LUCYANNE DE MELO AFONSO
AS INTER-RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS NA VIDA
MUSICAL EM MANAUS NA DÉCADA DE 1960
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade
Federal do Amazonas como exigência parcial para a obtenção de título de Mestre.
Área de Concentração: Processos Socioculturais na Amazônia. Linha de pesquisa:
Sistemas Simbólicos e Manifestações Socioculturais.
Orientadora: Profa. Dra. Rosemara Staub de
Barros
Manaus, 29 de outubro de 2012
Foi o principal dublador na
década de 1960, ganhando os festivais de dublagem. Atualmente trabalha em
empresa de advocacia e ainda se faz presença nas festas de carnaval.
Lucyanne – Como era fazer dublagem em Manaus?
Delfim – Era tão séria a coisa
que quando terminei de dublar ao piano, o coronel veio em minha direção e
disse: quero que você ensine minha filha a tocar piano, mas ninguém sabia tocar
piano, pra você ver a seriedade da coisa. Nós fomos os pioneiros em dublagem,
porque naquele tempo Manaus não tinha grandes recursos pra mandar buscar
cantores de fora pra vim pra Manaus se apresentar e até mesmo por que era longe
e ainda é longe e eles não tinham interesse de vim aqui. Tinha o Teatro
Amazonas, os clubes, o Luso Sporting Club porque nós começamos a iniciar a
dublagem no Luso. Era uma Manhã de Sol que existia na época. Nós fundamos essa
Manhã de Sol. Ai o Luso nos abriu as portas e nós fundamos também a juventude
lusitana, que era essa equipe: era uma juventude tão boa que nós fizemos as
Manhãs de Sol de nove horas até uma hora da tarde, meio dia, o Luso não tinha
balneário, era na sede do Luso. Ai o Luso investiu, comprou na época a
Eletrola, a Rádio Eletrola, a Hi-Fi, mas a gente não sabia falar inglês, a
gente chamava “rififi”, mas o português a gente sabia. Ai essa Manhã de Sol se
tornou a coqueluche de Manaus: todo domingo depois da Missa de São Sebastião.
Eu ia pra missa, depois da missa eu entrava no Luso, arrumava as mesas, lotava
a sede do Luso Sporting Clube. Como a sede lotava, nós não tínhamos uma
programação, não tínhamos artistas em Manaus, não tínhamos artistas pra se
apresentar. Só tinha aqueles que se apresentavam na Rádio Baré, mas já era
aquela turma de uma idade que só tocavam serenatas, samba-canções e não era
isso que a gente queria pra juventude. E fomos privilegiados de ter nascimento
na época de grandes cantores do Rádio 194 O seu Fernando tinha uma visão desse
negócio, aí chamou a gente pra trabalhar na loja na Novidades Discos, onde
vendia instrumentos e onde vendia discos.
Lucyanne - Antes do Sr. Fernando
chamar vocês para trabalhar, já faziam as dublagens? Onde ensaiavam, na casa de
alguém?
Delfim - Já já, lá no Luso. A
gente ensaiava lá mesmo no Luso, ia prá lá, e ensaiava lá. E o seu Fernando viu
e investiu na gente, a música que a gente queria ele tinha, que era o dono das
Novidades Discos, ele chegava e dizia: pessoal vamos fazer dublagem que tem uma
música assim, assim, assim, porque a gente não tinha como comprar. Quando houve
essa parceria com ele, ele encarregava de mandar porque era interesse dele e
quando a gente apresentava no Luso, a gente apresentava na Manhã de Sol a nossa
dublagem (faz a imitação de uma música) no dia seguinte fazia sucesso em
Manaus, porque a maioria estava lá dentro, eles escutavam (cantou a música de Beatles)
Lucyanne - Eram as músicas que
vocês também ouviam nas Rádios?
