O grande
mestre da literatura brasileira, Jorge Amado (1912-2001), viveu duas aventuras
na cidade de Manaus, separadas por quatro décadas. A primeira, em 1937, quando
fugiu da perseguição da ditadura do Estado Novo e encontrou refúgio na floresta
amazônica. A segunda, em 1977, quando voltou com a família para matar a saudade
da cidade e dos amigos que fez na sua juventude.
Jorge Amado
chegou a Manaus em 1937, com apenas 25 anos, trazendo na bagagem a sua rebeldia
e o seu talento literário. O artista plástico Moacir de Andrade
(1927-2016), contou em um jornal o seguinte: “Segundo relatos,o Jorge Amado veio fugido da Bahia, pois ele era
comunista de carteirinha e queriam prendê-lo ou matá-lo. Ele pegou um navio e
veio para Manaus por ser muito distante. Quando ele esteve aqui
pela primeira vez eu tinha apenas 10 anos e não tive contato com ele”.
Em Manaus,
Jorge Amado fez amizades com intelectuais e artistas locais, como Agnello
Bittencourt (membro da Academia Amazonense de Letras e um dos fundadores do
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) e Epaminondas Baraúna
(Superintendente do Jornal do Comércio), que lhe deram apoio e acolhida.
Há relatos
de que Jorge Amado foi preso em Manaus e dividiu uma cela com Nunes Pereira, um antropólogo,
folclorista e conhecedor da cultura amazônica. Os dois eram opositores do regime
de Getúlio Vargas e acabaram presos por suas ideias, além de um comerciante
português, que não tinha nada a ver com política, mas era sogro de um dos
envolvidos na Intentona Comunista.
Jorge Amado
viveu na pele o drama da censura e da violência política, que marcou a sua
geração. Certo dia, em sua cela, ouviu de um policial que os seus livros
apreendidos estavam sendo vendidos, pois havia muita procura e o lucro era
garantido.
Passados alguns
dias, o chefe de polícia o chamou para perguntar por que ele estava preso, respondeu
que nem ele mesmo sabia. O escritor foi solto, mas ficou em liberdade vigiada.
Depois, foi mandado para o Rio de Janeiro, num navio, sob a escolta de um
policial que estava de férias no Amazonas.
Ele era
formado em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Preferiu se dedicar à
política e à literatura. Foi deputado federal pelo Partido Comunista
Brasileiro, mas teve que se exilar na Argentina, no Uruguai, na França e em
Praga, devido à repressão. Voltou ao Brasil em 1952 e abandonou a política em
1955, para se concentrar na sua obra literária.
Quarenta
anos depois, o consagrado escritor voltou a Manaus, em 1977, para passar férias
com a família e rever a cidade e os amigos. Chegou no dia 21 de junho, a bordo
do navio Lobo D´Almada, e foi recebido no Roadway (porto flutuante) pelo
Desembargador Paulo Jacob, pelo poeta Antístenes Pinto e pelo artista plástico
Moacir de Andrade.
Jorge Amado
já era um dos maiores nomes da literatura brasileira e mundial, autor de obras
como Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Capitães da
Areia, Tieta do Agreste, entre outras.
Segundo o
Jornal A Crítica: “Ele não se esquivou e, num diálogo conciso, mostrou, entre
outras coisas, a sua fé na renovação literária brasileira, chegando mesmo a
enaltecer a sua afeição pelos jovens escritores e pelos que se dedicam à
leitura de um conto, de uma poesia, de um romance”.
Ele veio com
a sua família: Zélia Gattai (esposa), João Jorge Amado (filho), Paloma Amado
Costa (filha), Pedro Costa (genro) e ficou hospedado no Tropical Hotel. Passou
a maioria do seu tempo com o Moacir de Andrade, com quem concedeu uma
entrevista para o Jornal A Notícia em seu ateliê na Rua Comendador Alexandre
Amorim, 253, no bairro de Aparecida.
Nos jornais
do Comércio e A Crítica, ele declarou que fora convidado para receber homenagens na Universidade Livre do Bar Caldeira, na companhia
de seu amigo Moacir de Andrade.
Segundo o
seu cicerone, o escritor visitou, também, o Mercado Municipal e outros pontos
turísticos. Gostava de tomar banhos nos igarapés e fez uma viagem de barco até
Manacapuru, para conhecer a realidade dos caboclos da região. Contou, também,
que ele disse que queria conhecer um bordel, mas não teve como ir porque a
mulher dele estava toda hora por perto.
Ele partiu
de Manaus quatro dias depois, não mais retornando à nossa cidade. Faleceu em
2001, mas a sua passagem por essas terras foi marcante e faz parte da nossa
história.
Fontes:
Jornal
do Comércio
Jornal
A Crítica
Jornal
A Notícia
https://www.amazonamazonia.com.br/2021/05/23/preso-em-manaus-jorge-amado-acabou-compadre-do-tira-que-o-vigiou/