Comentei no início deste livro (FLÁVIO DE SOUZA - UM GRANDE MÚSICO E DESPORTISTA DO AMAZONAS) sobre um dia trágico que aconteceu na vida do Flávio de Souza, quando ele tinha apenas dezesseis anos de idade. Era o ano de 1946, ele estava na arquibancada do Parque Amazonense assistindo ao jogo de futebol entre a Seleção do Amazonas versus Seleção do Pará, quando o seu genitor passou mal e voltou para casa, deixando o jovem Flávio assistindo ao clássico, quando retornou a sua residência encontrou o seu pai morto. Foi um dia fatídico que o marcou para o resto da vida. No entanto, no decorrer dos anos voltou a frequentar centenas de vezes o velho Parque Amazonense, não somente na qualidade de torcedor e expectador, mas de treinador de futebol até o fechamento definitivo daquela praça de esportes, ocorrido no dia 8 de julho de 1973.
Passados
quarenta e oito anos depois do fechamento definitivo dos portões do Parque Amazonense, exatamente no dia 15
de maio de 2021, o
Flávio de Souza voltou àquele lugar, para posar para fotografias e
verificar in loco o que restou daquele estádio outrora tão imponente e
bonito. Foi um misto de
alegria, tristeza e saudade. Poucas coisas restaram: A Fachada do Parque,
com o muro, um imenso portão de ferro fabricado em Glasgow (Escócia) e um busto de um
cavalo (mostrando para a posteridade que naquele local já fora um Prado, onde
havia corridas de cavalos na belle
époque manauara). Os antigos moradores conservam uma Viga de Sustentação das
arquibancadas, toda em ferro, fabricada por W. Macfarlane & Co./Glasgow, a
única que restou entre dentre dezenas delas que foram destruídas e/ou guardadas por
colecionadores. A
área é imensa, apesar de alguns moradores terem feito loteamentos e construído suas casas. Existem dois campos
de futebol, com gramas e parte de chão batido
e outro para a prática de voleibol. No local foi construído também o 22º. DIP - Distrito Integrado de Polícia.
O Flávio de Souza teve a grata surpresa em encontrar a Elcimar Costa, mais conhecida por Dona Mikita. Ele é filha do Dr. Elcio Farias (Odontologo formado na antiga Universidade do Amazonas), que foi goleiro reserva do Clóvis Aranha Negra, do Rio Negro, quando foi treinador deste time. Em 2016, ela foi treinadora de futebol do infantil, juvenil e juniores do São Raimundo Esporte Clube. Atualmente, possui uma escolinha de futebol, ensinando o esporte às crianças do entorno do Parque Amazonense, sem nada cobrar, uma forma de amor ao próximo e dando seguimento ao que o seu saudoso pai fazia até antes de falecer. Ela Ministra aulas todas as terças e quintas a partir das quatro da tarde e nos finais de semana ela joga futebol feminino. O Flávio por morar próximo ao Parque prometeu retornar ao local para colaborar e dar orientações aos jovens sobre a sua larga experiência de treinador de futebol. Segundo a Dona Mikita, existem rumores que, o suposto dono do Parque Amazonense ganhou na justiça o direito de vendê-lo a uma construtora que pretende fazer os seus espigões e acabar de uma vez por todas com o Prado e a nossa memória.
Caso
isto aconteça, o Flávio de Souza, Dona Mikita e toda a comunidade estão
dispostas a fazerem de tudo para alertarem as autoridades públicas e aos políticos (os oportunistas, em sua
grande maioria, a comunidade não conta muito) para reverter esta situação. Ao sair do Parque, encontrou o jogador Val, um
atleta do Rio Negro que fez questão de abraçá-lo e declarar que se tornou um bom
profissional graças aos ensinamentos
do professor, treinador e amigo Flávio de Souza. Foi um momento
emocionante. Propôs ao Flávio de Souza fazermos um pedido ao atual Prefeito de Manaus,
para que olhe com muito carinho para o Parque Amazonense, tornando-o um Centro Social
Prado Parque Amazonense.
Um pouco de história - O Estádio Parque Amazonense (Prado) fica na Rua Belém, zona Centro-Sul da capital, antigo Beco do Macedo (atual bairro Nossa Senhora das Graças) numa área por detrás do Reservatório do Mocó. Segundo os historiadores, a área pertencia a um rico comerciante português, que mais tarde fez uma concessão ao Dispensário Maçônico (uma entidade da maçonaria que cuidava da saúde e distribuía medicamentos gratuitamente a população carente de Manaus). Em 1906, no governo estadual do Constantino Nery, em parceria com o prefeito Adolpho Lisboa, abriu as portas do Parque à população manauara. No início, o espaço fora destinado à corrida de cavalos, com a construção de um Hipódromo, tornando-se o point das famílias abastadas amazonense. Com o declínio da borracha, ocorrido em 1912 e, consequentemente, com a quebradeira geral dos barões dos seringais, esta prática de esportes conhecida como “Esporte Rei” foi abandonado, pois ninguém tinha mais condições de manter os cavalos “puro sangue”. Em 1918, os maçons tentaram a volta da prática de corrida de cavalos combinado com partidas de futebol, vingando apenas o segundo. A sua época de anos dourados foi somente com o futebol de campo, com as disputas dos campeonatos de futebol amazonense. A primeira partida foi protagonizada pelo Rio Negro e Nacional, ocorrida em 13 de junho daquele ano, com empate de 1 a 1.
Segundo os
acervos do saudoso historiador Carlos Zamith, publicado no site da Globo
Esporte: “Em 1946 o local foi vendido à Federação
Amazonense de Desportos Atléticos (FADA). Em 1960, o prado maçônico passou a
ser administrado pelos irmãos Artur e Amadeu Teixeira (América futebol Clube),
no entanto, em 21 de maio de 1967 houve um grande acidente, com várias pessoas
feridas e uma morte, o espaço foi
devolvido pelos irmãos a maçonaria, que repassou para uma empresa que queria
construir no local um conjunto habitacional. Este empresário sem nenhuma
sensibilidade com a nossa história e desrespeito ao patrimônio público mandou
demolir toda a estrutura da arquibancada, com ferros vindos de Glasgow e coberto com
telhas de barro de fabricação portuguesa. O último jogo disputado oficialmente
foi no dia 8 de julho de 1973, entre Rio Negro e Rodoviária. Já com parte da
estrutura e da história destruídas, a prefeitura sob o comando de Jorge
Teixeira tentou reverter a
situação passando a praça de esportes para
a esfera municipal, sem sucesso, com parte da área sendo loteada pelos moradores do entorno”.
Aquela área nobre da cidade é muito disputada para especulação imobiliária, porém, não sabemos que são os seus verdadeiros donos, pois até os dias atuais muitos declaram que são os seus legítimos proprietários e herdeiros, demandando uma briga de foice na justiça. O Poder Público Municipal deveria intervir e tornar aquela área de interesse público e fazer as devidas desapropriações e, no local, construir Quadras Poliesportivas, Campo de futebol, Unidade Básica de Saúde, Museu do Futebol, Creche, Praça Temática e outras obras de infraestruturas, para barrar a especulação imobiliária e tornar o local de lazer e bem estar para os moradores do entorno e do povo manauara em geral.