quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O FORRÓ DA MARIA BELÉM


A Dona Maria Belém, era uma senhora que veio com a família, do interior do Pará, para morar em Manaus, em torno da década de 20; tornou-se uma mulher festeira, foi considerada uma referencia no quesito diversão, com muito forró na sua residência, situada no Igarapé de Manaus.

Apesar dos paraenses gostarem muito do Carimbó, um tipo de dança de roda, originário da cidade de Marapanim/Pará, a Dona Maria Belém adotou o Forró, o famoso “arrasta-pé”, uma música originalmente instrumental, parente do baião, porém com andamento mais acelerado, muito apreciada no nordeste, principalmente no Ceará; acredito que ela foi influenciada pelas famílias de nordestinos que migraram para a Amazônia, na época do auge da coleta do látex das seringueiras.

Ela morava num grande flutuante (casa sob toras de madeira), ficava ancorado na Rua Ipixuna, no Igarapé de Manaus, morou por lá durantes décadas, até o desmonte da Cidade Flutuante, por parte do governo do Estado, na década de 60. A sua casa tinha uma distribuição interior igual aos dos caboclos ribeirinhos da Amazônia – feita toda de madeira, com um grande salão, um pequeno quarto, cozinha com um girau (espécie de pia), banheiro e privada juntos, com duas portas, uma na frente e a outra nos fundos, além de várias janelas nas laterais, com cobertura de palha (tira seca e flexível de juco, vime, taquara ou outra planta), não tinha água encanada e nem luz elétrica.

Nas sextas-feiras e sábados, a sua residência era transformada num grande salão de danças, os músicos que se apresentavam eram originários das Pastorinhas, da Rua Major Gabriel, tinha também alguns que tocavam instrumentos de sopro, advindo das ruas do entorno da sua casa. A entrada era gratuita, bastava apenas ter fôlego para dançar até o sol raiar e gogó de aço, para entornar bastante “goró”.

A molecada podia entrar, mas era logo expulsa, sabe como é curumim, pois segundo o meu amigo Jokka Loureiro: “Menino, Macaco e Cachorro, somente amarrado!”. Sempre aprontando, algumas vezes ficavam chupando limão bem na frente dos músicos de metais, “não tem fiofó de peruano que aguente”, a boca ficava logo cheia d´água - como é que se consegue assoprar um saxofone, mano!

A batida de limão, tipo ponche, era feita numa grande panela, com muitas e muitas garrafas de cachaça Cocal (vindo do Pará, é lógico!) - o pessoal tomava num caneco de alumínio, colado com uma haste, o mesmo que é utilizado para tomar água de Pote (grande vaso de barro). Lá pelas tantas horas, o “pote da rapaziada” já estava bastante cheio, começam a soltar impropérios uns contra os outros – e ai “comia o couro”!

A iluminação era a base de Lamparinas (feito de metal, com um pavio e querosene), algumas vezes os mais afoitos sopravam a chama para apagá-la, pois com a escuridão, dava para pegar nos seios de alguma cabocla ou dar um acocho na vizinha gostosona.

Numa bela noite de luar, a rapaziada começou uma desavença - “aí o bicho pegou” -, muitos pularam pelas janelas, dentro de rio, que estava cheio, os músicos correram, a mulherada debandou, o flutuante começou a tremer, uma lamparina caiu dentro da panela de batida de limão. Depois de algum tempo, entra em ação a turma do “deixa disso”; os ânimos foram acalmados, todos voltaram para o Forró da Maria Belém - quando foram reiniciar os trabalhos, a cachaça estava com o gosto esquisito, a Dona Maria Belém meteu a mão dentro da panela, tirou a lamparina, jogou pela janela e, gritou:

– E aí cambada de valentões, ordinários, não vão mais encarar a minha batida de limão? Perguntou na maior, mostrando um terçado Matão.

Um deles detonou – Até que dá para tomar, mesmo com este gosto escroto de querosene!

– Tá bom, podem beber e dançar novamente, mas se começarem a brigar de novo, irei acabar na hora com a porra desta festa e botar todo mundo prá correr! Dando um ralho nos cabras.

Era assim todo o final de final de semana, muito forró, cachaça e porrada para todo o lado, mas quem por lá frequentou, jamais esquecerá o Forró da Maria Belém! É isso.

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