Delfim - era o que a gente ouvia
no Rádio, não tinha com comprar, ia lá com seu Fernando e emprestava o vinil
pra treinar. Ai o seu Fernando viu e disse: vou ajudar os meninos. Mandou fazer
umas guitarras, tinha um profissional em Manaus, o Rochinha, ele fazia os
instrumentos, instrumentos melhor do que esses trazidos de fora. Ele fazia as
guitarras, tinha cordas e tudo, só que as guitarras não tocavam né, não tinha
som, não tinha nada, se você olhasse era uma guitarra, a gente chegava assim e
fazia de conta que estava afinando, colocava o ouvido próximo ai o povo
pensava: o cara vai tocar mesmo, o cara é bom!! Aí foi quando o Joaquim
Marinho, representante da Phillips, da gravadora Phillips, e disse: vamos fazer
um Festival, ai foram três festivais, quer dizer dois festivais, nós levamos o
primeiro, levamos o segundo. No segundo festival eu perdi individual, ganhou um
rapaz que veio do Rio de Janeiro pra cá que veio num circo, foi o Vitor
Portela, bom pra caramba também, foi um jogo, como eu já tinha ganhado no
conjunto Cly Baby Show, não sei nem o que quer dizer isso em português, e
também já tinha ganhado em parceria com a Alcinéia, ai ele ganhou, mas ele
trabalhou bem .. 195 O Joaquim marinho que vendia os discos, ele era
representante da Phillips, ele tinha duas gravadoras, não lembro o nome da
outra. Tinha também quem fazia pela CBS, esqueço o nome dele, ta coroa, ele era
o representante da CBS e olha só como o negócio foi longe, porque disso aí nós
ficamos numa profissionalidade tão grande que as próprias gravadoras já
mandavam: dá para os meninos fazer dublagens, pra escutar o Rádio, que
antigamente a gente não tinha rádio de carro né, bota essas músicas pros
meninos treinarem que a gente quer vender essas músicas, os artistas se
interessavam. Deu pra te perceber como funciona?
Lucyanne - Então A dublagem
estava atrelada ao mercado?
Delfim - Isso, estava atrelada ao
mercado, à venda daqueles discos, é verdade
Lucyanne - Está me falando uma
preciosidade!!
Delfim - Nós lançamos aqui uma
música internacional que ela foi coqueluche em Manaus quando nós apresentamos,
era do grupo Combor Seven, o Fernando tinha mandado, nessas alturas quando o
Fernando viu o sucesso que a gente tinha feito, ele mandou buscar o grupo
Combor Seven pra tocar em Manaus, tinha ganhado tanto dinheiro, que não sabia o
que fazer, comprei logo uma bicicleta (risos e canta a música Pati-patata..),
pegava a guitara, levantava, olha a música Estourou, bicho!!! Ai mandava buscar
na gravadora: pó, cara essa música ta estourando em Manaus!! Era um trabalho
que a gente fazia. Depois que a Alciléia foi para Fortaleza, eu passei a
trabalhar com a Edinelza Sahado, começamos a trabalhar juntos em teatro, ela
era uma menina bonita pra caramba, os garotos da alta sociedade eram loucos por
ela, uma figura muito bacana mesmo e a gente fazia o Upa Neguinho na estrada,
chega pra lá e pra cá, ai eu empurrava ela , ela me empurrava, mas isso no
feedback, os caras olhavam assim e diziam que a gente tava cantando.
Lucyanne - Ela citou que foi um
teatro musicado!!?
Delfim - Exatamente, caras e
bocas, o figurino seu Fernando bancava, ai ele ficou encantado por isso, eu
acho que ele se apaixonou pela Alcinéia, menina q cantava comigo, ela era
bonita, meiga, sabe. E a filha dele era pequena, ele tinha um amor paterno por
ela. Ela fazia dublagem só ela, era: Rosas vermelhas para uma dama triste. 196 Ela
dava um show, fazia os gestos, e quando o Cly Baby Show cismou de acompanhar
ela !!!Tudo na dublagem: ela ficava lá no microfone e a gente tocando. E o
pessoal: pó esses caras são bons!!! você entendeu? Você ta entrando no
clima!!!? (risos) O 1º Festival foi o seguinte: o Joaquim Marinho, o Dr.
Joaquim Marinho, aquele cara é uma figura ele,aí ele viu isso e bla bla bla, ai
começou também outros clubes a fazer Manhã de Sol e também fazer alguém por lá
fazendo dublagem, deu pra te perceber, pra poder chegar no Festival, então
tinha o Botafogo na Cachoeirinha que fazia, os Barés fazia, o Olímpico fazia, o
Atlético, o Rio Negro fazia, o São Raimundo, o Sul América, a Saga na
Aparecida, mas nós no Luso que começamos com a dublagem, então quando o Marinho
percebeu, ele quis reunir esses grupos todinhos e vamos fazer um Festival de
Dublagem. Iniciou com a juventude lusitana e nós tínhamos uma flâmula. (símbolo
impresso da juventude lusitana na camisa)
Lucyanne - E quem ganhava com
isso era seu Fernando?
