terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O AJUDANTE DE SERVIÇOS E EMPATADOR DE...!

Nasci na Santa Casa de Misericórdia e fui morar no Igarapé de Manaus, numa “casa flutuante”, cresci dentro da Oficina de Violões do meu velho, passei toda a minha infância e adolescência trabalhando duro e não recebia nenhum tostão, não era fácil!

Com o desmonte da cidade flutuante, fomos morar numa casa alugada do Senhor Sabá e da Dona Diva; a oficina foi montada nos porões da residência dos Bringel, na esquina das Ruas Huascar de Figueiredo e Igarapé de Manaus, lá trabalhei até os 17 anos de idade, depois fui para a firma Central de Ferragens.

O trabalho continuava duro e sem grana; estudava pela manhã no Colégio Barão do Rio Branco, e a tarde ajudava o velho, serrando madeiras, envernizando, colando, raspando, et cetara e tal!

O velho era chegado a um “rabo de saia”; certa vez, o “patrão” resolveu soltar uma grana e me mandou “pegar o beco”, numa plena sexta-feira à tarde, fiquei desconfiado, até o santo fica suspeitando quando a esmola é muito grande!

Sai, atravessei a rua e fiquei atrás do muro do Dural (um turco que nunca aprendeu a falar o português), de olho na missa e no vigário, não deu outra, entrou na oficina uma loura “boazuda”, o velho fechou a porta por dentro e colocou a famosa placa com os seguintes dizeres: Saí, volto logo!

Não falei nada, fiquei na minha – Vou pegar o velho na volta do anzol!
Na próxima sexta-feira lá vem o “patrão” com o mesmo papo e aquela “merreca”.
- Meu filho, vou te dar uma folga, toma esta grana, vai brincar, compra picolés para você e para os teus colegas, somente amanhã teremos trabalho.
- Pai, não estou com vontade de sair, vou ficar aqui mesmo.
- Mas, meu filho, terei que fazer algumas compras na Casa Renascença (ficava na Av. Joaquim Nabuco, pertencia ao português Armindo).
- Pode ir, ficarei aqui até o senhor voltar.
- Não quero você aqui sozinho, pode ir embora!
- Não vou!
- Vai!
- Não vou!
- Tá a fim de apanhar?
- Pode bater, mas não sairei!
- O que você quer para sair?
- Dinheiro para comprar calça, camisa, sapato, sorvetes, papagaios do Russo e do cinema.
- Vou dar para a tua mãe comprar as roupas.
- Não quero, ela vai comprar na Fantex (o primeiro brechó de Manaus); eu mesmo irei comprar na Capri Modas ( do juiz classista Zequinha da Capri).
- Tu tá ficando esperto, pega o dinheiro!
- Fui!

Certa vez, tomei coragem e perguntei: Pai o senhor tem um bocado de mulheres, como fica a mamãe? Meu filho é tudo comercial, amor somente pela tua mãe, ela é a rainha, a melhor coisa que aconteceu na minha vida! O velho continuou trabalhando e aprontando e eu ajudando e empatando todas!