José Rocha
Hoje é um dia especial para o bairro Praça 14 de Janeiro,
um dos mais antigos e tradicionais da zona sul de Manaus. Ele completa 132 anos
de história, resistência e cultura, marcados por uma data que mudou os rumos do
Amazonas: 14 de janeiro de 1892.
Nesse dia,
uma revolução popular tomou as ruas da capital, protestando contra o atraso no
pagamento dos servidores públicos e dos fornecedores, e contra a falta de
assistência social aos habitantes. O alvo foi o governo de Gregório Thaumaturgo
de Azevedo, que renunciou após a pressão popular. O movimento foi liderado por
Almino Álvares Afonso, Lima Bacuri e Leonardo Malcher, que assumiram o poder
provisoriamente, até a chegada do novo governador, Eduardo Ribeiro.
O local onde aconteceu a revolta era
conhecido como Praça da Conciliação, mas logo depois passou a se chamar Praça
Fernandes Pimenta, em homenagem a um dos líderes do movimento. No mesmo ano,
porém, o nome foi alterado para Praça 14 de Janeiro, em memória da data
histórica. Em 1940, a colônia portuguesa tentou mudar o nome para Praça
Portugal, mas a solicitação foi negada pelos vereadores, a pedido dos moradores
da comunidade.
O bairro Praça 14 de Janeiro é um
celeiro de manifestações culturais, que expressam a diversidade e a identidade
do povo amazonense. Ciranda da Visconde, Tribo dos Andiras, Dança do Tipiti,
Boi Caprichoso e Escola de Samba Mista da Praça 14 são algumas das atrações que
animam as ruas e as festas do bairro. Além disso, o bairro abriga muitas
rezadeiras e parteiras, que mantêm vivas as tradições e os saberes populares, e
muitos devotos de Nossa Senhora de Fátima, que celebram a sua fé com procissões
e novenas.
Segundo o Khermerson Macedo, do Núcleo
de Cultura Política do Amazonas – NCPAN, “Donos de uma tradição incomparável no
samba, passando pelos folguedos populares como o bumba-meu-boi, pastorinhas e
outros, além dos festejos à São Benedito, a Praça 14 de Janeiro tem, em sua
essência, inúmeras manifestações representativas da cultura afro-brasileira.
Descendentes de ex-escravos vindos do Maranhão, estas pessoas guardam em suas
expressões e gestos típicos uma história de lutas e de tradições que se
reinventam continuamente em coletividade, passando de geração à geração o
compromisso de levar em frente os costumes e crenças da comunidade, sempre
vivos nas memórias dos mais velhos. Neste bairro, onde os homens são chamados
de mestres pela sua importância e as mulheres são carinhosamente saudadas como
tias por aqueles que visitam e/ou moram na Praça 14”.
Em 1º de dezembro de 1975, foi fundado
o Grêmio Recreativo Escola de Samba Vitória Régia, na casa de Raimunda Dolores
Gonçalves (Tia Lindoca), na Rua Emilio Moreira, nº 1192. Junto com ela, Nedson
Pires de Medeiros (Neném), Roberto Cambola e Darcy Sérgio de Souza (Barriga)
assinaram a ata de fundação da escola, que adotou as cores verde e rosa, tendo
como madrinha a Estação Primeira de Mangueira, do Rio de Janeiro.
Não é à toa que chamamos a Praça 14 de
Janeiro de “O Berço do Samba e de Revolta Populares” – onde o batuqueiro bate
forte de janeiro a janeiro, como diz o refrão de um de seus mais conhecidos
sambas de concentração.
Fonte:
NCPAM
Jornal do
Comércio
Portalamazonia.