terça-feira, 6 de novembro de 2007


PAÇO DA LIBERDADE

Após décadas relegadas ao ostracismo, o centro histórico mais antigo de Manaus passou a figurar nas pautas dos governos federal e municipal. Ancorados pelo programa “Monumenta”, que visa restaurar os centros históricos das principais capitais brasileiras, a ação – que em Manaus é executada pela prefeitura através da Manaustur – chegou a uma das belas relíquias da cidade: O Paço da Liberdade, que no século passado foi o antigo palácio provincial, depois palácio dos governadores da republica, câmara municipal e, finalmente, sede da prefeitura.
Construído entre 1874 e 1884, o Paço é um complexo predial que fica entre as ruas Bernardo Ramos e 7 de Setembro, do qual faz parte ainda a arborizada praça D. Pedro I. Executado em etapas, o monumento reúne dois séculos em um mesmo prédio, já que foi ampliado no século XX.
Com linhas sóbrias e elegantes, ele exibe em sua fachada toda a imponência das construções de uma Manaus rica e suntuosa. Possui escadaria e quatro colunas em estilo dórico que sustentam o frontão, ambos em mármore de carrara. Os janelões e porta de acesso são moldurados com o mesmo material. NO piso do vão de entrada, há um mosaico em malha portuguesa, evidenciando a mistura de estilos. No teto, telhas de barro que além de funcionais são esteticamente bonitas e adequadas com as linhas da construção.
Mas, se o Paço da Liberdade impressiona pelo estilo de sua fachada, é dentro dele, com a recuperação que está sendo executada, que o visitante tem uma idéia de como a arquitetura daquele período conjugava bom gosto e conforto. Com pé direito de 6,15m em média, seus ambientes não retêm temperatura e o forro é vazado para ajudar na ventilação; dado valioso quando o assunto é observar a evolução das construções da cidade.
Alem disso, o avançar da restauração está revelando outros detalhes preciosos. “Investigamos o estado atual de conservação e descobrimos aproximadamente quatro camadas de tinta; descobrimos que a cor original do prédio é ocre, igual ao da antiga Assembléia Legislativa do Estado”, informar a arquiteta Roseane Almeida, coordenadora do projeto de recuperação.
Ela também explica sobre a descoberta de diversas pinturas que adornavam o interior do Paço. “Aquela época, se fazia uma arquitetura contemplativa, mas, com o passar dos anos, o prédio foi tendo diversos usos e esses detalhes foram deixados à margem. Essas pinturas, assim como o forro – que era em papel marche – obedeciam a um padrão europeu; apesar do esforço, muita coisa está bastante deteriorada e não poderemos recuperar tudo”, lamente.
Como toda intervenção em patrimônio histórico apresenta curiosidades, no antigo palácio da província não poderia ser diferente. “Encontramos uma telha original daquele período que é chamada de catacanal; depois de uma avaliação técnica, fora, feitas copias nas olarias do Estado e elas estão de volta à cobertura do prédio”, comemora.
Obra-prima fincada no centro da cidade e na historia do Amazonas, o Paço da Liberdade merece o tratamento delicado que o Monumenta está realizando, afinal, é com “passos” como esses que Manaus pode preservar sua memória.

Mencius Melo
Especial para Em Tempo

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