BLOGDOROCHA
sábado, 2 de novembro de 2024
PAPAGUARA S.A. – MASSAS ALIMENTÍCIAS
Homenagem aos Entes Queridos e Vizinhos
Foto: José Rocha
Jose Rocha
Hoje, 02 de novembro, é um dia especial para refletir sobre a vida e homenagear
àqueles que fizeram parte de nossas vidas, sejam familiares, vizinhos ou amigos
que deixaram suas marcas.
Lembro-me do meu tio José Martins, um cearense que veio jovem para Manaus e nos
deixou poucos anos depois. Meu irmão primogênito, José Rui, partiu quando ainda
era um bebê, uma dor que marcou profundamente nossa família.
Minha primeira experiência com a perda foi aos dez anos, com o velório da minha
avó paterna, Lídia Martins. Ela cuidou de mim e dos meus irmãos desde o nosso
nascimento até seus últimos dias. Tempos depois, perdi também minha avó
materna, Maria Soares, que sempre era uma presença querida em nossa casa.
Minha mãe, Neli Soares, sofreu longamente com o diabete, ficando cega e
precisando amputar parte da perna. Seu sofrimento foi imenso, mas sua bondade e
amor continuam presentes em minha memória. Sinto sua falta todos os dias.
Meu pai, o querido Rochinha do Violão, foi um batalhador que passou muitos anos
em uma cadeira de rodas. Cuidei dele até seu último suspiro. A dor de perder
meu primeiro netinho, que nasceu prematuro e faleceu em seguida, ainda ecoa.
Também perdi meu sobrinho recém-nascido, filho do Rocha Filho.
Entre outros parentes queridos que partiram estão minha tia Margarida, e meus
tios Roberto, Manuel e Raimundo. A saudade se estende a inúmeros primos e
tantos vizinhos e amigos, como Quirino, Bahia, Boanerges, Geovina, Lucy, Cilo,
Deusa, Taca, Branco, Lindalva, Walder, Dorval, Nascimento, Morena, Paulinho, Zé
Maria, Lapinha, Renato Chaves, Edson, Dona Vanda, Tia Daka, Tio Jorge, Compadre
Otávio, Paulinho, Anubio, Madeira, Joaninha, Nelvia, Pedro, Dona Isabel,
Mendonça, Jordan, Mira, Dona Ramide, Radize, Virginia, Padrinho Acrísio,
Regina, Rui, Bringel e Dona Mariazinha, Tiko, Sarto, Conte Telles, Hélio,
Goiaba, Dona Noêmia Bitar, Dona Maria Geovina e Senhor Zé, Toscano, Marcus,
Armando, Carlinhos, Marcão, Dudu Braga, Dona Branca, Jokka, Pinha, Palheta e
tantos outros que cumpriram sua missão e voltaram à terra, com seus espíritos
elevados a um plano superior.
Hoje, prestamos nossa homenagem a todos esses entes queridos, cujas lembranças
permanecem vivas em nossos corações. Que eles encontrem paz e que suas memórias
sejam uma luz que continua a nos guiar.
Ver menos
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
ESTÁDIOS DE FUTEBOL DE MANAUS – UMA VERGONHA Por Ari Neto
Em 2014, ano da Copa do Mundo de Futebol, o Brasil foi palco de um dos maiores eventos esportivos do planeta. Manaus, nossa querida cidade, foi agraciada com quatro jogos, o que nos encheu de orgulho. No entanto, esse evento também deixou alguns dissabores que perduram até hoje.
Para que o evento ocorresse em nossa
cidade, o governo federal e estadual realizaram pesados investimentos para
adequar a infraestrutura ao megaevento, tudo ditado e supervisionado pela
Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA). O Estádio Vivaldo Lima foi
demolido em 12 de julho de 2010 para dar lugar à “Arena da Amazônia”. Tempos
depois, por força de lei, passou a chamar-se “Arena da Amazônia Vivaldo Lima”,
como forma de preservar um pouco de nossa história.
Para o treinamento dos jogadores
antes dos quatro jogos, foram credenciados três campos de futebol, entre eles o
antigo Campo da Colina (São Raimundo) e o Estádio Municipal Carlos Zamith
(Aleixo), com todas as obras sendo supervisionadas para estarem dentro do
chamado “Padrão FIFA”.
Passados 10 anos, a Arena da Amazônia
virou um ‘Elefante Branco’, servindo mais para shows musicais do que para
eventos esportivos. O custo elevadíssimo de manutenção afugenta os times
locais, que só jogam lá em grandes eventos com potencial de lotação.
Os Centros de Treinamento, que também
estavam ociosos, tornaram-se a opção dos times locais para jogos de menor
porte. No entanto, por terem sido construídos com o ‘Padrão FIFA’, não levaram
em consideração nosso clima, com seis meses de chuva e seis meses de sol
intenso.
Para exemplificar, o outrora ‘Campo
da Colina’ possuía uma parte coberta para a torcida ‘VIP’. Com a reforma, não
há mais nada que proteja os torcedores do sol inclemente e das chuvas de
inverno.
O Estádio Carlos Zamith é um caso
muito sério. Recentemente, o governo do Estado do Amazonas, em parceria com o
Amazonas FC, investiu uma fortuna para adaptá-lo para um público de dez mil
pagantes. No entanto, apesar de todos os investimentos, não pensaram no
público: não existe nenhuma cobertura para proteger os espectadores do sol e da
chuva.
Com a ascensão do clube Amazonas FC,
mulheres e crianças começaram a frequentar os estádios, o que é muito positivo.
No entanto, percebo o sofrimento deles, principalmente no Carlos Zamith.
Isto é uma vergonha!
O ‘Parque Amazonense’ possuia
cobertura. O Estádio Vivaldo Lima também tinha, assim como o antigo Estádio da
Colina. A atual ‘Arena da Amazônia’ possui cobertura, mas tornou-se
antieconômica para os jogos locais. Os atuais ‘Campo da Colina’ e ‘Carlos
Zamith’, que deveriam ser os ‘Salvadores da Pátria’, deixam todos os
espectadores à mercê do sol e da chuva, pois não possuem nenhuma cobertura.
Isto é, mais uma vez, uma vergonha!
sábado, 28 de setembro de 2024
O ZÉ MUNDÃO DE MANAUS Por José Rocha Parte I – Livro E-book
Nasceu em Manaus, na Santa Casa de Misericórdia, na década de 1950. Quando veio ao mundo, os sinos da Igreja de São Sebastião batiam doze badaladas, exatamente no aniversário do presidente Juscelino Kubitschek. Seus familiares cogitaram chamá-lo pelo prenome do mandatário maior da Nação, porém, ao ser batizado na Igreja dos Remédios, recebeu na pia batismal o nome de José, em homenagem ao seu avô, um cearense que veio para a Amazônia coletar látex.
