Na cidade de Parintins, no Baixo Amazonas, existia uma senhora de idade avançada, criavam uma Égua, chamada Thereza; ao lado do seu terreno, existia um grande fazendeiro, dono de milhares de cabeças de gados, da raça Nelore, criador, também, de cavalos “puro-sangue”, tipo Manga-larga. Certo dia, a égua da velha, entrou no cio, estava naqueles dias, de desejo sexual intenso; não deu outra, o cavalo do velho fazendeiro, por sinal, estava atrasadíssimo, pulou a cerca e mandou ver na fêmea. Quando deu para notar que a égua estava prenhe, o fazendeiro mandou um peão dá um recado à vizinha: - O patrão mandou avisar que, quando nascer o potrinho, ele será levado para a sua Fazenda, pois, pertence a ele e, ponto final! Falou de uma forma bastante ameaçadora. A velinha tentou argumentar:- Mas, senhor, diga ao seu patrão que foi o cavalo dele que quebrou a minha cerca, veio até meu terreno e cruzou na marra com a minha eguinha, não houve o meu consentimento, portanto, quando nascer o potro, será criado no meu terreno. O peão retrucou: - Conversa-fiada, de nada, já está decidido, o potro será do patrão, quando nascer, virei buscar, se houver resistência, a ordem é mandar bala, espere para ver! Coitada da velinha, não tinha ninguém para defendê-la, por outro lado, o fazendeiro tudo podia e todos a ele obedeciam; sabe como é a vida, dinheiro compra tudo, menos a consciência de poucos. Foi o caso do Dr. Papa Tudo, um rábula formado em “Direito” na “França”, um puteiro da Rua Mauá, no baixo meretrício do centro antigo de Manaus – o destino o levou a “advogar” causas perdidas, na cidade dos “Parintintins”. Pois é, mano velho, ele ficou sensibilizado com o caso, ficou puto de raiva, com a audácia do fazendeiro arrogante, resolveu defender a velhinha, sem cobrar o seu merecido honorário advocatício. O cara era fera, não tinha perdido nenhuma causa, ele sempre se preparava para defender os seus clientes, tomando cachaça nos botecos da “Baixa do São José”. O caso vai parar nas mãos de um Juiz de Paz – as partes foram chamadas, o fazendeiro contratou o melhor advogado de Parintins, o Dr. Enrolando Lero, um cara metido a besta, engomadinho, formado na Universidade Federal do Pará, com mestrado em Direito Civil, na Faculdade de Direito da USP – veio com um paletó de griffe, relógio Rolex e caneta Mont Blanc "fanta", ostentando também o seu anel de ouro, com pedra de Rubi, com o intuito de aparecer e intimidar a outra parte, pobre. Por outro lado, o Dr. Papa Tudo, era um cara que tinha somente um Paletó, surrado com o tempo, com uma gravata chamada de “Maestro”, por ser tão grande que uma ponta “tocava no seu órgão”, genital, é claro! Chegou no “Fórum” com a barba a fazer, com uma cara parecida com a do personagem global “Cana Brava”, cuspindo para todos os lados e dando “doses de mil” em todo mundo. O advogado do fazendeiro fez a sua defesa: - Meritíssimo, o meu cliente é um dos homens mais respeitados e ricos da cidade de Parintins, fazendeiro e criador de cavalos de puro-sangue, tem condições financeiras suficientes para criar o potro que vai nascer, será cuidado como um campeão, com todo o cuidado possível, por sinal, será contratado um veterinário da cidade de Manaus, somente para cuidar dele, por outro lado, a senhora dona da égua prenhe, não tem condições nem para consertar a cerca, o meu cliente foi quem providenciou tudo, ela é paupérrima, não cuida bem nem da égua, imagine cuidar de um potro, filho de um cavalo de raça, o melhor para todos, será o potro ficar sob os cuidados e a guarda do meu cliente! Depois, entrou em campo, o defensor dos fracos e oprimidos, o mais famoso advogado de porta de cadeia da cidade, foi logo direto no assunto: - Meritríssimo! O juiz ficou puto, já tinha também tomado umas doses de caninha 61, deu logo um ralho no rábula: - Me respeite, sou uma autoridade, não sou um filho de rapariga, não! O “advogado” botou logo no toco: - Desculpe-me, “meritríssimo”, mas, “supunhetamos” que o senhor seja uma égua no cio, eu um sou um cavalo puro-sangue, atrasado no balde, pulo a cerca, pego o senhor e boto até o tucupi! O juiz pulou da cadeira, já estava babando de raiva e, gritou: - Vai me pegar ó caralho, vá meter no rabo de outro, eu sou espada, me erre! Desculpe-me, novamente, meritríssimo, mas, estou apenas “supunhetando”; prosseguindo, o senhor depois de “arrolado”, fica prenhe, depois de alguns meses tem um potro, quando ele nascer, será de quem? de quem? de quem? O juiz já estava para ter um infarto do miocárdio, gritou em voz alta, deu para ouvir em toda a Ilha de Parintins: - É da Puta que o Pariu! Encerrado, acabado, fui! Pronto, foi dada a decisão judicial, o potro, ficaria com a “Égua da velhinha” e, o “Cavalo do fazendeiro” perdera a causa! A paz voltou a reinar no terreno da anciã e o rábula foi comemorar, no Comuna’s Bar. Égua! Sai pra lá, Cavalo!
Aviso aos navegantes:
1. Este causo (conto, história) foi contado muitos anos atrás, num show no Teatro Amazonas, pelo meu amigo Pedrinho Ribeiro, parintinense, cantor e compositor da melhor qualidade;
2. Juiz de Paz - Antiga autoridade incumbida de conciliar partes desavindas, processar e julgar cobranças de pouco valor, e praticar outros atos civis ou criminais de sua alçada, inclusive a realização de casamentos;
3. Parintins – Cidade do interior do Estado do Amazonas, onde se realiza o melhor e maior festival folclórico do Brasil;
4. Potro – Cavalo novo, até os quatro anos, não domado;
5. Rábula - Advogado de limitada cultura. Bras. Indivíduo que advoga sem possuir o diploma.
6. Parintintins – Tribo que deu origem a cidade de Parintins;
7. Baixa de São José – Local tradicional, onde moram os torcedores do Boi Garantido;
8. Comuna’s Bar – O bar pertence a um japonês, reduto dos “vermelhos” do Garantido. Um dos mais frequentados no Festival Folclórico de Parintins.
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