Com a descoberta da
vulcanização e da procura crescente do látex da borracha nativa da Amazônia,
vieram para a nossa região uma leva imensa de estrangeiros, incluindo os
ingleses, franceses, peruanos, judeus, alemães, italianos, sírio-libaneses, norte-americanos,
portugueses, japoneses e outros, misturados com índios, caboclos e nordestinos,
provocando uma verdadeira Torre de Babel
em Manaus.
Eles vieram para fazer
riquezas com a exploração e comercialização do “ouro branco”, bem como, para
abrir comércio de produtos (casas aviadoras), empresas de exportação, bancos,
seguradoras, empresas de transportes e outras.
Com a exportação crescente e
o enriquecimento de uma casta privilegiada, a cidade de Manaus ganhou ar
cosmopolita, com uma urbe moderna, rica e progressista, com empresas especializadas
em produtos finos vindos da Europa para satisfazer um público cada vez mais
exigente, esnobe e requintado.
Os estrangeiros se reuniam
em grupos homogêneos, formando clubes esportivos e sociais, onde possuíam a
mesma afinidade, celebrando a sua cultura, religião e esporte preferido
(futebol e o remo).
Como fim do primeiro ciclo
da borracha, ocorrido em 1916, além da gripe espanhola (1918) que dizimou
grande parte da população manauara e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a
grande maioria bateu em debandada “débâcle” voltando para os seus países de
origem ou outros lugares mais prósperos, ficando apenas um reduzido numero de
pessoas e seus descendentes.
Os portugueses, os
sírio-libaneses e os judeus foram os únicos que ficaram em grande número, todos
reunidos na parte central da cidade.
Os portugueses fundaram o
Luso Sporting Clube, em 1912 (presente até hoje em nossa cidade) e a União
Esportiva Portuguesa (destruída), destacando-se nos esportes, comércio em
geral, bares e padarias. Famílias: Soares, Grillo, Araújo, Soeiro, Machado,
Gonçalves, Loureiro e outros.
Os sírio-libaneses fundaram
o Clube Sírio-Libanês, na Rua dos Remédios, atual Rua Miranda Leão, depois na
Avenida Constantino Nery (existe até os dias atuais), bem como, o Sheik Clube,
na Avenida Getúlio Vargas (hoje é uma academia da Live). Destacando-se no comércio de miudezas e
profissões liberais. Famílias: Mussa, Tuma, Fraiji, Chamma, Azize, Hissa,
Caram, Sefair e outras.
Os ingleses reuniam-se no Manáos
Ahletic Club (Clube dos Ingleses, atual Bosque Clube), na Avenida Constantino
Nery. Tomaram conta dos
bondes elétricos, do Roadway, da geração e distribuição de energias, águas e
esgotos, bancos e transportes de navegação.
Eles praticavam o remo com a
equipe. Ficaram até a década de 50, batendo em retirada e não deixando nem os
descendentes. Deixaram apenas as suas obras como o Porto de Manaus, Museu do
Porto (antiga casa de geração de energia), Galerias de esgotos (em pleno
funcionamento até hoje no centro da cidade) e a Usina Chaminé (Teatro).
Os japoneses vieram depois, fundando
colônias agrícolas no baixo Amazonas, na região de Parintins (Vila Amazônia) e
em Manaus na Colônia Japonesa. Sempre foram unidos e fechados, conservando
sempre as suas tradições. Foram expulsos e hostilizados na Segunda Guerra
Mundial (1939-1945). Abandonaram a Vila Amazônia e muitos deles se esconderam na
mata, formando pequenos grupos no município de Parintins, interior do Pará e no
meio rural de Manaus. Os seus descendentes são grandes empreendedores e
produtores agrícolas (hortaliças, frangos e ovos), juta, malva e eletrônicos.
Os italianos foram grandes
construtores (ajudaram na construção do Teatro Amazonas, Igreja de São
Sebastião, Monumento da Praça de São Sebastião e Relógio Municipal (1927). Especializando-se
na comercialização de jóias e relógios. Foram também perseguidos na Segunda
Guerra Mundial, com as suas lojas e residências sendo depredadas. Com o
afundamento do navio Baependi (nome dado a uma vila que fica na Rua 24 de Maio,
antes se chamava Vila Itália) morreram vários manauaras ilustres, ocasionado
revolta na cidade. Foram embora depois, mas deixaram descendentes. Famílias:
Pelosi, Demasi, Cassina e outras.
Os judeus se reuniam no Grêmio
Sion & Azul e Branco, na Rua da Instalação, onde praticavam as suas
tradições religiosas. Foram comerciantes natos. Ficaram na
cidade de Manaus e no
interior. Hoje temos como exemplo a família Benchimol (Lojas Bemol e Fogás), Isaac Sabá e
outras. A Sinagoga deles fica na Avenida Leonardo Malcher.
