quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O BAILE DA CHICA BOBÓ

(Extraído do livro BICA DO ARMANDO – Simão Pessoa/Francisco Cruz)


      A lendária Chica Bobó foi uma das mais famosas cafetinas da cidade. Nos anos 60, ela montou sua “casa de tolerância” na estrada da Ponta Negra, entre os lupanares Mansão das Brumas e Floresta´s. Alguns anos depois, ela se mudou para uma chácara situada em frente ao atual Aeroclube.
      Seu covil foi muito frequentado por empresários e políticos, que iam ali traçar, além das garotas, a célebre “galinhada” preparada pessoalmente pela proprietária. Feito de galinha caipira criada solta no terreiro e abatida na hora, o prato era uma espécie da “caldeirada”, com bastante água, cheiro verde, cebolinha e chicória.
      Numa época em que o “bobó” (pulmão) do boi era considerado comida de cachorro, a quituteira Chica Bobó fazia um “picadinho de bobó a moda da casa” melhor do que qualquer sarapatel de tartaruga. Não ganhou o apelido por ocaso.
      As garotas da Chica Bobó eram mulheres bonitas, refinadas, cultas, elegantes e inteligentes. Foi o que se teve em Manaus de mais próximo de uma gueixa japonesa, com a vantagem adicional do exuberante porta-malas tupiniquim.
      Além disso, elas costumavam receber os clientes ostentando o fardamento completo dos mais famosos colégios da época (Estadual, IEA, Doroteia e Auxiliadora) e tendo como acessórios livros do Domingos Paschoal Cegalla, Jairo Bezerra, Tábuas de Logaritmos e cadernos espirais de quatro matérias.
       Para quem cultiva o fetiche recorrente de abater “uma linda normalista”, era um prato cheio. Na verdade, as garotas tinham, ao máximo, o curso primário incompleto. Mas eram diplomadas em outras artes.
      Os convites para o Baile da Chica, realizado na terça-feira gorda, eram disputados a tapas. Nesse dia, eram as garotas que escolhiam os clientes e não cobravam nada em troca. A bebida de graça. Qualquer pé-rapado podia entrar no puteiro e se divertir.
      Chica Bobó ainda resistiu bravamente na década seguinte, mas teve de fechar as portas de sua casa no início dos anos 80, depois de Manaus se tornou uma cidade universitária (atualmente, são mais de 20 universidades, entre públicas e privadas). Não aguentou a “concorrência das amadoras”, segundo suas próprias palavras.
      Enredo da BICA em 1987: Tá todo mundo dando! Celito Chaves e Afonso Toscano. Letra: Na Banda Independente/Confraria do Armando/Tá todo mundo dando (bis) /Dando alegria para esse pessoal/Que quer fazer o verdadeiro carnaval/Não tem Baile de Gala/Nem tem Baile da Chica/Vem brincar na BICA...


Observação: O citado livro encontra-se a venda no Bar do Armando e com entrega “em domicilio” pelo telefone celular 99909-9779 (Manoel Batera).

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