No perímetro entre as ruas Tapajós/Leonardo Malcher/Ramos Ferreira, existia um
barão, dono de todas aquelas terras, doadas pelo Império Brasileiro – ficou
famoso por edificar uma das mais belos casarões do século dezenove e, por
construir um açude (represamento de água), distribuindo o precioso líquido,
gratuitamente, aos moradores de todo aquele entorno.
O seu nome oficial era Coronel Leonardo Marques Brasil, conhecido como Barão de
São Leopoldo, conseguiu esse título em decorrência de ser filho de um homem
rico e influente no Império – fazia parte da elite amazonense, ganhando muitas
terras onde é hoje o Estado de Roraima.
Em Manaus, foi agraciado com muitas terras, principalmente, no antigo bairro de
São Sebastião, onde construiu a Chácara de São Leopoldo, onde funcionou o
Instituto Benjamim Constant, na Praça 5 de Setembro (atual Praça do Congresso,
como é conhecida pelos manauaras).
Todas as terras adjacentes a sua chácara eram de sua propriedade – onde é hoje
parte das ruas Tapajós, Leonardo e Ramos Ferreira.
Como podem observar na fotografia aérea do entorno do antigo Instituto Benjamim
Constant, tudo ali era uma imensa mata nativa. (irei postar amanhã).
Em 1874, o Barão de São Leopoldo, resolveu contrariar as leis vigentes, que não
permitiam um particular represar (fazer açudes) e distribuir, gratuitamente,
água potável à população, pois os “aguadeiros” (trabalhadores avulsos que
coletavam água em bicas, pagando impostos, para revender aos moradores de
Manaus).
Naquela época, no entroncamento da atual Rua Tapajós e Leonardo Tapajós corria
um braço do famoso Córrego do Aterro – mandou cercar de pau-a-pique (uma
técnica antiga construtiva de entrelaçamento de madeiras verticais fixadas ao
solo com vigas horizontais), a fonte de água potável, fazendo uma represa de
alvenaria de tijolos, por sua conta e risco.
A Câmara Municipal de Manaus editou uma lei dando o prazo de quinze dias para o
Barão retirar a tapagem feita no córrego, porém, não atendeu – a briga foi
feia, mesmo com a câmara contando com advogados e a polícia, o Barão não cedia,
sendo apoiado pelo povo que recebia água sem nenhum pagamento.
Depois de muita bronca, a câmara municipal mandou postar praças (soldados) do
Corpo da Guarnição naquele local, quando o Barão, finalmente, cedeu às pressões
e mandou tirar a tapagem da represa.
O açude desapareceu, definitivamente, quando foi construído um bueiro (tubo
para a saída das águas, pelo então governador, o Dr. Fileto Pires Ferreira, em
1896 (no mesmo ano da inauguração do Teatro Amazonas), no entroncamento das
ruas Tapajós e Leonardo Malcher.
O Barão de São Leopoldo vendeu o imóvel para o governo do Estado do Amazonas -
antes de tornar-se o IBC, no local abrigou várias instituições, como o Museu
Botânico do Amazonas, uma maravilha criada pelo botânico Joaquim Barbosa, em
1884 e, fechado em 1888 – e o Orfanato, para meninas com idade entre seis e
quatorze anos, elas ficavam por lá até os vinte e um anos, recebendo uma
educação com base na cultura religiosa.
Funcionou como Colégio Estadual do ensino fundamental (até a 8ª série) e,
atualmente, uma parte abriga o IBC - Instituto Benjamin Consta, do CETAM -
Centro de Educação Tecnológica do Amazonas e, outra parte foi desmembrada,
formado dois colégios do ensino médio e fundamental, com entrada pela Rua Tapajós.
Quando fui morar na Vila Paraíso, com entrada pela Avenida Getúlio Vargas e
saída pela Rua Tapajós, tive a oportunidade de presenciar a passagem de um
córrego pelo meio da Rua Tapajós, pois era um buraco e não passavam automóveis
– alimentavam o que chamamos de “Vala do Beco da Bosta”, na Vila Paraíso.
Naquela época, os mais velhos falavam que aquele córrego vinha de uma nascente
das terras de um senhor conhecido como “Baleia”, um criador de porcos e que
mantinha uma imensa horta (atualmente, estacionamento do SEBRAE).
Na realidade, esse córrego vem lá do Boulevard Amazonas, onde ainda é possível
ver alguns trechos onde o igarapé corre a céu aberto pelas Ruas Comendador
Clementino (por detrás da casa do nadador Paulo Rabello) e Silva Ramos (onde
mora a famosa tacacazeira Dona Maria Branca, mãe do Nonato Galvão, do Tacacá da
Ivete).
Depois de um século e meio, onde um dia fora um fonte de água potável,
consumida pelos nossos antepassados, virou um esgoto a céu aberto!
Esta postagem eu dedico a todos os meus vizinhos da Rua Tapajós, Rua Leonardo
Malcher e Avenida Ramos Ferreira – é uma passeio na história para valorizarmos
mais o nosso passado e o nosso futuro.
É isso ai.
Fonte: Livro Roteiro Histórico de Manaus, Volume I, Mario Ypiranga Monteiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário