quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O DELEGADO DO DIABO


 Por José Rocha

Na Manaus de antigamente, conhecíamos praticamente todas as autoridades pelo nome — entre elas, os delegados de polícia. Um deles entrou para a história como o “Delegado do Diabo”.

Para os mais jovens, que não sabem nem o nome do secretário de Segurança Pública e muito menos dos delegados atuais, soa estranho ouvir que, em Manaus, havia um homem da lei apelidado de “Delegado do Diabo”. Com razão: a princípio, dá a impressão de que ele teria feito pacto com forças malignas.

Nada disso, meu jovem! Estamos falando de José Ribamar Soares Afonso — paraense, bacharel em Direito, assistente social, jornalista e um verdadeiro maníaco por quadrinhos, um gibiófilo.

Ele morava na Avenida Getúlio Vargas, número 193, e foi casado com a professora Heloisa Helena Antony Afonso, com quem teve duas filhas: Adriana Eugênia e Viviane.

No jornalismo, passou por A Gazeta, O Jornal, Diário da Tarde e Diário Carioca, do Rio de Janeiro — trabalhando em todos até o fechamento.

Quando menino, José Ribamar abriu pela primeira vez uma revistinha Tico-Tico, em 1947, e levou uma bronca da mãe: “Larga isso, menino, é coisa do demônio”. Mas ele não obedecia e continuava lendo as “coisas do Satanás” no banheiro e nas matinês dos cinemas Polytheama e Guarany, que ficavam próximos à sua casa.

Naquela época, considerava-se que essas obras podiam distorcer a personalidade em formação das crianças, por isso professores as proibiam — e sua mãe não o deixava ler tais gibis.

Sem exagero, José Ribamar chegou a ter a maior coleção de quadrinhos da América Latina, com mais de três mil volumes encadernados. Viajou a Portugal, Espanha e França para participar de exposições e adquirir exemplares. Era amigo do radialista Joaquim Marinho, outro grande colecionador da cidade.

Mas por que o chamavam “Delegado do Diabo”? Boa pergunta, que merece resposta.

Ele fez curso de Polícia e Trânsito nos Estados Unidos e ganhou fama nacional ao desvendar o massacre da expedição do padre Calleri pelos índios Waimiri-Atroari.

O apelido, porém, veio de um fotógrafo do jornal A Crítica, Irandi Ferreira. Por ser rigoroso no cumprimento da lei e enérgico em seus plantões — sempre que ele assumia, surgiam crimes dos mais horrendos —, o fotógrafo achou que ele tinha “parte com o diabo”.

José Ribamar adorava diligências policiais e era considerado um “maluco” por impor ordem em Manaus de 1968 a 1979 sem disparar um único tiro. Combatia sem trégua o violento mundo da marginalidade. No DETRAN, chegou a esvaziar centenas de pneus de motoristas infratores. Eita!

Que história doida, não é mesmo?

Após aposentado, voltou a cavalgar o velho Oeste ao lado de Kid Colt, Zorro e Tecas; cortou a galáxia nas naves de Flash Gordon; e perambulou pelas ruas de Gotham City, sempre na esperança de encontrar Batman e Robin em ação — nada era impossível para um colecionador de gibis.

Em 1980, a comunidade reconheceu seu trabalho: o “Delegado do Diabo” recebeu o título de Cidadão de Manaus, em propositura do vereador Walter de Miranda Freitas (PDS).

Segundo o nobre vereador, José Ribamar foi um homem íntegro, muitas vezes injustiçado como delegado-geral de Polícia, pois tornou a instituição mais eficiente e proveitosa para a segurança e tranquilidade da comunidade. Não dava colher de chá aos bandidos e combatia a corrupção, gerando inimizades e despeitos.

O tempo passou, a cidade cresceu, o trânsito ficou infernal e a criminalidade, descontrolada — faz muita falta, com certeza, a figura do “Delegado do Diabo” para colocar ordem em Manaus.

