sábado, 15 de maio de 2021

Em 2021, Flávio de Souza retorna ao Parque Amazonense, uma praça de futebol onde guarda grandes e memoráveis lembranças e um dia muito triste de sua vida.



 Comentei no início deste livro (FLÁVIO DE SOUZA - UM GRANDE MÚSICO E DESPORTISTA DO AMAZONAS) sobre um dia trágico que aconteceu na vida  do Flávio de Souza, quando ele tinha apenas dezesseis anos de idade. Era o ano de 1946, ele estava na arquibancada do Parque Amazonense assistindo ao jogo de futebol entre a Seleção do Amazonas versus Seleção do Pará, quando o seu genitor passou mal e voltou para casa, deixando o jovem Flávio assistindo ao clássico,   quando retornou a sua residência encontrou o seu pai morto.  Foi um dia fatídico que o marcou para o resto da vida.                      No entanto, no decorrer dos anos voltou a frequentar centenas de vezes o velho Parque Amazonense, não somente na qualidade de torcedor e expectador, mas de treinador de futebol até o fechamento definitivo daquela praça de esportes, ocorrido no dia 8 de julho  de     1973.

Passados quarenta e oito anos depois do fechamento definitivo dos portões do Parque Amazonense, exatamente no dia 15 de maio de 2021, o Flávio de Souza voltou àquele lugar, para posar para fotografias e verificar in loco o que restou daquele estádio outrora tão imponente e bonito. Foi um misto de alegria, tristeza e saudade. Poucas coisas restaram: A Fachada do Parque, com o muro, um imenso portão de ferro fabricado em Glasgow (Escócia) e um busto de um cavalo (mostrando para a posteridade que naquele local já fora um Prado, onde havia corridas de cavalos na belle époque manauara). Os antigos moradores conservam uma Viga de Sustentação das arquibancadas, toda em ferro, fabricada por W. Macfarlane & Co./Glasgow, a única que restou entre dentre dezenas delas  que foram destruídas e/ou guardadas por colecionadores.                   A área é imensa, apesar de alguns moradores terem feito loteamentos e construído suas casas. Existem dois campos de futebol, com gramas e parte de chão batido  e outro para a prática de voleibol. No local foi   construído    também o 22º. DIP - Distrito Integrado de Polícia.

O Flávio de Souza teve a grata surpresa em encontrar a Elcimar Costa,  mais conhecida por Dona Mikita. Ele é filha do Dr. Elcio Farias (Odontologo formado na antiga Universidade do Amazonas), que foi goleiro reserva  do Clóvis Aranha Negra, do Rio Negro, quando foi treinador deste time. Em 2016, ela foi treinadora de futebol do infantil, juvenil e juniores do São Raimundo Esporte Clube. Atualmente, possui uma escolinha de futebol, ensinando o esporte às crianças do entorno do Parque Amazonense, sem nada cobrar, uma forma de amor ao próximo e dando seguimento ao que o seu saudoso pai fazia até antes de falecer. Ela Ministra aulas todas as terças e quintas a partir das quatro da tarde e nos finais de semana ela joga futebol feminino. O Flávio por morar próximo ao Parque prometeu retornar ao local para colaborar e dar orientações aos jovens sobre a sua larga experiência de treinador de futebol. Segundo a Dona Mikita, existem rumores que, o suposto dono do Parque Amazonense ganhou na justiça  o direito de vendê-lo a uma construtora que pretende fazer os seus espigões e acabar            de uma vez por todas com o Prado e a nossa memória.                    

