quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RIO DE JANEIRO - 1977




Numa bela tarde de agosto de 1977, sai pela primeira vez da minha aldeia, peguei um avião no Aeroporto Eduardo Gomes, de Manaus, num voo da Vasp, segui para o Rio de Janeiro, com escala em Brasília. 

O Aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador, tinha acabado de ser inaugurado, estava zero bala, maravilha! 

Passei alguns dias no apartamento da família Bringel, no pé do Morro de Santa Tereza, tive a felicidade de rever os meus amigos amazonenses da gema – Antonina, Norma, Miroco e a Titá.

Fiz os primeiros passeios pela cidade, com a companhia do meu brother Miroco – conheci algumas ruas do centro, visitei a Central do Brasil; andei de trem, conhecido por “Trem Japonês”; visitei a Igreja da Penha, situada num penhasco, no Largo da Penha. 

Depois fui sozinho, conhecer o Cristo Redentor, no Morro do Corcovado – peguei bondes e ônibus, quando cheguei, a linha férrea do Cosme Velho estava em manutenção, não fiquei desanimado, me entrosei com um grupo de jovens e, seguimos a pé até o mirante da estátua. 

Gostava de passear na barca Rio/Niterói, certa vez, fui até uma cidade chamada Porto das Caixas, ainda guardo de lembrança um grande crucifixo de madeira. 

Depois de algum tempo, o meu irmão Henrique, veio de São Paulo – fomos morar no apartamento de uma outra família de amazonense, na Rua Carlos de Carvalho, centro.

apê era que nem coração de mãe, sempre cabia mais um, a família Carvalho, composto pelo Sr. Carlito, Dona Nazaré, Jourdan, Mário, Marcus, Carlinho, Dorinha e Júnior – adotaram ainda o Henrique e eu. 

Na realidade, não fui ao Rio para fazer turismo, fui à procura de um tratamento para uma otite média.

Fui consultado por um otorrino, me aconselhou na maior cara de pau a voltar para a minha taba, não desisti, procurei outro, o segundo achou que a causa do meu problema era em decorrência da inflamação da minha amídala, fui hospitalizado e detonaram a do lado esquerdo – não tinha nada ver! 

Este problema somente foi sanado depois de muitos anos, fui operado com sucesso na Clínica do Professor José Kós, centro do Rio. 

A nossa rua era considerada a rua do jogo do bicho, ficava olhando da janela toda aquela movimentação – fiz amizade com o “olheiro”, o cara ficava com um olho na banca e a outra na polícia, todo dia o cara era preso e solto no mesmo dia, a peso de muita grana.

Tinha um cara que morava dentro de uma Kombi velha, aos domingos reunia a rapaziada da rua para jogar “placa de carro”, o kombeiro ganhava todas! 

Eu gostava de ficar olhando os aposentados jogarem carteado, na Praça da Cruz Vermelha, certa vez tentei apostar uma grana, não deu outra, alisei na hora. 

Os meus conterrâneos falavam o carioquês, muita gíria, usavam roupas da moda carioca e, eu falava o amazonês, não estavam nem ai para a moda – os caras me policiavam para não dar mancada e não ser chamado de Zé Mané ou Paraíba.

Não tinha jeito, sempre respeitava o modo de ser do carioca, mas não permitia que alguém tentasse mudar a minha maneira de ser caboclo. 

Certa vez, fomos à praia – a onda era pegar o ônibus, descalços, sunga, sem camisa, com uma toalha nos ombros, tô fora! 

Os meus colegas ficavam puto da vida, porque eu não me trajava daquele jeito. 

Com o passar do tempo, fui fazendo muitas amizades, comecei a assimilar o jeito carioca de ser, já estava perdendo o meu jeitão de caboclo da Amazônia - estava chegando a hora de voltar para a minha terrinha.

Voltei com o coração partido, ainda lembro muito do Rio, da sua boa gente, dos lugares fantásticos, das praias, não dou muita atenção ao noticiário que mostra somente a violência.

A mesma coisa é com relação a Amazônia, somente é noticia quando um barco vai a pique, com dezenas mortes ou quando o assunto é queimadas, o resto, que é o que o carioca e o amazonense tem de bom - e é de montão, não é mostrada, não dá ibope. 

Qualquer um dia desses irei dar um pulo até o Rio – para matar a saudade. 

Ainda lembro do Maracanã, Igreja da Candelária, Arcos da Lapa, Cine Odeon, Biblioteca Nacional, Teatro Municipal, Jardim Botânico, Lagoa Rodrigo de Freitas, Aterro do Flamengo, Ipanema, Copacabana e algunas coisitas más!

A foto acima, mostra eu no centro, o Henrique na esquerda e o Jourdan na direita, passeando no Pão de Açúcar.  

sábado, 26 de dezembro de 2009

PONTE MANAUS-IRANDUBA EM CONSTRUÇÃO


NATAL EM FAMÍLIA

Toda a noite de Natal era sempre a mesma coisa: comprava o Peru ou o “Chester” (um frango que desbancou o Gallipavo); quando a “babita” estava bamburrando nos bolsos, dava encarar o Bacalhau e os devidos complementos, tipo batata e azeite português, azeitona, arroz, ovos e, por aí vai, sempre no famoso corre-corre de última hora; tudo para preparar a ceia de vinte e quatro de dezembro e, para curtir (é claro!), na casa de alguém – engraçado, existia sempre algum lugar para comemorar o Natal, poderia ser na casa dos meus pais ou dos pais dos meus amigos, poderia ser também naquela casa da minha tia, bem como, na casa do meu irmão ou do meu amigo do peito, não me importava, Natal bom deveria ser comemorado fora da minha casa; o bom era curtir a festa do nascimento Jesus, na casa dos outros; na minha casa não tinha a mínima graça; o barato era ter que se arrumar - fazer as unhas e os cabelos (chapinha nos cabelos pixains das filhas), vestir aquela roupa nova, arrumar as crianças, pegar o carango ou o “buzão”, todo mundo apertado, no maior sufoco, levando as panelas com os comes-e-bebes, as batidas e os sucos de cevada – depois de curtir aquele maravilhoso Natal na casa dos outros, tinha a volta para casa – aí o bicho pegava: menino chorando, trânsito engarrafado até o toco, a mulher reclamando dos meus excessos da bebida e da comida (contribuindo para o efeito estufa); pense num sono geral da rapaziada – acordava de manhã somente para cuspir e tomar aquela água gelada na geladeira; a minha cabeça parecia que tinha dentro um Pica- Pau, detonando tudo o que tinha direito. Sempre foi assim, anos após anos.