Fontes: Jornal A Crítica e Jornal do Comércio

Foto: Jornal A Crítica



quarta-feira, 17 de setembro de 2025

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Vamos juntos.







ÁRIA RAMOS SUBINDO AO CÉU – AMOR E TRAGÉDIA EM 1915 Trecho do meu livro – José Rocha

 



 

“...Para coroar a vitória do nosso desfile na Avenida Eduardo Ribeiro, o grupo marcou um grande baile na noite da terça-feira Gorda de Carnaval, alugando o Grêmio Recreativo Ideal Clube, sede do antigo Clube Internacional, autorizados pelos diretores Desembargador Franklin Washington de Sá e Almeida e José Lourenço Barroco, pois já haviam comemorado o seu famoso Baile de Carnaval no Sábado Gordo – ficava nos altos de um bonito prédio situado na Rua Henrique Martins, 23, esquina com               a Avenida Eduardo Ribeiro, anos antes de ser transferido para o local definitivo na Avenida Ribeiro com a Rua Monsenhor Coutinho.

 

Cheguei ao Ideal Clube em companhia de meu pai Lourenço Ramos e minhas duas irmãs Celeste e Pátria Ramos, no início da noite, para um jantar requintado, com um bufê composto por uma variedade de pratos que destacavam a influência europeia, especialmente francesa, e ingredientes locais exóticos. Esse banquete servia para demonstrar o poder e a riqueza da elite local, pois, apesar de a decadência começar a aparecer, mostrava o estilo de vida sofisticado e cosmopolita que parte da sociedade ainda possuía.

 

O clube estava rigorosamente decorado para o evento, deslumbrando a todos com a beleza das cores, excedendo a luminosidade das luzes, com lustres de cristal, lâmpadas e luminárias importadas no estilo ‘art nouveau’.  Havia a Sala de Baile bem espaçosa, com pista de dança e palco para os músicos da orquestra. Esses elementos criavam um ambiente de luxo e sofisticação, refletindo a riqueza e a influência cultural europeia na sociedade manauara da época, imperando o requinte e a beleza das damas adornando a coreografia. Tudo era felicidade e harmonia, muitos fantasiados e mascarados, com coros de gargalhadas.

 

Após o banquete, iniciou-se um baile animado pela melhor orquestra da cidade, formada por músicos da Orquestra do Cinema Odeon, da qual eu fazia parte, mas naquele dia eu estava ali apenas para me divertir com os meus familiares e amigos. Esta orquestra era a mais afinada, harmoniosa e com o maior número de figurantes, tocando músicas que estavam mais em evidência, com maior destaque para as ‘Polcas’, uma dança e música de salão originária da Boêmia e modificada no Brasil para o Chorinho.          

 

E por último, a enternecedora, que toca, enternece e sensibiliza, a ‘Valsa’ ‘Subindo ao Céu’, do brasileiro Aristides Manuel Borges, uma música instrumental, sendo uma partitura focada nos arranjos e melodia executada pelos instrumentos musicais - essa me marcou profundamente e foi aquela pela qual serei lembrada por várias gerações de amazonenses.

 

Eu vestia uma túnica de Musa da mitologia grega, longa e volumosa, branca, confeccionada com tecido fino de seda e linho, rendas, ajustada à minha cintura com um fio, criando uma silhueta charmosa, mangas justas até                o cotovelo. Não usava chapéu, um acessório que era essencial para as mulheres da alta sociedade, e com os meus cabelos castanhos soltos, usando uma sapatilha branca amarrada sob uma meia longa, feita sob medida, combinando com o meu traje elegante e sofisticado, um vestuário que era influenciado pelas tendências europeias da época.

