quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Edifício Aruba – O Primeiro da Ponta Negra


 


Crônica de José Rocha

No final da década de oitenta, quem fazia parte da classe média alta de Manaus sonhava em morar num edifício de frente para a Praia da Ponta Negra, desfrutando do mais bonito pôr do sol do mundo, cercado pela natureza amazônica.
Pois esse sonho começou a se tornar realidade com a construção do Edifício Aruba.

O nome, escolhido pela construtora Rayol Ltda., não foi por acaso. “Aruba” é uma ilha paradisíaca no sul do Mar do Caribe, conhecida pelo clima seco e ensolarado, pelas praias de areia branca e pelas águas azul-turquesa — um verdadeiro paraíso apelidado de “Ilha Feliz”.

E a nossa Ponta Negra? Situada na zona oeste de Manaus, afastada do centro, também é um lugar de clima quente e ensolarado, com uma imensa praia de areia branca e águas escuras e doces do Rio Negro. Um dos principais cartões-postais da capital amazonense, onde a natureza exuberante se encontra com a urbanidade moderna. Um orgulho para todos os manauaras.

Foi, portanto, um casamento perfeito: o primeiro edifício da Ponta Negra recebeu o sugestivo nome de Aruba, a “Ilha Feliz” do Caribe transportada para o coração da Amazônia.

O projeto inicial previa a construção de seis edifícios, formando um condomínio fechado chamado “Ilhas do Caribe”. Os apartamentos seriam amplos — com quatro suítes, varanda, biblioteca, salas de estar e jantar, além de dependências para duas empregadas. O condomínio ofereceria todas as mordomias possíveis: piscinas, saunas, salão de festas, quadras poliesportivas e elevadores panorâmicos.

Morar ali significava status. O conjunto ficava próximo ao luxuoso Tropical Hotel, em uma área ainda pouco urbanizada, mas já valorizada pela paisagem deslumbrante e pela proximidade com o rio.

Porém, nem tudo saiu como planejado. O ambicioso Residencial Ilhas do Caribe teve suas obras interrompidas pela crise econômica, pela inflação galopante e pelas dificuldades financeiras da construtora. O resultado foi um cenário desolador: os blocos inacabados transformaram-se em esqueletos de concreto visíveis da estrada — um símbolo de sonho interrompido.

Apenas o Edifício Aruba foi concluído e entregue aos proprietários, todos nomes conhecidos da sociedade manauara. Um deles era o então governador Amazonino Mendes, que costumava receber autoridades, políticos e celebridades em seu apartamento no sexto andar.

Em 2003, o prédio voltou às manchetes: rachaduras em pilares causaram tremores constantes, assustando os moradores. Muitos venderam seus apartamentos por valores baixos, outros simplesmente abandonaram o imóvel. Após uma série de reparos estruturais, o edifício foi recuperado e voltou a ser valorizado.

Hoje, o pioneiro Edifício Aruba sobrevive entre dezenas de modernos prédios que compõem o skyline da Ponta Negra. Com quase quarenta anos de existência, já carrega as marcas do tempo, mas conserva o charme e a aura de exclusividade que sempre o acompanharam.

Ainda é um objeto de desejo, reservado a poucos que podem pagar por aquele privilégio: viver na esquina da Estrada do Turismo, de frente para a icônica “Prainha”, onde a juventude dos anos oitenta se reunia nas noites quentes de Manaus.

Um edifício, uma época, um sonho que resiste — como um cartão-postal vivo da história recente da cidade.




segunda-feira, 27 de outubro de 2025

🌿De Manau a Manaus: o nome que cresceu com a cidade

 Por José Rocha

Dizem que os nomes têm alma. E se Manaus pudesse falar, contaria histórias de rios, florestas e povos que existiam muito antes de qualquer bandeira tremular por estas terras.

Antes do apito dos vapores, do luxo da Belle Époque e das luzes do Teatro Amazonas, aqui já havia um povo: os Manau, filhos do Rio Negro, guerreiros de tronco Aruaque, donos de uma língua, uma cultura e uma história que o tempo não conseguiu apagar.

Quando os portugueses fincaram o Forte de São José da Barra do Rio Negro, em 1669, eles nem imaginavam que estavam sobre as terras dos Manau. A data virou marco simbólico da fundação da cidade, mas a verdadeira origem vem de muito antes — vem da floresta, dos igarapés e das vozes indígenas que chamavam este lugar de lar.

Com o tempo, o pequeno povoado ao redor do forte foi crescendo, mudando de nome e de rosto. Foi Lugar da Barra, depois Vila da Barra de São José do Rio Negro, Barra do Rio Negro, Cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro… Até que, em 24 de outubro de 1848, o governo imperial elevou a vila à categoria de cidade, batizando-a oficialmente de “Cidade de Manáos”.

