sexta-feira, 26 de julho de 2024

A NOSSA GERAÇÃO

 Por José Rocha

Nós somos da geração dos anos cinquenta e sessenta, a maioria de nós nascida no Hospital da Santa Casa de Misericórdia e criada no centro histórico de Manaus. Somos manauaras da gema, alimentados à base de peixe e farinha.

Tivemos o privilégio de pular da Ponte da Sete diretamente para o Igarapé de Manaus. Lembro-me de irmos com nossos pais e irmãos para os “Banhos do V8”, explorando lugares como o Parque Dez de Novembro, a Ponte da Bolívia e Tarumã, e, também, tomávamos “Banho de Cacimba”.

Éramos moleques travessos, brigávamos nas ruas e levávamos broncas em casa. Tínhamos rivalidades com a garotada de outras ruas e bairros. Quando nos encontrávamos em clubes, praças, cinemas ou na rua, as brigas eram inevitáveis. Tudo era resolvido no “mano a mano”, sem armas brancas ou revólveres, apenas tapas, chutes e pontapés.

Lembro-me de soltar papagaios de papel feitos pelo “Russo”, com linha de cerol e rabiola, cortando o céu com pedaços de gilete. Jogávamos bola nos campinhos de futebol, pois éramos “peladeiros” também das quadras dos colégios, com arranhões e hematomas de brigas inevitáveis.

Brincávamos de peão e colecionávamos bolinhas de gude e caroços de tucumã, escapole-bate-e-fica, queimada, esconde-esconde, quadrilhas e pula-fogueira, com xote e baião.

Nossos dias de escola foram no Barão do Rio Branco, Estadual, Divina Providência, Nilo Peçanha, IEA, Escola Técnica Federal e Benjamim Constant. As palmatórias e os castigos na diretoria faziam parte da rotina, e nosso lanche consistia em pão com pão e leite de Soja e Nescau, sem direito a repetir nem reclamar.

A “Fanfara” era um espetáculo à parte, e os desfiles orgulhosos do “Sete de Setembro”, na Avenida Eduardo Ribeiro, eram seguidos por sorvetes no Pinguim e no A Gogô, além de Caldo de cana com pastel de vento e bolo de macaxeira nas confeitarias completavam nossas tardes de feriado nacional.

Passar no vestibular da Universidade do Amazonas era um privilégio para alguns “CDF”. A maioria estudava Direito na Velha Jaqueira e Ciências Sociais e Humanas no ICHL, pois faculdades particulares ainda não existiam.

Nossa turma frequentava os Cines Guarany, Polytheama, Avenida e Odeon. Assistíamos às apresentações das “Pastorinhas do Luso”, aos shows musicais do “Titio Babosa” e às peças teatrais do “Vovô Branco”. Os “Circos” também eram uma atração constante em nossa cidade.

Vivenciamos a chegada dos sinais de televisão da TV Ajuricaba e Baré, assustados e maravilhados. E o futebol amazonense brilhava na era de ouro, com partidas emocionantes no “Parque Amazonense”.

Na cidade, todos se conheciam, pelo menos de vista. Sabíamos os nomes dos vereadores, deputados, senadores, delegados de polícia, presidentes da COSAMA e da CEM, juízes e promotores de justiça.

O começo da Zona Franca de Manaus trouxe brinquedos, quinquilharias “made in Japan”, perfumes, alimentos e aparelhos de som.

As lojas Lobras, S. Monteiro, Moto Importadora, Central de Ferragens, Souza Arnaud, Canavarro, Antônio M. Henriques, TV Lar e Bemol faziam parte do nosso cotidiano.

Não tínhamos internet nem aparelhos celulares. Nossas informações vinham das rádios Baré, Rio Mar, Difusora e da famosa “Rádio Cipó”, além dos jornais do Comércio, A Crítica e A Notícia. Pesquisas apenas em livros na Biblioteca Pública ou emprestar volumes da Barsa dos amigos mais aquinhoados.

Minha geração testemunhou a chegada da “Bossa Nova & Rock”. Adorávamos artistas como Elvis Presley, Beatles, Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléia, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, entre outros. Éramos da época dos “Discos de Vinil” e “Fitas Cassete”, das festas no Acocho, Sheik Clube, Bancrevia e União Esportiva e das “porradas das galeras do mal”.

Naquela época, as mulheres eram esperadas para casar virgens. Se um malandro “avançasse o sinal” e a mulher engravidasse, o casamento era realizado às pressas. Embora não houvesse casamentos entre pessoas do mesmo sexo, existia algo “por detrás dos panos”.

Homossexuais sempre existiram em todos os tempos, mas naquela época, eles casavam na igreja e tinham filhos. No entanto, a grande maioria optava por permanecer solteira pelo resto da vida, sem constituir família.

Pois é, meus amigos, a nossa geração vivenciou todas essas nuances. Presenciamos a chegada da internet, dos aparelhos celulares, das TVs inteligentes e dos sons digitais tipo Spotify e Youtube Music. Mesmo assim, não nos cansamos de relembrar e escrever sobre aquela época boa de nossas vidas.

Passamos pela pandemia do Covid-19, vendo muitos amigos partirem. Aqueles que resistiram agora são sessentões, setentões e poucos oitentões. Aos poucos, nossos amigos da nossa geração estão nos deixando. Diabetes, problemas cardíacos, AVCs, DSTs e doenças renais os levam gradualmente.

A vida segue seu curso, e agora é a vez de nossos netos e bisnetos aproveitarem as modernidades da vida. Quando eles crescerem, pesquisarão e sorrirão ao descobrir como era a vida de seus avós e bisavôs naquela época: “Da Nossa Geração”.