segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

OS PRIMEIROS BACHARÉIS DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE MANÁOS – TURMA 1910 – 1914




Por José Rocha

Os primeiros sempre ficarão na história,esta façanha está nos anais do livro ‘Archivos da Universidade de Manáos’, publicado originalmente em 1914 e, reimpresso em 1989, pela passagem dos 80 anos de fundação da Escola Livre de Manáos, pela Imprensa Universitária do Amazonas. A Escola Livre de Manáos, fundada em 17 de janeiro de 1909, passou a denominar-se Universidade de Manaós a partir de 13 de julho de 1913.

Dos 56 alunos matriculados na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, em 1910, somente 20 concluíram ocurso em 1914. A primeira turma de Direito, foi constituída pelos seguintes bacharéis: Arthur Pereira Studart (Ceará); Alfredo Freitas (Ceará); Domingos Alves Pereira de Queiroz (Maranhão); Francisco Moreira (Bahia); Francisco Nogueira de Souza (Ceará); George Cavalcante de Cerqueira (Ceará); Hermes Affonsode Tupinambá (Piauí); Izidoro Alves Maquiné (Amazonas); João Baptista Guimarães (Pernambuco); José Chevalier Carneiro de Almeida (Alagoas); José de Silveira Primo (Ceará); José Furtado Belém (Amazonas); João Henrique dos Santos (Piauí);anoel de Miranda Simões (Bahia); Manoel de Mendonça Lima (Ceará); Manoel Barbosa Gesta (Amazonas); Raymundo de Carvalho Palhano (Maranhão); Raymundo Thome Bezerra (Ceará); Sadoc Pereira (Amazonas); Themistocles Pinheiro Gadelha (Amazonas). Ceará: 7; Maranhão: 2; Bahia: 2; Piauí: 2; Amazonas: 5; Pernambuco:1; Alagoas: 1.

A solenidade de formatura deu-se às 14 horas de 19 de dezembro de 1914, no salão nobre do Gymnasio Amazonense (atual Colégio Estadual D. Pedro II), que segundo o livro citado, apresentou um aspecto deslumbrante, com uma sóbria ornamentação e a sua assembleia compacta, avultando a família amazonense e altos representantes do poder público, além de uma orquestra do Instituto Benjamim Constant, sob a batuta do maestro João Donizetti, professor do Conservatório Carlos Gomes, desta capital. Milhares de pessoas se aglomeraram nas imediações, incluindo a Praça da Constituição (atual Praça Heliodoro Balbi).

O Dr. Astrolábio Passos, o Diretor Geral, fez a abertura solene da Congregação da Universidade de Manáos, procedeu à chamada dos bacharelandos, que prestaram o compromisso legal, nos termos seguintes, ditados pelo Diretor da Faculdade:

“A face de Deus e da sociedade, do corpo docente da Universidade de Manáos e muito especialmente do que doutrina na sua Faculdade de Direito, tomo o compromisso, como bacharel graduado em Sciencias Jurídicas e Sociaes, e promover quanto em mim couber o progresso e ensinamentos da Sciencia do Direito, defender desinteressadamente os incapazes, proceder, no exercício profissional das letras jurídicas, tendo diante da Lei, inspirar-me nos preceitos da Moral Universal, respeitar as autoridades legalmente constituídas, observar a Lei e dar-lhe fiel cumprimento, antepor a todos os interesses o amor da Família, da Pátria e da Humanidade, o que tudo, sob minha honra e de acordo com os dictames de minha consciência, cumprirei com inteira lealdade.”

O graduado, então diante do professor Dr. Astrolabio Passos, ouvia as palavras sacramentais:

“E eu, o Director geral da Universidade de Manáos, em virtude dos poderes que me conferidos pelo artigo 72 dos Estatutos, concedo a vós o grau de bacharel formado em Sciencias Jurídicas e Sociaes.”

Ao mesmo tempo, em que proferiu estas palavras, o Diretor Geral mantinha sobre a cabeça do graduado a borla simbólica. O anel distintivo foi entregue por uma autoridade. O bacharelando Raymundo Palhano foi escolhido como orador da turma, proferindo um discurso notável, sendo vivamente aplaudido por todos os presentes.

Para finalizar a solenidade, a orquestra executou a Lutspiel, de Keler-Bela (332) Béla Kèler - Lustspiel verture Op.73 - YouTube , e todos os presentes ficaram de pé, selando com palmas a bonita cerimônia.

