Represa e Estação de Bombeamento de Aguas ( Márcia Honda Nascimento Castro )
Um olhar mais atento de quem passar pela Ponte Velha do Bairro de São Jorge poderá contemplar uma edificação em lastimável estado de ruínas: trata-se da antiga estação de bombeamento de águas da cidade de Manaus e sua represa. Histórico Construída abaixo da nascente do Igarapé da Cachoeira Grande, que deságua à margem esquerda do Rio Negro, entre as barreiras do bairro da cidade conhecido como Plano Inclinado, a represa foi destinada a movimentar uma estação de bombeamento contendo duas turbinas e duas bombas, que abasteceriam o reservatório da Castelhana, situado à Avenida Constantino Nery, e o tanque de água do Bairro dos Remédios, situado na atual localização da Faculdade de Direito, à Rua Miranda Leão. Os terrenos ocupados pertenceram ao major Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães e, posteriormente, ao Seminário Episcopal, aforados ao Estado. Embora Manaus apresentasse hidrografia farta, entrecortada por igarapés, a questão do abastecimento de água para a cidade consistiu em grave problema até fins do século XIX, quando se registra, em junho de 1883, a aprovação da Lei nº 615, autorizando o início às obras de canalização de água potável, tendo em vista as plantas e orçamentos organizados pelo engenheiro encarregado dos respectivos estudos (Coleção de Leis da Província, 1883, Tomo XXXI, pág. 19). A pedra fundamental da edificação foi lançada em 1º de julho de 1883. Em 8 de outubro de 1883, assinou-se o contrato para a execução da obra como Antony e Moreton & Cia. Em fevereiro do ano seguinte, o presidente José Paranaguá informava que todos os trabalhos estavam sendo feitos sob a direção do engenheiro ajudante da Repartição de Obras Públicas, Lauro Baptista Bittencourt. Escolheu-se, então, em um dos braços do Igarapé da Cachoeira Grande, com uma vazão de 8 milhões de litros na seca e 17 milhões de litros no inverno, o local para a construção de uma represa contendo 3,80m de altura, 104,3m de comprimento e 3,50m na maior espessura, projetada pelo referido engenheiro amazonense. No entanto, os projetos referentes a esta obra pareciam não estar concluídos, pois a Repartição de Obras Públicas chamara, no mesmo período, Ermano Stradelli e Richard Payer para “passar a limpo” alguns desenhos do projeto para as obras de abastecimento de águas. Em junho do mesmo ano, foram entregues aos contratantes da obra todos os tubos de 9 polegadas para o encanamento. Em 1885, o contrato para as obras foi reformulado e transferido para Tarciano Murillo Torres. Em 1888, Lauro Bittencourt foi exonerado do cargo e, no ano seguinte, o presidente Joaquim de Oliveira Machado informava que, embora as obras do encanamento não estivessem totalmente concluídas, a população já usufruia do melhoramento. Após a instalação do bombeamento de água na Ponte do Ismael e a construção do Reservatório do Mocó, a represa foi desativada, tornando-se um local aprazível de lazer contemplativo e passivo para a sociedade manauara que, aos domingos, costumava por lá realizar passeios e piqueniques. A destruição do complexo, a partir da sua desativação, incluiu a retirada de pedras para a construção da piscina “Tancredo Cunha”, no Bosque Municipal, e a destruição da casa das máquinas, verificada no Governo do Dr. Álvaro Maia. Arquitetura Analisando as ruínas ainda existentes e os registros iconográficos antigos, verifica-se que a edificação possui estilo medievalista e seu aspecto arquitetônico assemelha-se a um torreão, com planta de seção quadrangular, encimada por platibanda maciça com saliências retangulares, tal como um serrilhado. Percebem-se, em suas fachadas, janelas do tipo abrir com duas folhas, provavelmente em madeira e vidro, coroadas por bandeiras em arco pleno. As esquadrias são encimadas por óculos e embasadas por aberturas em formato retangular (seteiras). O reboco em bossagem interrompida encontra-se desprendido em várias áreas, permitindo a visualização da alvenaria original em tijolos de barro, na estrutura principal, e em pedras em bloco, no embasamento. (*)Márcia Honda Nascimento Castro é Arquiteta e Urbanista.