Seu primeiro lar foi um flutuante (casa de madeira apoiada em enormes
toras, próprias para flutuar na água), no Igarapé de Manaus. Para não fugir à
tradição, sendo filho e neto de cearenses, passaram a chamá-lo de Zé, um
diminutivo carinhoso de José, o mais novo dos irmãos, o caçula queridinho da
família. Seus irmãos mais velhos eram conhecidos por José “Galinha Preta”, José
“Pacu” e a única mulher, batizada de Maria José, mais conhecida por Zezinha. O
nome Zé tinha que estar presente de qualquer maneira.
O local onde Zé morava era um braço do rio, parte de um conglomerado de
residências conhecido como Cidade Flutuante, com a maior concentração de casas
situada atrás da Rua Barão de São Domingos. O processo de ocupação do leito do
rio foi iniciado com o declínio do fausto da borracha, que ocasionou a falência
dos seringalistas e levou uma multidão de seringueiros a ficarem sem eira nem
beira. Sem ter onde morar, a solução inicial foi a construção de casas sobre as
águas da orla do rio Negro e, naturalmente, pelos igarapés que cortavam a
cidade de Manaus.
As habitações construídas sobre troncos submergíveis, tornando-as
flutuantes, possuíam assoalhos e cômodos de madeira, com a cobertura, em sua
maioria, feita de palha. Aqueles que dispunham de mais recursos as cobriam com
folhas de zinco. Formavam um imenso conglomerado, tão grande que chegou a ser
conhecido como uma cidade dentro da própria cidade de Manaus, com mais de duas
mil casas e aproximadamente doze mil habitantes.
Neste local existia, além de moradias, todo tipo de comércio: estivas,
ferragens, restaurantes, gabinetes dentários, consultórios médicos, drogarias,
oficinas de conserto de motores marítimos, vendas de borracha, castanha, juta,
couros e peles de animais. Qualquer atividade existente em terra também existia
na cidade flutuante! Alguns achavam que aquilo era um cancro, uma vergonha para
os habitantes da terra firme, mas foi exatamente ali que o pequeno Zé passou
sua infância de forma muito feliz.
Morar em flutuante tinha seus pontos negativos, mas também positivos. A
família do Zé era discriminada pelos moradores da parte de cima da Rua Igarapé
de Manaus, que se achavam superiores aos pobres moradores de flutuantes. A
maioria das famílias residentes nas ruas Huascar de Figueiredo e Lauro
Cavalcante, pertencentes à classe média e possuidoras de belíssimas
residências, manifestavam preconceitos ainda maiores: falavam que aqueles
moravam no bodozal (na lama, onde se reproduz o peixe acari bodó).
Durante a enchente, a família e os animais de criação (gatos e galinhas)
ficavam ilhados, com acesso à terra permitido apenas por uma pequena tábua,
espécie de escada. O pequeno Zé sofria bastante para passar, pois o risco de
queda dentro do rio era grande. Com a água batendo seis meses na madeira, ocorria
o rápido apodrecimento das toras de sustentação – dessa maneira, para a troca
das bóias, era realizado um mutirão. O danado do Zé era vigiado 24 horas por
dia, pois corria risco de afogamento. Em decorrência disso, ele aprendeu a
nadar ainda curumimzinho (menino pequeno).
Outra complicação: todos sofriam também com o ataque de animais
peçonhentos, cobras e jacarés. Na casa dele não havia luz elétrica nem água
encanada. O sufoco era total, pois tinham que recorrer às lamparinas,
candeeiros e lampiões para iluminação dos cômodos - um martírio, pois não
podiam usar nenhum aparelho eletrodoméstico em casa. O café era torrado e
pilado dentro da habitação e fervido num fogareiro à lenha; as roupas eram
passadas com ferro de engomar a carvão e a comida era cozida num fogão a lenha,
tudo manual, típico de uma casa de ribeirinhos da Amazônia.
Na vazante, a família levava alguns meses para limpar toda a área
externa, pois ficava muito lixo espalhado pelo chão, como garrafas de vidro
quebradas, latas enferrujadas, tábuas com pregos etc. Por isso, o coitado do Zé
vivia sempre com cortes nos pés e muitas feridas pelo corpo. Os banhos eram
feitos em cacimbas ou camburões de metal, com água de beber sendo filtrada em
potes, bilhas e filtros de barro.
Existia uma grande vantagem: caso o caboclo tivesse algum problema sério
com o vizinho, bastava pegar o machado e cortar a corda principal que amarrava
o flutuante à beira do rio, ou colocar uma amarra num barco regional, pedir
para ser puxado e mudar-se para o outro lado do rio. Como a família do Zé era
benquista por todos os vizinhos, nunca precisou sair do local onde morava.
Durante a enchente, o balneário ficava à altura da janela do flutuante
do Zé, bastava pular dentro do rio e tomar banho nas águas refrescantes, pois
ainda não havia poluição em demasia, apesar dos moradores despejarem dejetos de
privadas diretamente no igarapé. Os barcos regionais ancoravam no flutuante do
Zé, oferecendo a preço acessível peixe, leite, queijo, farinha e outros
produtos regionais, além de tábuas e palhas para a manutenção da casa.
Zé foi estudar no
Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Sua avó o matriculou no primeiro ano forte
(equivalente à segunda série), mas o Zé não sabia ler nem escrever. A primeira
tarefa na escola foi realizar uma cópia e ele, na malandragem, pediu ao seu
colega Nascimento para fazê-la. Ocorre que seu confrade era canhoto, que pegou
o caderno do Zé Mundão, virou na melhor posição e fez a cópia todinha. O Zé foi
entregar o trabalho:
– Fessora Genevova,
taí a cópia, tá bonita? – falou todo gabola da vida.
– Vá fazer outra
cópia, você fez com o caderno de cabeça para baixo! – disse a professora,
dando-lhe aquele ralho.
Não se conteve,
chorou que nem um bezerro desmamado. Então, a professora descobriu que ele
estava na série errada e o encaminhou para a alfabetização. Cobrir as letras
foi uma graça para Zé Mundão. Mas, o que ele mais odiava era a hora da merenda,
pois não trazia nada de casa e ainda tinha que encarar aquele leite de soja,
enviado ao Brasil em decorrência do projeto dos ianques “União Para o
Progresso”. O jeito era filar a merenda dos meninos do pré-escolar.
Num certo dia, Zé foi
pego e levado pela orelha até a diretoria. Seus pais foram chamados à atenção -
moral da história: ganhou uma lancheira novinha em folha, com direito a suco de
maracujá e sanduíche de pão com pão. A partir daí, começou a adorar a hora da
merenda, gostava de deixar seus colegas com água na boca, e nunca mais tomou o
famoso leite de posto!
sábado, 7 de setembro de 2024
‘Ária Ramos subindo ao Céu – Amor e Tragédia em 1915’ - E-book em formato PDF à venda por R$ 20,00
E-book em formato PDF à venda por R$ 20,00
Interessados podem fazer o pagamento via Pix para a chave 92991537448
(José Martins Soares).