Tudo mudou, mudou, aí mudou! Não pensem que virei a casaca, sou católico cem por cento, não mudo nem é com nojo, parente! Mas o tempo passa, o tempo voa, depois de muita curtição de Natal na casa dos outros, tive que passar o Natal deste ano, na minha humilde casa, simplesmente porque a dona Duda, de apenas três meses de idade, não permitiu a nossa saída, ficou emboletada no meio do terreiro, curtindo os seus brinquedinhos e sorrindo sem motivo algum, como é saí de casa, mermão! Ai o meu filho me ligou do shopping – Pai, o que o senhor quer ganhar de presente? - perguntou - Quero receber é a baba, carvão, mufunfa, money, a verdinha – respondi na maior – Mas dinheiro não é presente, qual o numero do teu sapato? - devolveu o meu pedido - É 40 do lado direito e 41 do lado esquerdo! - respondi na gozação – Vou comprar um da cor preta para o senhor. – Aproveita e compra outro também na cor marrom – aproveitei a abertura, se colar, colou. – É a calça qual é numero? Até ontem era 42 – respondi . – Vou comprar uma social, tá bom? - Tá, mas aproveita e compra outra jeans. - Pai, o senhor está muito exigente, acho que vou comprar somente um “cinto muito” - respondeu chateado. Brincadeiras a parte, conterrâneo, passei o Natal de bermudão, camiseta regata e sandálias havaianas (é mole!); curtir na tevê alguns ensinamentos do Seicho-No-Ie, uma palestra do Paiva Neto e assistir à Missa do Galo (pela primeira vez, da crista ao rabo!); foi um Natal em Família: uma bela reunião com a dona Nazaré, juntamente com os meus filhos Adriana, Amanda e Alexandre, a neta Duda e a nora Vanessa (com o Victor Alexandre na barriga); a ceia saiu exatamente no horário, na maior tranquilidade, sem nenhum sufoco, nada de “água-benta!”, fotos daqui e dacolá, tudo nos conformes, sem nenhum estresse; pensando bem, foi o melhor Natal de todos os tempos, não penso mais curtir na casa dos outros, tudo por culpa da Duda, conseguiu reunir toda a patota para a celebração do nascimento do menino Jesus – Natal em família. É isso aí!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O BLOGDOROCHA



O nosso blog iniciou as suas atividades no dia 31 de março de 2006, agradeço ao meu amigo Rogélio Casado, por ter me motivado a fazer a primeira postagem.



O blogspot pertence ao site de busca Google, dessa forma, tudo o que é postado no nosso blog, fica guardado nos seus bancos de dados. Para se ter uma idéia, efetuamos a instalação de um “contador”, da empresa StartCounter, versão “free”; a contagem de acesso iniciou em outubro de 2008, durante este período tivemos a felicidade de ter a visita de 128 mil internautas, com 92% do Brasil (maior percentual de Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo) e o restante vem dos Estados Unidos, Portugal, Canadá, Espanha e Japão.


A minha praia é a Amazônia, particularmente a minha querida cidade Manaus, sou apaixonado por fotografia, mesmo sendo um amador, fiz centenas de fotos de Manaus, Parintins, Manacapuru, Careiro da Várzea e Iranduba, uma grande parte foi baixada pelos nossos amigos que visitaram o nosso blog. A Manaus antiga é também a minha paixão – posto fotos antigas, gosto de comentar sobre como era a nossa cidade no inicio do século passado e, comentar um pouco sobre o que ainda restou do nosso patrimônio público. Postei três videos no http://www.youtube.com/ sobre a Amazônia, pesquise o "blogdorocha". 


Aproveito a oportunidade, para homenagear os nossos seguidores: Ricardo Abreu, Marys Stacy, Aldemir Bispo, Blog do Roosevelt F. Junior, Enila, Paiva, Weverton Maciel, Israel Sales, Aladio Magalhães, Tayane Medeiros, Itapaint Produções, Leomax Azevedo, Lidiany, Mário Lúcio, Parisienne Du Tropique, Cecy Jane, Léa Colares, Flávia Reis, Notícias de Manaus, Flávia Bomfim, Raquel Crusue, Bismak Aguiar, Luiz André, Sousua, Yuri, Ednaldo e o Peixoto – desejo a todos eles um natal muito feliz e sucesso em 2010! É isso aí!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A CABANAGEM



Foi um movimento popular, ocorrido no período de 1835 e 1840, na província do Grão Pará, em decorrência da extrema pobreza das populações ribeirinha e do sentimento de abandono em relação ao governo central – o nome “cabanagem” se deu em homenagem as cabanas, moradia dos ribeirinhos da Amazônia.


O livro “EnTOADA”, da Liduína Mendes, comenta a letra de uma toada do Garantido, composição do Tadeu Garcia/Paulinho Du Sagrado, chamada  – TEMPOS DE CABANAGEM –

A HISTÓRIA NOS CONTA
O MUNDO DOS ÍNDIOS E NEGROS
VIVENDO O TEMPO E O LUGAR DE ESCRAVIZAR

O autor busca, nos fundamentos históricos, os momentos e os locais da escravidão indígena e negra que influenciaram decisivamente nos modos e costumes do povo amazônida.

AMAZÔNIA – COLÔNIA DOS BRANCOS
VIERAM EM DEGREDO EXPLORAR OS SEGREDOS
DA FLORA E DO RIO-MAR

O “descobrimento” da Amazônia encerra muitas datas e diferentes povos, no entanto, a sua colonização propriamente dita se iniciou em 1616, com a fundação do forte Presépio (Belém) pelos portugueses, loteando-a em capitanias hereditárias. Os primeiros colonizadores (capitães de aldeia) eram pequenos camponeses sem terra do norte de Portugal, filhos de portugueses do nordeste do Brasil ou, sobretudo, degradados punidos com o exílio por algum crime cometido. Conforme afirmação do Pe. Antônio Vieira, a prisão de Limoeiro, em Portugal, se constituiu numa das principais fontes de colonizadores para a Amazônia. Para incremento econômico da Coroa tornava-se necessário explorar as riquezas da flora e ocupar o grande rio para sustentar a posse das terras disputadas por protagonistas estrangeiros.

