Na minha adolescência e
parte da vida adulta, frequentava quase todos os finais de semana o sítio do
Sêo Carlito, localizado na estrada da BR-174 (Manaus/Boa Vista), no quilômetro
22, na entrada da Escola Agrotécnica - um local onde guardo boas recordações,
pois tive a oportunidade de estreitar os laços de amizade com os membros da
família do dono imóvel, além de ter tido um contato direto com a natureza,
principalmente, com as águas límpidas da Bacia do Tarumã-Açu.
O Sêo Carlito trabalhou a
vida inteira na Administração do Porto de Manaus (Rodoway), aonde chegou a se
aposentar e, com o fruto do seu labor de longos anos, deu uma vida digna e
farta para a sua esposa, a Dona Nazaré e, para a sua prole numerosa, formada
pelo Jordan, Mário, Marcus, Carlson, Dorinha e Júnior (falecido) - a sua
residência ficava situado na Rua Tapajós, num trecho conhecido como “Ladeira da
Tapajós”, onde criou e educou todos os seus filhos e, viveu até a sua morte.
Para curtir com a família
o lazer dos finais de semana, comprou um sítio na BR-174 e, para se deslocar
até lá, adquiriu um jipe da famosa marca Lander Rover, pois o acesso era
difícil, com a estrada na piçarra e esburacada em toda a sua extensão – a
viagem era uma aventura e, para vencer o percurso gastavam-se horas, com inegáveis
atolamentos na época de chuva.
Por ser amigo da família,
sempre era escalado para ir ao sítio, indo a reboque o meu irmão Henrique e
o colega Alcenir (conhecido como Cara de Velha) – o carro era que nem um
coração de mãe “sempre cabia mais um” – por ser muito longe para a época, saíamos
no sábado e retornávamos somente no domingo à tarde.
No ramal da dava acesso a
casa do sítio, tinha que passar por um pequeno igarapé conhecido como Paxiúba,
onde fora construído uma ponte de madeira muito rudimentar – na época de
chuvas, o igarapé transbordava, impossibilitando a passagem de automóveis – a
travessia era feita no lombo de um cavalo - o Sêo Carlito aguardava o leito do
rio baixar para pegar o Lander Rover que ficava na outra margem.
A casa era de madeira, com
um grande quarto de dormir, uma pequena cozinha e uma imensa varanda, onde
podia atar diversas redes para repousar – não existia luz elétrica, muito menos
água encanada – os candeeiros e as lamparinas imperaram a noite toda - a água
era retirada do igarapé do Tarumã Açu, depois de descer uma grande escada de
madeira – a comida era feita num fogão à lenha, com o rádio a pilha ligado 24
horas para animar a festa – tudo natural, tempos bons, não?
Pois bem, o terreno era
imenso, onde tinha até um grande campo de futebol - existiam muitas árvores
frutíferas, como pupunheiras, goiabeiras, ingazeiras, tucumanzeiros, além de
inúmeros pés de castanheiras do Brasil.
Existia por lá um caseiro
conhecido como Sêo Zé, o homem estava seis meses trabalhando sem nunca ter dado
um pulo na cidade, ele estava “atrasado” no balde, fazia muito tempo em que não
pegava uma mulher – o jeito foi eu e o Marcos passarmos uma semana tomando
conta do sítio, enquanto o velho trocava o óleo 40 nos prostíbulos da Rua
Itamaracá.
Foi a primeira vez em que
fiquei tanto tempo dentro da mata, uma semana inteira e, apesar de naquela época, existirem por lá, muitas galinhas, patos e perus no terreiro, passei três dias comendo direto ovos
e sardinhas em lata, no café, almoço e janta, foi o suficiente para ficar
enjoado por um dois anos.
No quarto dia, visitamos
um sítio próximo ao nosso, o caseiro estava vários meses comendo Pirarucu seco
com feijão de praia, o homem não
aguentava mais comer aquela comida e, propomos fazer um escambo (troca), levávamos ovos e sardinha em lata e ela preparava o nosso pirarucu com feijão,
era uma delícia!
Com o passar do tempo,
faleceram a Dona Nazaré e o Sê Carlito, com o sítio perdendo o seu encanto - não vou por lá já faz muito anos.
No ano passado, tive a oportunidade de conversar com o Jourdan e o Marcos, fui convidado pelo
primeiro para visitar novamente o sítio – topei na hora, qualquer um dia desses
boiarei por lá e, lembrarei dos velhos tempo no sítio do Sêo Carlito. É isso ai.
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