 

Como eu era uma pessoa que havia caído no gosto dos Paladinos, sendo a sua estrela maior naquele baile. Por ser considerada de uma beleza estonteante e sendo muito gentil com todos, despertei uma ciumeira entre os fãs apaixonados. Todos olhavam para mim, desejando dançar uma parte e a todos gentilmente atendia, com gestos brandos, maneiras polidas, espírito fino e um sorriso meigo, eu era considerada a estrela maior da festa. Dancei primeiro com o Antônio Craveiro, um amazonense de vinte dois anos, o qual tínhamos pretensões de casamento, após dançarmos sentei à mesa onde estava Mário Travassos, um paraense de dezesseis anos, o que provocou um pouco de ira nele, pois havia entre os dois uma condição de inimizade por desavenças em partidas de jogos de futebol.

 

Neste interim, apareceu na festa um inglês chamado George Fenthon, um gringo dos olhos azuis e cabelos loiros, um pouco mais velho do que eu; ele trabalhava numa empresa inglesa chamada de Manáos Harbour, que administrava o Roadway - ele era muito conhecido e querido pela nata da sociedade manauara. Ficou encantado com a minha beleza, trazendo um copo de água e pediu gentilmente para dançamos, ao qual aceitei de pronto o convite, de repente, parou de dançar e, como eu era de todos conhecido pelos meus dons musicais, fui convidada pelo grupo de amigos que compunha a orquestra para me apresentar com eles, tocando em meu violino a valsa ‘Subindo ao Céu’, talvez um prenúncio de que algo tão terrível iria acontecer comigo em seguida.

 

Após a minha apresentação, voltei à mesa, onde ri e me diverti com outro fã, o Ilydio Barroco, um português da firma Barroco & Cia., quando se aproximou o jovem Mário Travassos, filho do Coronel Antônio R. de Souza, pedindo uma luva que havia esquecido em cima da mesa. Era o final da festa, aproximadamente umas duas horas da manhã de quarta-feira de cinzas, trazendo consigo um momento sinistro, selando o destino cruel da minha vida naquela noite encantadora. Fui atingida pelo disparo de um revólver, vindo do jovem Mário Travassos, que o empunhara de forma estúpida e desequilibrada. Nem todos ouviram aquela detonação, pois achavam que era o estourar de mais um champanhe ou o estampido de lança-perfume quebrado. No entanto, todos se calaram quando ouviram o meu ‘aí’ bem alto. Todos correram e me encontraram curvada sobre a cadeira, com a cabeça apoiada sobre a mesa, além de bastante sangue em meu vestido próximo à minha região pélvica. Houve um pânico, medo e uma correria geral. Meu pai, em choque, correu até a mesa onde eu estava. Colocou as mãos na cabeça, balançando de um lado para o outro, ajoelhou-se e chorou desesperadamente, exclamando: “Meu Deus, o que fizeram com a minha amada filha!” Minhas duas irmãs, em um estado de pânico absoluto, gritavam pelo salão do baile, incapazes de acreditar no horror que estavam presenciando. A cena de desespero da nossa família foi tão intensa que muitas pessoas ao redor começaram a chorar, comovidas pela tragédia que havia se abatido sobre uma pessoa tão querida e amada por todos os presentes na festa....”


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domingo, 14 de setembro de 2025

INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT


Por José Rocha

No dia 9 de julho de 1984, o jornal A Crítica publicou em duas páginas inteiras um artigo do escritor e artista plástico Moacir de Andrade, intitulado “Instituto Benjamin Constant – 1884-1984”, um excelente trabalho de pesquisa dos cem anos do nosso querido IBC.

O imóvel pertencia ao coronel Leonardo Marques Brasil, conhecido como Barão de São Leonardo. Ele construiu ali a Chácara de São Leopoldo e, em seguida, vendeu o palacete ao governo do Estado do Amazonas, na época de Theodoro Souto, para abrigar o Museu Botânico do Amazonas, idealizado pelo botânico Joaquim Barbosa em 1884 e encerrado em 1888 para tornar-se o Asilo Orfanológico do Amazonense (Lei n.º 641, de 02/01/1884), depois denominado Elisa Souto.