IMPUSERAM AOS ÍNDIOS SUA TABA
(MORADA GERAL)
ISOLADO O NATIVO PERDIA O SENTIDO
E O ESTILO DA VIDA TRIBAL

A Amazônia sempre foi um universo que abrigava centenas de povos indígenas, com variantes e complexas formas de organização social, tendo a taba (morada coletiva) como célula definidora dos aspectos do poder, das normas morais, das crenças religiosas, das relações de produção, resultando em elementos culturais comuns da sociedade primitiva, onde são impossíveis a desigualdade, a exploração e a divisão.

“DESCIMENTOS” NO ALTO DOS RIOS – LEVAVAM OS GENTIOS
PRISIONEIROS EM “RESGATES”
LOGRARAM OS PERDIDOS – MENOS OPRIMIDOS
SEGUIAM A CHORAR

A ruptura da sociedade tribal se deu em função da necessidade da força de trabalho indígena para um novo sistema de vida próximo aos núcleos habitacionais. Os “descimentos” eram expedições efetuadas, primeiramente por missionários e depois pelos capitães de aldeia, sob escolta militar e de acordo com a lei vigente à época. Os nativos assim deslocados para “aldeias de repartição” eram considerados “livres”, em oposição aos escravos. No entanto, esses índios eram alugados e distribuídos “repartidos” entre os colonos, os missionários e o serviço real da Coroa Portuguesa, em troca de um “salário” pago em algodão e não em moeda. Os “resgates” eram expedições armadas, com objetivo de troca comercial entre os portugueses e as tribos consideradas aliadas. Os portugueses permutavam objetos europeus: ferramentas, miçangas e quinquilharias por índios capturados durante as guerras intertribais. Esses índios que se encontravam presos e amarrados, seriam escravizados, em retribuição ao seu salvador que o livrou da morte. Por desmerecer a história, o autor omite a mais perversa forma de escravidão que os colonizadores chamavam de “guerra justa”, com que se buscava capturar indiscriminadamente os índios, incluindo mulheres e crianças, sob a proteção da lei que incitava o aprisionamento dos nativos que atacavam os portugueses ou não consentissem com a difusão do Evangelho.

NEGRO VEIO PELA CORRENTE
SUOR E DOR INCLEMENTE
QUE O PODER BRUTO DO BRANCO É O FOGO
E NÃO PODE PARAR

A introdução de negros na Amazônia se deu em 1680, para trabalhos forçados nas empresas dos colonos, através da Cia. de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, cujo nível de preços, comparativamente aos escravos indígenas, alcançava uma relação 25:1, o que exigia, proporcionalmente, maior esforço (suor e dor inclemente) e maiores castigos diante da exigência dos colonos.

“DESCIMENTOS” NO ALTO DOS RIOS – LEVAVAM OS GENTIOS
PRISIONEIROS E
ERGUEM A FORÇA DA CABANAGEM
LUTAM PELA LIBERDADE
  PRA QUE NUM FUTURO
VIVAMOS EM PAZ

Os sistemas adotados até o século XIX não trouxeram liberdade absoluta e, contra tudo isso, a população da Amazônia se revoltou na maior insurreição da história do país. A Cabanagem foi um movimento nativista popular armado, envolvendo grupos indígenas autônomos, índios escravos das aldeias, índios destribalizados, negros e caboclos mestiços contra o domínio português na região. Não obstante o resultado final desfavorável, torna-se reveladora a capacidade de luta dos amazônidas pela liberdade e pala paz.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A HISTÓRIA DE UM PEQUENO HERÓI


