Em 1980, ainda muito jovem,
fui obrigado a casar, pois tinha avançado o sinal – na época, trabalhava numa
empresa de revenda de móveis e linha branca (fogão, geladeira, etc.) – comprei o
básico “no estado” (com pequenos defeitos) para a formação do novo lar e a
espera do bebê – estava na moda o estilo colonial (era caríssimo) – metido a besta,
comprei um conjunto de estofados (com três peças) “top” todo em madeira de
primeira, acredito que era de mogno, feito para durar “a vida inteira”, sendo necessário, vez e outra, somente mudar apenas o tecido do assento – esse móvel fez história.
Fui morar com a mulher em
uma das casas do meu sogro, no bairro da Glória, onde o estufado reinava numa
imensa sala de estar – todos admiram aquelas belas peças, pois era grande, ergométrico, proporcionado um total conforto para as visitas e,
para o pobre mortal aqui assistir aos meus programas favoritos de televisão.
Em 1982, foi morar no
Conjunto dos Jornalistas, na Avenida Constantino Nery – as peças de estofados
tomavam quase toda a sala de estar do apartamento, tornando-se incompatível com
aquele minúsculo lugar, mesmo assim, ficamos com ele por uns quatro anos.
Nessa altura do campeonato,
já tínhamos um casal de filhos sapecas – os curumins riscavam as paredes,
quebrando tudo o que encontravam pela frente e, adoravam fazer xixi, riscar de
canetas e de lápis coloridos o ex-bonitão conjunto de estufados colonial! Sem
chance de ser feliz.
Muito a contragosto, o
estufado colonial foi vendido a “preço de banana” para um casal de amigos
moradores da Glória, a Ninita (hoje, uma policial civil aposentada) e o Bento
(aposentado e dono de uma bar/peixaria, antigo Bar do Quixito, no Conjunto
Tocantins).
O casal ficou por mais de
vinte anos com o estufado, mesmo morando em apartamento - segundo o meu
compadre Bento, o móvel foi cedido a uma prima, pois foi obrigado a comprar um
estufado tipo cama, para evitar de uma vez por todas dar o famoso “bafo de
Onça” e ouvir os ralhos da Dona Encrenca (quando chegava em casa cheio da
birita), resolvendo o problema dormindo na sala de estar.
Passados trinta e seis anos
da compra do móvel, o conjunto de estufados colonial voltou a brilhar – uma
vizinha da prima do Bento, falou para um amigo arquiteto e, este, muito
esperto, ofereceu o móvel para um velho empresário que estava ávido em compor em sua casa de campo com móveis da década de oitenta (somente do estilo colonial).
O Bento foi consultado pela
prima sobre o interesse do profissional na aquisição do estufado – na
brincadeira, o compadre falou para vender por dois mil reais, que seria
dividido meio a meio.
A prima do Bento falou para
o cidadão sobre o valor, o marmanjo não falou que sim, nem que não, foi logo
tirando a “pacoteira” do bolso da calça e pagou com vinte notas de cem reais.
Na semana passada, encontrei
com o Bento lá no Conjunto Tocantins II, na Praça de Alimentação, no Box da
Dona Terezinha (ela é minha cliente) – falou-me, todo sorridente, sobre a venda
do móvel – disse que iria “torar” os mil reais nas praias do Rio de Janeiro
(vai viajar em férias em outubro).
Pelo lucro da venda, o Bento
falou-me que eu teria direito a comer diversos peixes fritos regados a ampolas
de “bramitas véu de noiva”, tudo 0800.
Ontem, falei com um amigo
sobre essa história do conjunto de estofados colonial – o cara é do ramo –
falou e disse que o móvel vale a bagatela de seis a dez mil reais.
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