terça-feira, 4 de novembro de 2014

ADELELMO NASCIMENTO


Ele nasceu em berço de ouro, pois o seu pai era um rico empresário, dono da fábrica de instrumentos de corda “Bandolim Manauense”, situado na Rua dos Barés, centro antigo de Manaus, porém, com a falência do seu genitor, tornou-se um morador de rua, fazendo a sua casa as escadarias de pedras de Lioz, da Igreja Nossa Senhora dos Remédios.

Teve uma infância farta, morava numa bela casa, era bem vestido e alimentado - em companhia dos pais e os seus irmãos, passeava de bonde nos finais de semana – tomava banhos no Parque Dez de Novembro – brincava no “Aviaquario”, adorava as retretas na Praça da Polícia e assistia as missas na Igreja dos Remédios.

O seu pai, o Senhor Nascimento, adquiriu os conhecimentos de luteria, a arte de fabricar instrumentos de cordas, de portugueses que moravam no entorno do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, tornando-se um empresário exitoso, permitindo-lhe ter uma boa vida, frequentando o Ideal Clube, um grêmio destinado a classe média alta da pequena cidade de Manaus.

Um dos seus funcionários, o José Rocha, entrou na empresa ainda muito jovem, na condição de aprendiz, porém, demonstrou desde cedo um dom excepcional para trabalhar com instrumentos musicais.

O Rocha foi encarregado de levar e buscar, todo santo dia, o Adelelmo Nascimento, no Colégio Dom Bosco – os dois tornaram-se amigos e, conversavam muito durante o trajeto – foi uma amizade para toda a vida.

O Senhor Nascimento começou a participar dos jogos de cartas, um evento diário que acontecia no Ideal Clube, sempre regado ao consumo de bebidas caras e de charutos cubanos – tornando-se um jogador inveterado.

Essa prática perniciosa levou a falência da sua empresa, além de ser obrigado a vender todos os seus bens para pagar as dívidas advindas do jogo – houve a desestruturação da sua família – por ser maçom, foi morar de favor no prédio de uma maçonaria do centro.

O luthier Rocha foi trabalhar por conta própria e o seu amigo Adelelmo virou morador de rua, levando a vida de esmolê - apesar de todas as adversidades na vida que os dois passaram, nunca deixaram de serem amigos.

O Adelelmo, na sua velhice, resolveu morar nas escadarias da Igreja dos Remédios, onde fez uma casinha de papelão e plástico, ficou obeso e teve problemas de saúde, dificultando a sua locomoção – recebendo a ajuda dos padres, fiéis, moradores e comerciantes da área – mesmo assim, tornou-se agressivo, jogando água e urina nas pessoas que se aproximavam.


A igreja onde o Adelelmo resolveu se aboletar para o resto da vida, segundo os historiadores, foi construída em 1868, erguida sobre um cemitério indígena, foi tombada em 1988, como patrimônio histórico do Amazonas - ela é rodeada por escadarias de pedras portuguesas de Lioz; na parte detrás, ainda aparecem os trilhos dos bondes que deixaram de circular em Manaus na década de 50.

Certo dia, o seu amigo Rocha, foi fazer-lhe a sua última visita, pois já se encontrava com idade avançada e bastante enfermo – foi em companhia do seu filho mais novo.


Um ficou sentando dentro da sua casinha de papelão e o outro dentro do carro, os dois começaram a conversar, lembraram-se dos velhos tempos – o Rocha deixou uma quantia em dinheiro para o amigo e, seguiu o seu caminho – tempos depois, os dois amigos faleceram. É isso ai.

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