Durante longos e longos anos, desde a minha juventude, ouço o badalar dos sinos da igreja de São Sebastião, algumas pessoas dizem que ele possui toda uma significação, então, vamos procurar entendê-los.
Dispara em quinze e quinze minutos, com um som mais forte significando as horas e, um mais fraco para a quinzena de minutos – por utilizar a forma PM (12/12 horas), uma abreviatura de post meridiem, o mais longo é exatamente às 12h45min, com doze fortes e três fracos.
Sempre estou transitando pelo Largo de São Sebastião, observo que os turistas ficam surpresos com o badalar dos sinos, pois juntamente com o Teatro Amazonas, a Praça de São Sebastião e pelo Largo, aquele som dar um encanto todo especial ao local.
A igreja possui apenas um sineiro com quatro sinos, dizem que o outro nunca fora construído em decorrência da verba ter acabado antes da entrega das obras, outros, falam que, o mestre de obra fugiu com a grana e, alguns afirmam que ele vinha da Europa e afundou num navio – não sei qual é a versão correta, mas, fico a imaginar se a igreja tivesse as duas torres, com dois sineiros, a história seria outra, com oito sinos a badalar dia e noite.
Este sinal sonoro era utilizado, antigamente, para alertar as pessoas que moravam nas proximidades da igreja e que não possuíam relógios, podendo, dessa forma se programarem em suas rotinas diárias e, para assistirem às missas dentro dos horários estabelecidos pela igreja.
Sou da segunda metade da década de cinquenta, quando a cidade de Manaus ainda era pacata, com pouca gente nas ruas, um reduzido numero de automóveis, da época quando ainda dava para se ouvir o apito de um guarda noturno, a sirene de uma fábrica chamando os seus funcionários e, por um raio muito grande, o badalar dos sinos da Igreja de São Sebastião – quando nasci, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, a minha saudosa mãezinha, a dona Nely Fernandes, falou-me certa vez que, quando eu estava vindo ao mundo, estavam batendo os sinos, anunciando às doze horas e quinze minutos da madrugada.
Ao meio-dia dispara as doze badaladas, em seguida, toca um pequeno trecho de uma música especial, este horário é especial para os católicos, pois é a hora de orar e agradecer pelo alimento que estar à mesa - a mesma coisa acontece às seis da tarde, quando inicia a noite, a hora de jantar e, os católicos se benzem e fazem uma oração em homenagem a Nossa Senhora, a mãe de Jesus Cristo.
Aos domingos, por ser o “Dia do Senhor” para os católicos e, por ser uma tradição assistir às missas bem cedo pela manhã, o badalar é alto e bem ritmado - por ser um dia calmo e tranquilo, é possível ouvi-lo num raio bem maior, provocando um conforto espiritual muito grande na comunidade católica – este badalar dominical é comum em todas as igrejas, tanto nas catedrais das capitais, como nas capelas das pequenas cidades do interior.
Quando é exatamente quinze para as seis da tarde, solta um ensurdecedor badalar, chamando os fiéis para a santa missa do início da noite.
Certa vez, estava em companhia de um amigo, o publicitário Luiz Carlos, conversando em uma mesa do Bar do Armando, quanto toca o seu telefone celular, notou que era a sua esposa e, foi logo mentindo: - Tudo bem, meu amor! Estou bem aqui no bairro do Coroado, acabando de fechar aquele negócio! Neste momento, dispararam os sinos da igreja, pois eram 05h45min e, a esposa logo desconfiou: - Fechando negócio no Coroado, conta outra, estou ouvindo neste momento os sinos da igreja de São Sebastião, você está é bebendo no Armando! Sem argumentos, pois fora entregue pelos badalar dos sinos, o jeito foi ouvir bem caladinho, os ralhos da patroa.
Quando alguém muito importante da cidade falece, bem como, com o suspiro final de algum membro da congregação dos padres capuchinhos, o badalar é diferente, um tanto fúnebre, com toques do sino durante todo o dia – no dia em que faleceu o Armando Soares, proprietário do Bar do Armando, os padres fizeram uma homenagem a ele, com os sinos anunciando a sua passagem para o andar de cima.
Passou o tempo em que ficava sempre alguém de plantão para tocar o sino, hoje, tudo é baseado em uma programação de computadores, disparando os badalos sempre no horário certo – na minha juventude e de muitos manauaras que curtiram esta cidade, tínhamos um gosto todo especial em subir a torre da igreja e ajudar nas badaladas do sino, principalmente, quando era o dia de homenagem a São Sebastião.
Hoje, é o dia do nosso padroeiro,o santo guerreiro da igreja católica – que batam os badalos dos sinos da Igreja de São Sebastião de Manaus! É isso ai.
Fotografias: J Martins Rocha
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