sábado, 1 de julho de 2023

O Dr. Josias Figueiredo, o Capa Onça

 

Trecho do livro "Bar Caldeira - História & Tradição, Jose Rocha"

Ele morava na Rua José Clemente, próximo ao Salão Grajaú.

Foi Diretor do Colégio Estadual (Praça da Polícia) e funcionário da Petrobrás onde se aposentou. Foi também advogado, formado pela

antiga UA (atual UFAM), militando anos na profissão.

Gostava de tomar cerveja e tirar gosto com conhaque (para

abrir o apetite). Era fumante inveterado, tanto que tinha

aquele pigarro característico. Vez e outra dava umas tossidas

altas e uma cusparada no meio da rua. Até aí tudo bem para

um boêmio que gosta de fumar o seu cigarrinho. No entanto,

o que mais chamava atenção era aquele apelido estranho de

“Capa Onça”. Todo mundo tinha medo de chamá-lo pela

alcunha, pois o sujeito que teve a coragem de pegar uma

onça pelo braço, imobilizá-la e arranca-lhe os seus culhões

(testículos) com uma faca peixeira, deveria ser realmente,

uma pessoa muito valente e brava. Quem iria se atrever a

capar uma Onça? Ninguém. Com exceção do Dr. Josias

Figueiredo! Se ele fez isso não sabemos, mas o apelido

vingou. Eu somente ouvia a Dona Maria chamá-lo pelo

apelido. Meu Deus! Ele gostava de conversar comigo e com o

meu irmão Rochinha, pois fomos contemporâneos dos seus

sobrinhos Adelson e o Aldenor Fiqueiredo, no Igarapé de

Manaus. Sempre tinha razão, não adiantava argumentação,

sem chance para o contraditório na mesa de bar. Tinha um

vozeirão que metia medo. Sempre bebia sozinho no balcão e

não era de papear muito com os outros frequentadores.

Certa vez, passou por lá um vendedor com um carrinho de

mão cheio de melancias. O Dr. Josias pegava uma por uma e

batia com os dedos fechados e ficava ouvindo o som,

escolheu uma bem grande e a mais cara. Falou bem alto

para todo mundo ouvir:

- Sou nascido e criado no interior, no meio das plantações de

melancias, conheço como a palma da minha mão, só na

batida sei se está boa ou não, malandragem da capital

não me ganha, não!

Pagou e foi deixar a bendita melancia em sua residência

(ficava quase em frente ao bar) e voltou para reiniciar os

trabalhos. O vendedor “pegou o beco” depois da venda.

Minutos depois, veio a empregada e jogou a melancia na

calçada, foram pedaços para todos os lados, ficou assustado

com aquilo e ela falou bem alto para todo o quarteirão ouvir:

- Doutor Josias, a patroa mandou jogar aqui, pois está

melancia está podre!

- Puta que o pariu! Foi a primeira vez na vida em que errei!

A galera neste dia não liberou, começou a rir da presepada

do Dr. Capa Onça. Segundo o Adriano Cruz, ele tinha a cara

de mau, valentão e que gostava de discutir de tudo e com

todos, mas no fundo era uma pessoa de bom coração.