Delfim - o seu Fernando com a
Novidades, a loja. Nós tínhamos a flâmula, né, flâmula no bom sentido, que
tinha JUVENTUDE LUSITANA, que o Luso mandou fazer pra gente, então q gente
tinha crédito de entrada em qualquer clube de Manaus. A gente chegava no Rio
Negro com aquela flâmula e entrava. Rapaz, quando a gente chegava no São
Raimundo, tinha mesa, antigamente era galinha assada com farofa, botavam
refrigerante, a gente começava a tomar cuba livre. Ai as meninas olhavam assim
pra gente, ai a gente fazia charme e não olhava e dizia: “não olha não , elas
estão olhando”.
Lucyanne - Quem eram?
Delfim - eu, Marcelo, Manelzinho,
Claudeci, Zezinho,Julinho e o cachorrinho que eu não lembro o nome. Esse era o
CLY BABY SHOW, ainda tinha o do sax que era o Carioca. Ai quando o carioca foi
embora, foi pro Rio de Janeiro, ai eu fiquei tanto no metal quanto no sax e no
piston. Eu fazia uma dublagem no piston de Billy, eu lembro até, ainda tenho
esse disco guardado.( ele fez a imitação cantando) e o grupo atrás me
acompanhando, tudo mentira eu não tocava nada ali (risos) ai eu colocava
abafador nele, só tu vendo.. Então o festival foi assim, dessa motivação de
vários clubes que virou
coqueluche fazer dublagem, e quem
vinha a Manaus tinha que ir ao Luso, né, 197 ver o grupo Cly Baby Show. Eu digo
pra você sem medo de errar: isso que os Trapalhões estão fazendo hoje, a gente
já fazia, só que não tinha televisão pra filmar, não tinha nada pra registrar
isso aí, essa filmagem que você tem foi de uma CAMERA SUPER 8 manual, quem dera
se tivesse televisão, mas não tem. A gente fazia Skets, fazia um teatro como a
Edinelza falou. Nós continuamos sempre na dublagem, as ai começamos a fazer
variações de teatro, fazíamos tudo La ano Luso Sporting Club, veja bem, não
tinha registro pra isso, se a gente tivesse televisão na época que pudesse
filmar e jogar pro ar isso, a gente estourava, ai depois nós pegamos contrato
com a televisão, ai já fomos contratados pela Sadie Hauache (1965) quer dizer
era a Ajuricaba (1969) lá no são Raimundo que era o dr. Kaleb, ai passamos a
trabalhar na televisão pra fazer essas apresentações, ai nós trabalhamos no
programa da Baby Rizato, quando encontro a Baby Rizato no meio da rua eu digo:
baby! E ela diz: nem diz quanto tempo, senao vao dizer que a gente ta
velho!(risos)
Delfim - Deixa eu te contar uma
história legal pra caramba!
Lucyanne - mas não esqueça de
terminar sobre o festival, como foram os ensaios, a escolha do repertório, a
tensão do dia da apresentação!!!
Delfim- Então, deixa eu matar
logo esse festival. O repertório já foi lançado pelos empresários das
gravadoras.
Lucyanne - Ah então não foi o
grupo que escolheu?
Delfim - Não, não! A gravadora ,
como diz, vamos lançar esse daqui que vai estourar essa música!
Lucyanne - Entao, tinha 10 clubes
participando do festival, as gravadoras que repassaram as músicas que cada um
ia dublar???
Delfim - É isso aí . Eu trabalha
na individual tem um que fiz o Roberto Carlos, alguma coisa assim, acho que foi
no primeiro, na dupla trabalhei Jair Rodrigues e Elis Regina, que era sucesso
na época e pra estourar mais ainda, já estourava o disco! Como o famoso era a
gente e outros clubes tinham dubladores, mas não tinham tanta experiência que a
gente tinha. Ai quando a gente ia lá, levávamos tudo (se refere aos prêmios,
troféus do festival), por isso que nós éramos recebidos nos clubes assim com
uma certa autoridade: ooohh chegou o artista aí!! Cuidado!!. As meninas tiravam
a gente pra dançar, ai a ente falava: não dá não, agora não, so depois hehe!!