A grafia “Manáos” refletia o português do século XIX e aparecia em jornais, contratos e documentos de exportação. Durante o Ciclo da Borracha (1890–1915), o nome brilhou em letras douradas nos papéis da riqueza e do progresso, soando elegante até em francês e inglês.

Mas o tempo, senhor de todas as mudanças, quis aproximar a escrita da fala do povo. Assim, com as reformas ortográficas do início do século XX, o nome foi se transformando, até que, em 1939, passou a ser oficialmente Manaus — simples, sonora, amazônica.

“Manaus” passou a soar como o povo a pronunciava desde sempre, com o mesmo ritmo dos remos cortando a água e o mesmo sotaque caboclo que vem do fundo do peito.

Ainda hoje, sobrevivem vestígios das grafias antigas em nomes de edifício, bairro e estabelecimentos: Manaos, Manáos, Manaós e até Manôa. Todas guardam um pedaço da história e, por isso, continuam certas — porque nome próprio é memória, e memória também é identidade.

Como lembra o professor e antropólogo Ph.D. Ademir Ramos, da UFAM e do Projeto Jaraqui:

“Esse negócio de estipular a data de 1669 como fundação de Manaus é apenas simbólico. A tribo Manau já estava aqui há milhares de anos. Somos filhos de Ajuricaba, o nosso herói, que preferiu se afogar a ser escravizado pelos invasores. Somos manauaras, e não manauenses!”

E é assim que seguimos — filhos de Ajuricaba, netos da floresta e herdeiros do povo Manau.

De Manau a Manaus, o nome cresceu, amadureceu e virou sinônimo de resistência, de identidade e de amor à terra.

Manaus: cidade de alma indígena, coração caboclo e nome que o tempo consagrou.




sábado, 11 de outubro de 2025

O CLUBE ACAPULCO DE MANAUS


 


José Rocha

Os boêmios manauaras mais antigos gostam de relembrar os clubes dançantes e os lupanares (conhecidos popularmente como puteiros) de outrora, onde se bebia sem medida, dançava-se até o amanhecer e “passava-se a régua” nas primas. Entre esses locais de diversão, o Clube Acapulco surge com destaque nas reminiscências da velha guarda. Nos seus primeiros dez anos de existência, foi um luxuoso cassino, frequentado pela fina e requintada sociedade amazonense.

Localizava-se na antiga Rua Recife (atual Avenida Mário Ypiranga Monteiro), nas proximidades da atual sede do DETRAN-AM. Era o “point” de Manaus, embora, à época, o local fosse considerado distante e de difícil acesso, praticamente encravado na mata.

O proprietário chamava-se Mário Oliveira, homem muito estimado por seus funcionários, a quem distribuía bônus provenientes dos lucros das mesas de baralho (bacará) e da roleta. O crupiê era o senhor Petruccio, pai dos irmãos Piolas — jogadores bastante conhecidos em Manaus.

Nas redondezas ficavam os famosos balneários da Estrada do V-8 (atual Avenida Efigênio Salles) e do Parque Dez de Novembro (em frente ao Acapulco), todos banhados pelo Igarapé do Mindú — hoje, infelizmente, transformado em um esgoto a céu aberto.

O “ACA”, como era carinhosamente chamado pelos frequentadores, iniciou suas atividades em 1958. Seu nome homenageava a cidade turística mexicana de Acapulco, cenário do belo filme Fun in Acapulco (1963), estrelado pelo cantor norte-americano Elvis Presley.

O clube era frequentado, inicialmente, pela alta sociedade. Era um ambiente chic (de bom gosto e requintado), com restaurante e bar de primeira, salões de dança, orquestra própria e apresentações de artistas locais — como Luiz Carlos Mello (Tical, a “Voz de Ouro ABC”) e Luiz da Conceição Souza Pinto (Little Box, o “Caixinha”) — além de astros de renome nacional, como Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Edith Veiga e Agnaldo Rayol, entre outros.

O grande atrativo, contudo, era o magnífico cassino, verdadeira fonte de renda do proprietário. O salão de jogos era movimentado e elegante, mas a jogatina desenfreada levou muitos à ruína — inclusive, segundo dizem, o próprio dono tornou-se vítima do vício em apostas.

Nos fins de semana, apenas uma linha de ônibus fazia o trajeto até o Parque Dez, facilitando o acesso das famílias ao balneário. Quem desejasse frequentar o Clube Acapulco à noite precisava dispor de automóvel próprio ou recorrer aos choferes de praça (os antigos táxis).

Certa vez, ao folhear um exemplar do jornal A Crítica, de dezembro de 1959, na Biblioteca Pública do Amazonas, encontrei este curioso anúncio do Acapulco Clube:

“Amanheça com sua família o ano-novo na mais bonita boite do Brasil — ACAPULCO — que lhes proporcionará ambiente, conforto, diversões, luxo e um perfeito serviço de bar e restaurante.

Com a participação de ALCIDES GERARDI, lançando músicas novas do Carnaval de 60.

Nos dias 1º e 2 de janeiro, exibir-se-á a grande orquestra de GUIÃES DE BARROS.

