Numa manhã de setembro, o Zé
Mundão acordou cedo, levantou-se mais feliz que pinto no lixo, pois era seu
aniversário, todavia, estava numa lisura que dava dó.
Resolveu, então, pedir um vale na
empresa em que trabalhava, mas levou o sonoro não. Correu atrás dos amigos, e
todos estavam mais duros que ele, finalmente, decidiu pedir ajuda ao seu
querido pai. Sem sucesso, o “velho” estava na entressafra.
A solução foi partir para cima de
seu cofrinho, ao jogar o dito cujo na parede foi caco para todos os lados, oferecendo-lhe
uma pequena quantidade de moedas, que não dava nem para o começo.
O dia prometia para o Zé.
Resolveu fazer seu niver solito,
nada de festinha, com rodadas de batida de leite de onça para o pessoal do Beco
da Bosta (apelido do local onde ele morava).
Dirigiu-se ao supermercado, no
Boulevard Amazonas, onde comprou uma latinha de castanha de caju torrada, um
litro de Rum Montilla Carta Branca e uma garrafa de refrigerante, tipo Coca-Cola.
Naquela época, as embalagens dos
supermercados eram de papel, assim, ao chegar próxima de sua casa, a sacola
rasgou, a garrafa de rum foi ao chão, quebrando o gargalo na sarjeta. O
aniversariante chamou tudo o que era de palavrão, ficou tão enraivecido que
jogou o resto das compras num matagal, indo para sua casa numa tristeza geral.
Mas ele era insistente, pegou o
resto das moedas e foi até a taberna do Aroeira, comprou um litro de veludo no
gogó, a cachaça Cocal, pegou alguns limões, gelo e açúcar e preparou aquela
caipirinha. Pegou um disco de vinil do Reiberto, colocou na vitrola Nivico hifi
e pôs o fone de ouvido no volume máximo.
Após quatro doses na moleira, o
Zé já estava com aquela cara de leso; deu uma vontade de beliscar alguma coisa,
lembrou-se das compras que ele havia jogado fora, pegou uma lanterna e se
embrenhou no matagal procurando a latinha de caju.
O local era de difícil acesso,
por isso levou uma hora dentro do mato, do que resultou ter ficado arranhado
por um capim bastante cortante, ainda pegou algumas ferroadas de formiga-de-fogo
e de jiquitaia, rastejou pelo chão, procurou, procurou, mas nada encontrou!
O Zé estava mesmo azarado no seu
aniversário. Voltou para a casa, todo ferrado, no sentido da palavra, tomou
mais uns goles de batida, ouviu mais algumas músicas e, como não deu para se
conter, abriu um grande berreiro. Suficiente para acordar seus pais.
O velho, quando viu aquela
situação do pobre coitado, ficou tão sensibilizado que abriu mão daquela grana
que estava guardada para as despesas do mês, deu tudo para o filho fazer a
festa, afinal, era uma data muito importante.
A mulherada comemora os quinze
anos e a macharada os dezoito. Pense num cara alegre, imagine a situação do Zé:
de repente, saiu de uma lisura total para uma posição confortável, com muita
bala na agulha.
Tomou um banho rápido, trocou a
beca e passou uma mensagem na rádio cipó:
– Tá todo mundo convidado para a
festa do Zé Mundão! O local de encontro será às dez da noite, no Bar do Gordo;
tudo será de graça, não será necessário levar presentes! Basta ter bucho de
leão para devorar tudo do bom e do melhor e gogó de aço para entornar todas de
montão!
Esse tipo de convite se espalha
numa progressão geométrica, antes do horário marcado o bar já estava entupido
de gente; e agora, Zé Mundão? Este, ao chegar, sentiu que o bicho ia pegar, mas
o cara era safo mesmo! Botou logo a boca no trombone:
– Escuta aqui macacada, dois
pontos: vou pagar adiantado quatro caixas de cerveja, cinco garrafas de Rum
Montilla, três galinhas Cláudia Barroso, um monte de fichas para o Jukebox e
Fliperama e bastante refri para a mulherada!
Quando terminar, vou passar o
chapéu, vai todo mundo inteirar para comprar mais ampolas! Tá feito, rapaziada?
Nessa altura do campeonato, um dos convidados mandou ver:
– Caramba, aniversário de pobre é sempre
assim! Toda vez é servido vatapá com arroz, maionese e frango desfiado com
farofa, ficando o caboco a mercê de pegar uma infecção intestinal. Ainda tem
que entrar na cota para pagar o goró no final da festa! Tô fora, Zé Mundão!
Apesar de alguns contratempos,
tudo saiu na perfeita harmonia, na festa de dezoitão do Zé Mundão!
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