quinta-feira, 13 de maio de 2021

DR. JOSIAS, O CAPA ONÇA

 

           Ele morava na Rua José Clemente, próximo ao Salão Grajaú. 

Foi Diretor do Colégio Estadual (Praça da Polícia) e funcionário da Petrobrás onde se aposentou. 

Foi também advogado, formado pela antiga UA (atual UFAM), militando anos na profissão. 

Gostava de tomar cerveja e tirar gosto com conhaque (para abrir o apetite).

Era fumante inveterado, tanto que tinha aquele pigarro característico. Vez e outra dava umas tossidas alta e uma cusparada no meio da rua. 

Até ai tudo bem para um boêmio que gosta de fumar o seu cigarrinho. 

No entanto, o que mais chamava atenção era aquele apelido estranho de “Capa Onça”. Todo mundo tinha medo de chamá-lo pela alcunha, pois o sujeito que teve a coragem de pegar uma onça pelo braço, imobilizá-la e arranca-lhe os seus culhões (testículos) com uma faca peixeira, deveria ser realmente, uma pessoa muito valente e brava. Quem iria se atrever a capar uma Onça? Ninguém. Com exceção do Dr. Josias Fiqueiredo! Se ele fez isso não sabemos, mas o apelido vingou. 

Eu somente ouvia a Dona Maria      chamá-lo pelo apelido. Meu Deus!

Ele gostava de conversar comigo e com o meu irmão Rochinha, pois fomos contemporâneos dos seus sobrinhos Adelson e o Aldenor Fiqueiredo, no Igarapé de Manaus.                                   

Sempre tinha razão, não adiantava argumentação, sem chance para o contraditório na mesa de bar. 

Tinha um vozeirão que metia medo. Sempre bebia sozinho no balcão e não era de papear muito com os  outros frequentadores.           

Certa vez, passou por lá um vendedor com um carrinho de mão cheio de melancias.  O Dr. Josias pegava uma por uma e batia com os dedos fechados e ficava ouvindo o som, escolheu uma bem grande e a mais cara.      Falou bem alto para todo mundo ouvir:                                                - Sou nascido e criado no interior, no meio das plantações de melancias, conheço como a palma da minha mão, só na batida sei se está boa ou não, malandragem da capital                         não              me                ganha,              não!

Pagou e foi deixar a bendita melancia em sua residência (ficava quase em frente ao bar)        e voltou para reiniciar os trabalhos.                    

O vendedor “pegou o beco” depois da venda. Minutos depois, veio a empregada e jogou a melancia na calçada, foram pedaços para todos os lados, ficou assustado com aquilo e ela falou bem alto para todo o quarteirão ouvir:                                             

- Doutor Josias, a   patroa   mandou   jogar aqui,  pois     está     melancia    está       podre!

- Puta que o pariu! Foi a primeira vez                 na vida em que errei!    A galera neste dia não liberou, começou a rir da presepada do Dr. Capa Onça.                   

Segundo o Adriano Cruz, ele tinha a cara de mau, valentão e que gostava de discutir de tudo e com todos,   mas   no    fundo    era            uma         pessoa      de       bom          coração.