Abro o jornal “A Crítica”
de domingo e, vejo uma bela reportagem sobre um avô-atleta, mostrando um senhor
de 62 anos de idade correndo na Ponte Rio Negro, tendo em vista a “1ª. Corrida Rústica
Pôr do Sol”, um evento que acontecerá no dia 22 de Setembro – foi motivo de
sobra para tentar fazer o mesmo – não leve a sério, pois não pratico corridas,
apenas faço caminhadas esporádicas e, resolvi caminhar, pela segunda vez, os
seis quilômetros e meio, de ida e volta dessa majestosa ponte que liga Manaus a
Iranduba.
Como sempre, encarei o
desafio sem os óculos escuros, boné, protetor solar e tênis – estava apenas com
short, camiseta, toalha de rosto, água mineral e a sandália confortável Crocs - atravessei
com a cara e a coragem, aliás, coragem e espirito de aventura são coisas que
não faltam para o “véio” aqui!
Resolvi pegar o buzão na
Avenida Getúlio Vargas, no ponto do Colégio Santa Dorotéia – um detalhe: as
nossas paradas de ônibus estão abandonadas, não possuem informações sobre linhas
e trajetos, estão sujas e quebradas, com lixo por todos os lados e lotadas de
camelôs em suas barracas fixas – Meu Deus, o Prefeito abandonou a cidade,
socorro!
Ainda estava na parada,
quando chegaram três turistas, um somente era brasileiro e, pediram informações
de um camelô sobre como chegar até a Praia da Lua, o ambulante estava
orientando para eles irem até o Rodoway, pegar um barco e pedir para os levarem
até um flutuante chamado “Cai N’água”, não tinha nada a ver.
Foi muito para os meus
ouvidos, quando intervi e, orientei corretamente, disse para pegarem o ônibus
120, o preço da passagem era R$ 2,75; parar
no ponto final da Praia da Ponta Negra, andar uns dez minutos por uma estrada
que fica ao lado do Tropical Hotel, seguir até a Marina do Davi e, pegar um
barco lotação, com o preço de R$ 5,00 por pessoa – senti o quanto o nosso povo
está despreparado para receber os turistas, imagem como será na Copa do Mundo
de 2014!
Peguei o meu ônibus, ele
rodou praticamente todo o bairro da Compensa, demorou bastante até chegar ao
ponto final, um local que fica próximo à cabeceira da ponte, onde se concentram
além dos coletivos de Manaus, os que fazem linhas para Iranduba (Mutirão,
Paricatuba e outros), táxis-lotação e moto-táxis.
A manhã estava ótima, um
clima ameno, com nuvens não permitindo a passagem total dos raios solares –
notei logo na entrada da ponte um grupo de jovens roqueiros, acho que estavam
amanhecidos, o negócio deles era beber, tirar fotos e curtir a paisagem – segui
o caminho, não vi uma viva alma até o meio da ponte, muito diferente da minha
caminhada de outubro do ano passando, onde uma multidão de curiosos de
aglomeravam para ver a novidade, acho que o encanto acabou.
Mano velho, você pode
passar mil vezes de carro ou de ônibus por lá, mas, nada se compara do que
andar a pé, olhando para aquela imensidão do Rio Negro e a exuberância das
nossas matas do outro lado do rio – a ponte está linda, bem conservada, não vi
nem um pau de picolé jogado no chão – pode ser que o povo está começando a
ficar mais educado ambientalmente ou estão jogando tudo dentro do rio, não
acredito na segunda hipótese, mas, tudo é possível.
Pela primeira vez vi as
defensas (pequenas balsas que protegem os pilares da ponte contra danos e
avarias) e as parafernálias que compõem a luz cênica – de repente, aparecem por
debaixo da ponte dois barcos, um era um tremendo iate, cheio de bacanas
curtindo do bom e do melhor, com destino a alguma praia deserta – o outro, era um
barco regional “até o tucupi” de gente, rolando muito forró, com muito neguinho
dançando e entornando todas.
Pela direção do barco dos
pobres, com certeza, estava indo para a "Praia de Paricatuba", um local
maravilhoso que conheço muito bem – em quase todo o meu percurso fiquei lembrando
dos meus amigos de “Paricá” (Paulo Mamulengo, Dona Rô e os comunitários) –
estou devendo uma visita, já fui convidado várias vezes, mas, com o verão
amazônico em que estamos passando, qualquer um dia desses boiarei por lá.
Quando cheguei do outro
lado do rio, desci por um lugar íngreme e, dirigi-me até um flutuante conhecido
como “Aquatiku’s II” – um lugar muito convidativo, com muitas mesas, seguranças,
barraca com peixes assados e churrasquinhos de gato, além de potentes caixas
acústicas, onde somente tocam forró pé de serra e muito brega, com o som no
máximo.
Almocei um churrasco de gato,
digo, de franco no espeto, com farofa, vinagrete e refrigerante, de bom tamanho
para um caboco surubim – a negada estava chegando de montão, com muita gente
bebendo e dançando – quando o pessoal do conjunto musical começou a afinar os seus
instrumentos, achei que estava chegando a hora de “pegar o beco”, pois a partir
daquele momento os meus tímpanos iriam estourar de uma vez por todas!
Parei numa pedreira e,
comecei a tomar banho de cuia e apreciar o rio - coisas de amazonense! Passei uns trinta minutos me refrescando,
pois o sol estava de derreter o chifre, depois, encarei a volta e, apesar da
minha roupa está toda molhada, secou rapidinho, peguei um bronzeado daqueles,
aliás, fiquei mais preto do que sou.
O cenário da volta muda completamente,
apesar de ficar centrado o olhar no Rio Negro, aparece ao fundo a cidade de
Manaus, onde num pequeno giro da cabeça é possível ver desde o “Rodoway” (Porto
de Manaus) até a “Praia da Ponta Negra”.
Existe um grande
contraste, com a margem esquerda do Rio Negro (Manaus) praticamente “pelada”,
com poucas árvores e, na outra margem (Iranduba), com a mata amazônica intacta,
dando para ver o verde até onde a vista alcança – infelizmente, com a contrução
da Ponte, o outro lado será paulatinamente agredido, com a derrubadas das
árvores, para darem lugar aos condôminos de luxo.
Pela parte da noite, dei
um rolé pelo Largo de São Sebastião e, parei num “Cyber Café” da Getúlio Vargas,
encontrei o meu amigo Ribamar Mitoso, professor da UFAM e editor do blog
Literaturapanamazônica – falei sobre a minha caminhada, ele ficou
interessadíssimo, marcamos para fazer novamente o mesmo trajeto num domingo
desses - será a III caminhada sobre a Ponte Rio Negro. Eu, hein!
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