DIA 2, SÁBADO – 1º GRITO DE CARNAVAL – Espetacular! Fabuloso! Estupendo! Sensacional!

NOTA: A Direção do Night Club Acapulco avisa que, durante a temporada carnavalesca, permitirá traje esporte decente em todas as dependências. Para evitar desagradáveis contrariedades, não se façam acompanhar de criaturas não recomendáveis.”

A leitura desse anúncio revela que o Acapulco era um clube familiar, luxuoso, com serviços refinados de bar e restaurante, orquestra de primeira e ambiente elegante — permitindo, somente no Carnaval, o uso de traje esporte “decente” e restringindo a entrada de “criaturas não recomendáveis” (leia-se: prostitutas, lisos e bagunceiros).

Contam que o administrador do clube era frequentador assíduo das rodadas de baralho do Ideal Clube — o grêmio da elite manauara, localizado na cabeceira da Avenida Eduardo Ribeiro —, hábito que levou muita gente de bem à falência.

Os cassinos foram legalizados por Getúlio Vargas em 1938, mas proibidos em 1946, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. Assim, o Acapulco funcionava de forma clandestina, embora amplamente tolerada pelas autoridades locais.

Na década de 1970, o Acapulco entrou em decadência e perdeu o brilho dos anos dourados. Acabou fechando as portas — dizem que o proprietário perdeu o imóvel em uma mesa de jogo. Posteriormente, reabriu apenas como boate, tornando-se um ponto de encontro para quem queria beber, dançar e paquerar. Não havia “quartinhos” para casais, como nos prostíbulos da cidade, mas o ambiente era animado e popular entre os jovens manauaras. O fim definitivo veio em 1976.

E assim encerrou-se a história do lendário Acapulco Night Club, que ficou guardado apenas na memória dos mais velhos — tempos bons que não voltam mais!



Edifício Tartaruga

 Por Jose Rocha

Este prédio histórico, conhecido pelos manauaras como “O Patinho Feio do Centro” devido ao seu atual estado de abandono, está localizado bem em frente à Praça Adalberto Valle, na Rua Marquês de Santa Cruz. Uma de suas faces dá para a Rua Miranda Leão, e a outra para a Avenida Floriano Peixoto, em direção à Rua dos Andradas.

Segundo historiadores, no local existia originalmente o Banco de Manáos, que funcionou até 1910. Após o encerramento das atividades, o imóvel foi adquirido por um comerciante apelidado de Tico-Tico, que ali abriu uma loja com seu próprio nome. Ao lado, funcionava a famosa loja Malária Guerra. Os dois empresários, no entanto, viviam em constante atrito, o que culminou em um trágico incêndio supostamente provocado por Tico-Tico. O fogo destruiu ambas as construções, restando apenas ruínas.

A loja Malária Guerra, localizada na Rua Miranda Leão, foi posteriormente reconstruída por seu proprietário, um comerciante sírio. Após sua morte, a viúva, Dona Fátima Alen, assumiu o comando, seguido pela filha, Graça Alen, que continua à frente da loja até os dias atuais.

Já em meados da década de 1930, o português Hermano Amado Batista, conhecido na cidade pelo apelido de “Tartaruga”, adquiriu o terreno onde estavam as ruínas das lojas incendiadas. No local, construiu um prédio de estilo Art Déco, com térreo destinado a lojas comerciais e três andares com apartamentos para aluguel — muitos ocupados por membros das comunidades sírio-libanesa e portuguesa. O edifício também abrigou consultórios médicos, a sede do PSB, o curso General Osório, entre outros. Sua inauguração ocorreu em 1946, e, devido ao apelido do proprietário, passou a ser chamado até hoje de Edifício Tartaruga.

No térreo, funcionava uma filial da Loja Cearense, famosa pela venda de tecidos. Mas o espaço mais emblemático foi, sem dúvida, o Bar Jangadeiro, em atividade desde 1954, fundado pelo português Alfredo e depois assumido por seu filho João. Mesmo após o falecimento deste, o bar continuou funcionando sob nova administração. Frequentava o local nos velhos tempos para saborear um sanduíche de leitão com cerveja, enquanto ouvia a banda Amigos do Som, comandada pelo delegado Mariolino. Hoje, ainda passo por lá ocasionalmente aos domingos, para tomar uma cerveja com os amigos e ouvir um bom samba.

O nome “Tartaruga” sempre despertou a curiosidade de manauaras e turistas, que tentavam encontrar alguma semelhança entre o prédio e o quelônio — outrora muito comum e consumido na região. Mas a verdade é que o apelido nada tem a ver com o formato do edifício, sendo apenas o cognome do antigo proprietário.

