Drauzio Varella
Rio Negro - O rio Negro nasce na região pré-andina da Colômbia e corre ao encontro do Solimões, logo abaixo de Manaus, para formar o Amazonas.
Em seu curso, percorre 1700 quilômetros, quase a distância de São Paulo a Salvador.
Da nascente à foz, a viagem dura um mês e meio. Na longa jornada, a água carrega folhas e outras matérias orgânicas que a tingem de âmbar.
O Rio Negro apresenta água de cor escura e translúcida.As rochas da região das nascentes são muito antigas e produzem poucos sedimentos.
É um dos três maiores rios do mundo; o fluxo de água que passa por seu leito é maior do que o de todos os rios europeus reunidos e, no Brasil, perde apenas para o Amazonas.
Tem quilômetros de largura e mais de mil ilhas que se agrupam em dois arquipélagos: Anavilhanas, próximo de Manaus, e Mariuá, no médio rio Negro, na região de Barcelos.
São os maiores arquipélagos fluviais do mundo.
O nível das águas depende da estação do ano. Entre o ponto mais baixo da seca e o mais alto da cheia, a variação é de 9 a 12 metros.
Como o nível máximo deixa marca de umidade nas árvores das margens antes inundadas, no auge da seca é possível fazer ideia do volume absurdo de água escoada entre uma estação e outra.
Dessa diferença resultam paisagens incrivelmente diversas. Na cheia, o rio invade a floresta por muitos quilômetros.
Com uma canoa pode-se remar no meio das árvores e penetrar a floresta submersa, entre os raios de sol que escapam do filtro das copas e incidem sobre a água escura.
O canto dos pássaros impõe a paz no espírito do visitante.Na seca, surgem as praias e emergem ilhas de areia branca, às vezes tão fina que parece talco.
Não fosse a marca da água no tronco das árvores, impossível lembrar que tanta beleza estivesse anteriormente submersa.
Nessa época, os barrancos da margem expõem as camadas do solo, troncos e raízes retorcidas que assumem formas esculturais de rara criatividade.
Vista de São Gabriel da Cachoeira em julho e dezembro.
Num tempo em que a cordilheira dos Andes nem existia, o rio Amazonas corria no sentido inverso ao atual, na direção do Pacífico.
Há centenas de milhões de anos, quando aquele conjunto de montanhas se levantou, o rio ficou impedido de seguir em frente e formou um grande lago.
Impotentes diante da barreira colossal, as águas represadas escoaram no sentido oposto e abriram caminho para o Atlântico (Você pode saber mais sobre isso na entrevista com o professor Aziz Ab'Saber).
As florestas da bacia do rio Negro são as mais preservadas e despovoadas da Amazônia.
Na região, estão localizadas as maiores Unidades de Conservação do país: Parque Nacional do Pico da Neblina, Parque Nacional do Jaú e Reserva Sustentável de Amnã.
No que tange à conservação, porém, muitas áreas só existem nos decretos que as criaram, não havendo ações concretas ou planejamento para sua preservação, de fato.
Dossel da floresta de terra firme na região de Manaus.
A diversidade de árvores que compõem o dossel pode chegar a cerca de 300 espécies por hectare de floresta.
A pobreza de nutrientes de suas águas escuras não oferece condições favoráveis à agricultura. A acidez, que dificulta o aparecimento de insetos, como os mosquitos que infernizam a vida dos visitantes nos rios de águas barrentas da Amazônia, afeta toda a cadeia de vida animal na região.
As matas da bacia do rio Negro são comparativamente pobres em animais terrestres e aquáticos.
Condições desfavoráveis para caça e cultivo da terra explicam a baixa densidade populacional e o pequeno impacto da interferência humana até hoje sofrido pelas florestas locais.
A enorme região da bacia do rio Negro é ocupada por dois grupos étnicos principais: índios e caboclos.
Apesar de viverem apenas cerca de 20 mil índios nas terras indígenas oficializadas da parte brasileira da bacia, o número de índios destribalizados que migraram para as cidades é grande.
Em São Gabriel, por exemplo, constituem a imensa maioria da população que não pára de crescer do centro para os bairros periféricos, onde se instalam os que acabaram de chegar.
Estrada única a ligar todas as cidades e comunidades que vivem às suas margens, o rio é um vai-e-vem incessante de pessoas e mercadorias.
Por suas águas, os barcos-recreio, coloridos pelas redes esticadas para acomodar os viajantes, transportam alimentos, máquinas, material de construção, a produção de farinha de mandioca e de piaçaba e o incipiente artesanato local.
Quem viaja de barco pelo rio Negro dá-se conta das enormes distâncias a percorrer.
De Manaus a São Gabriel da Cachoeira, a viagem pode durar uma semana ou mais dependendo da potência do motor e da altura das águas.
Rio acima, na direção da Colômbia, o movimento de barcos diminui muito e as dificuldades aumentam.
Nesta seção do site, contaremos as experiências vividas nas viagens a bordo do "Escola da Natureza", o barco que a UNIP utiliza em uma pesquisa que busca conhecer melhor a diversidade da flora da região do negro.
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