Recebo muito elogios e algumas criticas por cultuar coisas antigas e atuais de Manaus; o meu “blog” tem vários objetivos e, um deles, é exatamente fazer esta ponte, entre o passado e o presente, para tanto, mostro como era a nossa cidade através de artigos de historiadores, publico fotos antigas e atuais, ouso em escrever sobre a minha infância e adolescência em Manaus, faço também parte de movimentos sociais voltados para a preservação e revitalização do nosso centro histórico, enfim, luto para ver a Manaus bela, limpa, respeitada e amada; os nossos antepassados tiveram esse privilégio, espero que a atual e a futura geração tenha o mesmo.
Para termos uma pequena ideia como era a nossa Manaus no inicio do século passado, empresto o que o escritor e professor amazonense Rogel Samuel, escreveu no seu belo livro chamado “O Amante das Amazonas”, da Editora Itatiaia, de Belo Horizonte:
A cotação da borracha amazonense sobe na Bolsa de Londres. O Amazonas, único produtor de látex do mundo, Manaus, rica, copia Paris. Comerciantes enriquecem. Ostenta o Teatro Amazonas e seus espelhos de cristal. Os milionários jogam cartas com anelados dedos pesados de diamantes, arriscando fortunas no Hotel Cassina, no Álcazar, no Éden, no Cassino Julieta. Telhas de Marselha ao luar na Rua dos Remédios, na Rua da Glória. Arquitetura art-nouveau do palácio de Ernest Scholtz – depois Palácio Rio Negro, sede do Governo. A la ville de Paris, Au bom marché, Quartier du temple, Damas do Gabinete Villeroy, Casa Louvre, Livraria Palais Royal, Livraria Universal, Agencia Freitas, Casa Sorbonne (dentro do Grande Hotel), a Confeitaria Bijou, a Padaria Progresso. A bela Villa Fany, o Cais dos Barés, a Biblioteca Provincial, o prédio dos Educandos Artífices, Amazon Steamship Navigation Co. A Alfandega, importada peça por peça, o Mercado Municipal, projeto do Gustavo Eiffel. Um Serviço Telefônico servia a cidade. A eletricidade ilumina as ruas de Manaus. Calçadas da Praça de São Sebastiao, com pedras portuguesas. Bondes elétricos da Manaus-traways. Bebe-se Veuve Clicquot. Truffes, Champignon. Huntley & Palmers, Cross & Blackwell. A Cork, a Pilsen, o Bordeaux, o fiambre, o Queijo da Serra da Estrella. Lagostas, a Goiabada Christalizada. Charteuse, Anizette. Champagne Duc de Reims. O Vermouth. Água de Vichy. Leite dos Alpes Suíços. Casacas inglesas, o H.J., o pongê, o filó. Bengalas de castão de ouro. Cartolas, luvas, perfumes franceses, lenços de seda. Pistolas de prata e cabo de marfim. Gramophones de Victor. Discos duplos de Caruso. Casas aviadoras. Manaus-Harbour, Tabuileiros de Xadrez. Óperas diariamente. Prostitutas importadas. A Cervejaria Miranda Correa. A Praça da Saudade. O Rodoway, o Trapiche. Sífilis. Malária. Vidros de Quinino Labarraque. Óleo de Fígado de Bacalhau. Vinho Silva Araújo. Regulador da Madre. Pílulas Rosadas. Café Beirão. Winchesters. Ponte da Imperatriz, Igarapé da Cachoeira Grande. A Serraria, no Igarapé do Espírito Santo. Banhos no Igarapé das Sete Cacimbas. Buritizal. Jogos, no Parque Amazonense. Muro do Leprosário do Aleixo. Visita da Bomba d’água. Viagens. Linhas. Manaus-Belém, Manaus-Santa Isabel, Manaus-Iquitos. Chalé da Vila Municipal. O Amazonas Comercial, O Imparcial, O Rio Negro, Jornal do Comércio. 126 navios trafegam no interior do Amazonas. Vaticanos, gaiolas e chatas.
É, mano velho, a vida era boa e farta naqueles tempos, alguns prédios citados pelo Rogel Samuel ainda estão de pé, outros tantos, foram demolidos para dar lugar ao “progresso” – roupas, bebidas e comidas importadas somente tinham acesso o pessoal da elite, hoje, com a Zona Franca, muitos podem usufruir dessas regalias.
A cidade foi parcialmente destruída, passou quase um século em total abandono, atualmente, alguns espaços estão sendo revitalizados, posso citar o Largo de São Sebastião, o Palácio da Justiça, a Praça da Saudade, a Casa de Eduardo Ribeiro, o Ideal Clube, a Praça Heliodoro Balbi, o Palacete Provincial, o Palácio Rio Branco, o Palácio Rio Negro, a Primeira, Segunda e Terceira Ponte, dezenas de casarões, dentre outras. Estão em processo de recuperação alguns logradouros, como o Paço da Liberdade, o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, o Teatro Chaminé, a Praça D. Pedro II, a Biblioteca Pública e parte do Rodoway, a promessa dos governantes é a total recuperação da cidade até 2014, tendo em vista sermos escolhidos para sediar alguns jogos da Copa do Mundo de Futebol.
Estão estudando a viabilização da construção de Monotrilhos e Ônibus de Deslocamentos Rápidos, a expansão do Aeroporto Eduardo Gomes, a construção da Arena da Amazônia, termino da Ponte Manaus-Iranduba, consolidação da Região Metropolitana de Manaus, dentre outras.
Quem sabe daqui a um século, alguém irá escrever sobre as belezas da Manaus do início do XX e, do XXI, também. As coisas belas devem ser preservadas, chega de destruir agora e depois de um século, começar a reconstruir de novo! Vamos recuperar o que sobrou do século passado, conservar, cuidar, construir mais coisas belas, chegando Manaus a ostentar, assim esperamos, no próximo século, como a cidade mais bela do Brasil, como foi no início do século passado! É isso ai.
Observação: O livro “O Amante das Amazonas”, do Rogel Samuel, conforme a orelha -, é um romance, baseado em fatos reais, históricos, conta a saga da borracha, do apogeu e decadência. O autor é amazonense de Manaus, nasceu em 1943, filho de francês com brasileira. Seu avô alsaciano foi um rico comerciante de borracha. O Alberto Samuel, pai do Rogel, escreveu “Jaguareté, o guerreiro”; foi também um navegador por 40 anos na Amazônia, com quem conheceu a floresta.
Um comentário:
obrigado pela referência...
trabalhei 10 anos para poder escrever este livro.
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