Em 1963, durante o segundo mandato do governador Plínio Ramos Coelho, foi enviada uma mensagem à Assembleia Legislativa do Amazonas propondo a compra do prédio por 60 milhões de cruzeiros, para abrigar repartições públicas estaduais. Apesar da resistência da oposição — que alegava que o governo gastaria o mesmo valor na reforma e que seria mais sensato usar o prédio em construção na Praça da Saudade —, a proposta foi aprovada.

Durante décadas, o edifício sediou diversos órgãos públicos, como: Celetramazon, SEPLAN, EMATER, CANTEL, SUHAB, Tribunal de Contas, Junta de Conciliação, Secretaria de Aviação e Obras, SESAU, Defensoria Pública, além da Liga dos Radioamadores, que ocupava um espaço cedido. A única vez que entrei no prédio foi para resolver uma questão familiar na Defensoria Pública.

Em 2012, um incêndio agravou ainda mais o estado de conservação do imóvel. Hoje, o Edifício Tartaruga encontra-se em situação crítica de degradação, tanto interna quanto externa, sem condições adequadas de uso — o que afeta também os poucos comércios ainda existentes no térreo.

Em 2024, a estudante Aline Ariele da Silva Beleza, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), apresentou um excelente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) propondo a requalificação do Edifício Tartaruga como um espaço de Hospedagem Social. O projeto está disponível para consulta no repositório da universidade:

Descrição: 🔗https://riu.ufam.edu.br/handle/prefix/8120

Acredito que esse trabalho da aluna tenha sido entregue ao Governo do Estado do Amazonas, mas, até o momento, nenhuma iniciativa concreta foi tomada. Isso é extremamente lamentável, considerando que o Edifício Tartaruga é um patrimônio cultural de grande valor histórico e simbólico para a cidade de Manaus. Seu restauro representaria não apenas a preservação da memória urbana, mas também uma revitalização importante para a região central da capital amazonense.

Observação: Amanhã, passarei por lá para tirar algumas fotografias.



A Biblioteca Pública do Amazonas: Um Tesouro Escondido.


 


Por José Rocha.

A nossa Biblioteca Pública está numa rua estreita e discreta, escondida dos olhares de longe, ao contrário do Teatro Amazonas, da Igreja de São Sebastião e do Palácio Rio Negro, que se impõem na paisagem. Quando os visitantes passam em direção ao Teatro e avistam a fachada da biblioteca, sentem-se tomados por um espanto delicado diante daquela beleza serena e imponente.

Nós, manauaras, atravessamos a Rua Barroso milhares de vezes e, com exceções, não dão atenção à biblioteca, nem mesmo aqueles que, ocasionalmente, entram para consultar um livro ou um periódico. Considero-me parte desse pequeno grupo de exceção: frequento a BPA com assiduidade e sempre me detenho a admirar sua fachada, a escadaria que conduz ao primeiro andar, os grandes portões de madeira trabalhada e o quadro monumental que ocupa a parede do hall superior.

Na minha adolescência, quando não existiam os atalhos digitais e os sites de pesquisa, aquela casa era o lugar-comum das minhas investigações, embora eu tivesse em casa a famosa Coleção Barsa. O tempo passou e, apesar de toda tecnologia, nada substitui uma pesquisa em fontes primárias, especialmente jornais antigos, acervos gerais, obras especiais, raras e amazonianas.



Como observador, noto estudantes, jornalistas, escritores e turistas impressionados com o número de pessoas que pesquisam nos jornais antigos e com as intermináveis estantes de periódicos. Nos intervalos das buscas, gosto de ficar junto à janela principal do hall do primeiro andar e ver os visitantes contemplando a fachada com surpresa. Aqueles que entram surpreendem-se com a bela escadaria — trazida de Glasgow, na Escócia — e, no andar superior, com o quadro “A Redenção do Amazonas”, obra grandiosa do artista Aurélio de Figueiredo, datada de 1888, com dimensões aproximadas de 6,65 m por 3,65 m.

Mesmo depois das perdas no Centro Histórico, as construções que resistiram ao boom da borracha e à fúria do progresso — quando tantos prédios se reduziram a cubículos para lojinhas de importados — ainda arrancam suspiros dos visitantes pela sua beleza e imponência. A Biblioteca Pública do Amazonas é, certamente, um deles: um tesouro escondido.

Fotos: Acervo José Rocha



sábado, 27 de setembro de 2025

A História Recente da Administração do Porto de Manaus e a Crise da Infraestrutura

 Por José Rocha

Nos últimos tempos, a administração do Porto de Manaus tem ganhado destaque na imprensa local, especialmente em matérias divulgadas pela Rede de Rádio e Televisão Tiradentes e pelo Portal BNC, que colocaram no centro das atenções o senhor Alessandro Bronze.

O tema desperta muito o meu interesse, pois sempre fui apaixonado pela história da nossa cidade. O Porto de Manaus — o Roadway — faz parte não apenas da memória da nossa capital, mas também da minha trajetória pessoal: marcou minha infância, minha vida profissional e o meu trabalho como historiador dedicado à preservação da história de Manaus.