Após o pagamento, envie o
comprovante para o WhatsApp no mesmo número.
O e-book será enviado para o e-mail informado e/ou via
WhatsApp.
Agradeço pela sua compra e pela colaboração com o
autor.
Este livro é resultado de intensas pesquisas em jornais antigos, revistas, livros e documentos judiciais sobre o caso de Ária Ramos, cuja morte ocorreu na madrugada de 17 de fevereiro de 1915, um período marcante na história da cidade de Manaus. Apresenta-se como um romance histórico que narra um assassinato em um baile de carnaval no Ideal Clube. Para a justiça, foi considerado uma fatalidade; para a sociedade manauara, um crime passional.
Ao escrever este livro, levei em consideração tanto a
memória coletiva do povo amazonense quanto os registros históricos. Enquanto a
memória coletiva é subjetiva e apresenta diferentes versões do mesmo evento, os
fatos históricos são objetivos e precisos, baseados em fontes oficiais e
aceitos pelos historiadores. A fusão desses elementos enriqueceu a narrativa,
tornando-a atraente para diversos públicos. Embora a história em si possa
parecer insossa, a memória coletiva dá cor e brilho ao fato histórico,
revestindo-o de vida. Essa combinação de elementos também aumenta o interesse
dos leitores.
O livro, fruto de minha imaginação criativa, além de
fatos narrados em diversos meios de comunicação e da colaboração da
Inteligência Artificial, baseada em sistemas neurais artificiais inspirados no
cérebro humano, pode conter erros e omissões. No entanto, seu objetivo principal
não é julgar aqueles já absolvidos pela justiça dos homens, mas sim oferecer um
vislumbre da história antiga, atual e futura de Manaus, bem como do que perdura
na memória de seu povo através dos séculos.
Ao explorar o passado, o presente e até mesmo o futuro
distante da cidade de Manaus, espero incutir nas pessoas a ideia de que um
homem não é dono de uma mulher nem de seu destino, mas sim que o respeito deve
prevalecer em todas as relações.
O feminicídio, um assassinato de uma mulher, é motivado
por ódio, desprezo, prazer ou um sentimento de posse em relação à vítima. Isso
exige dos governos e dos políticos uma ação mais efetiva na criação de uma
legislação e aplicação mais severa da lei, além de educação e conscientização
por meio de campanhas de sensibilização e mudanças culturais e sociais.
‘Ária Ramos subindo ao Céu – Amor e Tragédia em 1915’ é
o meu debute literário em um romance histórico. A obra envolveu uma série de
desafios, destacando-se o desenvolvimento da trama, dos personagens e a construção
de um mundo real e irreal. Inspirada pela física teórica e pela liberdade
criativa da ficção, desafiou as fronteiras do tempo e espaço. Na trama, a
personagem principal está no passado e encontra-se em sonhos com uma personagem
do presente. Ambas viajam para o passado por meio de um portal, voltam ao
presente e, posteriormente, desloca-se para o futuro com outra personagem. Essa
exploração de diferentes épocas é estudada na física teórica, onde algumas
teorias, como a relatividade geral de Einstein, sugerem que sob condições
extremas isso é possível. No entanto, na prática, atual, ainda não é viável,
sendo mais ficção científica do que realidade.
Por outro lado, na minha imaginação de escritor, tudo é
possível. Personagens vivenciam aventuras em diferentes épocas, presenciam
eventos importantes e até mesmo mudam o curso da história. A ficção oferece um
espaço seguro onde as regras da física são flexibilizadas para levar até você,
leitor, a minha mensagem.
Num sábado de verão amazônico, por volta do meio-dia,
visitei o Cemitério São João Batista. Esse horário é considerado um ponto
intermediário entre o nascer e o pôr do sol, um momento de convergência de
energias, equilíbrio entre a luz e a escuridão, ideal para as sensações
especiais. Com uma dica da administradora do campo-santo, procurei o mausoléu
de uma moça com um violino na Quadra 5, que ficava próximo ao Cemitério
Israelita ‘Chevrah Kadishah de Manaus’ (Sociedade de Sepultamento). Entre
centenas de túmulos, eu não conseguia localizar o de Ária Ramos. Enquanto
olhava para um lado e para o outro, ouvi o timbre de um violino, um som que o
distinguia dos demais instrumentos de cordas. Juro que não havia uma viva alma
naquele lugar. Após muita busca, acredito que a própria Ária tenha me guiado até
ela. Ao longe, conseguir visualizá-la entre uma imensidão de túmulos. Ao ficar
bem em sua frente, fiz o sinal da cruz e pedi sua permissão para escrever este
livro sobre sua história. Fechei os olhos e senti, no fundo da alma, que fui
autorizado. Agradeci e me despedi, orando para ela continuar ao lado do Nosso
Senhor Jesus Cristo. Ao chegar em casa, fiz questão de ouvir a valsa ‘Subindo
ao Céu’, tocada no violão pelo músico Dilermando Reis, em sua homenagem.
Este pequeno livro, com pouco mais de quarenta páginas,
é repleto de emoção e inspiração histórica. Desejo a todos uma boa leitura, que
enriqueçam seus conhecimentos, reflitam sobre suas vidas, valorizem mais nossa
história e memória coletiva. Que todos tenham uma envolvente viagem no tempo!
Que Deus nos abençoe. Amém.
quinta-feira, 5 de setembro de 2024
OS CINEMAS DE MINHA VIDA
Por José Rocha
CINE POLYTHEAMA - Por ficar
próximo à minha rua, era um dos que eu frequentava na minha infância. Minha
meia-irmã Kelva trabalhava no Cine Polytheama como bomboniere (vendedora de
bombons e goma de mascar), ficando às vezes na portaria quando o movimento
estava fraco. Era o momento certo para eu entrar sem pagar e ainda desfrutar de
algumas balas de minha preferência, o gardano (sabor menta). O Cine Polytheama
ficava na esquina das avenidas Sete de Setembro e Getúlio Vargas, e pertencia à
empresa São Luiz (nome de fantasia do grupo Severiano Ribeiro). Seu nome era
uma junção de “poli”, de origem latina, significando muito, e “theama”,
procedente do grego, denotando espetáculos, ou seja, muitos espetáculos.
Trata-se de uma denominação utilizada em diversos cinemas e teatros no Brasil.
A saída dava-se pela Avenida Sete de Setembro. Com problemas estruturais sérios
e sob fiscalização rigorosa da Prefeitura e do Instituto Nacional do Cinema, o
estabelecimento teve as suas portas fechadas definitivamente. O Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional está mais vigilante, pois, a partir
de 2012, todo o centro histórico de Manaus foi tombado. Infelizmente, os cinemas
de Manaus foram destruídos antes da proteção por lei. Atualmente, abriga uma
loja de departamentos. Conservada a parte externa pela Avenida Sete de
Setembro, o restante do prédio foi totalmente destruído pelo “progresso” e
falta de sensibilidade por parte do proprietário e empresários.
