O Zé lembrou-se dos velhos
carnavais. Faz algum tempo que ele saiu de gaiato na última Escola a desfilar,
fez uma fantasia “arrumadinha” com os restos que ficavam ao longo da avenida,
achou o máximo permanecer por muito tempo na concentração, desfilar e chegar à
dispersão, com o sol batendo na cara. Teve um misto de alegria, cansaço e
orgulho de ter desfilado pela primeira vez numa escola de samba.
Nos desfiles
carnavalescos, que mais chama sua atenção são o carro Abre-alas e a Bateria, ai
sim, adora assistir as mulatas rebolando.
Lembrou também do ano em
que assistiu aos desfiles com seu irmão Zé Galinha, que estava prá lá de Bagdá.
Ficaram parados no esquenta da bateria da Escola de Samba do Reino Unido da
Liberdade, que estava fazendo justa homenagem ao Armando Brasileiro,
proprietário do Bar Armando, reduto de intelectuais, jornalistas,
universitários, juízes e artistas diversos.
O irmão do Zé resolveu
dormir em pé, segurando-se num pau de barraca de venda de bebidas; de repente,
cerca de trezentos ritmistas começaram a tocar os instrumentos, pensei que ele
iria acordar daquele sono profundo, mas, nada aconteceu. Simplesmente ele
começou a roncar bem alto, os caras da bateria ficaram espantados.
Um deles bateu várias
vezes o surdo de primeira bem próximo ao ouvido do mano, e nada!
Mundão tem um amigo
chamado Delfim. O cara desfilava sempre na Escola de Samba Vitória Régia, da
Praça 14 de Janeiro, a verde rosa que tem como madrinha a Mangueira, do Rio de
Janeiro. Esta escola decidiu homenagear o município de Iranduba (AM), para
isso, fizeram o carro abre-alas com a balsa de travessia de Iranduba-Manaus,
chamada de Boto Navegador, em homenagem ao governador Gilberto Mestrinho.
Enquanto isso, Delfim
estava tomando Johnnie Walker, um puro de dezoito anos (assim ele se gabava)
com gelo de água de coco, além de petiscos de primeira qualidade.
Então, o Zé foi convidado
pelo amigo Delfim para tomar pequena dose, pois este iria desfrutar de tal
regalia no carro principal, afinal, ele era o almirante, o comandante do carro
principal.
Quando a empilhadeira
chegou, ficou cheio de pose, subiu uns cinco metros, e já acenava para todo
mundo, era o próprio bicho da goiaba branca. Acomodou-se dentro da cabine, no
entanto, cometeu um erro fatal: esqueceu do uísque 18 anos nas mãos do Zé
Mundão, com o gelo e aqueles petiscos maravilhosos!
Quando Delfim deu falta do
escocês, gritava que nem maluco, e o Zé não dava a mínima, ainda colocou uma
dose tamanho marítima com bastante gelo, levantava para ele ver e tomava numa
boa, suavemente. O comandante babava de raiva e chamava palavrões! Não dava pra
fazer mais nada, o Zé ainda tentou convencer o empilhador a levar o “reino da
Escócia” até ao Delfim, mas o cara não dava à mínima, e ainda teve a caradura
de pedir uma dose para ele e outra para o amigo.
Depois dessa, onde eles se
encontram, gostam de falar deste ocorrido, o Delfim comenta que naquele dia
desceu a avenida na maior secura, pior de tudo, de tão raivoso que estava, leu
errado a carta náutica e, ao invés de ir para Iranduba, foi parar no Careiro da
Várzea!
Em certo carnaval, o Bar
Caldeira (boteco preferencial do Zé Mundão), centro antigo de Manaus, foi
homenageado pelo GRES Mocidade Independente do Coroado, com o tema Caldeira é
tradição, história e carnaval.
Geralmente uma escola de
samba quando elaborada seu enredo, procura um patrão forte para ser o “cara”
que vai bancar parte das despesas com a colocação do samba na avenida.
O Caldeira entrou com a
cara e a coragem, mesmo assim, ainda fez uma quota com os frequentadores mais
assíduos, dando modestíssima contribuição à Escola. A grana era tão curta que o
carro abre-alas fora feito quase todo de papelão, jornais e isopor.
Zé, que estava cheio da
“manguaça”, ficou no carro principal, juntamente com os amigos Adriano
Fastiano, Dona Maria, delegado Roberto, Dra. Kraka, Miudinho e outros
convidados especiais. Foi alertado para não arredar o pé donde fora colocado,
pois existiam somente algumas tábuas, o resto era imitação; depois de entornar
mais algumas cervejas que estavam dentro de um isopor, em plena avenida,
resolveu “verter água”, saiu de sua posição e caiu entre as ferragens. Depois
de algum tempo, deram pela falta do destaque, e foram encontrá-lo preso no
chassi do carro alegórico.
Puxado o coitado pelos
cabelos, ainda deu para voltar na maior, tanto que brincou o carnaval até o
final. Após o desfile, como estava sem condições de dirigir seu carro e também
não se lembrar onde o deixara, deixou amanhecer o dia, tomou muita água, sucos
e uma suculenta sopa de mocotó, deu uma melhorada geral, foi quando encontrou
seu veículo e pode voltar para casa.
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