domingo, 19 de julho de 2020

COMANDANTE VENTURA E OS BOMBEIROS CIVIS DE MANAUS


O português “Comandante Ventura” fez história em Manaus nas décadas de 50 e 60, por ter sido um grande benemérito e o fundador e comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Manaus, sediado no bairro de Aparecida.

José Antônio Dias Loureiro Ventura (14/04/1897-6/12/1961), conhecido como “Comandante Ventura”, era um industrial português, natural da freguesia de Bonfim, Distrito da cidade do Porto.

Ele organizava grupos de folclore e música portuguesa, que mantinha com recursos financeiros próprios. Era um homem de bom coração, que veio do além-mar para viver aqui em Manaus. Incentivador de grandes campanhas de benemerência em favor dos necessitados, principalmente da Casa da Criança, Hospital Dr. Fajardo, do Instituto Gustavo Capanema e dos leprosários do Aleixo e Paricatuba.

O que o marcou na nossa história foi a idealização e fundação do Corpo de Bombeiros Voluntários de Manaus, sediado no bairro da Aparecida, uma corporação composta por 60 voluntários sob o seu comando, para suprir a ausência do poder público nos dramas de incêndios da cidade.

Em 1942 houve um grande incêndio na Lusitana Industrial Limitada, fábrica de sua propriedade. Em 1951 houve outro grande incêndio na fábrica de bebidas de Virgílio Rosas, na Rua Marcílio Dias, no centro da cidade. Isto o marcou muito, surgindo a ideia da criação de um serviço de bombeiros voluntários.


Em 24 de abril de 1952 a ideia se materializou. Foi fundada a Sociedade dos Bombeiros Voluntários de Manaus (SBVM), ficava no terreno onde morava José Antônio Ventura, na Rua Comendador Alexandre Amorim, 289, bairro Aparecida, onde hoje está instalado o Fórum dos Juizados Especiais Des. Mário Verçosa.

Contou com o apoio de sua esposa, a senhora Silvia Isabel Neves, que era irmã do ex-governador Leopoldo Neves (1947-1951), conhecido como “Pudico”.

O uniforme de operações era um macacão azul, com capacete metálico e um distintivo no peito com as iniciais BVM. A corporação era formada por comerciários, operários, funcionários públicos e profissionais liberais. Dentre eles figuravam os Srs. Francisco Rebelo de Souza, Manoel Gomes, Danilo Matos Areosa (Governador do Amazonas), Hermínio Barbosa, Jorge Abrahim, José Afonso, Raul Batista Rodrigues, Moacir Fortes Xavier, José Luciano Ventura, Brígido Torres Nogueira, Severino Paiva, Phelippe Daou (fundador da Rede Amazônica) e outros.

Quando ocorria um incêndio na cidade o evento era anunciado através de sirenes e pelo rádio, na maioria das vezes o BVM chegava antes dos bombeiros municipal. Eles se entendiam e estabeleciam somente uma voz de comando quando entravam em ação. Eram bem vindos, pois o município não possuía viaturas e equipamentos necessários para debelar o fogo.

Os bombeiros voluntários gozavam de grande prestígio no seio da sociedade manauara, em decorrência de sua atuação exitosa em várias ocasiões de sinistros e também em razão de sua atuação de assistencialismo social.

Eles dispunham de três veículos de propriedade particular dos voluntários, os quais alimentavam o desejo de construir o seu próprio quartel. Contavam com apoio financeiro da Prefeitura de Manaus, da Superintendência de Plano de Valorização da Amazônia (SPEVEA) e do comércio local.

Um fato que marcou profundamente a corporação foi a morte do  subcomandante, o também português Constantino Machado, em maio de 1960, vítima de acidente de trânsito, quando atuava para conter o incêndio na Usina Três Unidos (beneficiava castanha e sabão, situada na Rua Visconde de Porto Alegre esquina com a Rua Ipixuna).

O acidente ocorreu no cruzamento da Avenida Sete de Setembro com a Avenida Eduardo Ribeiro, quando um ônibus da Transportamazon (empresa estatal criada pelo governador Plínio Coelho) colidiu com a viatura da SBVM.

Outro acidente fatal ocorreu no dia 6 de dezembro de 1961, culminando com a morte do Comandante Ventura. Ele voltava no jipe de sua corporação, após uma operação que debelara o incêndio na Fábrica de Asfalto do DER-Am, situada no Km 32 da Estrada Manaus-Itacoatiara, o carro que trazia o capitão Ventura capotou e matou o condutor dos bombeiros voluntários.

Com a morte de seu comandante, o Sr. José Afonso assumiu a corporação. Apesar de sua boa vontade, a SBVM sucumbiu em 1962, não resistindo à falta do “Comandante” Ventura.

Em 6 de julho de 1963, através da lei municipal nº 802, instituiu o Corpo de Bombeiros de Manaus. Com o amparo legal teve a sua expansão e aparelhamento a altura das demandas da capital amazonense.


A sede ficava localizada na Avenida Sete de Setembro, entre a Avenida Joaquim Nabuco e a Rua Igarapé de Manaus. Eu morava naquelas imediações na minha infância e ainda alcancei a atuação dos bombeiros públicos. O prédio ainda sobreviveu até os tempos atuais, conforme foto acima. A Prefeitura de Manaus o abandonou. É um imóvel tombado pelo IPHAN e esta preste a tombar, literalmente.

Através do Decreto nº 2.426/72, o Corpo de Bombeiros ficou subordinado a Polícia Militar do Amazonas. Em 1998 a corporação ganhou a sua autonomia administrativa.

O Comandante Ventura foi homenageado pelo Governo do Estado do Amazonas, em 2008, ao emprestar o nome ao Cineteatro Comandante Ventura, no Centro Estadual de Convivência do Idoso, na Rua Wilkens de Matos, no bairro de Aparecida, zona Sul de Manaus.

A atuação briosa e benemérita dos Bombeiros Voluntários de Manaus mesmo desaparecido em 1963 permanece no imaginário dos mais antigos apagando incêndios e salvando vidas.

O médico português Dr. Fernandes Gonçalves veio ainda criança para Manaus, morando toda a sua infância e adolescência no bairro de Aparecida, pediu-me para fazer esta postagem e publicar no nosso blog.

Aproveito a oportunidade para agradecer ao trabalho de pesquisas dos escritores Coronel Roberto Mendonça e Durango Duarte. O leitor poderá acessar os linques abaixo e se inteirar de forma mais profunda sobre este tema.

Dedico este trabalho a todos aqueles bravos voluntários e seus familiares e aos portugueses do bairro de Aparecida.

É isso ai.

Fontes:
Bombeiros em Manaus (Série 1960), Durango Duarte https://idd.org.br/bombeiros-em-manaus-serie-1960/

Fotos: Segunda e Terceira: José Rocha

Nenhum comentário: