No Bar Caldeira, boteco
tradicional do centro antigo de Manaus, existe um poste bem na esquina das ruas
José Clemente e Lobo D´Almada, onde os manauaras da gema gostam de se reunir,
para beber e jogar conversa fora – o local está sendo chamada, na brincadeira, por
“Canto do Fuxico”, uma alusão a um antigo ponto de encontro que ficava nas
esquinas da Rua Henrique Martins e da Avenida Eduardo Ribeiro, onde povo se encontrava
para falar sobre política, futebol e assuntos relevantes da cidade.
Pois bem, o nosso atual
Canto do Fuxico, fica num local estratégico, onde é possível assistir ao mesmo
tempo uma partida de futebol pela televisão, acessar a internet via WiFi
grátis, assistir as apresentações das bandas e cantores, além de ter uma visão
de todo o ambiente – sendo possível saber quem chegou e saiu, ou, desceu para o
strip-tease ou foi direto para o Xavante Motel.
O local é muito
frequentado por jovens manauaras e amazônidas (que vive na Amazônia), pela velha
guarda caldeirense e por turistas nacionais e estrangeiros - por ter sido o bar
preferido do cantor e compositor Vinicius de Moraes, em Manaus, os cariocas
frequentam em peso o local.
O manauara não é bairrista
(defensor ferrenho da sua terra) como é o belenense (natural de Belém, Pará),
porém, não abrimos mão de uma boa rodada de conversa onde somente é bem vindo
quem é da nossa terra, pois gostamos de lembrar a nossa infância, da nossa
Manaus antiga e falar o nosso amazonês.
Pois bem, todas as vezes
que vou ao Bar Caldeira, gosto de ficar exatamente no Canto do Fuxico, onde me
sinto mais a vontade com os meus confrades – por sermos, na grande maioria,
descendentes de nordestinos e caboclos, falamos muito alto e gostamos de contar
piadas, beber, ouvir musica e, também, de futricar!
Domingo passado estive lá,
onde encontrei os meus irmãos Henrique e Rocha Filho (os irmãos Rocha batem o
ponto direto), colegas e amigos de infância, dentre eles, o Buriti do TRT,
Julinho da Receita, Carlão da Infraero, Neto do Pandeiro (Boto Tucuxi), Prima Clara, Saci da
Pareca, Advogado Barrão & Junior Tapinha, Delegada Graça, Roberto Paraense
(esse já é amazonense), Beth Balanço (dublê de cantora), Cantora Celestina,
Cantora Nazaré, Cantora Kátia Maria, Jumara Paulista (outra amazonense do
coração), dentre outros.
Para não fugir a regra do
Canto do Fuxico, quando o meu irmão Rocha Filho chegou, alguém gritou: - Olha o Cão ai, gente! - ele é assim conhecido por gostar de chamar
os colegas de Cão, uma alusão ao capeta das antigas pastorinhas do Luso Clube.
Nessa, o Julinho da
Receita começou a falar sobre os tempos bons do Luso, comentou sobre uma
passagem engraçada do José Azevedo (dono das lojas TV Lar), onde fazia uma
encenação da Paixão Cristo, carregando uma cruz da porta até o palco de
apresentação, o gajo tinha como algoz outro patrício, que representava um
soldado romano, este aproveitou para dar umas chicotadas "dos vera" (de verdade) no Azevedo
e, ainda, ensaiou dar-lhe uma cusparada na cara, o que levou os dois fazerem a
maior confusão dentro do teatro, com direito a palavrões e empurra-empurra,
acabando com a peça teatral logo no início.
O Julinho estava inspirado
nesse dia – falou sobre as brincadeiras de boi de pano que aconteciam na Rua
Tapajós, nas quadrilhas da Avenida Getúlio Vargas (em frente à Casa Aroeira),
onde gostava de fazer versos provocantes para a Suely (irmã do Lapinha e do
Lapão, capetas do Luso).
A nossa mesa estava a
Clara, uma amiga de longos tempos, o Julinho pediu para ser apresentado,
falei-lhe que era a minha Prima Clara – quando ela falou que “primo não pode pegar prima!”, o Julinho
ficou todo assanhado e, se lembrou de uma prima do Boanerges (o Boa, um amigo
nosso de infância), contando um causo:
-
Certa vez, ela foi rainha da bateria do Morro da Liberdade – por ser uma negona
com um corpo escultural, todo mundo estava dando em cima da Globeleza, porém, o
Boa não deixava ninguém chegar perto: - Essa aqui é minha prima e ninguém vai
levar a negona! – falando cheio de moral. Lá pelas tantas, chega uma mulher com
cara de Sargentona, leva um papo maneiro e leva a prima do Boa, deixando todo
mundo na mão e babando de raiva!
O Carlão da Infraero (um sexagenário),
morador antigo da Rua Tapajós, por ser altão e bonitão, era o cara que namorava
todas as mulheres bonitas da comunidade, não tinha pra ninguém! Nesse dia,
falou que estava pegando um filézinho de quinze anos, todos o chamaram de pedófilo,
mas, em seguida, emendou essa: - Ela tem
quinze anos é de APOSENTADA! Todos riram e, passaram a chamá-lo de vovodófilo!
O Saci da Pareca estava
forrado (cheio da grana), estava em plena bonança (semana do recebimento de sua
aposentadoria) – almoçou do bom e do melhor, tomou umas cevadas e foi dar um
rolé no Bar Jangadeiro (para saber notícias da saúde do Abelha), prometendo
voltar depois para tocar o seu tamborim & cia – nesse intervalo chega a
namorada dele, uma coroa que aparece somente quando ele está com a “baba” nos
bolsos – um prato cheio para a negada do Canto do Fuxico começar a fofocar.
De minha parte, contei
umas piadas imorais, dei muitas gargalhadas, contei alguns causos do
Manoelzinho Batera e da sua amada Neide – estava alegre que nem “pinto na merda”,
apesar de não ter ingerido nenhuma bebida alcoólica – “peguei o beco” antes das
quatro da tarde – por ter estado no Canto do Fuxico, alguém deve ter falado que
eu estava com a “firma trincada” por não ter bebido.
Esse foi apenas um pequeno
exemplo dos papos que acontecem no Canto do Fuxico, onde a tristeza não
encontra guarida, um bom lugar de encontro dos manauaras no Bar Caldeira. É
isso ai.
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