Realidade, 1/08/1967

Texto: José Carlos Marão
Foto: Jorge Butsuem

Um japonês, que hoje está com 85 anos, criou um império, o da juta: 34% da economia do Estado do Amazonas. Mas a juta está condenada e seu império chegará ao fim, junto com o velho japonês Oyama e sua história.Oyama San, como todo mundo chamava aquêle japonês magrinho de 50 e tantos anos, saiu mais uma vez remando pela várzea. Era uma manhã de janeiro, em 1935, e Oyama San ia ver sua plantação de juta. Percorrendo as margens do Amazonas, êle olhava cada planta. Seu rosto queimado tinha a mesma expressão de desânimo de tôdas as vêzes em que ia ao rio: a juta não passava de um metro e meio de altura, um terço do tamanho normal. Assim, ia se repetir o fracasso do ano anterior. No limite da sua várzea, porém, o velho estremeceu. Voltou-se.para Tamon, seu filho, que também estava no barco, e apontou dois pés de juta diferentes dos outros: - Olhe aquêles dois!O filho ainda procurava localizar as plantas, o pai já saltava da canoa, entrava pela água e ia olhar de perto. Matou então uma velha charada: as sementes, importadas dos grandes países produtores, eram ruins, pois não interessava a êles ter um outro grande concorrente no mercado internacional de juta. Mas, certamente por engano, tinham vindo algumas sementes boas. Em casa, à noite, Oyama reuniu os filhos e propôs uma tarefa para tôda a família: cuidar religiosamente daqueles dois pés de juta, com todo o carinho. No dia seguinte, cedinho, os dois pés já estavam cercados por uma proteção de madeira. Apesar de viver apenas há um ano no Brasil, o velho Oyama sabia que ali onde estava as enchentes eram violentas.Veio a época do corte da juta. Todos os pés foram cortados, menos dois. Oyama ia esperar as sementes que êles dariam. E iam fazer dêle um homem célebre. Vieram as enchentes. A família Oyama cuidou de perto das duas preciosidades, os dois arbustos que eram a esperança de todos. Mas a água barrenta do Amazonas ia levar um dos pés. O outro foi salvo. E mais tarde deu um punhado de sementes. Oyama San plantou cada uma, na época certa, em terra firme. E seu esfôrço um dia - talvez o mais feliz de sua vida - surgiu da terra: germinaram quase 200 plantinhas.Riota Oyama, aos 85 anos de idade.Aquêle pé de juta salvo pelo japonês Riota Oyama - o Oyama San - é o pai de tôda a juta que se planta hoje na Amazônia. Isto é, 34% do valor das vendas do Estado do Amazonas para o exterior ou outros Estados. E é, também, uma das pouquíssimas culturas organizadas de tôda a região amazônica.Na tarde do dia 6 de junho de 1967, Riota Oyama, velhinnho, já meio surdo, incapaz de falar o português que dominava muito bem antes, atravessou, com passo militar, a pracinha principal de Parintins, cidade onde vive há 30 anos. Vestido com uma calça e uma camisa surradas, sandálias havaianas, foi até o mercado, na beira do rio. Viu alguns velhos amigos, olhou uns peixes, mas logo resolveu voltar. Então fechou o enorme guarda-chuva prêto que usa para proteger-se do sol fortíssimo da região. Já estava sentindo frio e andou de volta, tomando sol, o quilômetro que separava o mercado de sua casa. Foi um dos seus raros passeios. Com 85 anos, nem rico nem pobre, continua ativo, mas só sai de vez em quando: - Tenho poucos, amigos, agora. O Kimura, que é dono do cinema. Nakaoushi, que mora do outro lado do rio e o Kawakami.O velho Oyama mora numa casinha de tábua, atrás da grande e de tijolos de seu filho Tamon. Essa casa era de Oyama, mas êle quis ficar sozinho, com a velha Kioco, sem interferir na vida do filho e da nora. Tamon, na sua calma oriental, explica em mau português: - Gente véio a gente não entende. Mas precisa paciência. Rioto Oyama tem hoje duas grandes atividades: cuidar de sua horta e ler. Tudo o que aparece escrito em japonês o velhinho lê. Devora os jornais japonêses que chegam de São Paulo. E a horta é fundamental. Riota se alimenta, principalmente, de verduras e frutas. E como ninguém - além de seu amigo Nakaoushi - cultiva verduras em Parintins, o velho tem sua própria horta, no enorme terreno que cerca as duas casas, a sua e a de Tamon. - Quando não tem fruta, o véio recrama muito - diz o filho. E conta que Riota não era tão exigente. As exigências vieram depois que êle leu num jornal que numa região da Rússia há pessoas com 140 anos de idade. É gente que se alimenta de frutas e verduras.Nas pouquíssimas vêzes que o velhinho Riota Oyama aparece nas ruas de Parintins, os caboclos remadores do mercado, as crianças, todos o olham com um respeito sagrado. Ninguém fala com êle. O máximo que se diz é: - Ó lá o Oyama San.Oficialmente, dos governos e dos industriais de fibra, êle recebeu o título de Pai da Juta. Mas ficou nisso só. Com o govêrno japonês foi diferente. Já recebeu duas condecorações e cartas de ministros importantes. Na Câmara Municipal de Parintins há um projeto para a construção de um busto em sua homenagem. Mas, por enquanto, é só projeto pois a maioria dos vereadores acha que é necessário o velhinho morrer primeiro. Os amigos de Oyama têm outra opinião: - O que adianta estátua depois de morto? Por que o govêrno brasileiro não lhe dá como prêmio uma viagem ao Japão, que êle pode aproveitar vivo? Oyama diz que os brasileiros prometem muito, mas não querem fazer nada. Por isso, já não recebe ninguém.Diz que a última vez que acreditou em promessas foi na Festa da Juta, na capital, Manaus. Veio até uma comissão para convidá-lo. No dia da festa, lá estava o velho Oyama, engravatado, terninho bem passado. Mas ninguém tomou conhecimento de sua presença. Oyama resolveu vingar-se: fêz o genro, que mora em Manaus, convocar a imprensa, e deu uma entrevista falando mal dos homens da comissão da I Festa da Juta. Uma viagem depois de velho Antes de vir para a Brasil, Riota Oyama era um homem conhecido, em Okayama, Estado onde morava, no Japão. Sempre foi agricultor, mas também sempre gostou de política. Chegou a ser eleito para um carga equivalente ao da nosso vereador. Fundou, na sua região, uma cooperativa agrícola e um jornal de agricultura, que êle mesmo escrevia e editava. Sempre pensou terminar sua vida no Japão. Vivia muita bem com a mulher e os cinco filhos, três rapazes, Kazuma, Tamon e Easukiko; e duas môças, Yassimê e Kanon. Mas o velho era muito agitado. E, entre seus amigos da política, havia o dr. Uetsuka. Além de deputado, Uetsuka era ligada a emprêsas japonêsas que iam colonizar o Amazonas e diretor de uma escola para jovens japonêses que pretendessem vir para a Brasil, tentar a Amazônia. Um dia Uetsuka perguntou a Oyama se gostaria de trabalhar com o Instituto Amazônico e tentar alguma cultura na Amazonas. Riota Oyama, com mais de 50 anos mas sentindo-se môço, não pensou mais de uma vez. Em meados do ano de 1934, com muitas outras famílias japonêsas, embarcou no "Montevideo Maru", com dona Kioco e quatro dos cinco filhos. Etsuhiko ficou, para terminar seu curso na escala de dr. Uetsuka. A viagem levou quase dois meses, a maior parte das famílias que vieram com Oyama