CINE GUARANY - Eu contava com
a opção de assistir sem pagar no Cine Polytheama, mas o cinema de minha
preferência era o Cine Guarany, que eu frequentava aos domingos, sempre na
sessão das 12h45, quando passavam dois filmes: um de bangue-bangue (faroeste) e
outro sobre o império romano. O Guarany ficava na Avenida Sete de Setembro,
esquina com a Rua Leovegildo Coelho, tendo sido originalmente Cine Olympia,
depois Cine Teatro Alcazar. Foi construído com um estilo arquitetônico inspirado
no Oriente Médio (mourisco). O último proprietário foi o empresário Adriano
Bernardino, tendo na gerência o Vovô Vasco. O aniversário do cinema ocorria no
dia 6 de agosto, ocasião em que a cidade ficava em festas, com a programação
iniciando bem cedo, com fogos de artifício soltados às seis da manhã, além de
ser tocada repetidamente nos alto-falantes a ópera “O Guarany”, do maestro
Carlos Gomes. Nesse dia, assistia-se a Cinema ao Ar Livre, com a tela montada
no teto do Bar do Pina (que ficava em frente ao cine), passando filmes desde as
nove da manhã até às oito da noite. Durante o dia, eram distribuídos centenas
de brindes, além de bombons, balões e gibis para a petizada. Este cinema fechou
definitivamente as suas portas, sob intenso protesto dos manauaras. Presenciei
a derrubada do prédio para dar lugar a uma nova edificação, que abriga uma
agência bancária. Foi mais um prédio histórico que foi destruído pelos
empresários e pessoas insensíveis que não tinham o menor respeito pela nossa
história. Ficou somente a lembrança e nada mais.
EU
E O CINE GUARANY -
Antes de ir ao cinema, eu passava parte da manhã tomando banho no igarapé,
pulando da ponte, tanto que, quando dava conta do horário, já era próximo do
meio-dia. Corria até em casa, tomava um banho rápido para tirar o cauixi e
vestia às pressas a domingueira. Não dava tempo para almoçar. Saía correndo em
direção ao cinema que, ainda bem, ficava próximo à minha residência. Enquanto
estava na fila para comprar o ingresso, aproveitava para saborear um
famosíssimo cachorro-quente (sanduíche de pão com picadinho de carne), servido
com refresco de maracujá. Eu gostava de observar a estratégia de um pedinte
chamado Jaú. Um senhor moreno de idade, que ficava remexendo umas moedas
antigas (patacão) nas mãos, a fim de chamar atenção dos que estavam na fila dos
ingressos. Vez ou outra, fazia o pedido: “Uma esmolinha para o cego, uma
esmolinha, por favor!” Os mais velhos diziam que ele não era totalmente cego,
pois sempre conseguia desviar-se dos homens. Das mulheres, nem tanto, indo
direto aos seios, daí ser conhecido por Jaú Mão Boba. Gostava de ficar na área
de cima, chamada de poleiro. Quando as luzes se apagavam, era o momento certo
para xingar, jogar papel e cuspir no pessoal que ficava no térreo. Algumas vezes
era pego, ocasião em que não se livrava de uns doloridos cascudos; outras, era
somente advertido pelo lanterninha Farias. Tudo era diversão: o sinal sonoro
avisando do início da sessão, o barulho dos ventiladores centrais e laterais, o
fechamento das portas de madeira, a escuridão, a abertura das cortinas do telão
e o piscar das luzes multicoloridas, o defender do ataque dos veados
(homossexuais) que davam em cima dos jovens, os gols da rodada e a gritaria da
molecada enxotando o “Condor” para iniciar o filme. Isso marcou a vida de toda
uma geração. Lembranças que ficam para sempre.
ASSISTINDO AO FILME “E O VENTO LEVOU” - Eu
vendia gibis usados em frente ao Cine Guarany. Sempre fui fissurado em cinema
desde a minha tenra idade. Ficava louco para entrar e assistir a um filme, não
importando qual o gênero. O importante era sentar numa poltrona e desfrutar da
Sétima Arte. Fiquei afoito para assistir ao famoso “E O Vento Levou” (que versa
sobre a Guerra Civil americana, com o acidentado romance entre a bela e mimada
Scarlett O’Hara e o cínico e aventureiro Rhett Butler, naquele que é
considerado o maior filme de todos os tempos. Superprodução de 4,25 milhões de
dólares, o mais caro até então e, em se tratando de atualização monetária, um
dos mais caros de todos os tempos). Havia dois problemas: primeiro, era de
longa duração, em torno de quatro horas e, segundo, o juizado não permitia
menor de doze anos entrar para assistir à película. Minha intenção era entrar
na marra. Com um olho no gato e o outro no peixe, quando o porteiro abriu a
guarda, dei aquela furada (entrar sem pagar). Corri na escuridão do cinema,
fiquei quieto na última fila de um lugar chamado poleiro, com um olho na tela
grande e o outro no “lanterninha” Farias (funcionário que usava uma lanterna
para ajudar as pessoas a encontrar uma poltrona vazia), para não ser pego de
surpresa. As quatro horas passaram num passo de mágica e, na saída, misturei-me
à multidão, saindo sem ser notado. Já era quase meia-noite. Quando me
aproximava da cabeça da Ponte Romana I (na Avenida 7 de Setembro), uma multidão
veio ao meu encontro, sem que eu soubesse o que estava ocorrendo. Nessa
ocasião, choveram perguntas sobre o meu paradeiro. Fiquei meio sem jeito, mas
falei que estava assistindo ao filme “E o Vento Levou”, e nada mais! Avisados
os meus pais, estes começaram a chorar de alegria quando me avistaram, pois
tinham mobilizado os moradores da Rua Igarapé de Manaus e seu entorno para
procurar-me. Na época, a cidade de Manaus era bem pacata, as crianças brincavam
na rua até no máximo às nove horas da noite, quando todos entravam em suas
casas. Fiquei proibido por uns meses de ir ao Cine Guarany. A peia eu encarei
sem chorar, mas ficar sem assistir a um filme foi um martírio; chorava todo
final de semana. Mas não teve jeito, tive que cumprir o castigo.
Fonte: Livro e-book ‘O Igarapé de Manaus, José Rocha’
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
FOTO ANTIGA DE MANAUS
José Rocha
Faz dez anos que fiz uma montagem de uma fotografia antiga em que aparecem o
Chafariz da Praça da Matriz e, ao fundo, a sede dos Correios e Telégrafos.