Na minha infância, meu saudoso pai levava-me para passear no cais do porto. Eu ficava impressionado com o tamanho dos navios ancorados — aquilo me marcou profundamente. Na fase adulta, trabalhei para muitas empresas do comércio e do Distrito Industrial, sempre na área de comércio exterior, o que me permitiu entrar no porto centenas de vezes para acompanhar despachantes e liberar mercadorias estrangeiras. Viajei muito para o interior, na maioria das vezes partindo e retornando pelo Roadway. Após aposentado, ainda caminho por lá, para lembrar os velhos tempos e admirar o maior porto flutuante do mundo.

A história do porto é bem conhecida por quase todos os manauaras. Desde a sua construção, em 1906, administrado inicialmente por ingleses durante o ciclo da borracha, até se tornar ainda mais visível no início dos anos 2000, quando o então governador Amazonino Mendes transferiu a administração do Porto de Manaus para uma empresa controlada pela família do ex-senador Carlos Alberto De Carli. Esse processo de privatização foi bastante contestado e gerou longas disputas judiciais.

Em 2002, a deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB) solicitou uma auditoria especial na SNPH, apontando diversas irregularidades. Uma das principais acusações era de que Amazonino Mendes teria repassado cerca de R$ 35 milhões em recursos públicos para empresas da família De Carli, visando realizar a privatização. A crítica central era de que a privatização teria sido feita com dinheiro público. O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a avaliar relatórios sobre o processo, dada a gravidade das denúncias de má gestão e uso indevido de recursos.

O governador baseou a “privatização” do Porto de Manaus na Constituição Federal de 1988 (CF/88), Artigo 20, inciso VI, que estabelece que os portos marítimos, fluviais e lacustres são bens da União. Já o Artigo 21, inciso XII, alínea "j", permite que a União delegue a administração desses portos para estados, municípios ou consórcios públicos, ou ainda conceda à iniciativa privada, mediante contratos de concessão ou arrendamento, conforme a legislação específica (como a atual Lei nº 12.815/2013, conhecida como Lei dos Portos).

Em 2013, pessoas ligadas à administração do Porto de Manaus tiveram bens e valores bloqueados pela Justiça Federal, em uma ação civil pública por improbidade administrativa movida pelo MPF. O motivo: a venda ilegal de bens pertencentes à União, como partes do cais flutuante e ônibus.

Curiosamente, anos depois, em 2018, durante seu quarto mandato como governador, o próprio Amazonino Mendes assinou um termo para que o Governo do Estado reassumisse a administração do Porto de Manaus, citando a necessidade de o estado retomar o controle da política portuária.

Com a construção da Manaus Moderna, na Avenida Lourenço da Silva Braga, o Porto de Manaus passou a estar interligado com o Distrito Industrial — os navios de longo curso e de cabotagem descarregavam contêineres nos pátios do porto, e, após liberação, esses eram transportados até o DI. Porém, com a implantação de dois portos no Paredão, bem próximos ao Distrito Industrial, o Porto de Manaus perdeu uma importante fonte de receita.

A administração do porto resolveu, então, alugar seus armazéns, fechou o Museu do Porto e destruiu um armazém próximo ao Mercado Adolpho Lisboa para a construção de lojinhas — o que acabou sendo interditado pelo IPHAN após a demolição. Interditou também a Travessa Vivaldo Lima, transformando-a em via exclusiva para veículos que acessam o porto, além de ocupar o Palácio do Tesouro do Amazonas — casarão que havia sido reformado com verba federal para abrigar a Casa de Leitura Thiago de Mello — e o Armazém 15, que deveria ter sido aberto ao público. Houve também a destruição de todo o quarteirão onde atualmente está sendo recuperado o Complexo Booth Line.

A gestão do Porto de Manaus foi retomada pelo poder público em 2019. A administração foi novamente delegada ao Governo do Estado do Amazonas, por meio de convênio com o Governo Federal, substituindo a gestão anterior que incluía a Companhia Docas do Maranhão (Codomar), posteriormente extinta.

Tudo isso gera muita confusão:

Os portos brasileiros são de responsabilidade do Ministério de Portos e Aeroportos. Além disso, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) é a autarquia federal encarregada da regulação e fiscalização do setor portuário e aquaviário.

O Estado do Amazonas, por sua vez, foi delegado pela União para exercer o papel de autoridade portuária, por meio da Superintendência Estadual de Navegação, Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH).

Quanto à exploração comercial, o Governo do Amazonas delegou, em 2001, a gestão para a Empresa de Revitalização do Porto de Manaus S/A (ERPM) e para a Estação Hidroviária do Amazonas S.A. (EHA), no contexto da privatização e subsequente reestruturação da administração do porto após o polêmico período da família De Carli. Essa empresa é uma Sociedade Anônima Fechada, ou seja, não possui ações na Bolsa de Valores. De acordo com sites de busca, o CNPJ é 04.487.762/001-15, última alteração em 03/11/2005, com sede na Rua Marquês de Santa Cruz, 25. Constam os dirigentes/sócios: Walmir Oliveira de Mendonça, Raimundo Nonato de Souza Lopes e Kamila Oliveira Flores.

