sexta-feira, 30 de agosto de 2024

FOTO ANTIGA DE MANAUS

 

José Rocha


Faz dez anos que fiz uma montagem de uma fotografia antiga em que aparecem o Chafariz da Praça da Matriz e, ao fundo, a sede dos Correios e Telégrafos.

Hoje, o Facebook me relembrou da foto que publiquei e sugeriu que eu colocasse uma imagem atual ao lado, para que as pessoas pudessem ver como o local está hoje.

Confesso que não tive a menor vontade de fazer isso. O lugar está em estado deplorável — não apenas os terminais de ônibus, mas todo o entorno, que está caindo aos pedaços por falta de manutenção da administração do prefeito David Almeida

O que sinto é uma profunda vergonha do que se tornou a nossa porta de entrada. 


— Em Praça Da Matriz, Centro De Manaus



domingo, 4 de agosto de 2024

LIVRO 'ÁRIA RAMOS SUBINDO AO CÉU - AMOR E TRAGÉDIO EM 1915, JOSÉ ROCHA'

Meu livro e-book "Ária Ramos Subindo Ao Céu - Amor e Tragédia em 1915" foi publicado na Amazon.com.br. Em breve, estará disponível para venda. Aguarde.

Este livro é resultado de intensas pesquisas em jornais antigos, revistas, livros e documentos judiciais sobre o caso de Ária Ramos, cuja morte ocorreu na madrugada de 17 de fevereiro de 1915, um período marcante na história da cidade de Manaus. Apresenta-se como um romance histórico que narra um assassinato em um baile de carnaval no Ideal Clube. Para a justiça, foi considerado uma fatalidade; para a sociedade manauara, um crime passional.

Ao escrever este livro, levei em consideração tanto a memória coletiva do povo amazonense quanto os registros históricos. Enquanto a memória coletiva é subjetiva e apresenta diferentes versões do mesmo evento, os fatos históricos são objetivos e precisos, baseados em fontes oficiais e aceitos pelos historiadores. A fusão desses elementos enriqueceu a narrativa, tornando-a atraente para diversos públicos. Embora a história em si possa parecer insossa, a memória coletiva dá cor e brilho ao fato histórico, revestindo-o de vida. Essa combinação de elementos também aumenta o interesse dos leitores.

O livro, fruto de minha imaginação criativa, além de fatos narrados em diversos meios de comunicação e da colaboração da Inteligência Artificial, baseada em sistemas neurais artificiais inspirados no cérebro humano, pode conter erros e omissões. No entanto, seu objetivo principal não é julgar aqueles já absolvidos pela justiça dos homens, mas sim oferecer um vislumbre da história antiga, atual e futura de Manaus, bem como do que perdura na memória de seu povo através dos séculos.

Ao explorar o passado, o presente e até mesmo o futuro distante da cidade de Manaus, espero incutir nas pessoas a ideia de que um homem não é dono de uma mulher nem de seu destino, mas sim que o respeito deve prevalecer em todas as relações.

O feminicídio, um assassinato de uma mulher, é motivado por ódio, desprezo, prazer ou um sentimento de posse em relação à vítima. Isso exige dos governos e dos políticos uma ação mais efetiva na criação de uma legislação e aplicação mais severa da lei, além de educação e conscientização por meio de campanhas de sensibilização e mudanças culturais e sociais.

‘Ária Ramos subindo ao Céu – Amor e Tragédia em 1915’ é o meu debute literário em um romance histórico. A obra envolveu uma série de desafios, destacando-se o desenvolvimento da trama, dos personagens e a construção de um mundo real e irreal. Inspirada pela física teórica e pela liberdade criativa da ficção, desafiou as fronteiras do tempo e espaço. Na trama, a personagem principal está no passado e encontra-se em sonhos com uma personagem do presente. Ambas viajam para o passado por meio de um portal, voltam ao presente e, posteriormente, desloca-se para o futuro com outra personagem. Essa exploração de diferentes épocas é estudada na física teórica, onde algumas teorias, como a relatividade geral de Einstein, sugerem que sob condições extremas isso é possível. No entanto, na prática, atual, ainda não é viável, sendo mais ficção científica do que realidade.

Por outro lado, na minha imaginação de escritor, tudo é possível. Personagens vivenciam aventuras em diferentes épocas, presenciam eventos importantes e até mesmo mudam o curso da história. A ficção oferece um espaço seguro onde as regras da física são flexibilizadas para levar até você, leitor, a minha mensagem.

