Na minha infância, em
Manaus, a cidade era muita escura, em decorrência da deficiência da iluminação
pública - chegando a adolescência, comecei a admirar as luzes distantes da Cidade Alta (Bairro de Educandos) - na
vida adulta, acompanhei o crescimento vertiginoso da cidade, com luminosidades
diversas – atualmente, tenho a oportunidade de presenciar o nascer e o pôr do
Sol, as fases da Lua e as luzinhas das residências distantes da zona leste da
cidade.
No início da década de
sessenta, a cidade de Manaus ainda se ressentia dos estragos causados pela
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e pelo marasmo econômico, vivendo numa imensa escuridão, compensada,
em parte, com a oportunidade de apreciar um luar e o brilho incandescente dos
astros luminosos.
Na minha tenra idade,
tinha uma fascinação pelo fulgor das velas, lamparinas, lampião, aladim e das
lâmpadas fosforescentes; do brilho das telas dos cinemas Guarany e Polytheama; das
fogueiras juninas, além da Lua e das estrelas – como a minha cidade era escura,
essas luzes compensavam.
Morávamos no Igarapé de
Manaus e, nas sextas-feiras, o meus pais gostavam de visitar, pela parte da
noite, um amigo da família, o Abdias (um amolador de facas que trabalhava no
Mercado Adolpho Lisboa), ele morava com a sua família no bairro de Santa Luzia
– íamos a pé pelas pontes romanas (Primeira, Segunda e Ponte de Ferro) da
Avenida da Sete de Setembro.
No trajeto, eu ficava
admirando os luzidios distantes, emitidos pelos flutuantes (casas sobre toras
de madeiras) dos igarapés e do Rio Negro e pelas residências da conhecida Cidade Alta (o bairro de Educandos, por
ter uma topografia elevada, era assim conhecido) – aproveitava para olhar o céu
estrelado (coisas de poeta, apesar de não sê-lo).
Acompanhei o crescimento
vertiginoso da cidade, em decorrência da implantação da Zona Franca de Manaus –
atraindo os interioranos e gente de outras plagas – elevando o desenvolvimento
econômico da cidade – voltando a brilhar a cidade, em decorrência da iluminação
publica; das casas; do comércio; das indústrias e dos centros de compras.
Com o progresso vieram a
tiracolo as mazelas sociais e, com tantas luzes em minha cidade, não foi mais
possível apreciar uma noite enluarada, como antigamente.
Já fui um notívago inveterado
(nos finais de semana), sempre a procura dos bares, das praças, das donzelas e,
das luzes da minha cidade, não para aparecer, mas, para aprecia-las.
Depois de longos anos
morando e, curtindo as luzes do centro da minha cidade, resolvi debandar para
bem longe, onde pude ter o prazer e a felicidade de ver, novamente, o nascer e
o pôr do Sol, o luar e as luzinhas distantes das casas da zona leste – uma
curtição que me leva a minha distante juventude, lembrando os luzidios da
antiga Cidade Alta.
Recentemente, tive a
felicidade de ler uma matéria jornalística, na qual um empresário do ramo do
turismo está proporcionando um maravilhoso passeio noturno, saindo da
desembocadura do Tarumã até o Encontro das Águas, onde os turistas e os
manauaras podem apreciar na cheia do Rio Negro, as cores brilhantes e belas das
luzes da minha cidade.
Muito bom lembrar e
escrever sobre Manaus - apesar de tudo de ruim que fizeram (e ainda fazem) com
ela – mesmo assim, continuo amando e respeitando as luzes da minha cidade. É
isso ai.
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