Hoje, o Facebook me relembrou da foto que publiquei e sugeriu que eu colocasse
uma imagem atual ao lado, para que as pessoas pudessem ver como o local está
hoje.
Confesso que não tive a menor vontade de fazer isso. O lugar está em estado
deplorável — não apenas os terminais de ônibus, mas todo o entorno, que está
caindo aos pedaços por falta de manutenção da administração do prefeito David
Almeida
O que sinto é uma profunda vergonha do que se tornou a nossa porta de
entrada.
— Em Praça Da Matriz, Centro De Manaus
domingo, 4 de agosto de 2024
LIVRO 'ÁRIA RAMOS SUBINDO AO CÉU - AMOR E TRAGÉDIO EM 1915, JOSÉ ROCHA'
Meu livro e-book
"Ária Ramos Subindo Ao Céu - Amor e Tragédia em 1915" foi publicado
na Amazon.com.br. Em breve, estará disponível para venda.
Aguarde.
Este livro é resultado de
intensas pesquisas em jornais antigos, revistas, livros e documentos judiciais
sobre o caso de Ária Ramos, cuja morte ocorreu na madrugada de 17 de fevereiro
de 1915, um período marcante na história da cidade de Manaus. Apresenta-se como
um romance histórico que narra um assassinato em um baile de carnaval no Ideal
Clube. Para a justiça, foi considerado uma fatalidade; para a sociedade
manauara, um crime passional.
Ao escrever este livro,
levei em consideração tanto a memória coletiva do povo amazonense quanto os
registros históricos. Enquanto a memória coletiva é subjetiva e apresenta
diferentes versões do mesmo evento, os fatos históricos são objetivos e
precisos, baseados em fontes oficiais e aceitos pelos historiadores. A fusão
desses elementos enriqueceu a narrativa, tornando-a atraente para diversos
públicos. Embora a história em si possa parecer insossa, a memória coletiva dá
cor e brilho ao fato histórico, revestindo-o de vida. Essa combinação de
elementos também aumenta o interesse dos leitores.
O livro, fruto de minha
imaginação criativa, além de fatos narrados em diversos meios de comunicação e
da colaboração da Inteligência Artificial, baseada em sistemas neurais
artificiais inspirados no cérebro humano, pode conter erros e omissões. No
entanto, seu objetivo principal não é julgar aqueles já absolvidos pela justiça
dos homens, mas sim oferecer um vislumbre da história antiga, atual e futura de
Manaus, bem como do que perdura na memória de seu povo através dos séculos.
Ao explorar o passado, o
presente e até mesmo o futuro distante da cidade de Manaus, espero incutir nas
pessoas a ideia de que um homem não é dono de uma mulher nem de seu destino,
mas sim que o respeito deve prevalecer em todas as relações.
O feminicídio, um
assassinato de uma mulher, é motivado por ódio, desprezo, prazer ou um
sentimento de posse em relação à vítima. Isso exige dos governos e dos
políticos uma ação mais efetiva na criação de uma legislação e aplicação mais
severa da lei, além de educação e conscientização por meio de campanhas de
sensibilização e mudanças culturais e sociais.
‘Ária Ramos subindo ao Céu
– Amor e Tragédia em 1915’ é o meu debute literário em um romance histórico. A
obra envolveu uma série de desafios, destacando-se o desenvolvimento da trama,
dos personagens e a construção de um mundo real e irreal. Inspirada pela física
teórica e pela liberdade criativa da ficção, desafiou as fronteiras do tempo e
espaço. Na trama, a personagem principal está no passado e encontra-se em
sonhos com uma personagem do presente. Ambas viajam para o passado por meio de
um portal, voltam ao presente e, posteriormente, desloca-se para o futuro com
outra personagem. Essa exploração de diferentes épocas é estudada na física
teórica, onde algumas teorias, como a relatividade geral de Einstein, sugerem
que sob condições extremas isso é possível. No entanto, na prática, atual,
ainda não é viável, sendo mais ficção científica do que realidade.
Por outro lado, na minha
imaginação de escritor, tudo é possível. Personagens vivenciam aventuras em
diferentes épocas, presenciam eventos importantes e até mesmo mudam o curso da
história. A ficção oferece um espaço seguro onde as regras da física são flexibilizadas
para levar até você, leitor, a minha mensagem.
Num sábado de verão
amazônico, por volta do meio-dia, visitei o Cemitério São João Batista. Esse
horário é considerado um ponto intermediário entre o nascer e o pôr do sol, um
momento de convergência de energias, equilíbrio entre a luz e a escuridão,
ideal para as sensações especiais. Com uma dica da administradora do
campo-santo, procurei o mausoléu de uma moça com um violino na Quadra 5, que
ficava próximo ao Cemitério Israelita ‘Chevrah Kadishah de Manaus’ (Sociedade
de Sepultamento). Entre centenas de túmulos, eu não conseguia localizar o de
Ária Ramos. Enquanto olhava para um lado e para o outro, ouvi o timbre de um
violino, um som que o distinguia dos demais instrumentos de cordas. Juro que não
havia uma viva alma naquele lugar. Após muita busca, acredito que a própria
Ária tenha me guiado até ela. Ao longe, conseguir visualizá-la entre uma
imensidão de túmulos. Ao ficar bem em sua frente, fiz o sinal da cruz e pedi
sua permissão para escrever este livro sobre sua história. Fechei os olhos e
senti, no fundo da alma, que fui autorizado. Agradeci e me despedi, orando para
ela continuar ao lado do Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao chegar em casa, fiz
questão de ouvir a valsa ‘Subindo ao Céu’, tocada no violão pelo músico
Dilermando Reis, em sua homenagem.
Este pequeno livro, com
pouco mais de quarenta páginas, é repleto de emoção e inspiração histórica.
Desejo a todos uma boa leitura, que enriqueçam seus conhecimentos, reflitam
sobre suas vidas, valorizem mais nossa história e memória coletiva. Que todos
tenham uma envolvente viagem no tempo!
Que Deus nos abençoe. Amém.
O NOVO POINT DO CENTRO DE MANAUS
José Rocha
A Rua Ferreira Pena, entre
a Rua Dez de Julho e Avenida Ramos Ferreira, tornou-se um lugar que está
conquistando cada mais os “botequeiros” em Manaus.
Um pouco de história:
Ferreira Pena foi um político brasileiro do século XIX. Nasceu em 1812 e
faleceu em 1848. Desempenhou um papel significativo na política da época, mas
sua vida foi tragicamente curta. A cidade de Manaus o homenageou dando-lhe o
nome de rua.
A Rua Ferreira Pena inicia
na Rua Dez de Julho e termina na Avenida Álvaro Maia. Sua abertura se deu por
volta de 1890.