Num sábado de verão amazônico, por volta do meio-dia, visitei o Cemitério São João Batista. Esse horário é considerado um ponto intermediário entre o nascer e o pôr do sol, um momento de convergência de energias, equilíbrio entre a luz e a escuridão, ideal para as sensações especiais. Com uma dica da administradora do campo-santo, procurei o mausoléu de uma moça com um violino na Quadra 5, que ficava próximo ao Cemitério Israelita ‘Chevrah Kadishah de Manaus’ (Sociedade de Sepultamento). Entre centenas de túmulos, eu não conseguia localizar o de Ária Ramos. Enquanto olhava para um lado e para o outro, ouvi o timbre de um violino, um som que o distinguia dos demais instrumentos de cordas. Juro que não havia uma viva alma naquele lugar. Após muita busca, acredito que a própria Ária tenha me guiado até ela. Ao longe, conseguir visualizá-la entre uma imensidão de túmulos. Ao ficar bem em sua frente, fiz o sinal da cruz e pedi sua permissão para escrever este livro sobre sua história. Fechei os olhos e senti, no fundo da alma, que fui autorizado. Agradeci e me despedi, orando para ela continuar ao lado do Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao chegar em casa, fiz questão de ouvir a valsa ‘Subindo ao Céu’, tocada no violão pelo músico Dilermando Reis, em sua homenagem.

Este pequeno livro, com pouco mais de quarenta páginas, é repleto de emoção e inspiração histórica. Desejo a todos uma boa leitura, que enriqueçam seus conhecimentos, reflitam sobre suas vidas, valorizem mais nossa história e memória coletiva. Que todos tenham uma envolvente viagem no tempo!

Que Deus nos abençoe. Amém. 





O NOVO POINT DO CENTRO DE MANAUS

 

José Rocha

A Rua Ferreira Pena, entre a Rua Dez de Julho e Avenida Ramos Ferreira, tornou-se um lugar que está conquistando cada mais os “botequeiros” em Manaus.

Um pouco de história: Ferreira Pena foi um político brasileiro do século XIX. Nasceu em 1812 e faleceu em 1848. Desempenhou um papel significativo na política da época, mas sua vida foi tragicamente curta. A cidade de Manaus o homenageou dando-lhe o nome de rua.

A Rua Ferreira Pena inicia na Rua Dez de Julho e termina na Avenida Álvaro Maia. Sua abertura se deu por volta de 1890.

Possui alguns prédios de interesse histórico, dentre eles o Palacete Mourisco, datado de 1908, fica na esquina da Rua Simão bolívar. Na esquina da Avenida Ramos Ferreira fica o Palacete Afonso de Carvalho, construído entre 1907 e 1908. Nas proximidades da Ramos Ferreira encontramos o majestoso Casarão que pertenceu a tradicional família Benzecry, trata-se de um bangalô de estilo californiano, construído em 1940.

Voltando ao presente, além desses acima citados, existem vários outros imóveis da Belle Époque, dentre eles onde fica hoje a Aliança Francesa, outrora Museu do Luso Club, além da antiga residência da Charufe Nasser, um imóvel dos mais bonitos do local, mas estava esquecido e abandonado.

O Jápeto Bar e Restaurante, do meu amigo Norberto e família, sobressai com som ao vivo e atendimento de primeira. Neste mesmo imóvel já funcionou famoso ‘Chefão’. Já estive lá duas vezes e aprovei.

O Bar Sarará é uma ótima escolha para quem busca samba, culinária de boteco e um ambiente animado, responsável por lotar a Rua Ferreira Pena.

O Abaré Central, antiga residência da família Benzecry é um local que atrai frequentadores em busca de boa comida e ambiente agradável.

Muitos outros imóveis antigos estão sendo recuperados para servirem de bar e restaurante, incluindo o da Charufe Nasser, que está sendo limpo e até já colocaram várias plantas para voltar a brilhar como antigamente.

Em uma noite de sábado, parei em frente ao Bar Sarará, preferindo ficar do outro lado da rua, tomando umas cervejas na barraca dos meus vizinhos da Rua Tapajós, o Raimundo & Mara.

Eles não economizaram elogios: - Amigo, Rochinha, esses bares estão deixando os outros no chinelo. Aqui, os barraqueiros disputam acirradamente um lugar para vender suas cervejas, pois este se tornou o novo point do centro de Manaus!

Fotos: José Rocha. Pela manhã de domingo, reina a calmaria no local, muito diferente do que ocorre à noite.








sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Tiko Ramos do Igarapé de Manaus

 



Por José Rocha

Tiko nasceu, cresceu, casou, teve filhos e netos, sempre residindo na Rua Igarapé de Manaus. Esse local também faz parte das minhas lembranças de infância, assim como dos meus irmãos.

Ele era filho do Senhor Luiz e tinha cinco irmãos: Carlos, Roberto, Aluísio, Ademir e Edson. Sua família era uma das mais tradicionais da nossa rua.

