José Rocha
Neste texto, vou contar um
pouco sobre as mudanças que aconteceram no centro de Manaus, hoje chamado de
Centro Histórico, onde vivi por algumas décadas. Muitos jovens que passam por
lá todos os dias não fazem ideia de como elas ocorreram.
O centro de Manaus era um
polo de atração de turistas de todo o Brasil, graças à Zona Franca de Manaus,
que oferecia produtos importados, principalmente de áudio, vídeo e som, a
preços vantajosos. O mercado brasileiro estava praticamente fechado para o
mercado externo, com taxas de importação altíssimas e outras barreiras
alfandegárias.
A demanda era tão grande que
os hotéis viviam lotados, e os turistas tinham que se hospedar até em motéis e
hotéis de quinta categoria. Manaus era a Meca dos turistas ávidos por produtos
importados. A companhia aérea Varig, sentindo a grande demanda, construiu o
imenso Tropical Hotel Manaus.
A maioria dos produtos vinha
do Japão e tinha uma qualidade superior, como Yamaha, Aiwa, Panasonic, Sansuy,
Olympus, Honda, Yanmar, entre outras. Com o passar do tempo, a maioria delas se
instalou no Distrito Industrial.
No início, as grandes
empresas amazonenses se destacaram: Moto Importadora, Central de Ferragens, S
Monteiro, TV Lar, Souza Arnaud, Antônio M Henriques, entre outras.
O metro quadrado do centro
de Manaus era o mais caro do Brasil, e ficou tão valorizado que muitos prédios
antigos foram destruídos e divididos em cubículos para serem alugados para os
novos empresários, que começavam em uma portinha e com o tempo enriqueciam,
montando grandes lojas de varejo.
Algumas ruas do centro foram
fechadas para a circulação de automóveis, como Marechal Deodoro, parte da
Guilherme Moreira, Marcílio Dias, parte da Doutor Moreira e parte da Henrique
Martins.
Os turcos dominaram parte da
Rua Marechal Deodoro, com lojas de tecidos, roupas e confecções. Os indianos
possuíam grandes lojas de eletroeletrônicos e investiram muito em hotéis, como
o Taj-Mahal e outros na Avenida Getúlio Vargas.
As empresas tinham um limite
para importar, chamado de “Cota de Importação”, e era comum as grandes
comprarem as cotas das pequenas, além dos turistas terem, também, uma cota de
saída. Isso virou um negócio para muita gente que passava o mês todo viajando para
levar produtos importados para o sul do país.
A movimentação era enorme,
os armazéns do Porto de Manaus sempre cheios de mercadorias e muitos navios
esperando a vez para atracar. Muita gente ganhou muito dinheiro: fiscais,
despachantes, corretores, cambistas, carreteiros, etc. Além de bancos,
importadoras, transportadoras, hotéis, etc.
Todo esse boom chegou ao seu
fim quando o Collor de Mello assumiu a presidência da república, congelou a
poupança e abriu o mercado brasileiro aos produtos estrangeiros.
Os grandes centros do país
começaram a importar e o comércio da Zona Franca perdeu a sua competitividade.
Foi então que os comerciantes começaram a comprar produtos baratos e de baixa
qualidade dos chamados Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e
Hong Kong, depois, Malásia, Indonésia e Tailândia), destinados para o público
local, pois os turistas de compras sumiram.
Assim como a grande maioria
dos seringalistas quebrou no início do século, os comerciantes do centro de
Manaus quebraram, também. No entanto, o Distrito Industrial ficou super
valorizado e centenas de indústrias se instalaram.
O comércio da Zona Franca de
Manaus ficou capenga, mas, conseguiu sobreviver a duras penas, dando lugar a
produtos falsificados da China, além de se tornar o maior centro de vendas de
roupas, calçados e confecções para o público local.
O relato acima foi fruto da
minha vivência e experiência no comércio importador de Manaus, pois trabalhei
durante anos naquele local, passando pela Central de Ferragens, Braga & Cia,
Importadora Souza Arnaud e Mirai Panasonic.