Um olhar mais atento de quem passar pela Ponte Velha do Bairro de São Jorge poderá contemplar uma edificação em lastimável estado de ruínas: trata-se da antiga estação de bombeamento de águas da cidade de Manaus e sua represa. Histórico Construída abaixo da nascente do Igarapé da Cachoeira Grande, que deságua à margem esquerda do Rio Negro, entre as barreiras do bairro da cidade conhecido como Plano Inclinado, a represa foi destinada a movimentar uma estação de bombeamento contendo duas turbinas e duas bombas, que abasteceriam o reservatório da Castelhana, situado à Avenida Constantino Nery, e o tanque de água do Bairro dos Remédios, situado na atual localização da Faculdade de Direito, à Rua Miranda Leão. Os terrenos ocupados pertenceram ao major Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães e, posteriormente, ao Seminário Episcopal, aforados ao Estado. Embora Manaus apresentasse hidrografia farta, entrecortada por igarapés, a questão do abastecimento de água para a cidade consistiu em grave problema até fins do século XIX, quando se registra, em junho de 1883, a aprovação da Lei nº 615, autorizando o início às obras de canalização de água potável, tendo em vista as plantas e orçamentos organizados pelo engenheiro encarregado dos respectivos estudos (Coleção de Leis da Província, 1883, Tomo XXXI, pág. 19). A pedra fundamental da edificação foi lançada em 1º de julho de 1883. Em 8 de outubro de 1883, assinou-se o contrato para a execução da obra como Antony e Moreton & Cia. Em fevereiro do ano seguinte, o presidente José Paranaguá informava que todos os trabalhos estavam sendo feitos sob a direção do engenheiro ajudante da Repartição de Obras Públicas, Lauro Baptista Bittencourt. Escolheu-se, então, em um dos braços do Igarapé da Cachoeira Grande, com uma vazão de 8 milhões de litros na seca e 17 milhões de litros no inverno, o local para a construção de uma represa contendo 3,80m de altura, 104,3m de comprimento e 3,50m na maior espessura, projetada pelo referido engenheiro amazonense. No entanto, os projetos referentes a esta obra pareciam não estar concluídos, pois a Repartição de Obras Públicas chamara, no mesmo período, Ermano Stradelli e Richard Payer para “passar a limpo” alguns desenhos do projeto para as obras de abastecimento de águas. Em junho do mesmo ano, foram entregues aos contratantes da obra todos os tubos de 9 polegadas para o encanamento. Em 1885, o contrato para as obras foi reformulado e transferido para Tarciano Murillo Torres. Em 1888, Lauro Bittencourt foi exonerado do cargo e, no ano seguinte, o presidente Joaquim de Oliveira Machado informava que, embora as obras do encanamento não estivessem totalmente concluídas, a população já usufruia do melhoramento. Após a instalação do bombeamento de água na Ponte do Ismael e a construção do Reservatório do Mocó, a represa foi desativada, tornando-se um local aprazível de lazer contemplativo e passivo para a sociedade manauara que, aos domingos, costumava por lá realizar passeios e piqueniques. A destruição do complexo, a partir da sua desativação, incluiu a retirada de pedras para a construção da piscina “Tancredo Cunha”, no Bosque Municipal, e a destruição da casa das máquinas, verificada no Governo do Dr. Álvaro Maia. Arquitetura Analisando as ruínas ainda existentes e os registros iconográficos antigos, verifica-se que a edificação possui estilo medievalista e seu aspecto arquitetônico assemelha-se a um torreão, com planta de seção quadrangular, encimada por platibanda maciça com saliências retangulares, tal como um serrilhado. Percebem-se, em suas fachadas, janelas do tipo abrir com duas folhas, provavelmente em madeira e vidro, coroadas por bandeiras em arco pleno. As esquadrias são encimadas por óculos e embasadas por aberturas em formato retangular (seteiras). O reboco em bossagem interrompida encontra-se desprendido em várias áreas, permitindo a visualização da alvenaria original em tijolos de barro, na estrutura principal, e em pedras em bloco, no embasamento. (*)Márcia Honda Nascimento Castro é Arquiteta e Urbanista.