Ao olhar a fotografia da
década de setenta, mostrando um fervilhar de pessoas passando pela Rua Marechal
Deodoro, lembrei-me da época em que trabalhava na Importadora Souza Arnaud, um
grupo empresarial que junto com outros do comércio de Manaus, faturavam os
tubos com os produtos importados, pois compradores vinham do Brasil inteiro
para adquirirem nas nossas lojas.
Com a regulamentação da
Zona Franca de Manaus, através do Decreto-Lei no. 288/67, o tripé do nosso
desenvolvimento estava direcionado ao setor agropecuário, industrial e de
serviços, o primeira a despontar foi o comércio de importados, pois o nosso
país estava com o mercado fechado para o exterior, com altíssimas alíquotas do
IPI e II e, como em Manaus esses impostos estavam suspensos, os produtos
chegavam baratíssimos.
Os índices de ocupação dos
hotéis chegavam aos cem por cento, sendo utilizados até os motéis para abrigar
tanta gente - os vôos comerciais eram lotados, inclusive, alguns vinham fretados
por pessoas ávidas em comprar as novidades de cine-foto-som made in Japan.
Muita gente ficou rica,
onde alguns começaram apenas com uma portinha e, em pouco tempo, montava a sua
loja, com direto a quota de importação da Suframa.
Por falar em “quota de
importação”, os grandes vendiam parte de sua quota para os pequenos ou
vice-versa, pois naquela época o governo federal estipulava um teto máximo de
importação anual e, cada empresa recebia a sua parte de acordo com o seu porte
empresarial.
Trabalhei durante muitos
anos na área de importação, era um expert
em confecção de Guia de Importação junto a SUFRAMA e DECEX, além de conhecer
todo o processo de aduaneiro, desde a emissão da Declaração de Importação até o
Desembaraço Aduaneiro na Receita Federal, em decorrência disso, vivi e usufrui
de todo aquele boom do comércio de importados.
Conheci muitos
Despachantes Aduaneiros que ficam ricos, além de Corretores de Câmbio que
faturavam montanhas de dinheiro com a intermediação nos fechamentos de moeda
estrangeira – na realidade, todos ganhavam: o exportador, o armador, o porto,
os trabalhadores portuários, os fiscais, os despachantes, o transportador, o
importador e também o consumidor, com produtos de ponta e baratos.
O metro quadrado da Rua
Marechal Deodoro era o mais caro do Brasil, com cubículos que valiam uma
fortuna – muitos prédios antigos da “belle époque” foram todos
descaracterizados para virarem “shopping Center”; por aqui aportaram chineses,
libaneses, indianos e brasileiros do sudeste e nordeste, para faturar nesse
comércio frenético.
Existia uma turma que
faturava alto, levando produtos estrangeiros para serem vendidos em outros
Estados – existia uma quota de saída como existe até hoje, mas, naquele tempo,
um videocassete, televisão ou aparelho de som eram disputados à tapa pelos
consumidores brasileiros – tinha neguinho que viajava toda semana para o Rio de
Janeiro ou São Paulo.
Vivíamos num mar de rosas,
todos felizes e com os bolsos cheios de grana – até chegar um cara chamado
Fernando Collor, ele congelou a poupança, fez o diabo na economia, abrindo o
nosso comercio ao exterior, pois achava os nossos carros uma carroça e, era
mesmo – forçou a indústria brasileira a se modernizar e inundou o mercado
brasileiro de produtos estrangeiros.
Bye Bye Zona Franca de
Manaus! Acabou a moleza de fazerem filas nas portas das lojas para comprarem a
vista um aparelho de vídeo cassete – os turistas fugiram, as lojas fecharam,
chegou o desemprego – quem comeu, comeu, quem não comeu, já era!
A Rua Marechal Deodoro
ficou vazia, feia, depois, virou o shopping “Bate Palmas” – alguns lojistas se
especializaram em oferecer produtos de informática, outros, começaram a comprar
produtos de baixíssima qualidade vinda dos tigres asiáticos, no afã de
conquistar o consumidor local.
2 comentários:
Eu vivi esse clima na minha juventude quando trabalhei no Souza Arnoud (na mesma época que o Rocha) e depois na Moto Importadora. Conheci alguns caras que compravam aparelhos eletrônicos e depois iam para o Aeroporto Eduardo Gomes procurar pessoas que pudessem levá-los para outros estados. Sempre tinha alguém com cota suficiente para isso.
Cheguei à Manaus no final dos anos 90... transferido na época pelo Citibank, onde vive 6 anos melhores da minha vida! É certo que peguei já o final do Comercio tão gostoso de se andar e comprar produtos de qualidade importado! Tudo muda na vida... aquele tempo tão bom ficou apenas na lembrança... lembro de algumas lojas: Amacom, Ciex, Apolo importadora, e tantas outras, como era bom sair comprando e vendo tantas pessoas felizes - menos os políticos e o comercio do sudeste... pois bem, quando vou à Manaus, ando pelas ruas do centro... vejo o que foi um dia um local totalmente diferente.... é pena que o passado só volta na memória. Nadilson
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