Atualmente, tanto a Rede de Rádio e Televisão Tiradentes quanto o Portal BNC mencionam o nome do senhor Alessandro Bronze como figura ligada à administração do Porto de Manaus. De fato, seu nome aparece em registros relacionados aos períodos de privatização e disputas judiciais — sendo citado como “ex-administrador do porto privatizado de Manaus” em notícias de 2013 e como gestor vinculado ao clã De Carli nos anos 1990 e 2000. O empresário e radialista Ronaldo Tiradentes criticou publicamente Bronze, acusando-o de "ganhar uma fortuna no Porto de Manaus" e de penalizar a população mais pobre com a cobrança indevida de pedágios pela gestão portuária.

Recentemente, surge também o nome da empresa DCBR Participações Ltda., CNPJ 31.616.644/0002-07, filial criada em 02/10/2023, com sede no mesmo endereço: Rua Marquês de Santa Cruz, 25. Os sócios-administradores: Alessandro Bronze Toniza e Carlos Antônio De Carli.


Resumo da Ópera:

  • A União é a proprietária do Porto de Manaus.
  • O Governo do Estado do Amazonas é a autoridade portuária.
  • A Estação Hidroviária do Amazonas S.A. (EHA) é quem atualmente administra e opera o porto.
  • A holding DCBR Participações Ltda., dos sócios, Alessandro Bronze Toniza e Carlos Antônio De Carli Filho, possivelmente é a sócia majoritária da EHA. Ou seja, são eles que devem comandar de fato o Porto de Manaus.

O ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, estará em Manaus nesta segunda-feira (29 de setembro) para participar de diversas cerimônias, incluindo a entrega de balsas e uma viagem para Eirunepé e Envira. Será uma excelente oportunidade para ele conhecer in loco a situação atual do Porto de Manaus.

Um detalhe importante: o Governo Federal, por meio do PAC, investirá R$ 900 milhões na construção do novo Porto da Manaus Moderna (atrás do Mercado Adolpho Lisboa). Após sua conclusão, é possível que a gestão seja delegada à Prefeitura de Manaus, que, por sua vez, poderá concedê-lo à iniciativa privada para exploração comercial.


E se essa concessão cair novamente nas mãos da DCBR Participações Ltda.?

Ficará tudo nas mesmas mãos!

Fontes: BNC/EHA/Gemini/ChatGPT/IPHAN/RF/Google/TV Tiradentes/






sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Foto de autoridades do passado que fizeram história e continuam lembradas até hoje.

 



Por Jose Rocha

João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha — 1º Presidente (Governador) e fundador da Província (Estado) do Amazonas; mandato de 1º de janeiro a 27 de junho de 1852. Há um monumento em sua homenagem na Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) e uma praça com seu nome, a Praça Tenreiro Aranha (Praça do Índio). O município de Presidente Figueiredo foi criado em 10/12/1981; algumas fontes atribuem o nome ao presidente João Batista de Oliveira Figueiredo (1979–1985).

Dr. Antônio Constantino Nery — Governador do Amazonas (1904–1908). Idealizou e construiu a penitenciária localizada na Avenida Sete de Setembro (atualmente abandonada) e a Biblioteca Pública do Amazonas. Seu nome batiza uma das avenidas mais movimentadas de Manaus, a Avenida Constantino Nery.

Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa — Superintendente (Prefeito) de Manaus (1902–1907). Mandou construir a Vila Alcida, em homenagem à filha (o famoso Castelinho, Rua São Luís, Adrianópolis, 1906), e deu nome ao Mercado Municipal Adolpho Lisboa.

Foto: Revista Archivo do Amazonas — 23/04/1907.





terça-feira, 23 de setembro de 2025

Manifestações de Urbanidade: Caminhar pelas Ruas de Manaus

 Por José Rocha

Tenho o hábito de caminhar por Manaus, especialmente pelo Centro Histórico. Nessas andanças, observo algo que se repete diariamente: a falta de respeito e de educação por parte de muitos pedestres. Pode parecer exagero, mas atitudes simples — ou a ausência delas — mostram o quanto ainda precisamos evoluir em termos de convivência urbana.

Não existe uma norma escrita sobre como andar pelas calçadas, mas certos comportamentos se consolidaram como convenções sociais. Um dos mais básicos é manter-se à direita e permitir que quem vem no sentido contrário passe pela esquerda. Essa prática simples evita esbarrões e melhora o fluxo. No entanto, são poucos os que a respeitam.

Mesmo tentando sempre me manter do lado correto, frequentemente me deparo com obstáculos: ambulantes que ocupam a calçada, mercadorias de lojistas invadindo o espaço dos pedestres, e pessoas que insistem em vir na contramão, forçando passagens com pressa ou impaciência, provocando esbarrões desnecessários e facilmente evitáveis.