O governador Eduardo Ribeiro transformou o Asilo Elisa Souto no Instituto Benjamin Constant, por meio da Lei n.º 11, de 20/04/1892, para oferecer instrução primária e, sobretudo, educação moral e doméstica às meninas órfãs.

O governador batizou o instituto em homenagem ao seu mestre e amigo Benjamin Constant, a quem admirava profundamente como militar e fundador da República do Brasil. Ele também recebeu homenagem no nome da Terceira Ponte da Sete de Setembro, a Ponte Benjamin Constant.

O primeiro diretor foi o Dr. Luiz Duarte da Silva. Ele contratou a Congregação das Filhas de Sant’Ana, confiando-lhes, sob termos legais entre o governo e a irmandade, os serviços administrativos — acordo assinado em 04/05/1892 pelo próprio governador e pela soror Ana Victoria Anchetti, e meses depois enriquecido pela chegada de outras irmãs diretamente da Itália. No ano seguinte, o Instituto já ganhava a admiração e o respeito da sociedade manauara.

Com o passar dos anos, o número de internas aumentava e o obrigava o governo estadual a ampliar constantemente as instalações do prédio. Em 29/07/1929 foi construída uma capela com a imagem de Nossa Senhora de Sant’Ana, padroeira do Instituto e da irmandade. No governo do Dr. Durval Pires Porto, foi erguido um edifício para fins teatrais.

Todos os governadores que se sucederam e as famílias da melhor sociedade sempre apoiaram o trabalho das irmãs no IBC. Um dos maiores benfeitores foi o Dr. Luiz Maximino de Miranda Corrêa, principal diretor da Fábrica de Cerveja Miranda Corrêa — ele residia num palacete que foi demolido para dar lugar ao edifício que leva seu nome na Avenida Eduardo Ribeiro. O governador Álvaro Maia, além de político, era escritor e poeta, e colaborou intensamente com o IBC.

Apesar do apoio, as despesas eram muito altas, pois o número de internas crescia sem parar. Isso levou o governo a criar um pensionato, cujas candidatas tinham de pagar mensalidades.

Um fato curioso: uma das alunas, Eunice Menezes Jackmont, tornou-se freira da Congregação das Filhas de Sant’Ana, recebendo o nome de Soror Argênia Jackmont (da família do artista plástico Jair Jackmont). Ela foi professora no IBC e, depois, superiora do Hospital Santa Casa de Misericórdia.

As irmãs confeccionavam os mais belos vestidos de noiva das famílias ricas de Manaus, além de todo o enxoval, produzidos com esmero e dedicação. Eram verdadeiras obras de arte que despertavam a curiosidade da população. Também preparavam bolos de aniversário e de casamento e doces para os grandes eventos sociopolíticos, sempre com o auxílio das alunas internas.

A melhor Banda-Música de Manaus pertencia ao IBC. Desfilava nos dias 5 e 7 de setembro, vestindo saias vermelhas e blusas creme. Tão bem ensaiadas, muitas vezes era confundida com a banda da Polícia Militar ou do 27º Batalhão de Caçadores — tamanha era a beleza e a harmonia com que executavam as marchas militares, arrancando aplausos da multidão em ambos os lados da avenida Eduardo Ribeiro.

Todas as internas faziam parte da Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus; havia também a Liga dos Benjamins e Tarcísios do Sagrado Coração de Jesus. A disciplina era rigorosa: acordavam às 5h30, tomavam banho, vestiam o uniforme e seguiam para a capela, onde assistiam à Santa Missa — comungavam e confessavam em jejum. Em seguida, iam ao refeitório e, às sete em ponto, começavam as aulas, que se estendiam até as 11h. Após o almoço, às 12h, tinham lazer até as 13h, quando se dirigiam às salas de ofícios domésticos, de acordo com suas aptidões: música, pintura em tela, coral, datilografia, ginástica, teatro, corte e costura, bordados, arranjos florais e demais trabalhos domésticos — exceto lavanderia, que contava com funcionários pagos pelo governo.

