Não
sou velho, apenas puído pelo tempo - lembro-me de fatos vivenciados, em minha longínqua
tenra idade, pois ficaram marcados para o todo e sempre – por ter uma
facilidade de exprimir-me facilmente (uma eloquência concedida pelo nosso bom
Deus), irei relacionar alguns pedaços que ficaram escondidos em minha memória.
1.
Sentado
em uma tábua da parte detrás do flutuante (casa flutuante) onde morava com a
minha amada e saudosa família, no Igarapé de Manaus, ficava a admirar uma
imensa torre de madeira, localizada em um campo da Rua Major Gabriel (Vila
Flacy) - notava que algumas pessoas gostavam de escalar aquela edificação – ao
longe, pareciam apenas uns pingos pretos.
Presenciei, a contragosto, o
desmonte daquela estrutura – não conseguia entender o que estava acontecendo e
o porquê daquela destruição – com o sumiço daquele cenário e outros tantos, o
meu campo prazeroso de observação já não era o mesmo!
Décadas depois, pesquisando sobre a
história da minha cidade Manaus, descobri que aquela torre da minha infância,
servia como um tipo de antena de rádio, para comunicação da empresa
norte-americana de viação, a Panair do
Brasil – com a saída do mercado brasileiro, houve o desmonte de toda a
estrutura que havia em Manaus – pois é, sinto orgulho de ter presenciado um
pouco da história da minha cidade;
2. Tinha apenas dez anos de idade,
estudava no Colégio Divina Providência
(ao lado do Luso Club e da Praça do
Congresso) - sentado em minha cadeira, que ficava próxima a parede, presenciei
a destruição de duas abandonadas edificações: o Prédio da Saúde e o Palacete
Miranda Corrêa.
Aquilo não me comovia, pois não
tinha noção do mal que estavam fazendo a nossa cidade – era lugar comum,
naquela época, a destruição de prédios antigos e largados pelo tempo, para
darem lugar a novas e modernas edificações (espigões).
Muito tempo depois, com o advento da
internet, pude voltar ao passado através de fotografias digitalizadas - uma delas
é da Praça Antônio Bittencourt
(Congresso), onde estavam inseridos aqueles belos prédios, onde presenciei
a destruição de ambos – era pura história e, eu não sabia!
3. Tenho uma antiga vizinha, no centro
da cidade, chama-se Deusa – ela já
está bem velinha – ao encontrá-la, gosto de falar-lhe, com nostalgia, sobre o “Clube Sambão” (ficava na Avenida
Joaquim Nabuco, atual faculdade Uninorte), onde dançava as sextas-feiras e, do
balneário “Ponte da Bolívia”, onde
tomava banhos em suas águas geladas e cristalinas – gosto de ver o brilho dos
seus olhos ao relembrar daqueles tempos bons.
Pois
é, os meus olhos brilham, também, pois lembro com saudades das paqueras,
namoradinhas e dos bailes dos finais de semana do Sambão, Sheik e Bancrevia.
Aos
finais de semana, o meu saudoso pai nos levava (eu e meus irmãos) para tomarmos
banhos nos balneários do Parque Dez,
Tarumanzinho e na Ponte da Bolívia
(ambos, atualmente, são esgotos a céu aberto) – ainda sinto o cheiro de peixe
frito, da água gelada, das areias branquíssimas e dos pulos da ponte!
4.
Dias
desses, fui passear com a minha netinha Duda, na Feira da Eduardo Ribeiro – ela estava vestida de “Frozen” e, queria passar pelo Teatro Amazonas, pois com apenas seis anibhos
já tem uma atração especial pelo teatro e suas encenações.
Ao parar bem frente ao Opera House, voltei ao passado,
lembrei-me da primeira vez em que entrei naquele edifício das artes dramáticas
– a parte externa era escura, sem cor, esquecida e fétida.
Era noite e a porta principal estava
aberta, sem ninguém para vigiar a entrada – tinha uma réstia de luz, algumas
pessoas falando alto, com uma musica suave como pano de fundo – fui atraído por
aquilo, entrei discretamente, sentei na primeira cadeira da plateia principal.
Foi a primeira vez em que tive a
oportunidade de ver um palco, uma representação e, uma mulher seminua – fiquei
agitado e excitado ao observar um belo par de seios (a atriz representava uma
índia guerreira) – isso ficou marcado em minha memória – toda vez que visito o
nosso majestoso teatro, a emoção se renova;
5.
A
sétima arte sempre foi um dos meus hobbies preferidos – vendia picolés, petecas
e gibis para poder comprar o meu ingresso aos domingos no Cine Guarany.
Certa vez, fiquei até o inicio da
noite, em frente ao cinema, vendendo as minhas revistinhas, numa bobeira do
porteiro, dei aquela “furada”, fiquei na ultima fila, com olhos atentos na tela
grande e no “lanterninha”, para ser colocado para fora.
Estava passado o filme “E O Vento Levou”, com quatro horas de
projeção – na final, misturei-me a multidão e, sai sem ser notados pelos
porteiros.
O problema foi em casa, pois já
passavam das onze horas da noite – todos estavam na minha captura – foi surra
na certa e castigo por um bom tempo.
O Cine Guarany foi destruído e, em
seu lugar, construíram um prédio “sem graça” para uma agência do Banco Itaú –
toda vez em que passo por aquele local, lembro-me daquele episódio.
Existem outros fragmentos da minha
memória – irei escrevendo aos poucos. É isso ai
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