quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O ANIVERSÁRIO DOS DEZOITO ANOS DO ZÉ MUNDÃO

    O Zé estava revirando o seu velho baú, parou para dar uma olhada numa velha foto tirada com uma máquina descartável “Love”, era a festa dos seus dezoitos anos de idade, naquele tempo ainda vigorava o Código Civil de 1916, portanto, o Zé ainda era menor de idade, porém, já aprontava muito: bebia, fumava e gostava de visitar o lupanar “Maria das Patas”, lembrou daquele dia como se ainda fosse hoje
    Acordou numa manhã de setembro, o cara era Virgem no signo, levantou mais alegre do pinto na merda, porém, tava numa lisura que dava dó, resolveu pedir um vale na empresa em que trabalhava, levou o sonoro não, correu atrás dos amigos, todos estavam mais duro do que ele, finalmente, foi pedir ajuda do seu querido pai, sem sucesso, o velho estava na entressafra.
    E agora, Zé Mundão? Partiu para cima do seu cofrinho, jogou o dito cujo na parede, foi caco para todos os lados e uma pequena mereca em moedas, não dava nem para o começo, o dia prometia para o Zé.
    Resolveu fazer o niver solamente, nada de festinha, com rodadas de batidas de “Tigre de Onça” para o pessoal do Beco da Bosta (era o local onde ele morava) – foi ao Supermercado Casas dos Óleos, no Boulevard Amazonas, comprou uma latinha de Castanha de Caju Torrada, um litro de Run Montilla Carta Branca e uma garrafa de Coca-Cola.
    Naquela época as embalagens dos supermercados eram de papel, ao chegar próxima da sua casa, a sacola rasgou, a garrafa de Run caiu no chão e quebrou o gargalo na sarjeta, o Zé chamou tudo o que era de palavrão, ficou tão puto que jogou o resto das compras num matagal, foi para a sua casa triste que fazia pena.
    E agora, Zé Mundão! Mas o cara era insistente, pegou o resto das moedas e foi na Taberna do “Arueira”, comprou um litro da Cachaça Cocal (era um veludo no gogó!), pegou alguns limões, gelo e açúcar e fez aquela Caipirinha, pegou um disco de vinil do Roberto Carlos e colocou o som “no toco” na sua vitrola Nivico Hi-Fi.
    Depois de quatro doses na moleira, o Zé já estava aquela cara de leso, deu uma vontade de beliscar alguma coisa, lembrou das compras que ele havia jogado fora, pegou uma lanterna e se embrenhou no matagal procurando a latinha de Caju – o local era de difícil acesso, mas o cara era que nem o bicho da goiaba verde, passou uma hora dentro do mato, ficou todo cortado por um capim escroto que corta até a alma do caboclo, pegou algumas ferroadas de Formiga-de-fogo e de Giguitaia, rastejou pelo chão, procurou, procurou e não encontrou nada! 
    O Zé estava muito azarado no dia do seu aniversário! Voltou para a sua casa todo “ferrado” no sentido da palavra, tomou mais uns goles de batida de limão, ouviu mais algumas músicas, não deu para se conter, abriu um grande berreiro, foi o suficiente para acordar os seus pais; o velho quando viu aquela situação do pobre coitado, ficou sensibilizado, abriu mão daquela grana que estava guardada para as despesas do mês, deu tudo para o Zé fazer a festa, afinal, era uma data muito importante, a mulherada comemora aos quinze anos e a macharada aos dezoitos anos.
    Pense num cara alegre, imaginem a situação do Zé: saiu de repente de uma lisura total para uma posição confortante, com muita bala na agulha.              Tomou um banho rápido, trocou a beca e passou uma mensagem na “Rádio Cipó”: - Tá todo mundo convidado para a festa do Zé Mundão! O local de encontro será às dez horas no Bar do Gordo, tudo será de graça, não será necessário levar presentes! Basta ter bucho de Leão e Gogó de aço para entornar todas!
   Este tipo de convite se espalha numa progressão geométrica, antes do horário marcado o Bar já estava todo entupido de gente – e agora, Zé Mundão? Ao chegar ao local, sentiu que o bicho ia pegar, mas o cara era “safo” mesmo! Botou logo a boca no Trombone: - Escuta aqui macacada, dois pontos - vou pagar adiantado quatro caixas de cervejas, cinco garrafas de Run Montilla, três galinhas “Cláudia Barroso”, uma porrada de fichas para o Jukebox e Fliperama e bastante “Refi” para a mulherada! Quando terminar, vou passar o chapéu, vai todo mundo inteirar para comprar mais ampolas! Tá feito, rapaziada?
   Nessa altura do campeonato um dos convidados mandou ver: - Porra, aniversário de pobre é uma merda, sempre sobra para os convidados, toda vez é servido Vatapá com Arroz, Maionese e Frango Desfiado com Farofa, depois o cara ainda tem que pagar o goró e ainda sai com uma puta infecção intestinal!
   Apesar dos pesares, tudo correu na perfeita harmonia, a festa do aniversário do Zé Mundão foi um sucesso! 
   De volta ao presente, o Zé guarda a fotografia no Baú, respira fundo e acha muita graça daqueles tempos bons, ele era feliz e não sabia! Por falar nisso, será que o Zé vai comemorar este ano o aniversário dele? 
  Sei não, mas se o fizer, irei contar aos mínimos detalhes o auê da festa, pois ele ainda continua gaiato e cheio de onda - farei questão dar um abração no meu brother Zé Mundão, ele merece!

(Trecho do meu livro "ZÉ MUNDÃO DE MANAUS")

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