terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O ASSASSINATO DO DELEGADO ADERSON MELO

O crime morte de uma pessoa praticada por outrem, conhecida por homicídio, tornou-se uma coisa comum, infelizmente, na nossa sociedade, porém, o assassinato do meu colega de faculdade, conhecido por Aderson, marcou profundamente todos os alunos da Faculdade de Estudos Sociais, da antiga Universidade do Amazonas, na década de oitenta.

Os estudos da área de Administração, como pregava o grande mestre Idalberto Chiavenato, envolvem os conhecimentos de muitas técnicas e, principalmente, das ciências sociais, dotando o profissional de habilidades técnicas, humanas e conceituais, pois, em qualquer posição dentre das organizações, o administrador somente alcançará os objetivos propostos, mesmo tendo conhecimentos, técnicas e equipamentos -, através do trabalho de outras pessoas -; além de fazer compreender as complexidades da organização global e o ajustamento das pessoas dentro da organização. Dessa forma, esta ciência é muitíssima importante para profissionais que desejam alcançar uma posição de comando.

O Aderson era formado em ciências jurídicas, passou no concurso público para Delegado de Polícia Civil do Amazonas, exercia o seu cargo com muita determinação e profissionalismo, no entanto, sonhava mais alto, talvez almejasse galgar um dia uma posição de Delegado Geral ou Secretário de Segurança Pública, tanto que resolveu fazer mais uma faculdade, estudava Administração, para exercer com competência um cargo de gestão.

Antes da conclusão do Campus Universitário, da Universidade Federal do Amazonas, no Bairro do Aleixo, todas as faculdades ficavam em prédios próprios, espalhados pela cidade de Manaus. A Faculdade de Administração e Contabilidade ficava situada na Rua Monsenhor Coutinho, numero 301, esquina com a Rua Epaminondas, atualmente, funciona o Colégio Estadual Professora Eunice Serrano Telles de Souza.

A partir do quarto período, o Aderson passou a ser o meu colega de classe, sentava sempre ao meu lado, fizemos logo uma grande amizade, ele não falava nada sobre as suas atividades de Delegado de Polícia. Certa Vez, mexendo na sua bolsa capanga, deixou cair um revólver de grosso calibre, tomei o maior susto, ainda bem que estava travado; foi quando ele falou que, em decorrência da sua função de Delegado, combatendo a marginalidade e, para sua segurança, era obrigado a andar armado; a partir desse ocorrido, ele começou a falar um pouco do seu dia-dia, tornou-me seu confidente.

Ele era um cara muito querido pelos colegas, não era arrogante, muito bom de papo, tinha o dom da oratória; por ter sido um advogado, tinha muitos conhecimentos, pois, a sua formação o exigiu muitos estudos e leituras. Em decorrência do seu ofício, andava sempre de calça social e camisa de manga comprida, algumas vezes usava gravata, gostava também de usar um cavanhaque (barba aparada).

Fiquei sabendo que ele tinha uma irmã, ela namorava um cara de fora, filho de um dono de frigorífico em Goiás, distribuidor de carnes para Manaus; ele não gostava do cunhado, pois, o cara era muito violento e já estava começando a espancar a sua irmã, em decorrência disso, ela pensava em dar uns corretivos no sujeito.

Fomos matriculados em uma disciplina de Administração Financeira, a matéria era ministrada na Faculdade de Educação, atual, Centro de Artes da Universidade do Amazonas (CAUA), na Rua Tapajós, ao lado da Igreja de São Sebastião. Todas as sextas-feiras, saímos da nossa faculdade e íamos a pé para assistir dois tempos, depois, voltávamos para assistir o último tempo – aquele local sempre foi muito arborizado e bastante escuro, fizemos este percurso durante muitos meses.

Certa vez, encontrei o Aderson conversando com um grupo de amigos no portão da nossa faculdade, ele falou: - Caro Martins, vai em frente, depois eu irei. Foi a primeira vez em que fui sozinho, assisti toda a aula e senti a falta do meu colega. Quando retornei, notei algo estranho, todo o centro de Manaus estava fechado pela polícia civil, não estava entendendo nada, quando cheguei à faculdade foi informado da morte do meu colega Aderson, inclusive, fui levado até o local onde ele foi assassinado, ainda deu para ver o sangue no chão, isto ocorreu em 1981.

Quase que eu entro em choque, pois, poderia ter sido morto naquele dia – ao conversar com alguns colegas, foi ventilado que aquele tipo de crime poderia ser de “encomenda”, geralmente o trabalho é feito por um assassino profissional, o famoso “pistoleiro”; ele deve ter me visto inúmeras vezes, passando com o Aderson pelo local, no dia em ele o viu, andando sozinho, fez o trabalho para qual fora pago, não lhe interessava me assassinar, eu não era o alvo, mesmo assim, acredito que estava correndo risco de vida e não sabia.

Não posso afirmar, porém, alguns colegas comentaram que o Aderson fez uma prisão arbitrária do cunhado, após ele ter espancado novamente a sua irmã; na Delegacia, no bairro da Raiz, Zona Sul de Manaus, mandou dar-lhe várias surras, inclusive, foi até enfiado um cabo de vassoura no seu ânus. O cunhado, valendo-se da sua condição de aspirante a Oficial do NPOR e por ser filho de um homem rico, jurou que um dia iria matar o referido Delegado, custasse ou que custasse.

Este rapaz deixou de namorar a irmã do Aderson, mudou de vez para a sua terra natal, deu um tempo e, contratou dois pistoleiros na cidade Imperatriz (MA) para tirar a vida do meu colega. Tempo depois, morreu, misteriosamente, num acidente de trânsito em uma estrada de Goiás.

A morte de Aderson foi muito difícil para todos da faculdade, conseguimos superar e, na nossa formatura, ele foi muito lembrado. For feita a seguinte Homenagem Postuma: “Ao inesquecível colega, ADERSON CONCEIÇÃO DE MELO, que tão cedo e repentinamente Deus chamou para a sua morada eterna, onde, como todos os justos, leais, e acima de tudo, cumpridores dos dignos deveres durante seus dias entre nós, viverá eternamente na paz do Senhor”.

O governo do Estado do Amazonas fez uma justa homenagem ao meu colega, criando o "Institudo de Identificação Aderson Conceição de Melo". Com este meu artigo, correndo na internet, ele ainda será lembrado por muito tempo, com certeza! É isso ai.


2 comentários:

A.M. Consultoria disse...

Que homenagem linda ao seu amigo. Ele, com certeza, era muito feliz de ter uma pessoa como você, em sua companhia.
Abraços.
Marcela

Unknown disse...

Meu nome é Hudson Luiz Araújo de Melo e meu nome já diz quem sou, sobrinho do delegado Aderson.
Movido pela curiosidade da morte de meu tio, encontrei seu blog fazendo uma homenagem a uma pessoa que me tiraram a honra de conhecer, pois eu tinha apenas alguns meses de vida quando assassinaram meu tio.
Obrigado pela homenagem.