desceram na Rio de Janeiro para tentar São Paulo. Riota Oyama com mais cinco famílias, tomou um navio do Lóide Brasileira. Em outubro, desembarcava na colônia Andirá, terras do Instituto Amazônico. Uma intenção que valeu- Eu lembro coma se fôsse hoje - diz o velho Kimura, amigo de Oyama, contando daquele dia em 1934, quando os dois estavam esperando um motor (como chamam, no Amazonas, os pequenas barcos) para levá-los até a sede da companhia. Os dois eram trazidos do Japão pelas companhias que se dispuseram a enfrentar o desafio de colonizar a Amazônia. - Eu lembra que Oyama San falou: "Kimura, eu vou mesmo entrar no negócio da juta; juta é que vai dar certo aqui no Amazonas."Kimura lembra também que fêz uma advertência a Oyama: ia ser difícil ganhar dinheiro com aquelas plantinhas de um metro e meio de altura. Mas a velho teve a sorte que outros não tiveram. Enquanto a maioria dos japonêses preferiu cuidar de gado ou tentar outras culturas, só algumas famílias mais corajosas dedicaram-se à juta. Os primeiras jutais foram plantados por Casemiro Yanaoushi, antes de Oyama.Kotaro Tuji, um dos diretores da companhia de colonização, tinha fé na juta no Amazonas, e conseguira as primeiras sementes. Quando o velho Oyama foi juntar-se a êles, a intenção de todos era trabalhar e fazer um pequeno império com aquela juta miúda mesmo. Os pés de seis metros de altura eram então apenas um sonho.A guerra, tempo ruim - É Kimura ainda quem conta sôbre a festa em que Riota Oyama foi homenageado por seus patrícios por ter salvo aquêle primeiro arbusto, em 1935. Depois das homenagens, entregaram um presente a Oyama: um par de alpargatas. Kimura lembra a cena: - O véio Oyama olhou o presente, fêz cara de triste, que durou só um pouquinho, depois fêz cara alegre e soltou a piada: “É pena que o meu sucesso com a juta só dê para um par de sapatos."Todo mundo entendeu o que êle queria dizer. Junto com o sucesso da juta, Riota Oyama teve alguns problemas. Seu filho Etsuhiko, que tinha ficado no Japão para terminar os estudos, chegou. E, mal começou a trabalhar com o resto da família nas várzeas de juta, veio a malária. A doença pegou todos, mas só Etsuhiko não resistiu.Aquêles 200 pés de juta, conseguidos com as sementes do primeiro pé, produziram mais de três quilos de semente. E, para cultivá-las, Oyama ganhou da companhia de colonização uma ilha do rio Amazonas. Sairia daí a primeira grande produção de juta da Amazônia - três toneladas plantadas por Riota Oyama. Com dois anos de trabalho nessa ilha, a família ganhou dinheiro para comprar terras nas margens do Amazonas, as mesmas que tem até hoje, a uma hora de Parintins.No meio disso, veio a guerra. Houve problemas e brigas internas entre os membros da companhia de colonização, e entre os próprios colonos muitos foram presos. E a companhia foi comprada por um grupo brasileiro. Mas Riota Oyama, velha rapôsa política, amigo do então governador Álvaro Maia, tinha um salvo-conduto que lhe permitia andar por todo o Estado do Amazonas. Juta, importante ou não?As plantações de juta na Amazônia tiveram sua fase de ouro até sete ou oito anos atrás. Depois, o interêsse dos produtores começou a diminuir. As publicações oficiais apontam como principais fatôres dessa indiferença e da decadência gradativa na qualidade: 1 - A produção de sementes centralizada entre Alenquer e Monte Alegre. Se uma enchente ataca mais essa região, há escassez de sementes. Ou queda de qualidade, como em 1965, provocada por uma sêca.2 - O crédito variável. Não há uma segurança de financiamentos.3 - As enchentes. A cultura tem de ser feita, obrigatoriamente, nas várzeas. E quando o Amazonas enche um pouco além do normal leva tudo, como aconteceu neste ano, provocando queda de preço, pois os agricultores tratam de cortar tudo antes que a água leve, saturando o mercado.4 - A pouca mão de obra. Antes, os japonêses contratavam a mão de obra cabocla. Hoje, os caboclos conseguem outras ocupações mais suaves.5 - Os intermediários, que agem como financiadores e, praticamente, determinam o preço que vão pagar. Hoje há, na região Amazônica, cinco mil plantadores de juta, todos pequenos proprietários, para 45 intermediários, 20 prensas e 10 fábricas (fiações). De qualquer modo, das 50 mil toneladas de juta que se produzem por ano, em tôda a região amazônica, 35 mil são do Estado do Amazonas. Isso quer dizer que, ao preço de 600 cruzeiros velhos o quilo (já estêve a mais de mil, mas caiu êste ano), entram para o Estado mais ou menos 21 bilhões de cruzeiros velhos por ano. Quase tôda a produção é consumida no Brasil mesmo, por fábricas de Manaus, Belém e, principalmente, São Paulo. Vão para o exterior apenas 4.500 toneladas, sobretudo para a Argentina, Uruguai, África do Sul e Alemanha Ocidental. A produção do Brasil, entretanto, representa apenas 2,1% do mercado mundial. Os principais Produtores são a Índia e o Paquistão, que cortam mais de um milhão de toneladas por ano.Juta para Oyama, hoje - O velho japonês, hoje, não quer nada com juta. Fala em japonês, sentado numa cadeira de vime, na sala da casa de seu filho Tamon: - Quando chegamos em Parintins, aqui não havia nada. Todo o progresso que tem hoje veio a pêso de juta. Tamon continua plantando, mas eu não quero mais nada. Ninguém reconhece nosso trabalho. Agora só quero morrer. De tôda a família, é só Tamon mesmo que ainda cuida de juta. Kazuma mudou para Castanhal, no Estado do Pará, onde trabalha com pimenta do reino. Está rico. As duas môças casaram com maridos que também preferiram escapar do jutal. - Acredito que a juta, muito importante para o Estado do Amazonas, terá mais uns dez anos de vida, como atividade econômicamente rentável. Mesmo assim, apenas por causa de sua importância especial para o Estado. Quem diz isso é o economista Olegário Reis, diretor do Departamento de Planejamento Econômico da SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. Considera que a juta tende a ser substituída por produtos sintéticos, que serão de produção mais barata, ocuparão maior mão de obra e oferecerão melhor nível de vida aos trabalhadores. A juta de cultivo tornar-se-á, em pouco tempo, antieconômica e, atualmente, já não pode entrar em planos de desenvolvimento econômico.Houve discussões, no Congresso Federal, quando se falou em substituir os sacos de juta em que é exportado o café, por sacos de papel. Os deputados da região amazônica e outros, ligados às fiações, foram contra. Mas a substituição será, segundo os economistas, inevitável.O velho Oyama não ouve nada disso, nem quer ouvir. Está triste porque seu trabalho não foi reconhecido. Ficaria muito mais se soubesse que todo o império da juta, criado por aquêle único arbusto e suas 200 sementes, está desaparecendo. A juta espera a hora em que ninguém mais vai cuidar nem precisar dela. Para aquelas plantações imensas, vale a mesma frase que Riota Oyama repete a todo instante para seu amigo Kimura e para qualquer visitante que apareça:- Eu agora só estou esperando a hora de morrer. FIM