Caso isto aconteça, o Flávio de Souza, Dona Mikita e toda a comunidade estão dispostas a fazerem de tudo para alertarem as autoridades públicas e aos políticos (os oportunistas, em sua grande maioria, a comunidade  não conta muito) para reverter esta situação. Ao sair do Parque, encontrou o jogador Val, um atleta do Rio Negro que fez questão de abraçá-lo e declarar que se tornou um bom profissional graças      aos ensinamentos do professor, treinador e amigo Flávio de Souza. Foi um momento emocionante. Propôs ao Flávio de Souza fazermos um pedido ao atual Prefeito de Manaus, para que olhe com muito carinho para  o Parque Amazonense, tornando-o um Centro Social Prado Parque Amazonense.                                                                        

Um pouco de história - O Estádio Parque Amazonense (Prado) fica   na Rua Belém, zona Centro-Sul da capital, antigo Beco do Macedo (atual bairro Nossa Senhora das Graças) numa área por detrás do Reservatório do Mocó.                                           Segundo os historiadores, a área pertencia a um rico comerciante português, que mais tarde fez uma concessão ao Dispensário Maçônico (uma entidade da maçonaria que cuidava da saúde e distribuía medicamentos gratuitamente a população carente de Manaus). Em 1906, no governo estadual do Constantino Nery, em parceria com o prefeito Adolpho Lisboa, abriu  as portas do Parque à população manauara. No início, o espaço fora destinado à corrida de cavalos, com a construção de um Hipódromo, tornando-se o point das famílias abastadas amazonense. Com o declínio da borracha, ocorrido em 1912 e, consequentemente, com a quebradeira geral dos barões dos seringais,  esta prática de esportes conhecida como “Esporte Rei” foi abandonado, pois ninguém tinha mais condições de manter os cavalos “puro sangue”.  Em 1918, os maçons tentaram a volta da prática de corrida de cavalos combinado com partidas de futebol, vingando apenas o segundo. A sua época de anos dourados foi somente com o futebol de campo, com as disputas dos campeonatos de futebol amazonense. A primeira partida foi protagonizada pelo Rio Negro e Nacional, ocorrida  em 13 de junho daquele ano, com empate de 1 a 1.                                      

    Segundo os acervos do saudoso historiador Carlos Zamith,        publicado no site da Globo Esporte:                                                  “Em 1946 o local foi vendido à Federação Amazonense de Desportos Atléticos (FADA). Em 1960, o prado maçônico passou a ser administrado pelos irmãos Artur e Amadeu Teixeira (América futebol Clube), no entanto, em 21 de maio de 1967 houve um grande acidente, com várias pessoas feridas e uma morte,   o espaço foi devolvido pelos irmãos a maçonaria, que repassou para uma empresa que queria construir no local um conjunto habitacional. Este empresário sem nenhuma sensibilidade com a nossa história e desrespeito ao patrimônio público mandou demolir toda a estrutura da arquibancada,  com ferros vindos de Glasgow e coberto com telhas de barro de fabricação portuguesa. O último jogo disputado oficialmente foi no dia 8 de julho de 1973, entre Rio Negro e Rodoviária. Já com parte da estrutura e da história destruídas, a prefeitura sob o comando de Jorge Teixeira tentou reverter a situação passando a praça de esportes  para a esfera municipal, sem sucesso, com parte da área sendo  loteada     pelos  moradores do entorno”.

        Aquela área nobre da cidade é muito disputada para especulação imobiliária, porém, não sabemos que são os seus verdadeiros donos,  pois até os dias atuais muitos declaram que são os seus legítimos proprietários e herdeiros, demandando uma briga de foice na justiça. O Poder Público Municipal deveria intervir e tornar aquela área de interesse público e fazer as devidas desapropriações e, no local, construir Quadras Poliesportivas, Campo de futebol, Unidade Básica de Saúde,        Museu do Futebol, Creche, Praça Temática e outras obras de infraestruturas, para barrar a especulação imobiliária e tornar o local de lazer e bem estar para  os moradores do entorno e do povo manauara em geral. 




 *Trecho do meu Livro que está no prelo: FLÁVIO DE SOUZA - UM GRANDE DESPORTISTA E MÚSICO DO AMAZONAS