segunda-feira, 19 de abril de 2021

SOU MANAUARA

Foto: Praça de São Sebastião, Manaus, Amazonas, Brasil. José Rocha
 Sempre houve uma confusão, uns chamam de manauara, outros, de manauense. Tanto faz, como tanto fez. Os dois termos estão corretos. A diferença está na escolha do sufixo gentílico. –ense é herança portuguesa,     o –ara é tupi (wara = o que veio de).

Os meus antepassados maternos nasceram dentro da mata, no interior           do Amazonas, corre nas minhas veias sangue indígena sim senhor.

Os meus antepassados paternos eram nordestinos que vieram para a Amazônia, no Alto Juruá em busca do látex, sou também um cabra da peste.

A minha mãe era cabocla vinda de Terra Nova e o meu pai um arigó de Uruburetama, por aqui os dois viveram, trabalharam, casaram, tiveram filhos e foram enterrados.                                                   

Nasci em Manaus, no Hospital de Santa Casa de Misericórdia. Todos os meus irmãos são manauaras e nasceram lá também.                       

Fui batizado, comungado, crismado e casado na Igreja de São Sebastião, e quando morrer, nela talvez no sétimo dia seja lembrado.

Sou católico e vou à missa, mas não sei rezar, somente o Pai Nosso e olhe lá.                                     

Morei com a minha família dentro do Igarapé de Manaus, fomos ribeirinhos e acompanhávamos a seca e a enchente do Rio Negro.                           

Ainda consegui alcançar uma Manaus linda e pacata, quando começava no Porto e no Boulevard Amazonas terminava.

Tomava banho de rio. andava de canoa, pulava dentro do igarapé na Primeira Ponte.

Frequentava os cines Guarany, Politheama, Avenida e o Odeon. Adorava o Carnaval da Eduardo Ribeiro.                                 

Passeava no Ródo (Roadway), Mercadão Adolpho Lisboa e no Aviaquário   e assistia ao Festival Folclórico do General Osório.       

Alcancei os banhos no V8, Parque Dez, Tarumã,                   Tarumanzinho, Ponte da Bolívia e Ponta Negra.                                         

Curti o arrocho na Festa do Acocho. Frequentava os bailes do Luso Clube, Sheik Clube, Bancrévea Clube e da União Esportiva Portuguesa.

Passava a régua nas primas nos lupanares Maria das Patas/Saramandaia e lá pelas bandas da Prainha somente detonava as  gatinhas.

Assistia com muito entusiasmo e vibração, o meu Fast Clube jogar contra o Rio Negro ou Nacional no Parque Amazonense, Colina e no Vivaldão.

Gostava também de assistir o ano inteiro, grandes partidas de Voleibol no Ginásio Renné Monteiro.                                

Estudei, inicialmente, no Barão, depois, o fundamental no Benjamin  e no Sólon de Lucena a conclusão.     

Casei com uma cabocla na Igreja de São Sebastião, depois de muita bronca acabou a união. 

Os meus irmãos casaram, tiveram filhos manauaras e tempo depois também descasaram.

Tenho três filhos manauaras que me deram três netos manauaras também. Sou da Universidade do Amazonas com muita satisfação, formado em ciência da Administração.

Estudei também alguns períodos de Direito, não concluir o curso foi o meu grande erro e defeito.

Sempre gostei de suco de Taperebá e Açaí com tapioca, melhor não há.

Nunca dispensei um Jaraqui, muito menos uma Caldeirada de Tambaqui.

Gosto de degustar um Tacacá e detonar uma Tapioca com Banana Frita e Castanha do Pará.

Para completar, gosto de roer um Tucumã com farinha e tomar um suco de Cupuaçu para não entalar.

Não dou bobeira para um Pé de Moleque e de um Bolo de Macaxeira.

Sou boêmio, sou da tradição, gosto do Morro, mas sou de São Sebastião.

Curto o nosso ritmo amazonense, a toada e o ritmo quente parintinense.

Frequento regularmente, o Armando, Caldeira e o ETbar, os botecos tradicionais da nossa Manaus de antigamente.

Passeio pelo Largo de São Sebastião, Praça da Polícia, Praça da Saudade, Praça do Congresso, Mercado Municipal e o Porto de Manaus.

Faço caminhadas pela minha cidade toda semana.

Gosto ainda da Praia da Ponta Negro, Praia da Lua e Tupé.

Vou aos grandes Shoppings e ao Bate Palma também.

Gosto das Feiras e Mercados, onde compro peixes e como Pastel com Caldo de Cana.              

Sou blogueiro que escreve sobre a cidade de Manaus o ano inteiro.            

Escrevo livros sobre a sua gente e sua história e a minha também.

Pretendo ainda conhecer toda a extensão do Rio Negro, deste São Gabriel da Cachoeira, passar pelo Encontro das Águas e entrar no Rio Amazonas até a sua foz no Oceano Atlântico.                          

Apesar de ter nascido na Manaus de Antigamente, ainda tenho muito gás para casar com uma Cabocla novamente.

Não sou mais reprodutor, pois sendo vasectomizado, a fonte secou.

Falo o Amazonês e também gírias do Carioquês.

Sou Manauara da Taba e o meu herói é o índio Ajuricaba.                 

Não sou Manauense, mas, sim, um Manauara Amazonense.

Sou Manauara, com muito orgulho, com muito amor.                                       

Se for a vontade de Deus, hei de morrer aqui em Manaus e ser  enterrado ou cremado tanto faz como tanto fez.      

É isso ai.