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A COP 15 E O CINISMO DOS DONOS DO MUNDO

A 15ª. Conferência das Partes sobre o clima (COP-15) está sendo realizado em Copenhague, capital da Dinamarca, num total de 192 membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, com encerramento previsto para o dia 18 próximo. Os Estados Unidos (um dos maiores poluidores do planeta terra) lidera um movimento, para arrecadar junto aos outros países ricos, um montante de 100 bilhões de dólares, para ajudar os países pobres a combaterem as consequências das mudanças climáticas. É muita grana, será que vai chegar até a casa do caboclo da Amazônia, duvido muito; vai sim, mas é continuar tomando no “cupuaçu”.


Com relação à Redução de Emissões decorrentes de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), os países reconhecem que as emissões de carbono por desmatamento nos países em desenvolvimento contribuem para as mudanças climáticas e a necessidade de tomar atitudes para combatê-la, as negociações ainda não definiram como funcionará a proposta de compensação financeira. Os caciques do nosso Estado estão com a “bola toda”, saíram na frente de muita gente, senão vejamos:


O governo do Estado do Amazonas lançou um pacote de medidas ambientais, figurando como a mais importante a criação de um "fundo de carbono" voltado às mais de 500 empresas instaladas na Zona Franca de Manaus, a idéia é que essas empresas, que liberam toneladas de CO2 por ano na atmosfera, compensem sua poluição através de investimentos nas unidades de conservação estaduais, coberturas florestais protegidas por lei que somam hoje 17 milhões de hectares. Outra medida foi à criação da “bolsa-floresta”, – quem não desmatar receberá US$ 500 ao final de cada ano, vindos de recursos próprios do Estado. O Senador tucano Arthur Virgilio, fez a seguinte declaração “Existe cinismo oficial, no meu Estado, quando o Governador Eduardo Braga, que finge compromisso com a defesa do meio ambiente, na verdade é criador de gado no Acre, desmontando o falso perfil de ecologista, constam do seu Imposto de Renda milhares de cabeças de gado estocadas”.


Por outro lado, o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, viajou para Copenhague, para representar os prefeitos do Caribe e da America Latina, em decorrência da cidade de Manaus ser considerada a capital da Amazônia – é uma grande responsabilidade do prefeito. Não querendo desmerecê-lo, mas vale a pena lembrar que o Amazonino, quando governador, promoveu a distribuição de milhares e milhares de motos-serras, para os caboclos do interior do Amazonas desmatarem a Amazônia – não sei o que ele foi fazer por lá, talvez falar sobre desmatamento (é a praia dele!).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

UNHA-DE-GATO



Este milagroso remédio foi encontrado, originalmente, na Amazônia Peruana, o seu nome científico é Uncaria guianensis e Uncaria tormentosa; trata-se de um danado de um cipó que cresce em torno de cinquenta metros, com um diâmetro de 30 centímetros, não é um hospedeiro, vai do solo até a copa da árvore, desce de volta para o chão e, continua crescendo.


Foi testado nos maiores e melhores laboratórios de inúmeros países, sendo indicada para o tratamento de sinusite, gastrite, reumatismo, cânceres de próstata e colo uterino, além de combater os efeitos advindos do HIV – é um poderoso antiinflamatório, analgésico e aumenta as defesas do organismo.


O cara que mais conhece este cipó é o Juan Revila, doutor em botânica, pesquisador do INPA e proprietário da Biosapiens Produtos Naturais Ltda. - segundo orientações do pesquisador, deve-se ter muito cuidado na escolha da planta certa, pois somente a Uncaria tormentosa foi intensamente pesquisado e, ainda não se conhece os efeitos do Uncaria guianensis – a erva unha-de-gato não apresenta contra-indicações e nem possui efeitos colaterais, desde que se siga a dosagem adequada, prescrita pelo especialista.


Os brasileiros da Amazônia, culturalmente, são muitos chegados a um tratamento de saúde através da medicina tradicional, conhecido nos meios científicos como Fitoterapia – nas camadas mais humildes são conhecidos como tratamento através dos chás de ervas. Encontramos essas ervas com bastante abundancia no Mercado Ver-o-Peso, em Belém, e, no Mercado Adolpho Lisboa, em Manaus.


Todo cuidado ao comprar o verdadeiro unha-de-gato, existe uma infinidade de “genéricos”, algumas plantas nativas apresentam garras semelhantes às do “original”, portanto, não leve gato por lebre! É isso.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

OS BONDES DE MANAUS


Segundo os historiadores Genesino Braga e Robério Braga, Manaus foi a terceira capital do Brasil a ter os Bondes (1899), sendo a primeira, a cidade do Rio de Janeiro (1892) e, a segunda, a cidade de Salvador, Bahia (1897), no entanto, em Manaus, eles já circulavam desde de 1896, cobrindo eficientemente um total de 20 quilômetros, portanto, Manaus foi considerado, oficiosamente, a segunda cidade da América do Sul a ter este tipo de transporte urbano.

As primeiras linhas foram: Flores, Cachoeirinha, Plano Inclinado, Avenida-Circular, Circular-Cachoeirinha e Saudade, depois, foram inauguradas as linhas Remédios e Adrianópolis. No auge, em 1906, circulavam 19 carros a serviço da população, sendo o “Amazonas”, de uso exclusivo do governador do Estado.

O mais charmoso era o chamado “Saudade”, era moda passear neste bonde, o seu trajeto era da Praça Oswaldo Cruz, Praça 15 de Novembro, 7 de Setembro, Eduardo Ribeiro, 10 de Julho, Ferreira Pena, Praça da Saudade, Instalação, 7 de Setembro, em direção à Praça D. Pedro II, Rua Governador Vitório, Tamandaré e Estação.

Não tive a felicidade de andar de bonde em Manaus - segundo a Soraia Magalhães “deixaram de trafegar em 1957, contra a vontade da população, deixando grande saudade naqueles que viam nas engrenagens da antiga companhia inglesa um eficiente e barato meio de locomoção, assim como um alternativa a mais em termos de transportes coletivos”.

