sábado, 6 de fevereiro de 2016

VELHOS CARNAVAIS DO ZÉ MUNDÃO


O Zé lembrou-se dos velhos carnavais. Faz algum tempo que ele saiu de gaiato na última Escola a desfilar, fez uma fantasia “arrumadinha” com os restos que ficavam ao longo da avenida, achou o máximo permanecer por muito tempo na concentração, desfilar e chegar à dispersão, com o sol batendo na cara. Teve um misto de alegria, cansaço e orgulho de ter desfilado pela primeira vez numa escola de samba.

Nos desfiles carnavalescos, que mais chama sua atenção são o carro Abre-alas e a Bateria, ai sim, adora assistir as mulatas rebolando.

Lembrou também do ano em que assistiu aos desfiles com seu irmão Zé Galinha, que estava prá lá de Bagdá. Ficaram parados no esquenta da bateria da Escola de Samba do Reino Unido da Liberdade, que estava fazendo justa homenagem ao Armando Brasileiro, proprietário do Bar Armando, reduto de intelectuais, jornalistas, universitários, juízes e artistas diversos.

O irmão do Zé resolveu dormir em pé, segurando-se num pau de barraca de venda de bebidas; de repente, cerca de trezentos ritmistas começaram a tocar os instrumentos, pensei que ele iria acordar daquele sono profundo, mas, nada aconteceu. Simplesmente ele começou a roncar bem alto, os caras da bateria ficaram espantados.
Um deles bateu várias vezes o surdo de primeira bem próximo ao ouvido do mano, e nada!

Mundão tem um amigo chamado Delfim. O cara desfilava sempre na Escola de Samba Vitória Régia, da Praça 14 de Janeiro, a verde rosa que tem como madrinha a Mangueira, do Rio de Janeiro. Esta escola decidiu homenagear o município de Iranduba (AM), para isso, fizeram o carro abre-alas com a balsa de travessia de Iranduba-Manaus, chamada de Boto Navegador, em homenagem ao governador Gilberto Mestrinho.

Enquanto isso, Delfim estava tomando Johnnie Walker, um puro de dezoito anos (assim ele se gabava) com gelo de água de coco, além de petiscos de primeira qualidade.

Então, o Zé foi convidado pelo amigo Delfim para tomar pequena dose, pois este iria desfrutar de tal regalia no carro principal, afinal, ele era o almirante, o comandante do carro principal.

Quando a empilhadeira chegou, ficou cheio de pose, subiu uns cinco metros, e já acenava para todo mundo, era o próprio bicho da goiaba branca. Acomodou-se dentro da cabine, no entanto, cometeu um erro fatal: esqueceu do uísque 18 anos nas mãos do Zé Mundão, com o gelo e aqueles petiscos maravilhosos!

Quando Delfim deu falta do escocês, gritava que nem maluco, e o Zé não dava a mínima, ainda colocou uma dose tamanho marítima com bastante gelo, levantava para ele ver e tomava numa boa, suavemente. O comandante babava de raiva e chamava palavrões! Não dava pra fazer mais nada, o Zé ainda tentou convencer o empilhador a levar o “reino da Escócia” até ao Delfim, mas o cara não dava à mínima, e ainda teve a caradura de pedir uma dose para ele e outra para o amigo.

Depois dessa, onde eles se encontram, gostam de falar deste ocorrido, o Delfim comenta que naquele dia desceu a avenida na maior secura, pior de tudo, de tão raivoso que estava, leu errado a carta náutica e, ao invés de ir para Iranduba, foi parar no Careiro da Várzea!

Em certo carnaval, o Bar Caldeira (boteco preferencial do Zé Mundão), centro antigo de Manaus, foi homenageado pelo GRES Mocidade Independente do Coroado, com o tema Caldeira é tradição, história e carnaval.

Geralmente uma escola de samba quando elaborada seu enredo, procura um patrão forte para ser o “cara” que vai bancar parte das despesas com a colocação do samba na avenida.

O Caldeira entrou com a cara e a coragem, mesmo assim, ainda fez uma quota com os frequentadores mais assíduos, dando modestíssima contribuição à Escola. A grana era tão curta que o carro abre-alas fora feito quase todo de papelão, jornais e isopor.

Zé, que estava cheio da “manguaça”, ficou no carro principal, juntamente com os amigos Adriano Fastiano, Dona Maria, delegado Roberto, Dra. Kraka, Miudinho e outros convidados especiais. Foi alertado para não arredar o pé donde fora colocado, pois existiam somente algumas tábuas, o resto era imitação; depois de entornar mais algumas cervejas que estavam dentro de um isopor, em plena avenida, resolveu “verter água”, saiu de sua posição e caiu entre as ferragens. Depois de algum tempo, deram pela falta do destaque, e foram encontrá-lo preso no chassi do carro alegórico.


Puxado o coitado pelos cabelos, ainda deu para voltar na maior, tanto que brincou o carnaval até o final. Após o desfile, como estava sem condições de dirigir seu carro e também não se lembrar onde o deixara, deixou amanhecer o dia, tomou muita água, sucos e uma suculenta sopa de mocotó, deu uma melhorada geral, foi quando encontrou seu veículo e pode voltar para casa.

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