Possui alguns prédios de
interesse histórico, dentre eles o Palacete Mourisco, datado de 1908, fica na
esquina da Rua Simão bolívar. Na esquina da Avenida Ramos Ferreira fica o
Palacete Afonso de Carvalho, construído entre 1907 e 1908. Nas proximidades da
Ramos Ferreira encontramos o majestoso Casarão que pertenceu a tradicional
família Benzecry, trata-se de um bangalô de estilo californiano, construído em
1940.
Voltando ao presente, além
desses acima citados, existem vários outros imóveis da Belle Époque, dentre
eles onde fica hoje a Aliança Francesa, outrora Museu do Luso Club, além da
antiga residência da Charufe Nasser, um imóvel dos mais bonitos do local, mas
estava esquecido e abandonado.
O Jápeto Bar e
Restaurante, do meu amigo Norberto e família, sobressai com som ao vivo e
atendimento de primeira. Neste mesmo imóvel já funcionou famoso ‘Chefão’. Já
estive lá duas vezes e aprovei.
O Bar Sarará é uma ótima
escolha para quem busca samba, culinária de boteco e um ambiente animado,
responsável por lotar a Rua Ferreira Pena.
O Abaré Central, antiga
residência da família Benzecry é um local que atrai frequentadores em busca de
boa comida e ambiente agradável.
Muitos outros imóveis
antigos estão sendo recuperados para servirem de bar e restaurante, incluindo o
da Charufe Nasser, que está sendo limpo e até já colocaram várias plantas para
voltar a brilhar como antigamente.
Em uma noite de sábado,
parei em frente ao Bar Sarará, preferindo ficar do outro lado da rua, tomando
umas cervejas na barraca dos meus vizinhos da Rua Tapajós, o Raimundo &
Mara.
Eles não economizaram
elogios: - Amigo, Rochinha, esses bares estão deixando os outros no chinelo.
Aqui, os barraqueiros disputam acirradamente um lugar para vender suas
cervejas, pois este se tornou o novo point do centro de Manaus!
Fotos: José Rocha. Pela
manhã de domingo, reina a calmaria no local, muito diferente do que ocorre à
noite.
sexta-feira, 2 de agosto de 2024
Tiko Ramos do Igarapé de Manaus
Por José Rocha
Tiko nasceu, cresceu, casou,
teve filhos e netos, sempre residindo na Rua Igarapé de Manaus. Esse local
também faz parte das minhas lembranças de infância, assim como dos meus irmãos.
Ele era filho do Senhor Luiz
e tinha cinco irmãos: Carlos, Roberto, Aluísio, Ademir e Edson. Sua família era
uma das mais tradicionais da nossa rua.
Tiko era conhecido por seu
senso de humor afiado e suas piadas únicas. Nos sábados, a turma antiga se
reunia no Bar da Sogra, do Afonso Toscano & Conceição, na esquina da Rua
Huascar de Figueiredo com a Avenida Joaquim Nabuco. Ali, além de beber e jogar
conversa fora, todos se divertiam com as piadas do Tiko. Isso incluía as da
velha guarda do Igarapé de Manaus, dentre eles de meu pai, o luthier Rochinha,
um conquistador inveterado.
Seu irmão Aluísio, um
habilidoso técnico em edificações, montou um circo no quintal de sua casa,
tendo o Palhaço Tiko como atração principal. Eu e meus irmãos também
participamos desse empreendimento, sendo conhecidos como “Os Irmãos Borracha”
devido às nossas habilidades em contorcionismo.
Na minha juventude,
trabalhei na Braga & Cia, que hoje é o Supermercado DB da Eduardo Ribeiro.
Lá, tive a oportunidade de colaborar com Tiko Ramos, despachando mercadorias e
veículos.
Escrevi um livro de memórias
chamado “O Igarapé de Manaus”, onde Tiko aparece em várias passagens. Uma delas
é intitulada “Senhor Arthur”. Arthur era proprietário de um boteco que vendia
secos e molhados. Ele namorou, casou, morou e criou seus filhos nos fundos do
estabelecimento. Arthur era um verdadeiro escravo do trabalho, labutando de
domingo a domingo. Diferentemente dos concorrentes, ele não fechava o boteco
nem na hora do almoço. Quando alguém entrava, ele acordava da soneca com o
barulho do assoalho de tábuas.
Certa vez, Tiko entrou no
boteco devagar, pegou uma botija de gás vazia, levantou-a e jogou-a ao chão,
gritando:
Tem gás, Seu Arthur? –
tentando acordá-lo com muito barulho.
Não tenho, não! - respondeu
Arthur ainda meio sonolento. Tiko agradeceu, colocou a botija no ombro e “pegou
o beco”.
Dias depois, o Dr. Tiko
voltou ao boteco:
Seu Arthur, meu pai está
vendendo algumas botijas de gás. O senhor tem interesse em comprar?
Tenho sim, pois as minhas
botijas estão desaparecendo!
Não estou vendendo, não, Seu
Arthur. Vim devolvê-la, levei na brincadeira. Peço desculpas! – falando meio
sem jeito.
Um dos irmãos de Tiko, o
médico Roberto, deu a ele a oportunidade de fazer um comercial na televisão
para promover seu consultório. Tiko apareceu vestido com avental e estetoscópio
no pescoço, simulando uma consulta com um paciente e promovendo a clínica do
irmão médico. A partir de então, ele passou a ser chamado pela galera do
Igarapé de Manaus como “Doutor Tiko”.
A última vez que conversei
com Tiko foi há uns quatro anos. Ele, sempre bem-humorado, compartilhou uma
história sobre seu irmão Aluísio:
“Certa vez, Aluísio estava
dentro do Bumbódromo de Parintins, na companhia de um vizinho do Igarapé de
Manaus, quando este passou mal e foi levado às pressas para o pronto-socorro.
De lá, dava para ouvir o início do apresentador do Boi:
"Meu coração é
vermelho, hei, hei, hei. De vermelho vive o coração, ê, ô, ê, ô. Tudo é
garantido após a rosa vermelhar. Tudo é garantido após o sol vermelhecer. Um,
Dois, Três e Já!
Aluísio começou a chorar
copiosamente quando o médico falou:
Não chores, seu filho ficará
bom logo! – tentando tranquilizá-lo.
Ele não é meu filho, não!
Estou chorando por não estar dentro do Bumbódromo vendo a apresentação do meu
boi do coração!”
Segundo Tiko, certa vez fez
um pedido ao seu irmão:
Quando eu morrer, não quero
choro nem velas no meu velório, apenas fitas encarnadas gravadas com o nome do
meu boi. Não quero coroa com espinhos, apenas repique e o surdo a rufar da
minha Batucada, com toque da caixinha, para encher de alegria e fazer balançar
os presentes na minha despedida! Meu caixão deverá ficar em pé, amarrado na
parede para não cair, vestido com a camisa do Boi do Povão e um Cocar do Pajé.
Nada de café com bolacha de motor. Todos bebendo cerveja e dançando toadas de
boi, do Garantido, é claro!"