O Dr. Robério Braga, atual Secretário de Cultura do Amazonas, elaborou um projeto para a reativação dos bondes, a idéia é preparar o centro antigo da cidade para receber este equipamento; este projeto está engavetado, conseguiram somente recuperar alguns metros dos trilhos, no entorno da Praça de São Sebastião, colocaram uma réplica de um bonde, no Largo de Sebastião, depois retiraram, está em lugar incerto e não sabido  – lembrei da letra de uma música do compositor/cantor Lúcio Bahia ”... um bonde parado é sem graça, mas o motorneiro é São Sebastião...”

Vamos esperar, quem sabe com a revitalização do centro, em decorrência da Copa de 2014, teremos de volta o Bonde da Saudade. É isso..

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DONA LILI


Com o advento da poderosíssima máquina fotográfica digital, acompanhado de programas de computador, tornou-se possível digitalizar as fotos antigas dos nossos familiares, amigos, paisagens, espaços públicos, etc.


Dizem os especialista que, ao lembrarmos do passado,  as nossas forças aumentam no presente, contribuindo enormemente para  seguirmos plenamente para o futuro. O nosso blog tem também essa proposta, tanto que estamos publicando duas fotografias antigas da Dona Lili, a genitora da Dra. Graça Silva.

A primeira foto, ela posa elegantemente e com muito charme, a outra, mostra a Dona Lili na Cachoeira do Tarumã.

A Dona Lili está enferma, estou torcendo pela sua saúde!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A CRÔNICA

Uma vez ou outra, ouso em fazer uma crônica; para entendermos, um pouco, sobre este tipo de texto, o professor Carlos Alberto Faraco, do Paraná, nos dar algumas dicas:


• É, em geral, um fato vivenciado pelo seu autor;
• Chamam atenção pelo seu lado pitoresco ou engraçado;
• Fazem-nos pensar na vida;
• Tem em certo aspecto jornalístico;
• O tom é de informalidade;
• É a história que a vida conta, deixa aparecer o lado lírico e trágico do nosso dia-a-dia.


Para ilustrar uma crônica, vamos buscar um trabalho do Carlos Drummond de Andrade –

NO AEROPORTO


Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.


Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.


Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou inoportuno. Suas horas de sono – e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia – eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando nas pontas dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.


Objeto que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhece dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis – porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos.


Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte. Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade - e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.


Viajou meu amigo Pedro. Ficou refletido na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.


A respeito da crônica do Drummond, o professor Faraco fala o seguinte “Eis aí uma crônica atravessada de lirismo: é um adulto (“ já vivido e puído”) fazendo um relato carinhoso da visita de um bebê (“um amigo de um ano de idade”). Como sabemos pelos dados biográficos de Drummond, o autor fala, nesta crônica, do seu primeiro neto, Pedro. Trata-se, então, do avô falando amorosamente do neto”.


Fiz questão de transcrever esta crônica, em decorrência de estar passando por um momento maravilhoso, exatamente como o Drummond passou: vivenciar o sorriso da minha neta Duda – quem ainda não passou, um dia passará a curtir o sorriso de um neto (a). É isso ai.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O PEIXE BOI DA AMAZÔNIA




O nosso peixe boi, conhecido cientificamente como Trichechus inunguis, difere do marinho e do africano, principalmente no tamanho, o originário das águas doces são os menores, alçando até 3 metros de comprimento e com um peso de 450 quilos, possuem uma mancha na região ventral e ausência de unhas nas nadadeiras peitorais. A sua alimentação é basicamente de plantas aquáticas e semi-aquáticas, consome diariamente até 10% do seu peso; devido ao seu baixo metabolismo, consegue ficar até 20 minutos embaixo da água, sem respirar. Cada fêmea produz somente um filhote em cada gestação e este mama até os dois anos de idade. A caça desse animal é proibida, porém, os ribeirinhos da Amazônia, ainda fazem o seu abate, pois o consumo de sua carne é muita apreciada. A destruição do seu habitat, a contaminação das águas com agrotóxicos e mercúrio, a pesca de arrastão, o abate exagerado no passado, etc., estão contribuindo para o desaparecimento da espécie, atualmente, está classificado pela UICN (2000) como “vulnerável”.


O Instituto de Pesquisas da Amazônia – INPA, possui um local chamado Bosque da Ciência, em Manaus, no bairro Aleixo, onde poderemos encontrar o Tanque do Peixe Boi – esses animais são levados para o instituto ainda bem novinhos, geralmente são encontrados quase sem vida pelos ribeirinhos, pois a mãe foi abatida numa caçada, alguns já nasceram em cativeiro. O INPA e outras instituições conservacionistas efetuaram, pouco tempo atrás, a reintrodução na natureza do Puru e Anama, esses animais estavam no tanque do INPA desde 1995 e 1999, respectivamente, foram soltos em um afluente do Rio Negro, estão sendo monitorados através de um radiotransmissor colocado neles.


Segundo a pesquisadora do INPA Vera Ferreira “O peixe-boi da Amazônia exerce um papel fundamental na cadeia alimentar e no ecossistema aquático da região, ao se alimentar nas grandes ilhas de capim flutuantes existentes nos rios da Amazônia, o maior herbívoro aquático controla o crescimento dessas plantas e com suas fezes e urina fertiliza as águas contribuindo para a manutenção do ambiente, transforma essas macrofitas em partículas menores por meio de suas fezes que servem de alimento para outras espécies de animais também presentes nos rios da Amazônia”.


Agora que já sabemos um pouco mais sobre o nosso Peixe Boi, poderemos fazer parte da Associação dos Amigos do Peixe Boi, do INPA, contribuir de fato para a sua preservação e, jamais e em hipótese alguma, iremos aceitar a carne de peixe boi, deveremos, sim, denunciar ao IBAMA que faz tal comercialização.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

FESTA DAS LUZES NO LARGO DE SÃO SEBASTIÃO


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Fonte: Portal Amazônia, com informações da TV Amazonas



