sábado, 15 de outubro de 2022

O SÁBIO BERNARDO RAMOS

 Por José Rocha

Foto-Reprodução. Foto incluída em seu Livro. José Rocha

Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, nasceu em Manaus, no dia 13 de novembro de 1858, falecendo no Rio de Janeiro, em 5 de fevereiro de 1931, foi um destacado arqueólogo, linguista e numismata, além de ter exercido vários cargos públicos de relevância, sendo considerado pela imprensa nacional como um grande sábio.

Era filho de Manoel da Silva Ramos (considerado o fundador da imprensa em Manaus) e Jesuína Maria de Azevedo da Silva Ramos – perdeu o seu pai quando ainda era criança, forçando-o a trabalhar muito jovem, tendo como primeiro emprego na agência dos Correios e Telégrafos (Rua Marechal Deodoro esquina com a Rua Teodoreto Souto e Avenida Eduardo Ribeiro).

Por ter uma mente privilegiada, conseguiu, aos 21 anos de idade (1879), exercer o cargo de Vereador de Manaus. Fundou o Clube Republicano do Amazonas.

Teve uma carreira de sucesso, exercendo vários cargos públicos, conseguindo, também, a patente de Coronel.

Foi comerciante em Manaus, onde fundou a Associação dos Proprietários de Manaus.

Possuía muitos recursos financeiros, o que o permitiu viajar pela Europa e Oriente Médio, percorrendo a Palestina e Egito, onde aprendeu as línguas hebraicas, fenícia e o sânscrito – o domínio desses idiomas o permitiu a leitura de diversas moedas.

Foi um colecionador voraz de moedas, cédulas, medalhas e documentos históricos – todo este acervo foi vendido para o governo do Estado (4 de setembro de 1899), sendo a base do Museu de Numismática do Amazonas (atualmente, está no Centro Cultural Palacete Provincial, na Praça da Polícia), com mais de dezessete mil peças, incluindo raridades como moedas gregas, etruscas e bizantinas (700 a.C.), feitas de ouro, vidro, conchas e porcelanas (antigo Sião), além de coleções moedas brasileiras espanholas do século XIX, entre de medalhas da França, Vaticano e Japão.

Em 25 de março de 1917, fundou o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, situado na Rua Bernardo Ramos/Rua Frei José dos Inocentes) – uma instituição tutelada pelo Estado do Amazonas – contém um Museu, Biblioteca com uma Hemeroteca (coleções de jornais, revistas e outras obras em série), muito importante para quem se dedica a pesquisa da Amazônia.

 Foto-Reprodução. Capa do livro. José Rocha

O seu livro mais importante foi publicado post mortem “Incripções E Tradições da America PreHistorica – Especialmente do Brasil”, em dois volumes, Rio de Janeiro, 1939 – disponibilizo um linque abaixo para os interessados baixarem os Volumes I e II.

Para os senhores terem uma ideia do magnifico pesquisador, no livro existe uma transcrição do Jornal Imparcial, de 5 de Maio de 1919, sobre uma conferência que ele fez no IGHA “Adduzlndo ainda argumentos comprobativos do estabelecimento de gregos, phenicios, arabes e chaldeus no Brasil, o illustre conferencista decifrou o modo pratico, ao alcance de todos, as inscripções até hoje encontradas em pedras, no paiz, o que prova que taes gravuras não são obra do acaso, como ainda alguns archeologos têm afirmado”.

É isso mesmo que os senhores leram: O Coronel Bernardo Ramos afirma em seu livro, após muitos estudos que, no Brasil Pré-histórico, os gregos, fenícios, árabes e os caldeus, passaram pelo nosso país, deixando suas impressões em pedras, todas decifradas por ele!  

Prosseguindo a matéria do citado jornal “Com relação ás das Lages e á de Itacoatiara, no nosso Estado, disse que, nas primeiras encontrou os nomes históricos Nebe, Galaad, Belial, Neze, Gaal e Belus escriptos em caracteres phenicios e, em caracteres arabicos, a seguinte maxima: Fortuna rapida dá ruína; na segunda alcançou também a significação das gravuras nellas inscriptas, a qual com a seguinte: Juramos aqui reunidos em grande numero aqui tomamos posse expulsos das delicias â Tingis, salvos dos filhos de Heber. Delicias encontramos nós filhos do vento e do mar.”

O Bernardo Ramos decifrou o que foi encontrado inscrito nas Pedras das Lages (Manaus) e em Pedra Pintada (Itacoatiara), além do alto Rio Negro, basta ler o primeiro livro.

Em 10 de agosto de 2022, o colunista Hiran Reis e Silva, do site “Gente de Opinião”, republicou uma matéria do jornal “O Acadêmico” - Manaos, Segunda-feira, 31 de Dezembro de 1927, chamando o Bernardo Ramos, de “O Champollion Amazonense”:

“O Amazonas, grande em tudo, possui em seu seio uma alta individualidade que uma vez conhecida nos grandes centros científicos, tornar-se-á uma celebridade mundial. Queremos nos referir ao sábio amazonense Coronel Bernardo Ramos, tradutor das inscrições lapidares, não só do Brasil, como de diversas partes do mundo. Pelos estudos do paleógrafo amazonense, ficamos sabendo que muito anterior à Cristo passou pelo nosso Continente uma grande civilização. Entre as decifrações do Brasil, figuram como muito importantes as da Gávea, no Rio de Janeiro, dando notícia da passagem por ali de navegantes fenícios, [887-856 antes da nossa era] e da Pedra Lavrada, na Paraíba do Norte, cuja inscrição em grego antigo datando cerca de mil anos a.C., representa 708 signos, emblemas, astros, constelações, etc. Além disso, o reputado sábio amazonense tem traduzido outras inscrições que se encontram em pedras do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.”

Em sua homenagem, a antiga Rua São Vicente passou a chamar-se Rua Bernardo Ramos, além do Museu de Numismática levar o seu nome.

Foto Casa do Bernardo Ramos. 2022. José Rocha

Em outubro de 2022, o CETAM e AADC (órgãos do governo do Estado) iniciaram a Revitalização da Casa Bernardo Ramos, situada na Avenida Tarumã. No. 379, centro, para abrigar o Centro Cultural de Gastronomia.

Depois de quase cem anos de sua morte, o Bernardo Ramos ainda é muito lembrado. Um sábio amazonense.

É isso ai.  

 

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_de_Azevedo_da_Silva_Ramos

http://museubrasil.org/pt/museu/museu-de-numismatica-bernardo-ramos

https://idd.org.br/iconografia/museu-de-numismatica-bernardo-ramos/

http://www.ipatrimonio.org/manaus-instituto-geografico-e-historico-do-amazonas/#!/map=38329&loc=-3.1338259999999973,-60.029171,17

https://www.gentedeopiniao.com.br/colunista/hiram-reis-e-silva/a-terceira-margem-parte-cdlxviii-bernardo-de-azevedo-da-silva-ramos-1930-o-champollion-amazonense

https://archive.org/details/inscripcoes-e-tradicoes-da-america-prehistorica-especialmente-do-brasil-vol-1/page/98/mode/2up?view=theater

file:///C:/Users/Usuario/Downloads/45000010119_Output.o.pdf