Primeiramente, você tem que treinar falar com as pessoas pegando nelas.
No braço, no ombro, no cotovelo. Mas tem de pegar. A linguagem corporal é tão importante para o amazonense, quanto o descanso o é para o baiano e a desconfiança para o mineiro.
Beijinhos de cumprimento são sempre dois. Os paulistas têm de aumentar um e os gaúchos têm de reduzir um. Isso pode causar uma série de beijos órfãos no ar para aqueles que estão em fase de adaptação. O pegar e o beijinho do amazonense não devem ser entendidos, grosso modo, como invasivos, mas como parte mesmo de sua enunciação, parte do sentido do dizer.
Outra coisa: amazonense aponta com a boca. Pergunte a um amazonense onde está algo e ele, muito provavelmente, em vez de levantar a mão e apontar,fará um biquinho em direção à coisa procurada. Aliás, um biquinho não, um beicinho. “É bem aliiiiii!!!”
Amazonense é solidário. Muito. Pergunte e ele responderá.
Peça e ele lhe ajudará. Dê trela e ele grudará.
O amazonense é muito caloroso. Não só pelo calor que faz em Manaus, mas porque facilmente puxa papo e se integra a um grupo. Basta uma possibilidade de entrada na conversa e..zapt! estamos dentro, na maior intimidade. Isso pode causar certo choque para as pessoas do sul e sudeste, mais reservadas no assunto amizade. É mais difícil "aprochegar-se" em São Paulo do que em Manaus, definitivamente. Mas há doces exceções.
Há ainda a questão da língua. Algumas palavras e expressões que realmente levam algum tempinho para que sejam dominadas e internalizadas. Seguem abaixo algumas palavras e expressões típicas com suas explicações e comentários.
ÉGUA - Égua pode ser usado em várias situações.
Alguém faz algo que você não entendeu: "égua..."
Uma situação estapafúrdia? "Éééguaa, maninho..."
QUE SÓ - Locução adverbial de intensidade, similar a "pra caramba". Hoje está quente que só". "Ela é lesa que só". "A sala estava lotada que só"
LESO (A), LESEIRA - Um leso é alguém que sofre de leseira. Leseira é um abestalhamento momentâneo que acomete o leso. Se a leseira for uma característica contínua, dizemos que o leso sofre de leseira baré.
Segundo cientistas da Universidade de Kuala Lumpur, a leseira baré ocorre entre os amazonenses devido ao sol quente na moleira, que frita o cérebro e queima alguns neurônios. Temos ainda as expressões derivadas: "Deixa de ser leso!" e "Pára de leseira!". Mas como tudo tem seus dois lados, dizem que o sol também causa nos amazonense algo chamado tesão de mormaço. Auto-explicativo.
AGORINHA - Diferentemente do uso no sudeste, agorinha quer dizer "há alguns segundos", referindo-se ao passado e não ao futuro. "Ela estava aqui agorinha, mas sumiu".
MANO(A) - Tratamento carinhoso entre conhecidos ou não. Muito usado para fazer perguntas e pedidos. "Mana, faz um favor pra mim". "E aí, tudo bem, mano?"
MANINHO(A) - Tratamento não carinhoso usado por pessoas que já estão estressadas "maninho, tu não tem o que fazer não?"
TELESÉ - é a mesma coisa que "tu é leso é?"
PITIÚ - Cheiro. Geralmente associado a peixe "Tá sentindo um pitiú danado aqui?"
BORIMBORA - Vamos embora. "A gente não tem mais nada a fazer aqui.Borimbora!"
MAS QUANDO? - ( quer dizer que nunca, nem pensar ) - " Ele disse pra eu ir lá na casa dele.. mas quando.
MACETA - Grande, imenso, de proporções anormais. "Eu disse que ia lá brigar com ele e quando eu olhei o cara era maaaaaaaaaaceta. Saí fora..."
CARAPANÃ - Pernilongo. Só que mais chato e mais chupador.
Termo indígena para "lança voadora", segundo a lenda urbana.
MAIS VOU MERMO - Indica uma afirmativa veemente . "Vamos a Ponta Negra no domingo? Resposta: Mais vou mermo". Ainda pode ser usada uma variação MAIS QUERO MERMO, "Ta afim de um sorvete de creme de cupuaçu?
Resposta: Mais quero mermo". (Obs.: Uma verdadeira Manauara nunca rejeita um sorvete de cupuaçu ou tapioca)
NEM COM NOJO - Indica uma negativa veemente. "Não empresto dinheiro para ele nem com nojo", "Vai ter que comer este peixe hoje, sem farinha amarela e sem pimenta. Reposta: Nem com nojo".
MÁ RAPÁZ - O mesmo que "Olha já!". "Me empresta teu carro?" "Má rapá!Claro que não!"
Colaboração da professora de Língua Portuguesa Elisa Luchini
2 comentários:
kkkk gostei, é verdade
Sou do Amazonas e estou morando no Rio de Janeiro, adorei o blog, nos descreve de fato como somos!!!!!
Saudades da minha terra amada!!!
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