Havia um dia de festa especial: 26 de julho, dedicado a Nossa Senhora Sant’Ana. Nesse dia não havia aula e tudo recebia um tratamento solene. O Instituto era enfeitado para receber familiares e amigos — as alunas penduravam cortinas bordadas em todas as janelas. Durante o dia, desfrutavam de doces, refrescos e sorvetes oferecidos pelos benfeitores. À noite, as melhores recebiam prêmios e assistiam a peças literomusicais.

O governador Plínio Coelho trabalhou incansavelmente pela melhoria do IBC, mas foi Gilberto Mestrinho quem ficou conhecido como “o namorado do colégio” pelos inúmeros serviços prestados. Ele construiu várias salas de aula, que com entrada pela rua Tapajós ficaram conhecidas como bloco Antenor Sarmento Pessoa.

Em 1963, encerrou-se o externato, permanecendo apenas as meninas internas — era o início do fim do internato, que durou oitenta anos de grandes benefícios ao Amazonas, sendo extinto em 1968. No ano seguinte, o IBC começou a aceitar alunos do sexo masculino pela primeira vez em sua história.

A partir de 1972, por meio da Resolução n.º 5 da Secretaria de Educação do Amazonas, o IBC tornou-se a Unidade Educacional Benjamin Constant. De 1998 a 2003, funcionou como Centro de Informática Benjamin Constant (Ceinfor). A partir de 2003, passou a ser o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), oferecendo cursos técnicos e de qualificação profissional. Na rua Tapajós ainda existem duas escolas estaduais: a Escola Estadual Professor Antenor Sarmento Pessoa e a Escola Estadual Frei Silvio Fagheggy.

O artigo de Moacir de Andrade, ao celebrar os cem anos do IBC, me chamou muita atenção. Tenho lembranças vivas daquele tempo em que fui aluno do Instituto: jogava bola na quadra, escapava nos finais de semana com a molecada da rua Tapajós para tomar banho num poço artesiano e colher frutas — e sempre era corrido pelo bedel quando nos pegava. Essas memórias fazem parte da minha história e guardo cada detalhe com carinho.

Passados 141 anos, o prédio principal do IBC continua firme e forte, tombado pelo IPHAN. Ele permanece para a posteridade e, acima de tudo, segue formando novas gerações de amazonenses.

Fontes:

Jornal A Crítica

Secretaria de Educação

BLOGDOROCHA

Livro ‘A Vila Paraíso, José Rocha’

Fotos:

Jornal A Crítica/Acervo Moacir de Andrade










sábado, 13 de setembro de 2025

AVIÃO DA PRAÇA DA SAUDADE

 


Por José Rocha

Quem foi pai, mãe, criança ou adolescente na segunda metade da década de setenta jamais esquece a emoção que despertava a novidade na Praça da Saudade: o famoso Avião da Praça da Saudade.

Era véspera de Natal de 1977 quando um imponente DC-3 foi montado ali, ao lado da Avenida Ramos Ferreira, bem em frente ao atual prédio da Caixa Econômica Federal. Ao seu lado, uma placa comemorativa trazia estes versos: “A presença discreta e silenciosa desta aeronave na principal Praça de Manaus, com sua proa voltada para os céus, relembra não apenas as realizações da ‘Cruzeiro’, mas também de suas coirmãs ‘Varig’ e ‘Tropical Hotel’, vindas do sul longínquo para a Amazônia. Esses gestos simbolizam o amor e a solidariedade humana, tão propícios de serem evocados. Nesta véspera de Natal, data felizmente escolhida pela dinâmica administração da Prefeitura de Manaus, realizamos esta inauguração. 24/12/1977.”

O prefeito daquele período era o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, o “Teixeirão”, que governou Manaus de 7 de abril de 1975 a 21 de março de 1979, nomeado pela ARENA — sucedendo Frank Abrahim Lima e antecedendo José Fernandes.

