) no “Jornal do Commercio”, sendo pioneiro neste tipo de impressão (a tinta passa por um cilindro intermediário, antes de atingir a superfície, este método tornou-se principal na impressão de grandes tiragens).
Na qualidade de professor da Universidade Federal do Amazonas, formou várias gerações de jornalistas – chegou a trabalhar também em jornais de renome nacional. Certa vez, deu uma entrevista a um jornal de Manaus e, fez a seguinte declaração: “Eu fui professor do curso de Jornalismo na UFAM por muitos anos e cheguei também a conhecer alguns cursos em faculdades americanas. Lá as próprias empresas de comunicação financiam os cursos de Jornalismo. São elas que têm interesse em ter nas redações mão de obra qualificada, por isso fazem tudo para que o ensino de Jornalismo seja o melhor possível. Ainda como aluno, o futuro jornalista passa pelas três mídias, rádio, televisão e jornal, exercitando e praticando tudo aquilo com que vai se deparar quando efetivamente chegar ao mercado de trabalho. Aqui no Brasil isso só acontece com a Faculdade Cásper Líbero e a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em São Paulo. Na Cásper Líbero os alunos, depois de alguns períodos, têm a sua disposição a TV Gazeta, a Rádio Gazeta, o jornal Gazeta e a Gazeta Esportiva, que é um jornal diário. Os alunos depois de formados chegam ao mercado de trabalho prontos para disputar com todas as condições favoráveis possíveis. Isso acontece também na Faap – foi lá que estudei depois que transferi meu curso para São Paulo. Para mim foi bom, porque enquanto estudava eu também trabalhava nos grandes jornais, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário da Tarde e Diário da Noite, entre outros. Nas faculdades particulares o problema é bem maior. Os alunos só têm a parte teórica e quando chegam ao mercado de trabalho, são um total fracasso, não tem a mínima condição de permanecerem nas redações”.
O Deocleciano, Deco para os amigos, não chegou ainda a lançar nenhum livro, ao contrário do seu irmão Márcio Souza, um escritor consagrado nacionalmente – dizem que ele está escrevendo o seu primeiro livro, o título é “Por trás das Rotativas”, aguardado com muita expectativa pelos estudantes de jornalismo e profissionais do ramo.
Por ser fissurado por filmes, chegou a trabalhar na cenografia do filme “A Selva”, um longa-metragem de ficção lançado em 1972, foi uma adaptação para o cinema do romance homônimo de Ferreira de Castro. Este filme foi dirigido pelo seu irmão Márcio de Souza, tendo a participação do sei pai, o Jamaci Bentes.
Na sua residência, mantêm um pequeno cinema – o “Cine Yayá”, uma justa homenagem à proprietária do extinto Cine Avenida (atual Loja Bemol, da Avenida Eduardo Ribeiro).

PETROLINA



A Petrolina, “Petrô” para os amigos, foi e sempre será a nossa rainha do carnaval da BICA
Ela é uma católica fervorosa, assistia à missa na Igreja de São Sebastião, todo santo dia e, após a celebração da eucaristia, passava no Bar do Armando, para tomar uma cerveja e agasalhar um sanduíche de porco, o famoso X-Pernicioso.

A banda escolheu uma jovem para ser a princesa do carnaval, mas quem é rainha jamais perderá a majestade, a dona do pedaço ainda é a Petrolina, apesar de não desfilar mais em decorrência da sua idade avançada.

A Petrô está um pouco adoentada, não tem aparecido na confraria do Armando; estamos com saudades da nossa rainha; quem sabe no dia D (dia 14 de fevereiro – sábado magro de carnaval) ela aparece por lá para “empunhar o cetro” e reinar novamente.

DONA LOURDES


Esposa do saudoso Armando Soares, do Bar do Armando, trabalhou durante anos na administração do bar, ficou por lá até o falecimento do seu marido, deixando o comando para a sua filha Ana Claudia e o marido Roberto.
Ela era muito divertida, esquentada, não levava desaforo para casa, falava alto e gostava de chamar alguns palavrões – apesar disso, todos os frequentadores do bar a admiravam e se divertiam muito com a sua forma de ser.
O saudoso Armando e a Dona Lourdes eram os responsáveis em fazer o melhor e mais famoso sanduiche de leitão de Manaus - um tira-gosto muito apreciado pelos pobres mortais que frequentavam o Bar do Armando – a procura era tão grande que, diariamente, diversos leitões eram assados num forno elétrico que ficava na parte de detrás do bar.
O preparado e assado ficavam por conta da Dona Lourdes, dizem que ele era feito a base de vinho branco seco, sucos de laranja e limão, alho, cebola, folhas de louro, azeite de oliva, salsa, cebolinha, manjericão, vinagre, margarina e pimenta-do-reino – quanto ao modo de preparar, a Lourdes não fala para ninguém e, também não gosta de ensinar, aliás, ninguém se atreve a ser aluno dela.

Para o Carnaval de 2015, os bonecos da BICA passaram por um novo visual – eles foram confeccionados tempos atrás pelo Paulo Mamulengo, um morador famoso da Vila de Paricatuba, no município de Iranduba.

O visual foi renovado, com direito a um novo figurino, esse trabalho ficou a cargo do artista Adroaldo Pereira, sendo a confecção da Sibele Gomes (artista visual e figurinista).

Segundo o artista “O Armando será inspirado no que sempre foi, com o seu jaleco azul, porém com um toque mais carnavalizado. Dona Lourdes virá com a sua batinha, mas uma batinha mais carnavalizada. A Petrolina virá bem colorida, arrumadinha como sempre, com sua linda bolsinha, de batonzinho e maquiada, aquela figura que sempre foi”.


A BICA trouxe de volta a sua antiga diretoria, tanto que estiveram presentes ao último esquenta o Dr. Jomar Fernandes (Juiz de Direito), Pedro Paulo Pepê (tabelião) e o Klain (Juiz Federal) e este escriba, pois fui convidado para ser um dos apresentadores da banda. É isso ai.

Fotos: A Critica/UOl/G1/Blogdorocha.

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