segunda-feira, 1 de março de 2021

DUELO HISTÓRICO NA PRAÇA DE SÃO SEBASTIÃO - FÁBIO LUCENA X ANDRADE NETO

 


Este duelo aconteceu em Manaus, no dia 26 de novembro de 1977, na Praça de São Sebastião, tendo como desafiante o empresário dono do jornal A Notícia, o senhor Andrade Neto, e o desafiado, o vereador Fábio Lucena.

Essa presepada toda consta na Dissertação de pós-graduação em História pela UFAM, do acadêmico Giovanny Amaral e foi presenciada pelo então Deputado Federal Mário Frota, conforme relatos contidos neste trabalho.

Um duelo ocorre quando uma pessoa desafia outra para um confronto armado, motivado, habitualmente, por um desejo de desagravo à honra ou desavenças individuais, buscando, acima de tudo, demonstrar sua supremacia no campo de batalha.                                            

Andrade Neto – era casado com a filha do Comendador Felix Fink, dono das drogarias Fink. Proprietário do jornal A Notícia (circulou até 1990). Foi um político e empresário muito polêmico em Manaus.

Fábio Lucena – nasceu em Barcelos em 1940, foi bancário, jornalista, vereador e senador da república. Foi um político polêmico.       Cometeu o suicídio em Brasília, em 1987.

O Edil trabalhava como redator para o empresário Andrade Neto, no jornal A Notícia, no entanto, fez uma homenagem na tribuna da câmara pela passagem dos 25 anos do jornal A Critica, o que contrariou o seu patrão, ocasionando a sua demissão.

O jornalista Humberto Calderaro admitiu o Fábio Lucena em seus quadros, onde aproveitou para desmoralizar o Andrade Neto,        além de utilizar a tribuna da câmara para o mesmo intento.

Por outro lado, o Andrade Neto começou a revidar e escrever sobre a vida pregressa do vereador. Durante longo tempo os dois trocaram acusações, culminando em um “Duelo e vida ou morte na Praça de São Sebastião”.

O acontecimento foi um tanto engraçado, servindo para engrossar os registros históricos do “Folclore Político de Manaus”.

A briga entre os dois chegou ao seu ápice em 1977, quando o Andrade Neto em artigo publicado na coluna “Pinga-Fogo”, do jornal A Notícia, desafiou o Fábio Lucena para um “desforço pessoal” em local e hora que ele determinasse.

Diante disso, Fábio Lucena, disse “Se Andrade Neto for o pai de seus filhos, que compareça amanhã, às oito horas, na Praça de São Sebastião, pois lá estarei para enfrentá-lo do jeito que ele vier, à bala ou de qualquer jeito, perante os pés e o testemunho de nosso senhor Jesus Cristo. Juro pela vida dos meus filhos que, se o encontrar em qualquer parte da cidade, um de nós dois morrerá, não o faço em nome de Deus, porque seria uma profanação, mas se for necessário o faço em nome de Satanás”.

Segundo Mário Frota, ele falou com o Humberto Calderado a convencer o Fábio Lucena a desistir do intento, mas foi em vão.

No dia acertado, Frota foi até o apartamento de Lucena que fica no edifício Maximino Corrêa, na Praça do Congresso. Chegando lá, ele presenciou um negócio muito engraçado, quando o Fábio Lucena recebeu das mãos de um coronel dois revólveres de cano longo. Vestiu um paletó quadriculado (marrom, preto e marrom), botou no pescoço um lenço vermelho e desceu as escadas.                           Lá fora uma multidão o esperava.

Fábio Lucena foi à pé seguido pela multidão, pois o achava um herói, um cara que teve a coragem de desafinar o todo poderoso dono do jornal A Notícia, o Andrade Neto.

Entrou na Igreja de São Sebastião, e disse: “Eu quero entrar sozinho”. Ajoelhou-se, com as mãos postas, ele era muito católico, rezou, orou. Na saída um jornalista o indagou “Vereador, o que o senhor veio fazer mesmo agora, que o senhor se ajoelhou e orou?” Fábio respondeu: “Não, eu orei a Deus neste momento, eu entreguei minha alma a Deus e o corpo a Satanás”.

Ele foi para o meio da Praça de São Sebastião  e falou a multidão: “Agora, que ninguém me acompanhe, em razão do perigo das balas”. A galera toda com medo correu para assistir lá em cima nas escadarias do Teatro Amazonas. 

O Andrade Neto morava numa bela casa situada na esquina da Rua Dona Libanea. O Fábio ficava olhando atentamente para aquela rua da antiga casa do J. G. Araújo, achando que o rival viria por lá.                             

O clima ficou tenso. Um silêncio total. O povo estático esperando ansiosamente o desfecho daquela cena que lembrava os velhos filmes de faroeste do Cine Guarany.

Colocou o paletó para trás, parecia um filme de bang-bang, com os dois revolveres na cintura, andando prá lá e prá cá.                 

Quando o sino do relógio da igreja bateu as oito badaladas fortes da manhã, ele parou, respirou profundamente e ficou naquela posição concentrada de sacar e atirar primeiro.                                      Pense numa situação engraçada.

Ficou assim durante uns dez minutos. Olhou para o relógio e gritou        “O poltrão não apareceu! O poltrão não apareceu”.                          

A multidão correu lá de frente do teatro em sua direção, abraçando e gritando o nome dele “Fábio, Fábio, Fábio”.                                Virou um super herói baré.

Foi quase “Um Duelo de Vida e Morte”, que evidenciava o temperamento do Fábio Lucena, que felizmente não aconteceu.

É isso ai.