Na juventude, tive o privilégio de entrar naquele avião pela primeira vez. Anos depois, levei meus filhos pequenos para reviverem o mesmo encanto. A Praça da Saudade transformava-se em ponto de encontro para turistas e moradores, sempre lotada aos finais de semana, tomada por risos, brincadeiras e olhares curiosos para a cabine de pilotagem.

Por sete anos, aquele DC-3 foi o cartão-postal maior da nossa cidade, até que, em 24 de maio de 1984, a comoção tomou conta de todos. A população, indignada, assistiu ao desmanche que arrancou o trem de pouso e as rodas — retirados pela empresa Rico Táxi Aéreo — e, em seguida, viu o resto da fuselagem ser fragmentado a machado e marreta por operários contratados por ferros-velhos. Parecia uma produção incansável: não houve pausa nem para um último olhar.

Jovens pulavam, gritavam e protestavam, mas não conseguiram evitar o fim daquele símbolo. Com esforço, moradores conseguiram resgatar a placa de doação e uma das portas, guardando-as como relíquias de um tempo em que a praça era palco de sonhos. Todos apontaram o então prefeito Amazonino Mendes como responsável: ele autorizara o desmonte sem ouvir a comunidade e deixara de escalar um guarda municipal para proteger o DC-3 dos vândalos.

A foto publicada no jornal A Crítica, em 24 de maio de 1984, imortalizou o instante em que os operários destruíam o Avião da Praça da Saudade. Hoje, a nossa praça jaz esquecida: não há mais risos infantis nem curiosos passeios em volta da cabine. À noite, abriga apenas moradores de rua e sombras solitárias, um silêncio que dói na memória de quem viveu dias tão vibrantes.



quinta-feira, 11 de setembro de 2025

MANAUS, 1956


Em homenagem a um grupo de amigos que, em sua juventude, integraram a Juventude Franciscana do Amazonas (JUFRAMA), da Paróquia de São Sebastião, realizei uma pesquisa em jornais datados de 1956 — ano de nascimento da maioria deles. A ideia é publicar doze postagens, uma a cada mês de 2016 (se Deus quiser), destacando os principais acontecimentos daquele ano marcante.

Novos Rumos para o Brasil Juscelino Kubitschek e João Goulart assumem hoje a Presidência e Vice-Presidência da República. Tomam posse em meio a apreensões e esperanças de um povo que anseia por paz e tranquilidade, livre de emboscadas sinistras. Que Deus, em quem o povo brasileiro deposita sua fé, os ilumine nesta hora decisiva, guiando-os pelo caminho da Justiça, Humanidade, Trabalho e Harmonia.

Instituto Christus do Amazonas A diretoria comunica às famílias que solicitaram reserva de matrícula, aos interessados em ingressar e aos pais dos alunos do ano anterior, que estão reabertas as matrículas para o ano letivo de 1956.

Teatro Cultural para Crianças Um grupo de abnegados realiza uma magnífica iniciativa para difundir a arte de Thalia entre a sociedade amazonense. Movimentos que promovem o desenvolvimento cultural devem ser celebrados como grandes conquistas, cujos frutos serão reconhecidos pelas gerações futuras. Os responsáveis são quatro paladinos do nosso teatro: Danilo Silva, Reginaldo Xavier, Américo Alvarez e Alfredo Fonseca.

Comercial: Dr. Avelino Pereira Especialista em exames, tratamentos e cirurgias de olhos, ouvidos, nariz e garganta. Consultório: Av. Sete de Setembro, 913 (Altos da Papelaria Velho Lino). Residência: Av. Leonardo Malcher, 742.

Polêmica sobre Máquinas Japonesas Críticas surgem quanto à aquisição de maquinário japonês para a construção da estrada Manaus-Itacoatiara. O Sr. Monteiro, da COMARSA, questiona a garantia e solidez dos equipamentos. Já o Sr. Emídio Vaz D’Oliveira, representante da indústria japonesa, rebate as críticas. O governador Plínio Coelho reafirma sua confiança na empresa e no material.

