Tive a oportunidade de
passar um mês e alguns dias em uma sala do terceiro andar, do edifício da Rádio
Mar, no Largo de São Sebastião e, por ela ficar praticamente na altura da copa
das árvores daquele lugar, deu para ter um olhar diferente sobre as pessoas que
por ali transitavam e, de algumas edificações históricas da nossa cidade.
Acompanhei a montagem e
desmontagem do espetáculo de Natal “Glorioso”, com toda aquela movimentação dos
operários, equipamentos, atores e ensaios, uma loucura! Foi um megaevento,
coisa de cidade rica, dos tempos bons da belle
époque, quando o dinheiro transbordava nos cofres do Estado – acredito que
o Robério Braga incorporou o espírito megalomaníaco do governador Eduardo
Ribeiro.
Passado esta fase, veio o
pessoal com a recolocação dos postes de iluminação, pinturas na lateral e
retirada de entulhos – ficando tudo como entes, dando para curtir a beleza que
é o Teatro Amazonas, principalmente, da cúpula onde dava para ver os detalhes
daquela obra ímpar, apesar dela estar clamando por uma pintura já faz bastante
tempo – sempre tive uma vontade enorme em um dia conhecer o interior daquela
abóbada.
No Teatro Amazonas, outra
coisa que me chamou a atenção é a inscrição da data “Cinco de Setembro de 1850”
(data da independência administrativa do Estado do Amazonas) em cor azul com o fundo
em puro ouro! Deu para ver muito detalhes do telhado, portas, janelas, óculos,
estátuas, jardins, portões laterais, etc. - além da movimentação de turistas,
admirando aquela beleza de arquitetura.
Por falar em turistas, o
largo está apinhado deles, a grande maioria vem dos transatlânticos que toda
semana param no Porto de Manaus (Rodoway), pois estamos na alta estação e a
Amazônia é uma marca muito forte, o que concorre para que milhares e milhares
deles optem em aparecer por estas bandas.
Certo dia avistei lá de
cima um turista andando apressado, lembrei-me de um papo em que ouvi entre dois
seguranças do Largo, um deles estava comentando sobre um gringo que se dirigiu
até ele e, começou a falar em inglês, o guarda estava mais por fora do que umbigo de mulher da dança do ventre, depois,
falava em toilette e water closet e, segundo o guarda, ele
somente balançava negativamente a cabeça, pois não entendia patavina daquela
língua, notou que o homem já estava ficando verde e soltando traques de montão,
foi quando o gringo fez aquele sinal internacional “deu duas palmadas na
barriga”, ai sim, o guarda entendeu que o americano estava com uma vontade
doida de jogar um barro na louça, foi
quando ele apontou para o lanche African
House, o cara saiu em disparada com as calças quase arriadas.
É isso mesmo, está
faltando banheiros públicos em toda a cidade de Manaus, bem que poderiam pelo menos
colocar uns dois no Largo, daqueles do tipo “químico”, pois quem viaja, sabe
muito bem que, em decorrência da alimentação, o turista sempre adquire aquela soltura de ventre, a famosa fininha - pense no aperreio do caboco
quando ele não encontra um toalete público!
Como a vista lá de cima é
privilegiada, sendo possível ver toda a movimentação de turistas, estudantes,
aposentados e, cachorros, é isto mesmo, tem uma matilha no Largo de São
Sebastião, são animais abandonados e doentes que necessitam de cuidados.
A Secretaria de Cultura
mandou dar uma nova pintura no Centro Cultural Palácio da Justiça, mas, anda a
passos de jabuti, naquela moleza, somente a parte externa da Rua Dez Julho foi
concluída, acho que eles desistiram, pois o que tem chovido em Manaus não é
brincadeira.
Este prédio já foi centro
das atenções dos estudantes de Direito, dos advogados, juízes e
desembargadores, mas, muito temeroso pelos homicidas, pois funcionava ali o
tribunal do júri - hoje, serve para exposições e júri simulado para os alunos
da área jurídica, além de guardar parte da mobília do antigo tribunal.
Estive uma vez visitando
aquele prédio, senti que o fluxo de pessoas é muito pequeno, pois não há
divulgação das suas atividades por parte da SEC – em minha opinião, deveria
haver funcionários daquela secretária, de plantão, no Largo de São Sebastião,
informando aos turistas e nativos sobre todos os espaços culturais, pois além
da Praça e Igreja de São Sebastião e do Teatro Amazonas, os turistas poderiam
visitar o Palácio da Justiça, Casa Ivete Ibiapina, Galeria do Largo e Casa de
Artes.
Observei muitas pessoas
tirando fotografias do Palácio da Justiça, um monumentoso prédio histórico,
porém, não ousam entrar, por não saberem que é aberto ao público e, muito
menos, o que contém lá dentro – falta divulgação, mermão!
O Ideal Clube era o clube dos bacanas, da nata da sociedade, naquele lugar funcionava a famosa “Boate Moranguinho”, o tempo passou, acabou o encanto, tornou-se mais um espaço administrado pela Secretaria de Cultura, com muitas atividades desenvolvidas naquele espaço - pena que acabaram com o Teatro Gebes Medeiros - a conservação do prédio está deixando muito a desejar – ao longe dar para ver o telhado, parte das janelas e fachada, todas desgastadas com o tempo, pedindo uma pintura já faz muito tempo.
Numa rápida olhada para o
lado esquerdo, é possível ver-se os fundos do Hospital da Santa Casa de
Misericórdia – se o hospital está abandonado, imagine como anda os seus fundos!
Uma coisa que chama a atenção são algumas casas antigas com frente para a Rua
José Clemente, acredito que com o tempo foram sendo incorporadas ao hospital –
como o governador do Amazonas e os provedores não chegam a um consenso sobre a
sua revitalização e abertura daquele hospital, onde eu nasci, resta-nos somente
a lamentar o seu abandono.
Um olhar do terceiro andar
- é isso ai!
Fotografias: J Martins Rocha
Fotografias: J Martins Rocha
Um comentário:
É, a nossa memória está sempre sendo relegada para a última das prioridades do governo. Temos uma concentração forte no resgate da Manaus da Belle Époque (leia-se) o quadrilátero do Teatro Amazonas. Enquanto outros lugares que deveriam ser preservados ou utilizados como espaços culturais, de preservação e divulgação da memória ficam relegados ao esquecimento. Infelizmente isso é todo o lugar. A prioridade na capital são os empreendimentos imobiliários. Tomemos cuidado com a especulação imobiliário por que vai que esses prédios, como a Santa Casa não são demolidos em nome da modernidade.
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