O tempo passou, e Tiko
continuou apaixonado pelo Vasco da Gama, motocicletas de altas cilindradas,
cachorros grandes de raça, pela mulher, filhos, netos e pelos amigos de
infância do Igarapé de Manaus. Hoje, aos setenta anos, partiu para o andar de
cima, deixando saudades nos corações dos amigos do Igarapé de Manaus e de sua
amada família. Que Deus o tenha ao seu lado, meu amigo Tiko Ramos.
Foto: Tiko cabeça branca sem
camisa a esquerda, com a galera do Igarapé de Manaus, brincando o carnaval.
sexta-feira, 26 de julho de 2024
A NOSSA GERAÇÃO
Por José Rocha
Nós somos da geração dos anos cinquenta e sessenta, a
maioria de nós nascida no Hospital da Santa Casa de Misericórdia e criada no
centro histórico de Manaus. Somos manauaras da gema, alimentados à base de
peixe e farinha.
Tivemos o privilégio de pular da Ponte da Sete diretamente
para o Igarapé de Manaus. Lembro-me de irmos com nossos pais e irmãos para os
“Banhos do V8”, explorando lugares como o Parque Dez de Novembro, a Ponte da
Bolívia e Tarumã, e, também, tomávamos “Banho de Cacimba”.
Éramos moleques travessos, brigávamos nas ruas e levávamos
broncas em casa. Tínhamos rivalidades com a garotada de outras ruas e bairros. Quando
nos encontrávamos em clubes, praças, cinemas ou na rua, as brigas eram
inevitáveis. Tudo era resolvido no “mano a mano”, sem armas brancas ou
revólveres, apenas tapas, chutes e pontapés.
Lembro-me de soltar papagaios de papel feitos pelo “Russo”,
com linha de cerol e rabiola, cortando o céu com pedaços de gilete. Jogávamos
bola nos campinhos de futebol, pois éramos “peladeiros” também das quadras dos
colégios, com arranhões e hematomas de brigas inevitáveis.
Brincávamos de peão e colecionávamos bolinhas de gude e
caroços de tucumã, escapole-bate-e-fica, queimada, esconde-esconde, quadrilhas
e pula-fogueira, com xote e baião.
Nossos dias de escola foram no Barão do Rio Branco,
Estadual, Divina Providência, Nilo Peçanha, IEA, Escola Técnica Federal e Benjamim
Constant. As palmatórias e os castigos na diretoria faziam parte da rotina, e
nosso lanche consistia em pão com pão e leite de Soja e Nescau, sem direito a
repetir nem reclamar.
A “Fanfara” era um espetáculo à parte, e os desfiles
orgulhosos do “Sete de Setembro”, na Avenida Eduardo Ribeiro, eram seguidos por
sorvetes no Pinguim e no A Gogô, além de Caldo de cana com pastel de vento e
bolo de macaxeira nas confeitarias completavam nossas tardes de feriado
nacional.
Passar no vestibular da Universidade do Amazonas era um
privilégio para alguns “CDF”. A maioria estudava Direito na Velha Jaqueira e
Ciências Sociais e Humanas no ICHL, pois faculdades particulares ainda não
existiam.
Nossa turma frequentava os Cines Guarany, Polytheama,
Avenida e Odeon. Assistíamos às apresentações das “Pastorinhas do Luso”, aos
shows musicais do “Titio Babosa” e às peças teatrais do “Vovô Branco”. Os
“Circos” também eram uma atração constante em nossa cidade.
Vivenciamos a chegada dos sinais de televisão da TV
Ajuricaba e Baré, assustados e maravilhados. E o futebol amazonense brilhava na
era de ouro, com partidas emocionantes no “Parque Amazonense”.
Na cidade, todos se conheciam, pelo menos de vista. Sabíamos
os nomes dos vereadores, deputados, senadores, delegados de polícia,
presidentes da COSAMA e da CEM, juízes e promotores de justiça.
O começo da Zona Franca de Manaus trouxe brinquedos,
quinquilharias “made in Japan”, perfumes, alimentos e aparelhos de som.
As lojas Lobras, S. Monteiro, Moto Importadora, Central de
Ferragens, Souza Arnaud, Canavarro, Antônio M. Henriques, TV Lar e Bemol faziam
parte do nosso cotidiano.
Não tínhamos internet nem aparelhos celulares. Nossas
informações vinham das rádios Baré, Rio Mar, Difusora e da famosa “Rádio Cipó”,
além dos jornais do Comércio, A Crítica e A Notícia. Pesquisas apenas em livros
na Biblioteca Pública ou emprestar volumes da Barsa dos amigos mais
aquinhoados.
Minha geração testemunhou a chegada da “Bossa Nova &
Rock”. Adorávamos artistas como Elvis Presley, Beatles, Roberto e Erasmo
Carlos, Wanderléia, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, entre outros. Éramos da
época dos “Discos de Vinil” e “Fitas Cassete”, das festas no Acocho, Sheik
Clube, Bancrevia e União Esportiva e das “porradas das galeras do mal”.
Naquela época, as mulheres eram esperadas para casar
virgens. Se um malandro “avançasse o sinal” e a mulher engravidasse, o
casamento era realizado às pressas. Embora não houvesse casamentos entre
pessoas do mesmo sexo, existia algo “por detrás dos panos”.
Homossexuais sempre existiram em todos os tempos, mas
naquela época, eles casavam na igreja e tinham filhos. No entanto, a grande
maioria optava por permanecer solteira pelo resto da vida, sem constituir
família.
Pois é, meus amigos, a nossa geração vivenciou todas essas
nuances. Presenciamos a chegada da internet, dos aparelhos celulares, das TVs
inteligentes e dos sons digitais tipo Spotify e Youtube Music. Mesmo assim, não
nos cansamos de relembrar e escrever sobre aquela época boa de nossas vidas.
Passamos pela pandemia do Covid-19, vendo muitos amigos
partirem. Aqueles que resistiram agora são sessentões, setentões e poucos
oitentões. Aos poucos, nossos amigos da nossa geração estão nos deixando.
Diabetes, problemas cardíacos, AVCs, DSTs e doenças renais os levam
gradualmente.
A vida segue seu curso, e agora é a vez de nossos netos e
bisnetos aproveitarem as modernidades da vida. Quando eles crescerem,
pesquisarão e sorrirão ao descobrir como era a vida de seus avós e bisavôs
naquela época: “Da Nossa Geração”.
sexta-feira, 19 de julho de 2024
RAPOSA X GALINHEIRO
Por José Rocha
A maioria dos
prefeitos das cidades brasileiras são conhecidos como ‘raposas’.
Os ‘galinheiros’
referem-se aos cofres municipais. Quando elegemos as raposas e as colocamos
dentro dos galinheiros, o que acontece?
