(Extraído do livro BICA DO ARMANDO – Simão Pessoa/Francisco
Cruz)
A lendária Chica Bobó foi uma das
mais famosas cafetinas da cidade. Nos anos 60, ela montou sua “casa de
tolerância” na estrada da Ponta Negra, entre os lupanares Mansão das Brumas e
Floresta´s. Alguns anos depois, ela se mudou para uma chácara situada em frente
ao atual Aeroclube.
Seu covil foi muito frequentado por empresários e políticos, que iam ali traçar, além das garotas,
a célebre “galinhada” preparada pessoalmente pela proprietária. Feito de
galinha caipira criada solta no terreiro e abatida na hora, o prato era uma
espécie da “caldeirada”, com bastante água, cheiro verde, cebolinha e chicória.
Numa época em que o “bobó”
(pulmão) do boi era considerado comida de cachorro, a quituteira Chica Bobó
fazia um “picadinho de bobó a moda da casa” melhor do que qualquer sarapatel de
tartaruga. Não ganhou o apelido por ocaso.
As garotas da Chica Bobó
eram mulheres bonitas, refinadas, cultas, elegantes e inteligentes. Foi o que se
teve em Manaus de mais próximo de uma gueixa japonesa, com a vantagem adicional
do exuberante porta-malas tupiniquim.
Além disso, elas
costumavam receber os clientes ostentando o fardamento completo dos mais
famosos colégios da época (Estadual, IEA, Doroteia e Auxiliadora) e tendo como
acessórios livros do Domingos Paschoal Cegalla, Jairo Bezerra, Tábuas de
Logaritmos e cadernos espirais de quatro matérias.
Para quem cultiva
o fetiche recorrente de abater “uma linda normalista”, era um prato cheio. Na
verdade, as garotas tinham, ao máximo, o curso primário incompleto. Mas eram
diplomadas em outras artes.
Os convites para o Baile
da Chica, realizado na terça-feira gorda, eram disputados a tapas. Nesse dia,
eram as garotas que escolhiam os clientes e não cobravam nada em troca. A
bebida de graça. Qualquer pé-rapado podia entrar no puteiro e se divertir.
Chica Bobó ainda
resistiu bravamente na década seguinte, mas teve de fechar as portas de sua
casa no início dos anos 80, depois de Manaus se tornou uma cidade universitária
(atualmente, são mais de 20 universidades, entre públicas e privadas). Não
aguentou a “concorrência das amadoras”, segundo suas próprias palavras.
Enredo da BICA em 1987:
Tá todo mundo dando! Celito Chaves e Afonso Toscano. Letra: Na Banda
Independente/Confraria do Armando/Tá todo mundo dando (bis) /Dando alegria para
esse pessoal/Que quer fazer o verdadeiro carnaval/Não tem Baile de Gala/Nem tem
Baile da Chica/Vem brincar na BICA...
Observação: O citado livro encontra-se a venda no Bar do
Armando e com entrega “em domicilio” pelo telefone celular 99909-9779 (Manoel
Batera).
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