sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

ESTRADA DO V8


Começa, atualmente, no Complexo Viário Gilberto Mestrinho e termina na Avenida Constantino Nery – uma via pública que marcou toda uma geração de manauaras, por ter sido um local de lazer e descanso.

Mas, afinal, por que chamam de V8?

Fiz pesquisas na internet e, nada! Perguntei dos mais velhos e eles não souberam responder.

Nem o escritor Mário Ypiranga Monteiro, em seu livro “Roteiro Histórico de Manaus” soube precisar o porquê do nome, apenas fez suposições. 

Segundo ele, quando a cidade de Manaus terminava no Cemitério São Batista, as pessoas mais aquinhoadas iam em seus carros para os “banhos”, era a única forma de chegar lá, pois era muito distante. Os automóveis eram dotados de motores tipo V8 (oito válvulas em formato de V). 

Falavam: - Vamos no V8 tomar um banho na estrada?

Era V8 prá cá, V8 prá lá, até que o nome pegou “Estrada do V8”, onde somente ele poderia chegar lá.

Conta, também, que o local por ser muito frequentado pela elite que possuíam automóveis, muitos marmanjos gostavam de falar: 

- Vamos para a estrada tomar banho e apreciar os V8? (parte intima das mulheres em formato de um V que ficavam mais expostos quando estavam de maiôs e o corpo em formato de um oito). 

Onde é hoje o Residencial Efigênio Salles ficava o Depósito Central das Lojas Souza Arnaud e Mavel. Dizem que o velho Euclides de Souza Lima (pai do Douglas e James Arnaud) era dono de quase todas àquelas terras.

O lote de terra onde fica o “Guanabara Clube” foi doado por ele. Ao lado, onde é hoje uma loja de venda de motores e produtos náuticos (o dono é o genro do Douglas) ficava a ARSA, a sede campestre dos funcionários do Souza Arnaud (fechada).

Antigamente “os banhos” como eram conhecidos os balneários, eram todos banhados pelo Igarapé do Mindu. Lembro do “Las Palmas” (Hotel Amazonas), “Nestlé” (dos funcionários da Nestlé), “Agrepo” (Porto de Manaus), "Tucunaré" (frequentado pela elite manauara), “Pedreiras e Banho dos Padres” (Igreja Católica - ainda se pode ver as pedreiras no fundo do Parque Passeio do Mindu), além do “OAB” e da “Caixa” e o famoso “Parque 10 de Novembro” (administrado pela Prefeitura de Manaus).

Até o início da década de oitenta era possível tomar banho naquelas paragens, depois, virou esgoto a céu aberto. Ficou praticamente morto. Eu tive a oportunidade de tomar muito banho na Arsa e no Parque 10 de Novembro. Tive, também, a oportunidade de conhecer, em 2019, a sua nascente no bairro do Jorge Teixeira (zona Leste), onde as suas águas são límpidas, translúcidas e refrescantes. 

Os banhos acabaram faz mais de quarenta anos, mas por lá acontece uma coisa muito encantadora da mãe natureza – de setembro a maio (época da frutificação das mangas e goiabas), vários bandos de periquitos-de-asa-branca dormem nas árvores que ficam bem em frente ao Residencial Efigênio Salles. É um espetáculo da natureza que acontece ao pôr-do-sol e no amanhecer (um barulho peculiar), mas preocupa os ambientalistas, pela constante morte causada pelos veículos pesados que trafegam junto às árvores onde as aves dormem.

A Prefeitura de Manaus criou uma Zona de Controle Especial (ZCE), conhecida como Portal Asa Branca, para preservar a espécie.

Por incrível que pareça, atualmente, existem muitos estabelecimentos com àquele nome, tipo V8 Center, V8 Sushi, Posto V8 e outros. Vários ônibus que passam lá colocam no letreiro “Via V8”.

O seu nome foi trocado para Avenida Efigênio Salles (um político que governou o Amazonas de 1926 até 1929), no entanto, os mais antigos manauaras ainda a chamam de V8.

É isso ai.

Comentário no Facebook

Hildemar Souza

Rocha, eu vou completar esse texto, com as lembranças da minha infância.

Como você citou no seu texto:

- os carros eram poucos. Normalmente, americanos e ingleses. Depois , surgiram os veículos nacionais. Mesmo, assim, poucas pessoas, tinham o poder financeiro de possuir um veículo.

- realmente, os balneários, mais conhecidos eram: Parque 10, Guanabara, Las Palmas, Tucunaré, Agrepo, Pedreiras, e O MURUAMA CLUBE DE CAMPO.

- O início da estrada do V8, era no término da Recife, ou seja, aonde, hoje, existe um viaduto.

- após o Tucunaré, existia uma chácara pertencente a família Benchimol (hoje , Shizen veículos).

- do lado direito, sentido P10 ao Aleixo, as terras pertenciam ao Sr. PHILIPS Daou.

- a estrada era estreita e cheio de curvas. Com o alargamento da estrada, houve a possibilidade de existência de dois pontos, o tradicional pela rua Recife e outro pelo Aleixo. Nessa época, inexistia o projeto da FUA ou UA, e hoje UFAM.

Como, os carros eram limitados, as pessoas de poder econômico altíssimo, a opção para o deslocamento ao Muruama, era através de um caminhão, que se posicionava as 8h da manhã, em frente ao cine Guarani e café do Pina. Esse mesmo caminhão, retornava às 13 ou 14 horas do balneário, realizando o percurso pela rua Recife.

Aqueles que podiam, iam de táxi.

Com a Zona Franca de Manaus, houve um "boom na economia", o que favoreceu uma elevação econômica da classe média e, possibilitando a compra de automóveis, seja, por consórcio ou financiamento bancário.