Com certeza, irão
devorar uma por uma galinha, até as chocas irão para a bucho.
Como evitar?
Primeiro, eleger um
'Cão de Guarda' e não uma 'Raposa'.
Segundo, vigiar o
galinheiro, ou seja, os vereadores devem cumprir a sua missão de fiscalizar o
prefeito.
Mas, caso elegermos
vereadores amigos dos prefeitos, o galinheiro irá para o beleleu!
quinta-feira, 18 de julho de 2024
OS LADRÕES DA INTERNET
Por José Rocha
Diariamente, observo pessoas que declaram
para o mundo saber que foram vítimas de golpes na internet. Agora, imaginem a
quantidade enorme que sente vergonha de vir a público falar que foram enganadas
em decorrência do “Olho Grande”, achando que iriam ganhar fortunas, ou que
caíram no ‘Papo Furado’ dos bandidos de plantão. Sentem-se como ‘Otários’ ou
infantis por terem caído em armadilhas que poderiam ser facilmente evitadas com
um pouco mais de cuidado.
Irei enumerar alguns deles, como
forma de alerta aos amigos leitores:
“Jogo do Tigrinho”:
Também conhecido como “Fortune Tiger”, foi desenvolvido pela empresa Pocket
Games Soft (PG Soft), que tem sua sede em Malta. Vocês sabem onde fica Malta?
Nunca ouvi falar, mas pesquisando no ‘Pai dos Burros’ descobri que é um pequeno
país localizado no sul da Europa, numa ilha próxima à Sicília, na Itália. Esse
jogo deve pertencer a mafiosos italianos.
Quem ganha com o jogo? Em
primeiro lugar, os ‘Operadores das Plataformas de Apostas’, que ganham com as
apostas dos jogadores que muitas vezes perdem fortunas para ganhar prêmios que
raramente são alcançados. Em segundo, os camaradas conhecidos no Brasil como
‘Influenciadores Digitais’, que possuem de 10 a 65 milhões de seguidores que
gostam do famoso ‘Besteirol’. Eles ganham de 5 a 15 mil reais por semana.
Esses camaradas são bandidos que têm
enganado sistematicamente muitas pessoas, desde um estudante que perde sua
mesada até grandes empresários que perdem fortunas, por várias razões:
promessas falsas de ganhos fáceis em dinheiro. Os bandidos utilizam ‘Promoção
por Influenciadores’ que mostram uma vida de luxo e ganhos aparentes, dando uma
falsa sensação de legitimidade e sucesso.
O jogo utiliza gráficos coloridos e
infantis, atraindo o público mais jovem e menos experiente para identificar
fraudes. Pasmem, pessoas ricas e inteligentes caem na armadilha. Os bandidos
utilizam perfis falsos no Instagram e outras redes sociais com promoções do
jogo, como forma de aumentar a visibilidade e atrair mais vítimas. Ainda bem
que a polícia tem feito investigações e prendido alguns dos responsáveis por
promover e operar esses esquemas.
‘Golpe do PIX’: Os
golpistas enviam mensagens se passando por bancos, informando sobre transações
suspeitas e pedindo para a vítima entrar em contato com uma suposta central de
atendimento. Durante a ligação, eles solicitam dados pessoais ou induzem a
vítima a fazer uma transferência. Eu, particularmente, não atendo ligação que
não está na minha agenda, muito menos com DDD de outros estados com maior
densidade populacional e atividade econômica, por exemplo, do Rio de Janeiro,
São Paulo e Minas Gerais.
‘Golpe da Falsa Central de Atendimento’:
Criminosos se passam por funcionários de bancos ou empresas, alegando problemas
como clonagem de cartão, pedindo dados pessoais e bancários para “resolver” o
problema, mas na verdade usam essas informações para fraudes.
‘Golpe da Tarefa’:
Prometem pagamentos por tarefas simples, como curtir publicações ou seguir
perfis, pedindo um pequeno investimento inicial ou dados bancários, mas o
pagamento prometido nunca é enviado.
‘Golpe do Boleto Falso’:
Os bandidos enviam boletos falsos por e-mail ou aplicativos de mensagens, que
parecem ser de empresas legítimas. Quando a vítima paga, o dinheiro vai para a
conta dos criminosos. Uma forma rápida de saber se o boleto é falso é verificar
a numeração que aparece em todo boleto. Os três primeiros números devem ser do
banco que aparece ao lado, por exemplo: BB 001, CEF 104, Bradesco 237, Itaú 341
e Santander 033. Caso comece com outro número, é falso. Os últimos números
devem ser exatamente o valor a pagar, por exemplo, R$ 744,50, os últimos
números serão 74450. Caso o cidadão de bem não observe esses detalhes e for ao
banco ou tentar pagar pelo aplicativo do seu banco em seu celular, ao aponta a
câmera para ler o ‘Código de Barras’, ele apresenta uma falha bem no meio e
pede para a pessoa digitar aquela série de 45 números. É golpe! Perdeu, mané!
‘Ransomware’: É um ‘Malware’
(um software malicioso) que sequestra os dados do usuário e cobra um valor de
resgate para liberá-los. É uma forma de extorsão digital. Tenha muito cuidado,
não clique em links que te mandam pela internet.
‘Criptomoedas’: É
uma moeda digital descentralizada, criada e gerida por meio de tecnologia de ‘Blockchain’
(tecnologia segura) e sistemas avançados de criptografia. Existem muitos golpes
relacionados a Criptomoedas, como esquemas de pirâmide e fraudes de ICO (Oferta
Inicial de Moeda). Muitas pessoas perdem dinheiro por falta de conhecimento,
podem perder suas reservas para os ‘Hackers’ (uma pessoa com habilidades
avançadas de informáticas usada para o mal) e também pelos preços que sobem e
podem descer drasticamente. O megainvestidor brasileiro Luiz Barsi, um senhor
com um patrimônio de 4 bilhões de reais, falou numa entrevista que já pegou em
Real, Dólar Americano, Euro, Ouro, Prata, Diamante, Joias e já visitou a sede
do Banco do Brasil e da Petrobras e da empresa Klabin, mas nunca na vida viu
uma ‘Criptomoedas’, pois ela é uma invenção do homem, não existe no
plano físico. Dessa forma, jamais investirá numa coisa irreal.
Para se proteger, é importante
desconfiar de mensagens e ligações suspeitas, nunca fornecer dados pessoais ou
bancários sem verificar a autenticidade da solicitação, e manter seus
dispositivos protegidos com antivírus e atualizações de segurança.
E acima de tudo, deixe de ilusões que
será fácil ganhar dinheiro em sites que prometem ganhos acima da média e que
vendem produtos abaixo do preço de mercado. Exemplo recente: Site do famoso ‘Big
Brother Brasil 2021 ‘Nego Di’. É golpe dos ladrões da internet!
Fonte: IA Copilot da Microsoft