Por José Rocha
Saindo da pré-adolescência,
resolvi conhecer e descobrir outros lugares, pois apesar de ficarem próximos a
minha casa, eram distantes em meus pensamentos, lugares nunca vistos e cada vez
que me afastava, mais tinha medo e ao mesmo tempo vontade de explorar, conhecer
e viver a minha cidade.
Nada conhecia além dos limites do Instituto de Educação do Amazonas, o famoso IEA.
Era “a boca da noite” quando resolvi
caminhar rumo ao desconhecido, tinha medo, mas a vontade de seguir em frente
era maior e tudo superava. Ao chegar na esquina da Avenida Ramos Ferreira com a
Ferreira Pena, deparei-me com uma imensa praça, foi amor à primeira vista.
Observei, atentamente, uma piscina retangular, com luzes multicoloridas, e ao seu meio, um imenso chafariz, jorrando muita água e luzes sincronizadas. Ao lado direito, tinha um homem primitivo, em bronze ou ferro, com uma machadinha e, no lado esquerdo, acho que era um atleta, com uma mão indicando para o espaço e outra com a bola na mão.
Na realidade, eu não sabia o
que aquilo significava, era uma obra de arte (estão, hoje, na praça interna do
Museu de Manaus). O que mais me encantava era a piscina cheia, motivação para
dar um pulo dentro d´água, e assim o fiz, era refrescante e notei que outros
moleques estavam tomando banho, também. Tudo bem, apenas não esperava ser
surpreendido por um vigia que me colocou para correr.
Moleque é atrevido e não
pensa nas consequências de seus atos. Por ter sido um ribeirinho que tomava
banho de igarapé na infância, não dispensava um pulo dentro de uma piscina,
mesmo de uma praça e correndo o risco de ser repreendido na base do tapa pelos
seguranças.
Aquilo era um misto de prazer,
adrenalina e medo: pulava na piscina, ficava tirando onda no traseiro da estátua do atleta e voltava rapidamente, sendo perseguido
por um segurança que chamava todos os tipos de palavrões e doidinho para me alcançar
e meter-me a porrada, no entanto, nunca chegou a tanto, pois eu tinha “sebo na
canela” e corria feito um louco em direção à Rua Tapajós. Todos os finais de
semana era assim.
Os mais velhos falaram que
existia uma imensa piscina e outra para criança num clube dos grã-finos, fiquei
louco para conhecer, pois estava com o “saco cheio” de ser perturbado pelo
segurança da Praça da Saudade.
Era bem fácil, bastava subir
num pé de uma árvore que ficava ao lado de um banheiro pela Ramos Ferreira,
pular o muro e cair na piscina junto com os bacanas. Pense num “furão”.
Nadar era comigo mesmo, pois
aprendi desde curumim a dar umas braçadas, uma forma de sobrevivência de um ribeirinho
que morava dentro de um flutuante.
Ficava observando a molecada
pulando de um trampolim baixo e os atletas do mais alto, onde davam impulso e
pulavam de cabeça dentro da piscina. Era coisa para poucos, mas o camaradinha aqui
resolveu pular lá de cima. Pense numa audácia do caboco.
Cai de barriga dentro d´água.
Além da dor “morri de vergonha”, resolvendo ir embora e nunca mais voltar, pois
aquilo não era meu lugar. Voltei a frequentar a Piscina do Parque Dez, aos
domingos, na companhia de meu pai e irmãos.
Os anos se passaram e tive a
oportunidade de entrar num avião modelo DC-3, colocado na praça pelo prefeito
Jorge Teixeira, em 1977. para imitar os cariocas que colocaram um igual no Aterro do Flamengo, em 1970. Em 1984, mesmo sob protestos, o pior prefeito de todos os tempos, o Amazonino Mendes, mandou
destruí-lo e vendeu “a preço de banana” para os sucateiros.
Presenciei, também, a
demolição de um prédio que fora construído dentro da praça (Gilberto Mestrinho,
1962), era uma aberração, mas por solicitação do então senador Jefferson Péres,
em 2007, foi ao chão, possibilitando aparecer a fachada do imponente Atlético
Rio Negro Clube.
Namorei na praça, curtir os
shows musicais, festivais de peixes, feiras hippies, parquinho de diversões e
muito mais. Depois de velho, voltei a frequentar a Praça 5 de Novembro (Praça
da Saudade), pós revitalizada, para fazer caminhadas e admirar aquele lugar que
fez parte de minha adolescência e vida adulta.
Depois de longo e tenebroso
inverno, voltei no ano passado ao Parque Aquático do Rio Negro Clube, para
curtir a apresentação da minha “Marujada de Guerra do Boi Caprichoso”, onde fiquei
a lembrar dos tempos bons de minha adolescência. Nunca entrei no Salão dos
Espelhos, quem sabe um dia, né? Uma coisa é certa: ainda vou dar uns pulos na piscina do clube para matar a saudade.
É uma viagem no tempo, com essas
lembranças de uma passando distante.
É isso aí.
Fotos:
Modificada José Rocha
Jornal, 1960, IDD