Quem ainda não viu e se deleitou com a sutileza e criatividade daquelas caixinhas feitas com pedacinhos colados de madeira, metais, pedras, plásticos, marfim ou chifres de animais? Elas, hoje, ganharam as feiras e lojas de artesanato como souvenir turístico e produtos ornamentais. Parece até um trabalho de quebra-cabeça que nos leva a pensar no trabalho necessário para montá-las, como são feitas e qual o nome da técnica artística usada: a marchetaria.
Definida como a arte de incrustar, embutir ou aplicar peças recortadas de madeira, formando desenhos em obras, a marchetaria é uma técnica milenar, da qual o registro mais antigo data cinco mil anos. A técnica utiliza tiras de madeira, sementes e outros materiais que são colados e cortados, compondo uma mistura de cores e texturas, cujo resultado pode ser usado para fazer pingentes, pequenas caixas de madeira decoradas ou, até mesmo, aplicado como decoração em obras maiores de marcenaria (mesas, cadeiras, etc).
São três os processos de produção da marchetaria – utilizando folhas, lâminas ou blocos maciços de madeira. Seu objetivo principal não está na utilidade da peça produzida, mas fundamentalmente, na sua beleza decorativa.
A Marchetaria, que em francês quer dizer marqueter (embutir), como já foi dito, é uma arte ou técnica de ornamentar superfícies planas com aplicação de materiais diversos. É uma arte que remonta ao Egito antigo, que utilizou técnicas desenvolvidas do bronze, a partir das minas de cobre, produzindo lâminas dentadas usadas como serras. No túmulo do rei Tutankhamon (18ª Dinastia), o trono, a caixa, os cofres e quase todos os móveis são cobertos, literalmente, com embutimento de pedras preciosas, minúsculas telhas vitrificadas e ouro.
Um caixão de madeira da Dinastia Yin (1300 A.C. - 220 D.C.) mostra belos trabalhos de marchetaria chinesa; enquanto que, em Halicarnasso, cidade natal de Heródoto, na Turquia, foram encontrados objetos com técnica de imbutimento por volta de 350 A.C., no palácio do rei Mausole, cujas paredes haviam incrustações em mármore. O túmulo é considerado uma das sete Maravilhas do Mundo.
Na metade do século XVI, com o aprimoramento das serras e das técnicas, expandiram o embutimento ilustrado à marchetaria. As partes separadas de um retrato passaram a ser recortadas e folheadas a partir de um projeto artístico. Estas peças eram então juntadas e este conjunto inteiro era colado a um fundo contínuo, procedimento esse que tem uma longa história de nomes e que agora é chamado geralmente de marquetery, nos países de língua inglesa, ou seja, marchetaria, em português.
A marchetaria contemporânea – A primeira técnica utilizada, tarsia certosina, consistia no recorte de elementos do material a ser utilizado (pedra, madeira, metal, etc.) e a posterior incrustação nas cavidades
abertas nas superfícies maciças com o auxílio de formões ou ferramentas similares, utilizando cola para a fixação. Posteriormente, desenvolveram-se muitas outras técnicas, cujas principais são utilizadas atualmente: tarsia a toppo ou marquetery a bloc – marchetaria maciça, utilizada na fabricação de utilitários, bijuteria, filetes decorativos, esculturas. A tarsia geométrica – é o recorte de motivos geométricos para revestimento de móveis, lambris, caixas, painéis internos, mesas, cadeiras. Marqueterie de paille – marchetaria de palha (folhas de plantas desidratadas) tem as mesmas aplicações da tarsia geométrica. Já a tarsia a incastro ou technique boulle – usa o recorte simultâneo das partes a serem montadas. Outra aplicação é a procéde classique ou element par element, que quer dizer: o recorte separado das partes a serem montadas.
Após o desmembramento do Império Romano, este meio de expressão artística esteve a ponto de perder-se. Entretanto, alguns poucos fizeram com que subsistisse na Itália, difundindo-se no início do século XIV, principalmente na região da Toscana. No século XV a marchetaria foi praticada, em particular, na cidade de Florença, tendo em Francesco di Giovanni di Mateo, fundador da Escola Florentina de Arte, seu principal expoente. Os mais célebres artesãos exerciam seu metier na região da Toscana. Nesta época foi criada a tarsia geométrica, que consiste em recobrir as superfícies com folhas de madeira em lugar das incrustações. Ainda neste mesmo período, inicia-se o tingimento das madeiras com o uso de óleos penetrantes, corantes diluídos em água aquecida e em ácidos. A areia aquecida era utilizada para o sombreamento das obras, cujos artistas eram geralmente contratados para decorar igrejas e palácios. Durante a Renascença foi criada a tarsia a toppo ou marchetaria maciça, cuja técnica é atualmente utilizada pelas indústrias de filetes decorativos. A arte da marchetaria seguiu evoluindo com os mestres italianos que retratam em suas obras os edifícios característicos de suas vilas, ruas, praças e paisagens.
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