Antigamente era difícil ter amizades com Advogados, Delegados de Polícia ou Defensores Públicos, muito menos com um Juiz de Direito e, nem pensar com um Desembargador, pois eram raros e ficavam num pedestal, bem longe dos pobres mortais – com o tempo, as faculdades de Direito abriram em cada esquina, formando pencas de advogados e, com os concursos públicos, possibilitando muitos deles, ainda muito jovens, começarem a galgar uma carreira jurídica, colocando bons e também péssimos profissionais no mercado.
Para exemplificar, cito três casos em que tive a oportunidade de conviver com eles:
1. Estudante de Direito - iniciei os meus estudos de Direito na Faculdade UNIP, por lá fiquei dois anos, onde fiz muitas amizades. Numa bela sexta-feira, a minha turma resolver tomar umas e diversas na Praça do Caranguejo, no Conjunto Eldorado – na hora de pagar a conta, um colega “filhinho de papai” criou a maior bronca, discordando do valor cobrado pelo garçom – os ânimos ficaram exaltados e, num acesso de fúria, ela derrubou tudo o que estava em cima da mesa, batendo com força com a mão e direita e, largou o verbo:
- Eu sou um estudante de
Direito e exijo respeito! – gritando para todo mundo ouvir.
- Grande merda! – falou o
garçom bem alto, provocando risos dos frequentadores.
No ano seguinte, pedi a
minha transferência para a UNINORTE, começando do zero os meus estudos, porém,
pedi o trancamento da minha matricula no período seguinte.
Não sei se aquele estudante
chegou a concluir os seus estudos, também não sei se advoga ou passou em algum
concurso, talvez seja um homem da lei – uma coisa é certa: por o cara ser
abusado desde novinho, deve estar aprontando todas.
2. Delegado de Polícia –
ainda muito jovem fiz um curso preparatório para o vestibular no antigo Colégio
Einstein – eu era da ala da bagunça, mas gozava da amizade de alguns
professores. Um dos meus colegas tinha “bala na agulha”, morava numa bela casa
e o seu pai era dono de embarcações e postos de gasolina – o cara era mimado,
tinha tudo do bom e do melhor. Passamos no vestibular, ele foi para a
“Jaqueirona”, fazer Direito, enquanto eu fui para a Faculdade de Estudos
Sociais.
Se formou e passou no
concurso para Delegado de Polícia. Num belo dia, ele estacionou bem perto de
mim, estava a bordo de uma moto de mil cilindradas, no Amazonas Shopping,
quando o reconheci fui falar com ele:
- E ai cara, como está a vida! - perguntei numa boa.
- Cara, não te conheço, não!
– respondeu com ar de desprezo.
O homem da lei usou e abusou
das suas prerrogativas, aprontou todas, fez tanta besteira que foi até afastado
de suas funções, respondendo processos e mais processos na Corregedoria.
Certo dia, ele me procurou
para comprar um televisor de plasma, pois trabalhava numa empresa do ramo de
eletroeletrônico – o cara me reconheceu, mas como já estava queimado na
polícia, ficou todo pianinho comigo. O atendi muito bem, porém, com um jeito de
quem nunca tinha visto na minha vida. Pois é, ele se achava o He-Man!
3. Juiz Federal – frequento
faz muito tempo o Bar do Armando, no Largo de São Sebastião, onde fiz parte da
diretoria da Banda da BICA - tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas,
incluindo jornalistas, poetas, escritores, advogados, defensores e juízes.
Alguns deles gostavam de ostentar o cargo que ocupavam, andavam até com
seguranças – tinha um deles que eu sabia que era funcionário da Justiça da
Federal, não quis saber qual o seu cargo e, ele não gostava de falar sobre
isso.
Com a morte do Armando, a grande
maioria dos antigos “biqueiros” deixaram de frequentar aquele estabelecimento
etílico. Vez e outra me encontro com aquele servidor federal no Bar Caldeira –
ele sempre me cumprimenta, sorri e gosta de me abraçar, isso é um belo gesto da
nossa antiga amizade de mesa de bar.
Recentemente, precisei
entrar com um processo na Justiça Federal e, lembrei do amigo para uma
orientação – para minha surpresa, fui descobrir depois de logo tempo que ele
era Juiz Federal – um homem da lei federal! Pense num cara humilde, de fala
mansa e amigo de todos, muito diferente de alguns de seus pares que acham
"Deus".
Pois é, mano velho, o nosso Klain é o máximo!
É isso ai.
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