quarta-feira, 6 de agosto de 2008

AMIGO OLAVO.



O Olavo, Rochinha e o Abdias “Bodó”, formavam o trio da “CM & P10”, ou seja, cachaça, mulher e Parque 10 de Novembro. Todos os finais de semana reuniam na Oficina do Velho, na Rua Huascar de Figueiredo com a Rua Igarapé de Manaus; lá armavam as estratégias, faziam a cotização para comprar as ampolas de cervejas XPTO, a cachaça Cocal para a batida de limão e os “bributes”; depois rumavam em direção ao balneário do P10.

O meu velho pai era um famoso “rabo-de-saia”, tinha um papo muito doce com a mulherada, um exímio dançarino “pé-de-valsa”; a minha mãe fingia que não sabia de nada; não esquentava mais. Era mestre na confecção de instrumentos de cordas, sabia conciliar muito bem o trabalho, a família e o lazer.

O Olavo, português da gema, iniciou os seus trabalhos numa portinha na Rua Henrique Martins, consertava radinhos à pilha, juntamente com outro portuga, o Sr. José Azevedo, este montou um império em Manaus, aquele sempre teve uma vida financeira remediada.

O “Bodó” era um cara muito brincalhão, quando aparecia na nossa casa, a vovó fazia o sinal de cruz – Lá vem o Satanás! E se mandava para a casa dos vizinhos. Vestia-se de mulher, expulsava a mamãe da cozinha e, enquanto tomava aqueles “birinaites”, fazia as suas estripulias e um excelente almoço; o cara era muito bom no preparo de qualquer prato.

O trio se desfez na década de 80 (houve uma desavença entre o meu pai e o Olavo); o Rochinha sofreu um AVC e o "Bodó" falaceu em seguida.

Depois de um longo inverno, comecei a tomar umas louras geladas com o Olavo; era muito ligado na nossa Manaus antiga; bati longos papos com o gajo, sempre lembrava dos velhos amigos. Sou grato ao Olavo, sempre ajudou o papai na nossa criação, comprou diversas vezes material escolar para os nossos irmãos; chamava-o de pai, na brincadeira. Ele tinha um Fusca 60, cor verde abacate; era um cozinha ambulante – sempre levava um fogão, botija de gás, panelas, pratos, talheres, peixes e carnes, fazia a festa! Era um pouco folclórico, atribuíam a ele as seguintes perólas: 1. Sou do tempo “sêo colega” em que o encontro das águas ficava nas imediações do Rodoway, depois mudaram lá pras bandas do Mauazinho! 2. Peixe pega malária, sim senhor, eu provo! 3. Assisti de binóculos ao jogo do Brasil 4 a 1 na Itália, na Copa de 70, lá de cima do edifício IAPTEC! Por aí vai! É mole!

Faz duas semanas que tive um contato com o Olavo, foi numa tarde caliente de verão amazônico, tomamos algumas geladas no Bar Caldeira, centro antigo de Manaus; propus leva-lo até a sua residência, pois estava um pouco pesado; quando fui surpreendido com a declaração do meu amigo:
- Amigo Rochinha! Não sei se ainda vamos nos ver até a próxima semana, de qualquer forma, me despeço de você; estou indo embora no domingo que vem; estarei indo de vez para Portugal; a minha esposa não está bem de saúde, vou financiar uma casinha no interior e passar o resto da minha vida por lá!
Dei um abraço e chorei! Tchau amigo Olavo!