Tiko era conhecido por seu senso de humor afiado e suas piadas únicas. Nos sábados, a turma antiga se reunia no Bar da Sogra, do Afonso Toscano & Conceição, na esquina da Rua Huascar de Figueiredo com a Avenida Joaquim Nabuco. Ali, além de beber e jogar conversa fora, todos se divertiam com as piadas do Tiko. Isso incluía as da velha guarda do Igarapé de Manaus, dentre eles de meu pai, o luthier Rochinha, um conquistador inveterado.

Seu irmão Aluísio, um habilidoso técnico em edificações, montou um circo no quintal de sua casa, tendo o Palhaço Tiko como atração principal. Eu e meus irmãos também participamos desse empreendimento, sendo conhecidos como “Os Irmãos Borracha” devido às nossas habilidades em contorcionismo.

Na minha juventude, trabalhei na Braga & Cia, que hoje é o Supermercado DB da Eduardo Ribeiro. Lá, tive a oportunidade de colaborar com Tiko Ramos, despachando mercadorias e veículos.

Escrevi um livro de memórias chamado “O Igarapé de Manaus”, onde Tiko aparece em várias passagens. Uma delas é intitulada “Senhor Arthur”. Arthur era proprietário de um boteco que vendia secos e molhados. Ele namorou, casou, morou e criou seus filhos nos fundos do estabelecimento. Arthur era um verdadeiro escravo do trabalho, labutando de domingo a domingo. Diferentemente dos concorrentes, ele não fechava o boteco nem na hora do almoço. Quando alguém entrava, ele acordava da soneca com o barulho do assoalho de tábuas.

Certa vez, Tiko entrou no boteco devagar, pegou uma botija de gás vazia, levantou-a e jogou-a ao chão, gritando:

Tem gás, Seu Arthur? – tentando acordá-lo com muito barulho.

Não tenho, não! - respondeu Arthur ainda meio sonolento. Tiko agradeceu, colocou a botija no ombro e “pegou o beco”.

Dias depois, o Dr. Tiko voltou ao boteco:

Seu Arthur, meu pai está vendendo algumas botijas de gás. O senhor tem interesse em comprar?

Tenho sim, pois as minhas botijas estão desaparecendo!

Não estou vendendo, não, Seu Arthur. Vim devolvê-la, levei na brincadeira. Peço desculpas! – falando meio sem jeito.

Um dos irmãos de Tiko, o médico Roberto, deu a ele a oportunidade de fazer um comercial na televisão para promover seu consultório. Tiko apareceu vestido com avental e estetoscópio no pescoço, simulando uma consulta com um paciente e promovendo a clínica do irmão médico. A partir de então, ele passou a ser chamado pela galera do Igarapé de Manaus como “Doutor Tiko”.

A última vez que conversei com Tiko foi há uns quatro anos. Ele, sempre bem-humorado, compartilhou uma história sobre seu irmão Aluísio:

“Certa vez, Aluísio estava dentro do Bumbódromo de Parintins, na companhia de um vizinho do Igarapé de Manaus, quando este passou mal e foi levado às pressas para o pronto-socorro. De lá, dava para ouvir o início do apresentador do Boi:

"Meu coração é vermelho, hei, hei, hei. De vermelho vive o coração, ê, ô, ê, ô. Tudo é garantido após a rosa vermelhar. Tudo é garantido após o sol vermelhecer. Um, Dois, Três e Já!

Aluísio começou a chorar copiosamente quando o médico falou:

Não chores, seu filho ficará bom logo! – tentando tranquilizá-lo.

Ele não é meu filho, não! Estou chorando por não estar dentro do Bumbódromo vendo a apresentação do meu boi do coração!”

Segundo Tiko, certa vez fez um pedido ao seu irmão:

Quando eu morrer, não quero choro nem velas no meu velório, apenas fitas encarnadas gravadas com o nome do meu boi. Não quero coroa com espinhos, apenas repique e o surdo a rufar da minha Batucada, com toque da caixinha, para encher de alegria e fazer balançar os presentes na minha despedida! Meu caixão deverá ficar em pé, amarrado na parede para não cair, vestido com a camisa do Boi do Povão e um Cocar do Pajé. Nada de café com bolacha de motor. Todos bebendo cerveja e dançando toadas de boi, do Garantido, é claro!"

O tempo passou, e Tiko continuou apaixonado pelo Vasco da Gama, motocicletas de altas cilindradas, cachorros grandes de raça, pela mulher, filhos, netos e pelos amigos de infância do Igarapé de Manaus. Hoje, aos setenta anos, partiu para o andar de cima, deixando saudades nos corações dos amigos do Igarapé de Manaus e de sua amada família. Que Deus o tenha ao seu lado, meu amigo Tiko Ramos.

Foto: Tiko cabeça branca sem camisa a esquerda, com a galera do Igarapé de Manaus, brincando o carnaval.