MANAUS - O Centro Cultural Largo São Sebastião ganhou iluminação natalina no último domingo (06). Foi a abertura do “Natal das luzes” em Manaus, com espetáculo pirotécnico, orquestra, público, apresentações que atraíram a atenção de adultos e crianças. No total, a festa levou para o Centro Cultural Largo de São Sebastião, aproximadamente, 400 artistas que fizeram um grande espetáculo para o público. A noite iniciou com Papai Noel fazendo a abertura oficial, além da apresentação especial dos jovens músicos da Banda Municipal de Silves, que conquistaram o prêmio de Melhor Banda Musical do Festival Amazonas de Bandas e Fanfarras. A inauguração contou com a participação da Camerata Amazônica, Coral Infantil do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro (LAOCS) e do Projeto Jovem Cidadão, Orquestra de Repertório Popular, Orquestra Jovem Encontro das Águas, Fanfarra do Projeto Jovem Cidadão, Coral do Projeto Jovem Cidadão e Banda Municipal de Silves. Segundo o secretário de Cultura do Estado do Amazonas, Robério Braga, as luzes da árvore de Natal representam a esperança e o futuro. A intenção desta festa é mostrar que o Natal é uma festa de luzes, amor, integração e satisfação de todas as conquistas de nossos jovens, estudantes, governo e principalmente a população, disse o secretário. Em uma contagem regressiva que deu início a queima de fogos. O céu de Manaus se iluminou cerca de 20 minutos, com cores e formas que ficaram gravadas para muitas pessoas. O jardim do Teatro Amazonas ganhou duas fontes que deixam o Natal em Manaus bem mais iluminado. A árvore tem 26 metros de altura, é composta por 800 mini pinheiros, 12 metros de diâmetro, e decorada com 15 mil bolas de natal, 80 mil pisca-piscas de leds brancos e outros 80 mil coloridos.

Fotos: J Martins Rocha

O SERINGUEIRO E AS GRANDES CORPORAÇÕES DA INGLATERRA E DOS ESTADOS UNIDOS






Duas pontas de todo um processo de extração e comercialização da época áurea da borracha, de um lado, as grandes corporações sediadas em Liverpool e Nova York, com lucros astronômicos, na outra ponta, o seringueiro, vivendo num sistema de semi-escravidão e fadado à morte prematura.


As grandes casas aviadoras (fornecedoras de mercadorias e dinheiro) e exportadoras, sediadas em Manaus e Belém, na sua grande maioria estavam vinculadas as empresas importadoras, sediadas no exterior. Com o advento da vulcanização, a demanda pela borracha cresceu demasiadamente nos grandes centros consumidores da Europa e dos Estados Unidos, o centro produtor em maior escala era a Amazônia brasileira, portanto, o foco dos grandes capitalistas era formar vínculos com as empresas aqui sediadas. Com a concentração de toda a produção nas mãos dessas corporações, obtiveram fabulosos lucros com a comercialização com as empresas de manufaturas e automobilísticas.


Até chegar ao pobre coitado do seringueiro, existia toda uma cadeia de intermediários, com exceção daquele, todos conseguiram amealhar lucros extraordinários. As grandes casas fornecedoras de mercadorias e dinheiro ficavam nas capitais do Amazonas e Pará, o sistema era mais ou menos assim: a casa aviadora fazia o aviamento das mercadorias e também concedia empréstimos (agiotagem) para os intermediários e estes pagavam com borracha, a troca sempre era desfavorável para o fornecedor do produto “in natura”, este processo ia descendo até chegar ao seringueiro, este era obrigado a produzir cada vez mais, pois sempre estava em desvantagem com o seringalista. A cadeia produtiva funcionava dessa forma: Casas Aviadoras e Exportadoras ==> Comerciantes ou Aviadores de 1ª. Linha ==> Seringalista e Barracão ==> Seringueiro – o de cima sempre fornecendo os suprimentos e dinheiro e do debaixo pagando com a produção extrativa.


Para driblar o esquema acima, existia a figura do regatão, comerciantes formados por sírios, libaneses e judeus, utilizavam barcos regionais, faziam compras no comércio de Manaus e Belém, depois iam para o interior vender esses produtos diretamente ao seringueiro, trocavam os produtos por borracha, o seringueiro levava sempre a desvantagem, pois o regatão utilizava um método perverso chamado de regatear, ou seja, pechinchava e comprava mais barato a borracha e vendia por um preço exorbitante os seus produtos.


O escritor Pontes Filho no seu livro Estudos de História do Amazonas, da Editora Valer - escreve com muita clareza como era a figura do seringueiro “consistia no trabalhador que se inseria no interior da floresta para extrair o látex e produzir a borracha, seu melhor retrato era o nordestino despossuído e fugitivo da seca daqueles sertões. Trabalhava dezesseis horas por dia, em média, uma barraca de palha era a sua moradia, sem proteção contra o frio, a chuva, os insetos ou feras da floresta e alimentando-se de farinha d´água, do jabá, do arroz e de conservas, esses vassalos da borracha tornava-se alvo fácil de fatalidade na região. Bem cedo, acompanhando os primeiros lumes do alvorecer, erguia-se para seguir uma das duas ou três trilhas, nas quais trabalhava em dias alternados, parando a cada seringueira, fazia-lhe um talhe, deixando a tigela para posterior coleta do látex; de volta para casa, fazia a primeira refeição ao meio-dia e uma breve sesta, em seguida, retomava o percurso, coletando o liquido acumulado na tigela e retornando à cabana para iniciar a etapa final do longo trabalho diário: a coagulação do látex. Isolado no seio da mata, a solidão era a única e constante companheira no dia-a-dia da saga do seringueiro. Em suas noites, recordando-se das festas, procissões e quermesses de sua terra, sentia profunda tristeza de um exílio necessário, suportado somente diante da esperança de um grande retorno, levando fartura à terra da seca. Porém, endividado desde a chegada, o seringueiro lutava, lutava e nunca vencia, as dívidas só aumentavam, cortando os gastos com a própria comida, frágil ficava diante das epidemias, e foi assim que muitos dormiram e não mais acordaram, desaparecendo no sonho de um retorno impossível, sem sequer dar adeus ao próprio regresso”.


Com a derrocada da borracha, as grandes casas aviadoras fecharam as suas portas, os seringalistas faliram, os seringueiros que conseguiram sobreviver migraram paras as capitais, os imponentes prédios ficaram abandonados, foi os caos econômico e social, porém os grandes banqueiros e empresários do eixo Nova York-Liverpool passaram décadas e décadas gastando e fazendo novos investimentos no resto do mundo, com o dinheiro advindo da comercialização da borracha, fruto do sangue do pobre seringueiro da Amazônia.

sábado, 5 de dezembro de 2009

MANAUS ANTIGA

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