Caminho com frequência até o Parque Rio Negro, no bairro de São Raimundo. Ao atravessar a Ponte Fábio Lucena, procuro manter-me sempre à direita. Ainda assim, sou surpreendido por pessoas caminhando no mesmo sentido, que se recusam a dividir o espaço. Quando não cedo, algumas reagem com impaciência, como se o equívoco fosse meu.

Para agravar a situação, grupos de amigos ou familiares, com três ou quatro pessoas, costumam andar lado a lado, bloqueando completamente a calçada e obrigando os demais a desviar pela rua. Nessas situações, o mais adequado seria que caminhassem em fila dupla, especialmente em calçadas estreitas.

Outro hábito prejudicial é o de parar no meio da calçada para falar ao celular, sem se preocupar com quem vem atrás. Uma simples mudança de posição para um canto resolveria o problema. Também é essencial lembrar que idosos, pessoas com deficiência, gestantes ou quem estiver com carrinho de bebê devem sempre ter prioridade. E, se possível, devemos oferecer ajuda com educação e gentileza.

Um detalhe de etiqueta muitas vezes ignorado: ao caminhar em casal, o ideal é que a mulher fique do lado esquerdo, mais protegida do trânsito. Essa convenção, além de simbólica, tem uma função prática. E vale lembrar: não se deve comer andando, nem jogar lixo no chão. Fumar em meio à multidão também é desrespeitoso — e infelizmente já vi jovens fumando maconha abertamente nas calçadas, sem qualquer pudor.

Outro problema recorrente é o uso descuidado do guarda-chuva, que pode atingir o rosto de outras pessoas. E, ainda mais grave, a desrespeito de homens que urinam em locais públicos, como atrás de postes, sem se importar com a presença de mulheres, crianças ou qualquer outra pessoa.

Mesmo que essas regras de convivência não estejam escritas, elas fazem parte do que se espera de uma sociedade minimamente civilizada. Cabe a cada um de nós cultivar e espalhar esse tipo de comportamento — inclusive nas redes sociais, que têm o poder de formar opinião e transformar hábitos.

A etiqueta nas ruas é, acima de tudo, um exercício de empatia. A cidade é de todos, e pequenos gestos de respeito tornam a convivência mais leve e harmoniosa.




sábado, 20 de setembro de 2025

ESCOLA DE DACTILOGRAFIA DA DONA EDUARDA

 


Por José Rocha

Durante muitos anos, a Escola de Dactilografia Nossa Senhora de Lourdes formou várias gerações de manauaras, tendo como professora a senhora Eduarda Pinto Ribeiro, na Rua Monsenhor Coutinho.

O curso de dactilografia era a arte de escrever à máquina, desejado por muitas pessoas, o que conferia status na sociedade; inclusive, ao término do curso, os formandos tinham direito a uma formatura com todas as formalidades possíveis, além de diploma confeccionado em papel nobre.

Quem possuísse um diploma de dactilografia tinha uma grande bagagem no currículo vitae, com melhores condições para galgar um emprego em empresas comerciais ou em instituições bancárias, principalmente para o cobiçado cargo de carreira no Banco do Brasil.

Muitos jovens do centro da cidade passaram pela Escola da Dona Eduarda. Fui um deles, onde adquiri grande agilidade para datilografar sem olhar para o teclado. Eram máquinas pesadas e com teclados parecidos com os atuais de computador, equipadas com fitas de pano embebidas em tinta preta e vermelha, utilizando-se papel carbono para cópias extras e corretivos do tipo Helios, Cabex e Errox Ex.

Para quem trabalhava no jornalismo, era cruel, pois não se admitiam erros nem borrões; qualquer descuido fazia com que todo o trabalho fosse descartado e tivesse de ser recomeçado. Em decorrência disso, um bom curso de datilografia era primordial.

Com a invasão em massa dos computadores pessoais (PCs), foi um golpe mortal nas máquinas de dactilografia, mesmo para quem utilizava as máquinas elétricas. Os cursos foram fechados e as empresas que faziam manutenção nas máquinas amargaram grandes prejuízos.

A Escola de Dactilografia da Dona Eduarda teve o mesmo fim. A última turma que ela formou foi em 1979; ainda assim, ela guardou durante duas décadas suas máquinas no porão de casa.

No ano de 1999, o jornal A Crítica fez uma pequena reportagem sobre sua escola. Ela já estava com oitenta anos, apresentava problemas auditivos e morava com uma irmã adotiva, sem filhos, pois nunca se casou. Após vinte anos guardando suas máquinas, resolveu vendê-las, mas ainda relutava em se desfazer das máquinas da marca Remington, as maiores e mais valiosas.