(muitos risos) Po nós éramos feios pra caramba, mas era artista.. 198
Lucyanne - Vocês fizeram sorteio
das músicas ?
Delfim - Não, não, a Novidades
chegava e dizia: vamos treinar essa música, tem o som da Phillips: esse disco
vai estourar, cara! Vamos trabalhar em cima dele, então bora! Chegava pra outro
clube concorrente e dizia a mesma coisa; olha vocês vão tocar isso aqui e assim
a gente fazia o nosso festival. E em matéria de roupa, indumentária, ninguém
tinha recursos né, ai já entrava o seu Fernando, a gente via os figurinos nas
revistas, no cinema, que era um terno bem alto e quem fazia a roupa era Irma
dele, uma excelente costureira, ela que produzia a roupas. Os sapatos eram umas
botas, mandavam buscar botas, eram umas botinhas pra gente. Me lembra isso
(cantou a música “O Bom” de Eduardo Araújo) “Botinha sem meia, E só na areia eu
sei trabalhar, Cabelo na testa, sou o dono da festa, Pertenço aos Dez Mais”. Agora
o maior sucesso mesmo, não lembro se foi uma música do Sérgio Murilo que quando
eu cantava as meninas que me namoravam né. (você vai dizer que sou muito
gabola) as meninas ficavam La na frente do palco, lembro ate hoje de duas
meninas, ai agente dublava algumas músicas de xaveco, só pra mexer com elas:
dispensei você,agora me aparece, pedindo pra voltar pra namorar, veja se me
esquece. Aí as meninas choravam (risos) elas desmaiavam mesmo Ai depois desse
festival, é que foram surgir os grupos que tocavam mesmo de verdade, foi quando
surgiu Blue Birds, The Rock’s, The Right’s, The Sinners, porque eles viram a
gente, só que eles tocavam e a gente só imitava (risos)
Lucyanne - Então enquanto vocês
ensaiavam no Luso, eles já estavam comprando as guitarras de verdade, comprando
no comércio da Zona Franca.
Delfim - Isso, foi quando o seu
Fernando passou a vender instrumentos
musicais, aí eu fui pra aula de
violão, Manuel continuou baterista, o zzinho ficou no sax e eu não sei porque ,
fui esquecendo, cada um pegando seu rumo. Já vieram varias propostas pra gente
se reunir de novo fazer uma festa, a gente no Ducilas, ou no Hotel Tropical uma
festa dessas, não tinha quem não comprasse ingresso, pois iam ver coisa boa.
Delfim - Hoje a gente olha pra um
grupo tocando, a gente vê os defeitos dele, vendo o comportamento deles no
palco,, esse cara toca pra caramba, mas o comportamento dele (ele se refere a
performance do artista) é feio, é horrível. Era um estilo da gente se
apresentar, ninguém ensinou isso pra gente, e os músicos que começaram a formar
grupos iam assistir a gente, quem estava lá 199 sempre pra assistir a gente era
o Chaim que era do Blue Birds, o Adelson, ele era baixista ou guitarrista, era
o Jander Rubens, ai nós tocamos um pouco no Blue Birds, depois nós saímos,
então eles viam como a gente se apresentava, o estilo e a maneira como a gente
se apresentava era chique. Seu Fernando gastava dinheiro pra caramba com a
gente. Era chique aquela roupa. A gente tinha um domínio de microfone, eu mexia
meu corpo, mas a boca não saia do microfone. Hoje o cara ta cantando e esquece
o microfone, eu vejo isso na televisão. Pra ter uma ideia nosso sucesso era tão
grande que íamos pra outros municípios: Itacoatiara, fazer contrato, ai veio um
cara de Porto Velho, viu a gente no Luso, no outro foram La no Luso fecharam um
contrato com a gente pra tocar La em Porto Velho, mas so que eles não sabiam
que era dublagem (risos) pensava que era um grupo mesmo, manja essa parada, pagaram
nossa passagem, fomos de avião..
Lucyanne - Aí levaram a Radio
Eletrola.