Nelson Rodrigues: A Vida Como Ela É Tragédia, drama, farsa e comédia ganham vida nas crônicas de Nelson Rodrigues: O Marido Desempregado, O Vadio, Nome de Mulher.

Novo Pavilhão Inaugurado A Colônia Eduardo Ribeiro inaugura novo pavilhão destinado ao tratamento de psicopatias femininas.

Opinião Popular sobre Plínio Coelho Apesar das dificuldades enfrentadas, o povo reconhece os esforços do governador Plínio Coelho, que, com honestidade e sinceridade, busca cumprir as promessas de campanha. (Depoimento do deputado Xenofantes Antony)

Comercial: Lóide Aéreo Viaje para diversas capitais com 25% de desconto em relação aos voos “Constellation”.

Ameaça da Inflação Especialistas alertam: a inflação poderá neutralizar os efeitos do novo salário mínimo.

Comercial: CREDI-PANAIR Viaje agora e pague depois! Plano inovador que permite realizar negócios ou levar a família de férias. Informações: Rua Guilherme Moreira, 312. Tel: 2719.

Crise Energética Duas máquinas em revisão dificultam o fornecimento de energia à cidade.

Darclei de Paula Eleita Rainha dos Estudantes Secundaristas do Amazonas.

Comércio de Guaraná Grande firma do Mato Grosso pretende adquirir 120 mil quilos de guaraná em pó do Amazonas.

Flaviano Limongi Conhecido como “Artilheiro” das rodas esportivas de Manaus, embarca hoje para o Rio de Janeiro, onde desfrutará merecidas férias.

Maués em Festa A população vibra com a posse do novo prefeito, Sr. Vinicius Conrado, em cerimônia realizada no dia 18.

Firma do Pará Vence Licitação Empresa paraense vence concorrência para construção da estrada Manaus-Itacoatiara.

Associação Médica Hoje, no edifício IAPETEC, ocorre a Assembleia Geral da Associação Médica, presidida pelo Dr. Djalma Batista.

FESTA DA MOCIDADE – Amanhã! Atrações: Raul Duval (tangos), Malena (dança), Roberto Carú (bandoneon), e o espetáculo Macumba em Luz Negra. Ingressos na Difusora.

Cartaz do Dia – Cinemas de Manaus

Cine Avenida: A Espada dos Mosqueteiros

Cine Guarany: Flamengo x Bangu, Escravo de Si Mesmo, A Carrocinha

Cine Vitória: As Três Perfeitas Casadas

Cine Ideal: A Orquídea

Cinema Odeon: Lua de Mel Agitada

Cine Politeama: O Circo da Morte

Cine Eden: Areias Ardentes, O Circo da Morte

Cine Popular: Um Homem e Dez Destinos

Instituto Montessoriano Álvaro Maia Matrículas abertas para crianças com deficiência auditiva, visual, motora e intelectual. Supervisor: André Araújo.

Artigo: Blefe ou Fiasco em Nova Olinda? Por João Malato.

Contrabando de Pau-Rosa Descoberto nos escombros do navio “Veloz”, abalroado no Rio Negro, um contrabando disfarçado como Copaíba.

Carnaval no Parque 10 Ambiente agradável, orquestra animada, bebidas refinadas e alegria contagiante.

Panificação Irregular Professor Bastos Lira denuncia à CPI irregularidades nas casas de panificação quanto à legislação vigente.

Grace Kelly e Mônaco A estrela de Hollywood pode ser a salvação do Principado de Mônaco.

Salários Congelados “Barnabé não é bode expiatório nem tem vocação para fakir!” – protesto contra o congelamento de vencimentos.

Poço de Petróleo Entupido Problemas no poço pioneiro de Nova Olinda.

Esportes

Rio Negro x Nacional: início do returno do basquete.

Ken Norris: herói da São Silvestre.

Flamengo: campeão do Torneio Internacional.

Seleção Brasileira de 1955 em destaque.