Agora, em dezembro de 2024, perfazem 110 anos da formatura dos primeiros bacharelandos de Direito e, no dia 17 de janeiro de 2025, comemoraremos os 116 anos de fundação da nossa Universidade Federal do Amazonas.

Fonte: Livro ‘Archivos da Universidade de Manáos’

sábado, 7 de dezembro de 2024

Carros Anfíbios Modelo Amphicar 770 em Manaus

 



Por José Rocha

No final da década de 1960, Manaus viveu um momento mágico. Entre os carros importados que começavam a aparecer nas ruas, um modelo em especial causava verdadeiro fascínio: o Amphicar 770, um carro anfíbio que deslizava com a mesma elegância tanto sobre o asfalto quanto sobre as águas. Esses veículos, raros e visionários, conquistaram a imaginação dos manauaras, tornando-se uma lembrança indelével para minha geração.

Fabricados na Alemanha entre 1961 e 1968, apenas 3.878 unidades foram produzidas, sendo a maioria exportada para os Estados Unidos. Pouquíssimos chegaram a outros países, mas Manaus, com o impulso da recém-criada Zona Franca e seu Decreto-Lei nº 288/67, foi uma das privilegiadas a receber oito exemplares, importados pela firma Antônio Levy Botero, localizada na Rua Miranda Leão, 121.

Lembro-me como se fosse ontem: os carros anfíbios desembarcaram no Porto Roadway, trazidos pelo navio alemão Hilder Mit. Eram máquinas imponentes, anunciadas como robustas, anticorrosivas e hermeticamente seladas. No dia 20 de outubro de 1968, estava programada uma demonstração pública na Praia de Ponta Negra. A cidade inteira aguardava ansiosa para ver aquele "carro-barco" atravessar as águas do Rio Negro.

Mas o destino, sempre caprichoso, mudou o rumo da história. Na sexta-feira anterior, a Receita Federal apreendeu os veículos devido a pendências aduaneiras. Apesar do aviso nos jornais cancelando a exibição, uma multidão foi à praia no domingo, na esperança de testemunhar o espetáculo. O silêncio das águas contrastava com a frustração coletiva, e as conversas sobre a falta do evento ecoaram por semanas. Quando os carros finalmente foram liberados, oito manauaras sortudos puderam adquiri-los.



Um desses felizardos morava na Rua Huascar de Figueiredo, próximo à casa do governador Plínio Coelho. Foi lá que, na minha pré-adolescência, vi um Amphicar pela primeira vez. Meu irmão mais velho, Rocha Filho, descreveu com detalhes: sua pintura era verde e branca, e seu proprietário, um senhor catarinense ‘alemão’ alto e loiro, aguardava pacientemente a cheia do Rio Negro.

Quando as águas invadiam o Igarapé de Manaus, ele descia com o carro anfíbio a ladeira da Rua Huascar de Figueiredo e, para o assombro de todos, fazia o veículo deslizar sobre o igarapé, entre as casas das famílias de Dona Uchoa e do Judico. A cena era tão surreal que moradores de todas as idades saíam correndo para ver aquele espetáculo. Até hoje consigo ouvir os gritos de entusiasmo e sentir a vibração da plateia improvisada.

O Amphicar 770 era uma máquina fascinante. Seu nome vinha da junção das palavras "amphibian" e "car", enquanto o número indicava sua velocidade: 7 mph na água e 70 mph na estrada. Equipado com motor de 4 cilindros e 43 cavalos de potência, ele possuía características únicas: era conversível, tinha estofamento à prova d'água, rodas que funcionavam como lemes e duas hélices gêmeas de náilon. Ainda vinha com um remo, uma âncora e até uma bandeira do Brasil, tudo pensado para torná-lo uma verdadeira joia anfíbia.

O slogan do fabricante resumia bem o espírito do Amphicar: "É um carro que ninguém entende, mas que todos amam." E como eu amava aquele carro na minha adolescência! O sonho de um dia dirigir um desses me acompanhou por anos.

Hoje, mais de meio século depois, o Amphicar ainda vive na memória dos manauaras e no coração dos colecionadores ao redor do mundo. Naquela época, custava cerca de três mil dólares; hoje, um exemplar modificado pode valer trinta mil dólares ou mais.

Relembrar essas histórias é como voltar no tempo. Manaus mudou, os igarapés mudaram, mas a lembrança daquele carro extraordinário flutuando nas águas continua viva. O Amphicar 770 não foi apenas uma máquina; foi um símbolo de uma época, um capítulo inesquecível na história da nossa cidade.