Seu cunhado, Sebastião de Oliveira Maia, de 88 anos e aposentado, disse à reportagem: “Alguém deve estar influenciando a Eduarda, pois isto aqui, psicologicamente, é a vida dela. Apesar dos computadores, ainda existem pessoas que querem aprender o ABC da dactilografia. Sua última turma foi em 1979, mas para ela parece que foi ontem, e ainda espera que novas alunas batam à sua porta.”

Ela confessou à reportagem: “Nunca tive namorados; minha vida sempre foi esta escola. Meus ex-alunos, apesar de terem trocado o ‘bater’ pelo ‘digitar’, ainda fazem questão de me agradecer por receberem minhas orientações de professora.”

A cada dez anos, as tecnologias mudam completamente, mas nada é mais importante do que lembrar e agradecer aos nossos mestres com carinho. Sempre que passo em frente à Escola da Dona Eduarda, na Rua Monsenhor Coutinho, lembro com saudade da minha professora de dactilografia.

Fonte e foto: Jornal A Crítica, edição de 1999



quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O DELEGADO DO DIABO


 Por José Rocha

Na Manaus de antigamente, conhecíamos praticamente todas as autoridades pelo nome — entre elas, os delegados de polícia. Um deles entrou para a história como o “Delegado do Diabo”.

Para os mais jovens, que não sabem nem o nome do secretário de Segurança Pública e muito menos dos delegados atuais, soa estranho ouvir que, em Manaus, havia um homem da lei apelidado de “Delegado do Diabo”. Com razão: a princípio, dá a impressão de que ele teria feito pacto com forças malignas.

Nada disso, meu jovem! Estamos falando de José Ribamar Soares Afonso — paraense, bacharel em Direito, assistente social, jornalista e um verdadeiro maníaco por quadrinhos, um gibiófilo.

Ele morava na Avenida Getúlio Vargas, número 193, e foi casado com a professora Heloisa Helena Antony Afonso, com quem teve duas filhas: Adriana Eugênia e Viviane.

No jornalismo, passou por A Gazeta, O Jornal, Diário da Tarde e Diário Carioca, do Rio de Janeiro — trabalhando em todos até o fechamento.

Quando menino, José Ribamar abriu pela primeira vez uma revistinha Tico-Tico, em 1947, e levou uma bronca da mãe: “Larga isso, menino, é coisa do demônio”. Mas ele não obedecia e continuava lendo as “coisas do Satanás” no banheiro e nas matinês dos cinemas Polytheama e Guarany, que ficavam próximos à sua casa.

Naquela época, considerava-se que essas obras podiam distorcer a personalidade em formação das crianças, por isso professores as proibiam — e sua mãe não o deixava ler tais gibis.

Sem exagero, José Ribamar chegou a ter a maior coleção de quadrinhos da América Latina, com mais de três mil volumes encadernados. Viajou a Portugal, Espanha e França para participar de exposições e adquirir exemplares. Era amigo do radialista Joaquim Marinho, outro grande colecionador da cidade.

Mas por que o chamavam “Delegado do Diabo”? Boa pergunta, que merece resposta.

Ele fez curso de Polícia e Trânsito nos Estados Unidos e ganhou fama nacional ao desvendar o massacre da expedição do padre Calleri pelos índios Waimiri-Atroari.

O apelido, porém, veio de um fotógrafo do jornal A Crítica, Irandi Ferreira. Por ser rigoroso no cumprimento da lei e enérgico em seus plantões — sempre que ele assumia, surgiam crimes dos mais horrendos —, o fotógrafo achou que ele tinha “parte com o diabo”.

José Ribamar adorava diligências policiais e era considerado um “maluco” por impor ordem em Manaus de 1968 a 1979 sem disparar um único tiro. Combatia sem trégua o violento mundo da marginalidade. No DETRAN, chegou a esvaziar centenas de pneus de motoristas infratores. Eita!

Que história doida, não é mesmo?

Após aposentado, voltou a cavalgar o velho Oeste ao lado de Kid Colt, Zorro e Tecas; cortou a galáxia nas naves de Flash Gordon; e perambulou pelas ruas de Gotham City, sempre na esperança de encontrar Batman e Robin em ação — nada era impossível para um colecionador de gibis.

Em 1980, a comunidade reconheceu seu trabalho: o “Delegado do Diabo” recebeu o título de Cidadão de Manaus, em propositura do vereador Walter de Miranda Freitas (PDS).

Segundo o nobre vereador, José Ribamar foi um homem íntegro, muitas vezes injustiçado como delegado-geral de Polícia, pois tornou a instituição mais eficiente e proveitosa para a segurança e tranquilidade da comunidade. Não dava colher de chá aos bandidos e combatia a corrupção, gerando inimizades e despeitos.

O tempo passou, a cidade cresceu, o trânsito ficou infernal e a criminalidade, descontrolada — faz muita falta, com certeza, a figura do “Delegado do Diabo” para colocar ordem em Manaus.

Fontes: Jornal A Crítica e Jornal do Comércio

Foto: Jornal A Crítica



quarta-feira, 17 de setembro de 2025

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