Delfim - (muitas risadas) Eles
foram descobrir lá, quando nós fomos fazer o primeiro ensaio no Cine Resc,
maior cinema que tinha lá, ai nós fizemos domingo de manha , de tarde e de
noite, era lotado aquilo, na ultima apresentação deu confusão com a gente. Ai
nós chegamos lá e eles perguntaram cadê os instrumentos, e nós falamos: os
instrumentos estão aqui, que só que não tinha som, quando nós fomos ensaiar nós
levamos o disco né, ai seu Fuarte: Escuta, vocês não tocam não? Ai descobriram
tudo, mas o teatro encheu aí o menino colocava na Eletrola e tocávamos pra
caramba. Aí na época fui representar o Roberto Carlos, eu tinha roupa do
Roberto Carlos, o cabelinho, aquela botinha, aquele negocio. Eu não tinha
dente, só tinha dois na frente, aí fui apresentar dei aquele sorriso ai o cara:
olha aio Roberto não tem dente, ai o bicho pegou. Ate hoje encontramos as portas
abertas, qualquer lugar que a gente chegue somos bem recebidos, justamente pelo
o que nós criamos e fizemos e tá escrito que nós deixamos alguma coisa feita,
pra mostrar pro pessoal que nós fizemos em Manaus, e não teve o apoio de nada,
foi algo natural, pois só depois passou a ter o festival de conjuntos que foi
ate no Cheik Club (se refere aos festivais de musica popular que começaram a
surgir após 1966) Então a dublagem foi muito importante pra Manaus, não tinha
muita coisa pra fazer.. 200 Então foi isso.
Lucyanne - Não ainda não, reviva
como 1º festival rapidinho: como era o publico, como foi a tensão..
Delfim - Hum, foi como se o grupo
fosse tocar pela primeira vez, foi no Atlético Rio Negro Clube, todas as mesas
do Rio Negro foram todas vendidas pra ter uma ideia, no salão dos Espelhos,
tinha uma diretoria que eram os jurados, se não me engano a Baby era jurada
também, que eram os jornalistas. Como a gente movimentou a coisa de uma
brincadeira e passou a ser uma seriedade a coisa, eram jornalistas como Joaquim
marinho, da CBS, da Rádio Baré, Difusora. a gente com muita calma, passamos a
fazer um trabalho perfeito para ganhar o Festival.
Lucyanne - E como era a ordem de
apresentação?
Delfim - Primeiro entrava o
individual masculino e feminino, eu sozinho, depois entrava dupla, era eu e
Alcinéia, ou eu e Edinelza, o terceiro é que entravam os grupos todo mundo
junto, clube por clube.
Lucyanne - O Sr. lembra quais
eram os itens de julgamento?Os critérios?
Delfim - O julgamento era imitar
tal qual o artista, que as pessoas que tivessem olhando não percebessem que
estava imitando: movimento, trabalho artístico, indumentária, posição, gesto, a
maneira como se apresentava, a gente falava levanta o queixo, não podia ficar
de cabeça baixa. Aí a premiação primeiro eram os individuais masculino e
feminino, depois as duplas e por ultimo os grupos. E praticamente foi o Luso
que ganhou todas pela experiência e nós fomos o criador da coisa, eles tinham
experiência, mas não tinham o estilo que gente tinha. Então é assim nossa história, E
nós temos o prazer e o orgulho de mostrar e dizer que ficou alguma coisa nossa
e ninguém pode dizer que não fizemos nada, nós fizemos e temos documentos sobre
isso, eu tenho a fita que o Fernadinho me deu, seu trabalho. Então é isso, que
quero deixar bem claro que existiu, que plantamos alguma coisa de uma
brincadeira virou coisa séria que caiu na responsabilidade dos empresários em
Manaus de pagar as coisas pra gente para gente fazer isso como no caso o Dr.
Joaquim Marinho, da CBS..
Lucyanne - E vocês recebiam algum
cachê no Luso? 201
Delfim - Não, não. Aquilo era puro amor. O que
a gente recebia como pagamento: era um obrigado, uma boa amizade que ate hoje
ainda recebo e eu chego encontro portas abertas, isso foi melhor do que receber
dinheiro pra mim. Eu fico pensando: se essa juventude tivesse ideia de fazer
porque nós fizemos na época, essa juventude não estava jogada fora não, de
manha cedo se acordam vão fazer besteira, ai inventam essas ONGs pra menino
ficar tocando tamborim, não ficar fazendo besteira, mas todos são financiados
pelo governo recebem alguma coisa. A gente recebia um abraço, um caldo verde,
um aperto de mão e o carinho das meninas!!!
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