domingo, 23 de abril de 2017

TACHI, UM ÍNDIO URBANO DA ETNIA SATERÉ-MAWÉ

O Tachi (formiga) nasceu em Manaus, no dia 23 de fevereiro de 1993, no Hospital Santa Rita, no bairro de Cachoeirinha, filho de João Teixeira Marialva (Karamuru) e Martha Silva Vieira (Ariá), da etnia Sateré-Mawé (papagaio falante, inventores da cultura do guaraná), criado na Comunidade Yapori (gavião), no Conjunto Santos Dumont e, na Comunidade Ynhabé, no Tupé (Tarumã).

No Registro Administrativo de Nascimento Indígena (RANI) consta como Tachi Vieira Marialva – no registro civil é John Kelvity Vieira Marialva.

A sua bisavó, a índia Rary, teve seis filhos, no rio Andirá, no município de Maués, migrando para Manaus, era a matriarca (chefe da tribo) –, após a sua morte, assumiu o matriarcado uma das suas filhas, a índia Kutera (avó do Tachi).

A sua avó casou-se com o cacique Kurubené, um artesão que trabalha até hoje na Feira do Índio, na Rua Floriano Peixoto, centro de Manaus.

A Comunidade Yapori, foi criada em 1982, logo após a inauguração do Conjunto Santos Dumont, contando com a ajuda do oficial militar R/2 Flavio Grillo Filho, um dos primeiros moradores daquele conjunto e líder comunitário.

O Sr. Grillo Filho, quando era militar, trabalhou no interior do Amazonas e Pará, junto com os índios de diversas etnias – criou um vínculo muito grande com eles, tanto que levou para a sua casa a Ariá (mãe do Tachi), além de empregar o Karamuru (pai do Tachi) em sua padaria (quando foi para a reserva do exército brasileiro).

O curumim Tachi era irrequieto, danado e brigão, fazendo jus ao seu nome de formiga destemida – lembra com saudade das brincadeiras, brigas com os primos e banhos num igarapé que passava dentro da comunidade Yapori.

Essa comunidade fica dentro de uma imensa área verde, entre os conjuntos Santos Dumont e Hileia – com o passar do tempo, o local foi invadido, desmatado e construído casas em toda a sua extensão, restando apenas um pouco de verde na taba da comunidade indígena – o igarapé virou esgoto a céu aberto.

Quando o Tachi tinha apenas oito anos de idade, os seus pais resolveram morar em Parintins (distante cerca 369 quilômetros da capital Manaus), ficando sob a guarda de sua avó, a índia Kutera, indo morar na comunidade indígena do Tupé (no Tarumã Açu), ficou em companhia dos seus primos e dos irmãos Kawã e Muruin.

Por lá ficou até os quatorze anos de idade, pois com a morte de sua avó começou a passar necessidades, voltando a morar na comunidade indígena de Manaus, sendo criado pelos tios.

O Tachi virou adulto com apenas dez anos de idade, ao participar do ritual da Tucandeira, provando ter força, coragem e resistência à dor, colocando a sua mão dentro da luva da tucandeira (saaripé).

As tucandeiras são formigas grandes com o ferrão muito dolorido – são capturadas vivas na véspera do ritual, são postas dentro de uma luva, com a cabeça para fora e o ferrão para dentro – segundo o Tachi, ele já meteu a mão dezessete vezes, faltando apenas três para completar as vinte exigidas pela sua tribo.

Tornou-se pai com apenas quatorze anos de idade – quando a sua namorada ficou grávida, ele ficou atordoado e sem saber o que fazer, pois era praticamente uma criança, resolveu fugir para a comunidade do Tupé, no Tarumã – o seu filho Kelvity foi adotado pelo padrasto.

Ainda teve mais dois filhos com mulheres diferentes – a filha Tailá e outro menino que não sabe o seu nome.

Em 2004, participou como figurante no filme “Tainá 2 A Aventura Continua”, aparecendo logo no início, tocando tambor e passeando de canoa abraçando uma preguiça (xerimbabo), assista no linque 
.https://www.youtube.com/watch?v=TftaxPJ29R4&t=2154s

Participou, também, da Aventura Selvagem, com o Richard Rasmussem, linque: https://www.youtube.com/watch?v=976esPbKQcE

Atualmente, o Tachi está com vinte e quatro anos, vive maritalmente com a Marleane, a qual perdeu (aborto espontâneo) um filho, em decorrência de uma briga na comunidade.

Por ironia do destino, depois de ter os seus filhos criados por outros pais adotivos, está, atualmente, criando dois curumins da Marleane, a Raquel e o Gabriel.

Com a separação dos seus pais, a sua mãe vendeu parte do terreno onde moravam na comunidade, ficando apenas um pequeno lote onde mora o Tachi, sua esposa e filhos adotivos.

O Tachi (John) já trabalhou como garçom e vendedor de coco, na Praia da Ponta Negra, junto com o seu pai Karamuru.

O Senhor Grillo Filho (protetor dos índios saterê de Manaus), proprietário da Casa Portugal (distribuidora de alimentos, no bairro da Redenção), emprega em sua empresa, o Tachi, mais conhecido pelo seu nome civil de John Kelvity – ele trabalha no deposito, faz entregas e participa dos eventos de degustação que a empresa promove dentro das lojas de seus clientes.

O sonho maior do Tachi é tornar-se o líder da comunidade indígena no Tupé, caso o seu tio, o tuxaua Wamau, assim determinar, pois possui descendente, os seus sucessores na liderança.

Planeja, também, terminar os seus estudos e morar com a família em um terreno que possui dentro das matas do Tarumã-Açu, deixando de ser um índio urbano e viver com viveram os seus ancestrais do Rio Marau, a tribo Sateré-Mawé de Maués. É isso ai. 

Foto: Rocha

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