Os alemães se destacaram nas
Casas Exportadoras. Fundaram o Manáos Ruder Club (Clube Alemão de Remo). Segundo
o saudoso senador Jefferson Peres, no seu livro “Evocação de Manaus”, o nome
Clube do Remo foi mudado em decorrência das hostilidades ocorridas na Segunda
Guerra Mundial (até o Consulado da Alemanha foi invadido). Tinha a sua garagem
toda de zinco, ficava estacionada no Igarapé de Manaus, com acesso pela Ponte
Cabral (Primeira Ponte da Avenida Sete de Setembro). Hoje está atracado embaixo
da Ponte de Educandos.
A sede social chamava-se
Deutscher Kegelklub (Clube Alemão), ficava na Rua João Coelho (atual Avenida
Constantino Nery) esquina com a Rua Leonardo Malcher. Este clube foi abandonado
e invadido por brasileiros. O Olímpico Clube tomou a posse através de usucapião,
ficando até 1966. Os alemães não brigaram pela pose, pois temiam represálias. O
local serviu para a Boate Starship, Drogarias e Padarias. Está fechado e
praticamente descaracterizado. Dizem que lá existe uma maldição: todo
empreendimento não vinga. Famílias: Andressen, Huebner, Scholz e outras. Foram
embora com todos os seus descendentes.
Os norte-americanos
estiveram aqui em peso em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Trouxeram
equipamentos pesados (tratores, retro escavadeiras etc.) fazendo em tempo
recorde o Aeroporto de Ponta
Pelada (1944). Fundaram a RDC - Rubber
Development Corporation (empresa de desenvolvimento da borracha), na Ilha de Monte
Cristo (atualmente é um estacionamento da Feira da Manaus Moderna), para
comprar toda a produção de
borracha e contribuir com os esforços de guerra. Eram embarcadas em aviões anfíbios (Clippers
e Catalinas) e depois por
possantes aviões no novo aeroporto.
Segundo o saudoso Jefferson
Peres no livro acima citado: “Vieram muitos americanos e suas famílias
para a nossa pacata cidade, provocando um grande choque cultural, com pessoas
loiras de olhos azuis, falando uma língua estranha para a grande maioria (o inglês), fumando cigarros de marcas nunca
vista antes, pagando altas gorjetas em dólar, inflacionando o mercado
local e expondo
comportamentos muito liberais, contrastando com uma sociedade local fechada,
tradicional e conservadora”.
Gostavam de recostar
comodamente nas cadeiras dos bares com os pés apoiados sobre as mesas (igual
aos filmes de faroeste). As
suas esposas eram brancas, altas, sardentas, gordas e cafonas. As “secretárias” andavam sem sutiã e anágua,
aparecendo os peitos e a calcinha. Era um escândalo para a época. Foram embora
assim que a guerra terminou. Doaram todos os equipamentos pesados para a
Prefeitura de Manaus, onde foi possível construir a Avenida Getúlio Vargas e
outras grandes avenidas.
Com o advento da Zona Franca
de Manaus, bombando no comércio de importados (o Brasil tinha o comércio
fechado para o exterior), vieram em grande leva os chineses (Shing Ling),
árabes (mulçumanos, a Mesquita deles fica na Avenida Ramos Ferreira) e indianos (ex. Ransons, filhos de Ran)
para comercializarem esses produtos.
Esses e outros estrangeiros
ficaram em Manaus mesmo com o descrédito da Zona Franca. São donos da maioria
das lojas de quinquilharias, confecções do “Shopping Bate Palma”, eletroeletrônicos e linha
branca.
Recentemente, por questões
humanitárias, presenciamos novamente a nossa cidade ser invadida por
estrangeiros venezuelanos (incluindo os índios) e os haitianos, além de cubanos
e colombianos. Trabalham no mercado ambulante “camelôs” e outras profissões
especializadas.
Pelo visto, esses últimos
não irão embora tão cedo. Os seus filhos estão nascendo aqui e com o tempo vão
adquirido o modo brasileiro e manauara de viver e ser.
A nossa cidade desde o final
do século dezenove é uma mistura de raças, credos e línguas diferentes. Uma verdadeira
Torre de Babel.
É isso ai.
Observação: Torre de Babel
A Torre de Babel, segundo Gênesis 11:1-9, é um mito de origem usado para explicar por que as pessoas falam diferentes línguas no mundo. De acordo com esta narrativa, a humanidade era uniforme nas gerações seguintes ao dilúvio, falando um único idioma. Wikipédia